De acordo com a Polícia Civil do DF, grupo fez mais de 50 mil vítimas no Brasil e no exterior. Segundo a investigação, alguns dos responsáveis pelo golpe são pastores.
PCDF cumpre mandado em casa de suspeito de cometer golpe financeiro contra fiéis — Foto: PCDF/Reprodução
O que começou com uma tese de doutorado no início dos anos 90, nos Estados Unidos, acabou se tornando uma teoria da conspiração nos anos 2000. Nesara significa National Economic Security and Recovering Act — inglês para Ato para Recuperação e Segurança da Economia Nacional.
A teoria foi usada por investigados em uma operação da Polícia Civil do Distrito Federal que apura golpes financeiros contra mais de 50 mil vítimas no Brasil e no exterior (veja detalhes abaixo). Os alvos prometiam resultados de um “octilhão” de reais nos investimentos feitos.
Conforme um podcast da BBC, que foi ao ar em agosto de 2021, em um dos seus estudos, Harvey Francis Barnard propôs um pacote de reformas econômicas que previam:
Em 1996, Bernard publicou um livro com suas ideias. Ele acreditava que ia persuadir o Congresso dos Estados Unidos a substituir o imposto de renda por um imposto nacional sobre vendas. No entanto, não obteve sucesso.
Entenda se a palavra octilhão existe
Nos início dos anos 2000, o Nesara ganhou força com ares de teoria da conspiração, a partir da blogueira estadunidense Shaini Goodwin. Antes de se espalhar fake news, Goodwin já havia se envolvido em golpes financeiros, segundo a BBC.
Nas redes sociais, a blogueira afirmava que o ex-presidente dos EUA Bill Clinton — que governou o país entre 1993 e 2001 — já havia aprovado o Nesara, o que não é verdade. Goodwin defendia ainda que os ataques do dia 11 de setembrohaviam sido armados pelo também ex-presidente George W. Bush, com o objetivo de barrar a implementação do Nesara no país.
Durante a pandemia de Covid-19, a teoria conspiratória ganhou ainda mais força e se espalhou pelo restante do mundo. Assim, surgiu sua segunda vertente, a Gesara: Global Economic Security and Recovering Act — inglês para Ato para Recuperação e Segurança da Economia Global.
Além das medidas já propostas por Barnard nos anos 90, as pessoas que acreditavam ainda que as moedas de todos os países valeriam uma cotação única a partir da adoção da Gesara.
A TV Globo apurou que os investigados na operação desta quarta-feira (20) acreditavam que, a partir desta teoria, haveria uma “redistribuição de renda” no mundo e os primeiros a receber a cota seriam os que contribuíram para o projeto.
Polícia do DF faz operação contra pastores suspeitos de aplicar golpe em mais de 50 mil vítimas
A Polícia Civil do Distrito Federal diz que o grupo movimentou R$ 156 milhões em 5 anos, além de criar 40 empresas “fantasmas” e movimentar mais de 800 contas bancárias suspeitas. Os agentes cumprem dois mandados de prisão preventiva e 16 de busca e apreensão no DF e quatro estados — Goiás, Mato Grosso, Paraná e São Paulo.
De acordo com a Polícia Civil, os suspeitos usavam redes sociais para cometer os golpes. O objetivo era convencer as vítimas a investirem suas economias em falsas operações financeiras ou falsos projetos de ações humanitárias.
Conforme a investigação, o grupo é composto por 200 integrantes, incluindo dezenas de pastores. A polícia diz que os investigados prometiam “retorno imediato e rentabilidade estratosférica”.
“Foi detectada, por exemplo, a promessa de que somente com um depósito de R$ 25 as pessoas poderiam receber de volta nas “operações” o valor de um octilhão de Reais, ou mesmo ‘investir’ R$ 2 mil para ganhar 350 bilhões de centilhões de euros”, contam os investigadores.
Ainda segundo as investigações, os suspeitos criavam pessoas jurídicas “fantasma” e de fachada, simulando instituições financeiras digitais com alto capital social declarado, com intenção de dar aparência de veracidade e legalidade às operações financeiras.
Conforme a Polícia Civil, as vítimas assinavam contratos falsos, com promessas de liberação de quantias desses investimentos, que estariam registrados no Banco Central e no Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF).
A operação desta quarta-feira (20) foi coordenada pela Delegacia de Repressão aos Crimes Contra a Ordem Tributária, vinculada ao Departamento de Combate a Corrupção e ao Crime Organizado (DOT/DECOR).
Delegado explica como atuava grupo em esquema criminoso de “investimentos”
Segundo o delegado responsável pelo caso, Marco Aurélio Sepúlveda, os golpistas recebiam dinheiro dos “investidores” diariamente (veja vídeo acima).
Em entrevista coletiva o delegado explicou que as vítimas compravam “cotas” oferecidas pelos criminosos, com a promessa de que o dinheiro investido geraria lucros muito grandes no futuro.
Informações G1