Sergey Ryabkov, vice-chanceler russo e um dos principais negociadores do Kremlin, afirmou hoje que “lamenta” o voto do Brasil na Assembleia Geral da ONU na semana passada. O diplomata ainda disse que “respeita” a vontade política do governo brasileiro em buscar uma solução para a guerra. Mas afirma que não há “necessidade” de uma mediação.
As declarações foram dadas em Genebra, numa entrevista coletiva e em resposta às perguntas do UOL.
Ao marcar um ano da guerra, a ONU votou uma resolução proposta pela Europa condenando a agressão russa. O documento foi aprovado com 141 votos, entre eles o do Brasil. Mas mais de 30 países optaram pela abstenção, inclusive todos os demais países dos Brics.
Claro que é lamentável que o Brasil tenha votado da forma que fez
Sergey Ryabkov
“O voto mostra que foram feitas considerações outras que não aquelas sóbrias e uma profunda avaliação sobre o que ocorre e o que precedeu essa situação atual”, afirmou.
Os russos, porém, não acreditam que o Itamaraty cedeu às pressões de americanos, depois da visita de Lula para a Casa Branca.
“Essas considerações continuam. Se o Brasil fosse capaz de apreciar de forma completa a lógica intrincada desse caso trágico e desafiador, então acho que o Brasil votaria numa forma que pelo menos seria de abstenção”, afirmou o russo.
Apesar do voto brasileiro, o negociador do Kremlin insistiu que a conversa e a relação positiva com o governo Lula continuam. Ele lembrou que os chanceleres Mauro Vieira e Sergei Lavrov se reuniram na Índia nesta semana e que estabeleceram um diálogo para ampliar a cooperação bilateral.
“Eles falaram sobre diversos assuntos que nos aproxima, e não nos afastam”, afirmou. Para ele, a relação bilateral é “promissora”.
Ryabkov também sinalizou que não há, neste momento, espaço para falar em uma mediação.Nas últimas semanas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sugeriu a criação de um grupo de países emergentes que possam atuar para buscar a paz. A proposta foi tratada com o presidente americano Joe Biden e o chanceler alemão Olaf Scholz.
Na conversa entre Mauro Vieira e Lavrov, nesta semana, não houve uma oferta específica por parte dos brasileiros por uma mediação. O governo ainda está ouvindo as diferentes ideias e posicionamento, antes de propor algum tipo de mecanismo ou formato que poderia ser aceito por todos.
Não acho que há necessidade de mediação, como tal. Damos as boas vindas e respeitamos completamente a vontade política que foi demonstrada pela liderança brasileira e pelo presidente brasileiro, que quer verdadeiramente encontrar uma forma de colocar um fim a essa situação e desenvolver conceitos e ideias que possam facilitar esse processo
Sergey Ryabkov
“Mas, quando falo que não existe necessidade de mediação, eu quero dizer isso mesmo. A única coisa que precisa da parte de outros é reconhecer o interesse legítimo da Rússia”, declarou o representante de Moscou.
Segundo o negociador, não foi a Rússia que bloqueou as conversas, logo no começo da guerra. “Houve uma tentativa de negociar. Mas a delegação ucraniana deixou o processo e fizeram depois da insistência dos EUA e outros. Foi a escolha deles”, disse.
“Não somos nós que bloqueados conversas”, declarou. Para ele, se alguém quer falar de mediação, “tem de perguntar em Kiev se querem”.
Informações UOL