Biden tratará de tensões na Ucrânia em telefonema com Putin, diz Casa Branca
A Casa Branca informou em comunicado que o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, terá um telefonema com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, nesta quinta-feira (30). A finalidade da conversa entre os chefes de Estado é a discussão de vários pontos, entre eles as tensões na Ucrânia.
A nota lembra que o governo americano tem mantido contatos diplomáticos com aliados europeus e outros parceiros, a fim de coordenar uma resposta comum ao envio de militares russos na fronteira com a Ucrânia.
– O governo Biden continua a se envolver em ampla diplomacia com nossos aliados e parceiros europeus, consultando e coordenando uma abordagem comum em resposta ao aumento militar da Rússia na fronteira com a Ucrânia – diz o comunicado emitido nesta quarta-feira (29).
Será o segundo telefonema em menos de um mês entre os dois líderes, com Biden no início de dezembro alertando Putin das “graves consequências” se a Rússia invadir a Ucrânia.
Informações Pleno News
Norma vale para táxis em Cabul
O Ministério para Propagação da Virtude e Prevenção do Vício talibã proibiu neste sábado (25) que as mulheres em viajem sem véu e sem acompanhante masculino em deslocamentos longos nos táxis de Cabul.
As novas normas determinam que os taxistas “não permitam que mulheres viagem sem véu” e “não admitam no veículo mulheres sem um acompanhante masculino caso viajem mais de 70 quilômetros de distância”.
O todo-poderoso ministério dos fundamentalistas também decretou que “a música está proibida nos veículos”, restrição que já era imposta em caso de casamentos e outras celebrações.
Os taxistas deverão parar os veículos no momento da reza e “orar de forma coletiva”, de acordo com um comunicado que indica que as patrulhas do ministério “recomendarão ter barba”.
Um representante talibã, o porta-voz do ministério do Vício, Mohammad Sadiq Akif, declarou à Agência Efe que estas são recomendações “e isso não significa que haverá punições caso não sejam cumpridas”.
As ordens foram recebidas com resignação pelos taxistas, que temem ver a renda diminuir ainda mais no contexto de uma grave crise econômica e humanitária, acentuada pela tomada do Afeganistão pelos talibãs em 15 de agosto.
– Isto significa que vão inspecionar frequentemente os nossos carros, criando complicações para os nossos motoristas, e por outro lado as mulheres não viajarão de táxi, afetando ainda mais o nosso trabalho, que tem sido imensamente impactado pelas recentes mudanças e pela crise econômica – disse o taxista Akbar Shah.
Uma mulher, que pediu anonimato, lamentou à Efe que as novas regras complicarão ainda mais a vida cotidiana das afegãs sob o domínio talibã.
– Teremos de pagar uma passagem extra pelo acompanhante. E se uma mulher não tiver um, o que ela faz? – questionou.
Apesar das promessas de mudança, os talibãs proibiram o ensino secundário e superior para as mulheres, supostamente até que as condições sejam ideais para o retorno às salas de aula, e limitaram a volta das mulheres a certos empregos.
Também nesta semana, os talibãs começaram a remover imagens de mulheres que muitas vezes decoram as janelas dos salões de beleza em Cabul por considerarem que vão contra o islã. Estas restrições aos direitos das mulheres afegãs provocaram tanto protestos no país como condenações internacionais.
*EFE
Tutu ficou conhecido por seu ativismo contra o regime do apartheid na África do Sul
O arcebispo da África do Sul, Desmond Tutu, vencedor do Prêmio Nobel da Paz de 1984 por seu ativismo contra o regime racista de segregação do “apartheid”, morreu neste domingo (26) aos 90 anos, na Cidade do Cabo, segundo fontes oficiais. Em nota, o presidente do país, Cyril Ramaphosa, confirmou a morte do líder religioso anglicano.
– A morte do arcebispo emérito Desmond Tutu é outro capítulo de perda na despedida de nossa nação a uma geração de sul-africanos proeminentes que nos legou uma África do Sul libertada – disse o presidente na declaração.
O presidente descreveu Tutu como um “patriota incomparável” e um “homem de intelecto extraordinário” que manteve sua integridade na luta contra as “forças do apartheid”. Mesmo em uma democracia, Ramaphosa observou que Tutu manteve o “vigor” e a “vigilância” da liderança para responsabilizar as instituições.
A morte também foi confirmada pelo atual arcebispo da Cidade do Cabo, Thabo Makgoba, que lembrou o Nobel da Paz como alguém que queria que todos os seres humanos vivessem em “liberdade, paz e alegria”.
– Em nome da Igreja Anglicana da África do Sul, de toda a comunidade religiosa e, ouso dizer, em nome de milhões (de pessoas) em toda a África do Sul, África e do mundo, envio nossas mais profundas condolências à sua esposa, Nomalizo Leah, seu filho, Trevor Tamsanqa, e suas filhas, Thandeka, Nontombi e Mpho – disse Makgoba.
Prêmio Nobel da Paz de 1984 por sua luta contra a opressão brutal do apartheid, Tutu é considerado uma das principais figuras da história contemporânea da África do Sul. Nos últimos anos, ele havia se afastado da vida pública devido à idade avançada e aos problemas de saúde, incluindo o câncer de próstata.
*EFE
Variante responde por 73% das novas infecções registradas na semana passada
A Ômicron superou outras variantes do coronavírus e, no momento, é a versão dominante nos Estados Unidos, respondendo por 73% das novas infecções na semana passada, segundo informaram as autoridades federais de saúde, nesta segunda-feira (20).
Os números dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês) mostraram um aumento de quase seis vezes na participação da Ômicron nas infecções em apenas uma semana, de acordo com a Associated Press.
Em grande parte do país, a prevalência de Ômicron é ainda maior. É responsável por cerca de 90% das novas infecções na área de Nova Iorque, no Sudeste, no Centro-Oeste industrial e no Noroeste do Pacífico. A taxa nacional sugere que mais de 650 mil infecções pela cepa ocorreram nos EUA na semana passada.
A diretora do CDC, Rochelle Walensky, disse que os novos números refletem o tipo de crescimento visto em outros países.
– Estes números são nítidos, mas não surpreendem – disse ela.
Enquanto isso, Jen Psaki, a secretária de imprensa da Casa Branca, fez uma prévia de parte do conteúdo dos comentários planejados pelo presidente Joe Biden em discurso marcado para esta terça-feira (21).
– Este não é um discurso sobre lockdown – disse ela em coletiva de imprensa.
Psaki acrescentou que o presidente terá mais a dizer na terça-feira sobre os “esforços para expandir o acesso aos testes e vacinas da Covid-19”. Ainda segundo Psaki, Biden deverá se direcionar aos não vacinados, indicando que eles deverão seguir liderando as hospitalizações e mortes.
*AE
Todos os funcionários considerados não essenciais entraram em regime remoto de trabalho
A CNN dos Estados Unidos decidiu fechar seus escritórios para funcionários considerados “não essenciais” devido ao avanço da Covid-19 e da variante Ômicron no país. A determinação foi divulgada no último sábado (18), em um comunicado interno.
Com a mudança, todos os funcionários que não precisam estar na empresa irão trabalhar de forma remota pela duração da medida, que está prevista para terminar em janeiro. De acordo com o presidente da CNN, Jeff Zucker, a decisão foi tomada por “precaução”.
O apresentador Brian Stelter disse, em suas redes sociais, que a empresa está voltando a adotar os protocolos do início da pandemia. Mesmo com número reduzido, os funcionários que permaneceram trabalhando presencialmente deverão utilizar máscaras de forma obrigatória.
Assumidamente uma empresa com “tolerância zero” quanto ao tema, a CNN também exige que todos seus contratados estejam vacinados contra a Covid-19. Em agosto, três funcionários foram demitidos por não aceitarem receber o imunizante.
Informações Pleno News
O advogado José Antonio Kast, de direita, ligou para seu opositor para parabenizá-lo pela vitória
O candidato de esquerda Gabriel Boric foi eleito como novo presidente do Chile na noite deste domingo (19). Aos 35 anos, Boric é deputado e ex-líder estudantil e está filiado ao partido Convergência Social. O adversário nas urnas foi o advogado José Antonio Kast, de direita, filiado ao Partido Republicano.
Kast reconheceu a derrota e ligou para Boric para parabenizá-lo pela vitória. Até as 19h45 deste domingo, com 92,12% das urnas apuradas, Boric tinha 55,73% dos votos válidos, totalizando 4.205.799 votos, contra 44,27% de Kast, que aparecia com 3.340.774 votos.
As urnas abriram às 8h (horário de Brasília) e fecharam às 18h, quando a apuração dos votos começou. Os votos ainda estão sendo contabilizados. Boric havia ficado em segundo lugar no primeiro turno, com 25,82%. Já Kast teve 27,91%.
Assim como o cenário que parece se avizinhar para 2022 no Brasil, Gabriel Boric e José Antonio Kast, representantes de lados opostos do espectro político, e disputaram cada voto do eleitorado em um pleito bastante polarizado, com pesquisas que apontavam resultados bastantes apertados, o que foi percebido no placar do primeiro turno.
Informações Pleno News
Michelle Bachelet deu declarações nesta quarta-feira
Nesta quarta-feira (8), a alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, afirmou que “em nenhuma circunstância” uma vacina pode ser administrada à força. A declaração acontece em um momento em que vários países estão considerando a vacinação obrigatória para enfrentar as novas ondas da Covid-19.
Durante seminário sobre boas práticas e acesso a vacinas e tratamentos, a alta comissária destacou que se for imposta a vacinação obrigatória, deverá ser aplicada com certa flexibilidade e exceções, por exemplo, em pessoas para as quais o medicamento é contra-indicado.
Segundo Bachelet, nessas circunstâncias, pode ser aceitável condicionar o acesso a escolas, hospitais e outros espaços públicos à vacinação, ou a certas consequências jurídicas, tais como multas “proporcionais e passíveis de revisão pelas autoridades judiciais”.
Por outro lado, afirmou que a vacinação obrigatória só deve ser considerada se outras medidas menos intrusivas, como o uso de máscara ou o distanciamento físico, não tiverem atingido os objetivos de proteção à saúde desejados.
– A vacinação compulsória deve seguir os princípios da legalidade, necessidade, proporcionalidade e não discriminação – disse a ex-presidente chilena.
*EFE
Autoridades de saúde da Austrália identificaram uma nova linhagem da variante Ômicron em um passageiro que chegou de viagem à África do Sul. Com cerca de metade das variações genéticas da Ômicron original, a nova versão não pode ser detectada com testes típicos, como o PCR, informou o chefe de Saúde de Queensland, Peter Aitken.
Segundo Aitken, a nova cepa tem semelhanças suficientes para poder ser classificada como Ômicron, mas não se sabe o que as mudanças significam no quesito de gravidade clínica e eficácia da vacina.
– Agora temos a variante Ômicron e uma cepa semelhante à Ômicron – explicou Aitken.
A nova versão tem 14 das mutações em relação à cepa convencional, mas não possui um recurso no gene S, o que faz com que ela se torne mais difícil de ser rastreada. Devido à dificuldade na identificação, é possível que a nova Ômicron esteja presente em mais locais do que se sabe até o momento.
Para os cientistas, o surgimento pode representar um revés na tentativa de compreender o impacto que a Ômicron pode causar. A fim de diferenciar a descoberta, os pesquisadores dividiram a B.1.1.529 (Ômicron) em BA.1 e BA.2., sendo que a segunda categoria representa a nova versão.
O estado de Queensland já possui mais de 80% de sua população vacinada e abrirá, na próxima segunda-feira (13), as fronteiras com o restante do país.
*Pleno.News
Assim como muitos americanos, a historiadora Brodwyn Fischer não chegou a aprender muito sobre o Brasil quando estava na escola. O primeiro contato mais profundo veio no início da faculdade, 30 anos atrás e, desde então, ela não parou mais de pesquisar sobre a história brasileira.
“Uma das coisas que mais me fascinaram foi que começar a estudar história do Brasil me fez olhar diferente para a própria história dos Estados Unidos, porque os dois países têm muitas características básicas e estruturais, digamos assim, em comum.”
São dois países de dimensões continentais, ricos em recursos naturais, formados por populações originárias de três continentes, moldados pelo colonialismo e pela escravidão. No papel, Brasil e EUA são marcados por semelhanças – e, no entanto, tomaram caminhos completamente diferentes.
Há cerca de 10 anos Fischer explora essas questões com seus alunos em uma disciplina ministrada inicialmente na Universidade Northwestern e hoje na Universidade de Chicago, onde foi batizada de Brazil: Another American History (“Brasil: Outra História Americana”, em tradução literal).
Em 18 aulas, o programa é uma imersão na história brasileira, passando pelo período colonial e o regime escravista à industrialização e formação das grandes cidades. Entre as leituras obrigatórias há desde clássicos da literatura, como Vidas Secas, de Graciliano Ramos, até autores fundamentais para entender o Brasil, como Sérgio Buarque de Holanda (O Homem Cordial) e Celso Furtado (Formação Econômica do Brasil).
A BBC News Brasil conversou sobre alguns desses temas com a professora, que é Ph.D pela Universidade de Harvard e foi diretora do Centro de Estudos para a América Latina da Universidade de Chicago entre 2015 e 2020.
De forma geral, as comparações entre Brasil e Estados Unidos costumam ser permeadas por generalizações e exageros que colocam os dois países em polos opostos que muitas vezes não existem, avalia Fischer.
É o que a historiadora chama de “ideias hiper-reais” – algo que nunca existiu de fato, mas acaba sendo colocado no debate como a essência de um determinado conceito.
Uma dessas “ideias hiper-reais” seria justamente a razão que levou Brasil e EUA a se tornarem nações tão diferentes, apesar das semelhanças estruturais. No Brasil, muita gente reproduz a ideia de que a explicação está centrada no tipo de colonização a que os dois países foram submetidos – a portuguesa, implantada no Brasil, teria sido mais brutal e restritiva, enquanto a inglesa, levada aos EUA, teria dado aos americanos maior grau de liberdade, usado para desenvolver instituições e uma democracia mais sólidas. Uma divergência que teria selado o destino dos dois países.
“Acho que uma das coisas com as quais a gente se depara no Brasil, mesmo entre pessoas com maior escolaridade, é essa ‘ideia hiper-real’ do que são os Estados Unidos. (A questão da colonização) é exatamente isso, mas os historiadores americanos não pensam mais dessa forma sobre sua história.”
O que explica então as diferenças tão profundas?
Para Fischer, uma das razões remonta ao século 19 e tem uma ligação estreita com “as relações entre indivíduos e os direitos de cidadania”.
Em ambos os países, ela diz, a escravidão foi brutal, “algo que, moralmente, não deveria ter sido institucionalizado”. O Brasil, contudo, viveu uma situação particular depois de 1831, quando o tráfico de escravizados foi proibido por lei – mas não acabou na prática.
“A partir daí, a elite e o Estado passam a conspirar para que a escravidão continuasse, ainda que ilegalmente. Entre 1831 e 1850 (ano da promulgação da Lei Eusébio de Queiroz, que reafirmava a proibição ao tráfico), algo entre 700 mil e 800 mil pessoas foram trazidas ilegalmente para o Brasil para serem escravizadas. E toda a estrutura do Estado durante esses anos foi desenvolvida para ajudar as pessoas a contornar a lei.”
“Acho que essa é uma diferença fundamental. Nos Estados Unidos, nós tendemos a legalizar as brutalidades. Tornamos legal a possibilidade de que as pessoas andem armadas na rua, por exemplo. Então muitas das coisas que aparecem nos dois países acontecem dentro da lei nos EUA e fora da lei no Brasil”, acrescenta.
“Acredito que isso, de diversas formas, ajudou a moldar a maneira como o país opera. Um dos pontos que argumento é que o poder informal se desenvolveu muito cedo no Brasil, para preservar a ‘casa grande’ (termo usado para se referir aos grandes proprietários rurais do Brasil colonial), de forma que muita gente simplesmente não tem acesso a direitos políticos e civis básicos ou tem acesso limitado a direitos econômicos e sociais, quando estes entram em cena.”
Sem esses direitos básicos, a forma como essas pessoas que estão fora do círculo das elites têm acesso ao poder, por sua vez, é fora da estrutura do Estado e da lei. “E acho que o fato de que isso absorve uma fatia tão relevante das relações de poder no Brasil, em comparação ao que tradicionalmente se viu nos EUA, explica boa parte das divergências entre os dois países”, conclui a professora.
Algumas dessas ideias estão na tese de doutorado de Fischer, resultado de uma pesquisa na cidade do Rio de Janeiro, que ganhou no ano 2000 o Harvard University Gross Prize como melhor dissertação em História. O trabalho virou livro em 2010, publicado pela Stanford Press University e intitulado A Poverty of Rights: Citizenship and Inequality in Twentieth-Century Rio de Janeiro(“Pobreza de Direitos: Cidadania e Desigualdade no Rio de Janeiro do Século 20”, em tradução literal).
Uma das ferramentas em um país em que o poder informal tem muita relevância é justamente o “jeitinho brasileiro”, que se relaciona com o conceito do “homem cordial” de Sérgio Buarque de Holanda, que está na bibliografia do curso ensinado por Fischer.
Na visão da historiadora, contudo, o “jeitinho” é outra “ideia hiper-real”, uma espécie de exagero, na medida em que está longe de ser uma exclusividade do Brasil.
“Quando há estudantes brasileiros nas minhas aulas, eles são os primeiros a mencionar o ‘jeitinho’ e dizer: ‘Ah, nós somos bastante diferentes dos EUA!’. E aí o que eu tento fazer é mostrar as diversas maneiras pelas quais as pessoas nos Estados Unidos usam o ‘jeitinho’. Não chamamos de ‘jeitinho’, mas a ideia de alguém tentar contornar as normas que não lhe favorecem é universal.”
Fischer ilustra essa discussão com um comentário sobre o antropólogo Roberto da Matta, um dos “intérpretes do Brasil” mais lidos nos Estados Unidos, que chegou a escrever que o trânsito caótico no Brasil e o hábito dos motoristas brasileiros de “fechar” e “furar” são, em certa medida, reflexos do “jeitinho”.
“Ele morava numa cidade pequena em Indiana, onde viveu quando lecionava na [Universidade de] Notre Dame, e tinha essa ideia de que nos EUA as pessoas respeitam as leis de trânsito – mas, se você estiver em qualquer grande cidade, vai ver que isso não é verdade. As pessoas atravessam fora da faixa o tempo todo, estão quebrando regras, vendendo produtos ilegalmente na rua… Todas essas coisas acontecem em toda parte aqui, então é mais uma daquelas ‘ideias hiper-reais’.”
A diferença, ela diz, é muito mais uma questão sobre como um povo vê a si mesmo.
“Acho que tem a ver com a discussão sobre como a autopercepção de uma nação de fato acaba lhe dando forma. Se você é brasileiro, a ideia de que o ‘jeitinho’ está no centro do seu mundo o legitima e o transforma em algo que as pessoas estão dispostas a fazer com maior frequência.”
“Aqui nos EUA, a ideia ‘hiper-real’ do que nos tornava diferentes era a lei e a ordem, de que nós seguimos as regras. Não era verdade, mas era como pensávamos sobre nós mesmos. Acho que isso começa a se desintegrar – nos EUA, mais e mais pessoas não confiam nas leis e no Estado. Mais pessoas não acham que a melhor forma de resolver seus problemas é respeitando as normas. A ideia do ‘jeitinho’ aqui tem cada vez mais se tornado senso comum, na forma como o tem sido há tanto tempo no Brasil.”
Uma das diferenças mais complexas entre Brasil e EUA se dá no campo das relações raciais, destaca a professora. Apesar de ambos os países terem instituído sistemas brutais de escravidão, o Brasil passou por um processo intenso de miscigenação entre brancos, negros e índios, que não se viu na mesma medida nos EUA.
Um dos fatores que ajudam a explicar os contrastes, diz a historiadora, é a própria demografia. O Brasil recebeu um volume muito maior de africanos escravizados, aproximadamente 5 milhões, ante cerca de 250 mil desembarcados nas 13 colônias que formariam os EUA, conforme a plataforma Slave Voyages, um grande banco de dados mantido por pesquisadores da Universidade de Emory, nos EUA.
Isso foi determinante para que o Brasil se tornasse um país de maioria negra, que hoje corresponde a cerca de 50% da população, conforme a classificação do IBGE que reúne quem se declarou preto ou pardo no Censo de 2010. Nos EUA, ainda que haja regiões no sul em que a população negra seja predominante, no país como um todo ela é minoria – algo entre 12% e 13% do total, atualmente.
“Acho que isso às vezes é minimizado”, diz a professora, que se prepara para lançar o livro The Boundaries of Freedom: Slavery, Abolition, and the Making of Modern Brazil (“Os Limites da Liberdade: Escravidão, Abolição e a Construção do Brasil Moderno”, em tradução livre) em coautoria com a historiadora brasileira Keila Grinberg. Prevista para 2022, a obra é editada pela Cambridge University Press.
Com uma proporção elevada de pessoas escravizadas, foram diferentes os mecanismos de controle social colocados em prática no Brasil para manter o sistema escravista vivo durante três séculos. Ainda que fosse brutal e violento, ele incorporou, por exemplo, o instrumento das alforrias. Menos recorrentes nos EUA, aqui elas foram mais largamente utilizadas, concedidas não apenas pelos “senhores de escravos”, mas compradas pelos próprios escravizados, por organizações abolicionistas e de caridade.
Outra diferença importante e que teria reflexos profundos na formação das relações raciais no Brasil foi a relativa mobilidade que corria em paralelo à lógica de violência e sujeição que marcou o regime escravista.
No Brasil, um escravizado poderia passar a vida cortando cana-de-açúcar e ver seu filho trabalhando como escravo doméstico, exemplifica a historiadora. Ela lembra as obras do pintor francês Jean-Baptiste Debret, que chegou a retratar uma espécie de “hierarquia” entre os escravizados que viviam no ambiente urbano.
Além dos escravizados que se dedicavam aos afazeres domésticos na casa de seus “senhores”, havia, por exemplo, os escravos de ganho, que trabalhavam fora – como vendedores ambulantes ou prestando serviços a terceiros – e repassavam parte do que auferiam a seus proprietários. Pesquisas como a da historiadora Ynaê Lopes dos Santos, professora de História das Américas na Universidade Federal Fluminense (UFF), apontam ainda que, no Rio de Janeiro do século 19, alguns escravizados chegavam a morar fora da casa dos “senhores”, em cortiços e imóveis alugados.
“Essa foi uma dimensão importante. Era um certo nível de mobilidade que poderia ser conquistado sem um confronto aberto à instituição da escravidão”, pontua Fischer.
Nos EUA, especialmente nas colônias do sul, essa mobilidade era praticamente inexistente e as tensões sociais, muitas vezes mais visíveis.
“A polarização era tão grande que não havia muita alternativa a não ser criar grupos de solidariedade e eventualmente movimentos pelos direitos civis.”
Os EUA implementaram uma série de normas e leis racistas que desencorajavam a miscigenação. O casamento interracial, por exemplo, foi proibido em diversas partes do país até 1967, quando uma lei do Estado da Virginia foi derrubada na Suprema Corte.
Outro exemplo prático foi a chamada “one drop rule” (“regra de uma gota”, em tradução literal), adotada em vários Estados: independentemente do fenótipo, um indivíduo com qualquer antepassado de origem africana era classificado como negro, com todas as implicações legais que isso acarretava no país. Nenhum outro grupo étnico era identificado dessa forma.
Já no Brasil, a miscigenação muitas vezes foi vista como instrumento de mobilidade social – e, nesse sentido, é fundamental para entender a forma particular de racismo que se desenvolveu aqui, que se manifesta muitas vezes de forma velada.
“Faço muita pesquisa com ações judiciais do século 19, e essa é uma das coisas mais dolorosas com as quais tenho que trabalhar como historiadora”, comenta Fischer.
“Nesses processos você consegue ver todo tipo de estratégia que as pessoas usavam para tentar melhorar um pouco suas vidas. E uma das coisas que se pode observar são pessoas que tentavam clarear a pele dos filhos. Elas querem que os filhos sejam chamados de pardos, alguns querem que eles sejam reconhecidos como brancos na certidão de nascimento. Há uma espécie de racismo internalizado, que funciona de forma parecida com a da mobilidade dentro do sistema escravista, de forma que não se confronta o racismo como sistema.”
“Então você pode ir de negro, a pardo e branco, e o racismo ainda está completamente colocado – está sendo reforçado, na verdade.”
Essas dinâmicas, completamente diferentes do racismo institucionalizado que se via em países como EUA e África do Sul, culminam na “democracia racial”, a ideia de que não havia discriminação racial no Brasil, disseminada por teóricos como o sociólogo Gilberto Freyre, autor de Casa Grande e Senzala, obra que reforça essa visão.
A historiadora comenta que a “ilusão” da democracia racial aparece inclusive na imprensa negra americana, em artigos de jornais como o Chicago Defender, que ela apresenta aos alunos no curso.
Jornalistas e sociólogos como W. E. B. Du Bois, ativista pelos direitos civis, vieram ao país no início do século 20, após a visita do presidente americano Theodore Roosevelt, e chegaram a escrever que o Brasil seria um exemplo a ser seguido no contexto das relações raciais.
“Você vê negros americanos dizendo: ‘Olha, eu fui lá e vi médicos negros, políticos, Machado de Assis, um grande escritor negro… O que eles não percebem é que essas pessoas não necessariamente são vistas como negras.”
“E isso foi muito antes de a ideia da democracia racial emergir mais formalmente no Brasil nos anos 1940.”
Esse conceito seria desmistificado por intelectuais brasileiros como Abdias do Nascimento, ativista pelo direitos dos negros e que também faz parte da bibliografia do curso de Fischer, com a obra Brazil: Mixture or Massacre (“Brasil: Mistura ou Massacre” em tradução livre).
De volta à questão do poder informal, a historiadora argumenta que ele é chave para entender o racismo no Brasil e é um dos instrumentos usados até hoje para reforçá-lo.
“Nos Estados Unidos, essa questão (sobre como o racismo é reforçado) tem um pouco mais a ver com o fato de que as instituições são abertamente e claramente racistas em suas práticas. É uma comparação interessante, porque, no fim do dia, se você é negro e pobre no Brasil, é baixa a probabilidade que você tenha acesso a direitos, e o mesmo vale para os EUA. Existe uma semelhança em relação aos resultados, mas os caminhos para se chegar a eles são bem diferentes – e tentar entender isso pode trazer benefícios para os dois países”.
Informações BBC News Brasil
Guardião da Paz e da Segurança Internacional foi instalado na praça das Nações Unidas, em Nova Iorque
O monumento ‘Guardião da Paz e da Segurança Internacional’, instalado na praça das Nações Unidas em Nova Iorque, EUA, provocou comentários nas redes sociais. Várias pessoas compararam a estátua à besta descrita na Bíblia.
Usuários do Instagram citaram o texto de Apocalipse 13:2, que diz: “A besta que vi era semelhante a um leopardo, mas tinha pés como os de urso e boca como a de leão. O dragão deu à besta o seu poder, o seu trono e grande autoridade.”
O “guardião” instalado na área externa da ONU foi doado pelo governo de Oaxaca, no México. O monumento é um alebrije, tipo de artesanato popular mexicano.
– O guardião é uma fusão de onça e águia, visto que são animais fortes e muito representativos em nossa história pré-hispânica e nacional – explicou a Missão da ONU no México, no Twitter.
Informações Pleno News