O Google revelou nesta quarta-feira (08), uma lista com a retrospectiva de “Buscas do Ano 2021”, com assuntos e termos que mais cresceram na plataforma neste ano. A lista, feita anualmente pela empresa, mostra quais foram as tendências mais populares do ano em ordem cronológica, além de permitir que o usuário filtre por 18 categorias, como Entretenimento, Esportes e Economia.
A cantora Marília Mendonça, que morreu em um acidente de avião no mês de novembro, teve o nome mais pesquisado pelos brasileiros neste ano. Além dela, também aparecem o humorista Paulo Gustavo, Lázaro Barbosa (acusado de matar quatro pessoas em Goiás), o funkeiro MC Kevin, BBB 2021, os times Palmeiras, Corinthians e São Paulo.
Vale lembrar que para entrar no ranking, os termos precisam ter algum tempo de estabilidade nas pesquisas. Caso um termo tenha registrado um aumento significativo, mas apenas por um dia, não é contabilizado.
A lista brasileira conta com as categorias: Buscas do Ano (Geral), Acontecimentos, Como fazer, O que?, Mortes, Filmes, Séries, Programas de TV, Música (Letra), Personalidades, Clubes de futebol, Perto de mim, Quanto custa, Atletas Olímpicos, Receitas, Beleza, Virou meme e Como ser. Neste ano, entraram as categorias “perto de mim”, “quanto custa” e “como ser”.
Confira a lista:
Buscas do ano (geral)
Marília Mendonça
Eurocopa
Palmeiras
Libertadores
Brasileirão
Corinthians
Copa do Brasil
MC Kevin
Copa América
Lázaro Barbosa
Acontecimentos
Olimpíadas 2021
Vacina Covid-19
Whatsapp fora do ar
Caso Henry Borel
Caso Lázaro
Afeganistão
Lockdown
Queda do avião de Marília Mendonça
Foguete chinês
Greve dos caminhoneiros
Como fazer
Como fazer horta em casa
Como fazer brinquedos para gatos
Como fazer um Pix
Como fazer soro caseiro
Como fazer backup do WhatsApp
Como fazer café gelado
Como fazer o cadastro do Auxílio Brasil
Como fazer o recadastramento do Auxílio Emergencial
Como fazer Prova de Vida pelo celular
Como fazer boletim de ocorrência online
O que?
O que é cringe?
O que é basculho?
O que aconteceu com o WhatsApp?
O que é politraumatismo?
O que estuda a gelotologia?
O que é comorbidade?
O que é Talibã?
O que é estigma?
O que aconteceu com MC Kevin?
O que é imunossuprimidos?
Mortes
Marília Mendonça
MC Kevin
Lázaro Barbosa
Paulo Gustavo
Bruno Covas
Tarcísio Meira
Eva Wilma
Agnaldo Timóteo
Major Olímpio
Cristiana Lôbo
Filmes
Eternos
Viúva Negra
Liga da Justiça de Zack Snyder
Venom: Tempo de Carnificina
Invocação do Mal 3
Marighella
Esquadrão Suicida
Cruella
Duna
A Menina que Matou os Pais
Séries
Round 6
Bridgerton
Cidade Invisível
Sweet Tooth
Wandavision
Cobra Kai
Lupin
Sex Education
Maid
Loki
Programas de TV
BBB 2021
Power Couple
No Limite
Salve-se Quem Puder
A Fazenda 2021
A Vida da Gente
Verdades Secretas 2
The Masked Singer
A Força do Querer
Carinha de Anjo
Música (Letra)
Girl from Rio (Anitta)
Estrelinha (Di Paullo e Paulino com Marília Mendonça)
Batom de Cereja (Israel & Rodolffo)
Deus me Proteja de Mim (Chico César)
Drivers License (Olivia Rodrigo)
Alívio (Jessé Aguiar)
Meu Pedaço de Pecado (João Gomes)
Saturno (BIN prod. Ajaxx)
Penhasco (Luísa Sonza)
Doutora 3 (MC Kevin)
Personalidades
Karol Conká
Sílvio Santos
Luciano Szafir
Lucas Penteado
MC Livinho
Alec Baldwin
Nego Di
Juliette
Joice Hasselmann
Carla Diaz
Clubes de futebol
Palmeiras
Corinthians
São Paulo
PSG
Santos
Fluminense
Real Madrid
Flamengo
Internacional
Chelsea
Perto de mim
Pet shop perto de mim
Vacina da Covid-19 perto de mim
Parque para andar de bicicleta perto de mim
Mercadinho aberto agora perto de mim
Floricultura perto de mim
Padaria perto de mim
Academia perto de mim
Barbearia perto de mim
Vagas perto de mim
Café para viagem aqui perto
Quanto custa
Quanto custa um cilindro de oxigênio
Quanto custa um implante dentário
Quanto custa o teste de Covid-19
Quanto custa um clareamento dental
Quanto custa uma lipo lad
Quanto custa a ECMO
Quanto custa 1 bitcoin
Quanto custa o ingresso do Rock in Rio 2022
Quanto custa uma faculdade de Medicina
Quanto custa a grama do ouro
Atletas olímpicos
Rebeca Andrade (Ginástica Artística)
Isaquias Queiroz (Canoagem)
Simone Biles (Ginástica Artística)
Rayssa Leal (Skate)
Ítalo Ferreira (Surf)
Maurício Souza (Vôlei)
Gabriel Medina (Surf)
Rosamaria Montibeller (Vôlei)
Douglas Souza (Vôlei)
Ana Marcela Cunha (Natação)
Receitas
Brownie de Nescau
Bolinho de chuva
Bolo de milho verde
Bolo de cenoura de liquidificador
Geleia de amora
Bolo de caneca
Bacalhau com batata
Arroz doce
Strogonoff de frango
Curau de milho
Beleza
Unhas decoradas
Ácido hialurônico
Cabelo curto
Alopecia
Piercing no umbigo
Penteados
Paleta de cores
Maquiagem simples
Lash lifting
Design de Sobrancelha
Virou meme
Cringe
Palmeiras
Mia Khalifa
Mó Paz
Cremosinho
Pfizer (Pifáizer)
Memes de frio
BBB21
Round 6
Leite Condensado
Como ser
Como ser uma pessoa fria
Como ser entregador do Mercado Livre
Como ser hacker
Como ser atriz
Como ser modelo
Como ser mais confiante
Como ser mais inteligente
Como ser um bom vendedor
Como ser Uber
Como ser corretor de imóveis
*CNN Brasil
Assim como muitos americanos, a historiadora Brodwyn Fischer não chegou a aprender muito sobre o Brasil quando estava na escola. O primeiro contato mais profundo veio no início da faculdade, 30 anos atrás e, desde então, ela não parou mais de pesquisar sobre a história brasileira.
“Uma das coisas que mais me fascinaram foi que começar a estudar história do Brasil me fez olhar diferente para a própria história dos Estados Unidos, porque os dois países têm muitas características básicas e estruturais, digamos assim, em comum.”
São dois países de dimensões continentais, ricos em recursos naturais, formados por populações originárias de três continentes, moldados pelo colonialismo e pela escravidão. No papel, Brasil e EUA são marcados por semelhanças – e, no entanto, tomaram caminhos completamente diferentes.
Há cerca de 10 anos Fischer explora essas questões com seus alunos em uma disciplina ministrada inicialmente na Universidade Northwestern e hoje na Universidade de Chicago, onde foi batizada de Brazil: Another American History (“Brasil: Outra História Americana”, em tradução literal).
Em 18 aulas, o programa é uma imersão na história brasileira, passando pelo período colonial e o regime escravista à industrialização e formação das grandes cidades. Entre as leituras obrigatórias há desde clássicos da literatura, como Vidas Secas, de Graciliano Ramos, até autores fundamentais para entender o Brasil, como Sérgio Buarque de Holanda (O Homem Cordial) e Celso Furtado (Formação Econômica do Brasil).
A BBC News Brasil conversou sobre alguns desses temas com a professora, que é Ph.D pela Universidade de Harvard e foi diretora do Centro de Estudos para a América Latina da Universidade de Chicago entre 2015 e 2020.
De forma geral, as comparações entre Brasil e Estados Unidos costumam ser permeadas por generalizações e exageros que colocam os dois países em polos opostos que muitas vezes não existem, avalia Fischer.
É o que a historiadora chama de “ideias hiper-reais” – algo que nunca existiu de fato, mas acaba sendo colocado no debate como a essência de um determinado conceito.
Uma dessas “ideias hiper-reais” seria justamente a razão que levou Brasil e EUA a se tornarem nações tão diferentes, apesar das semelhanças estruturais. No Brasil, muita gente reproduz a ideia de que a explicação está centrada no tipo de colonização a que os dois países foram submetidos – a portuguesa, implantada no Brasil, teria sido mais brutal e restritiva, enquanto a inglesa, levada aos EUA, teria dado aos americanos maior grau de liberdade, usado para desenvolver instituições e uma democracia mais sólidas. Uma divergência que teria selado o destino dos dois países.
“Acho que uma das coisas com as quais a gente se depara no Brasil, mesmo entre pessoas com maior escolaridade, é essa ‘ideia hiper-real’ do que são os Estados Unidos. (A questão da colonização) é exatamente isso, mas os historiadores americanos não pensam mais dessa forma sobre sua história.”
O que explica então as diferenças tão profundas?
Para Fischer, uma das razões remonta ao século 19 e tem uma ligação estreita com “as relações entre indivíduos e os direitos de cidadania”.
Em ambos os países, ela diz, a escravidão foi brutal, “algo que, moralmente, não deveria ter sido institucionalizado”. O Brasil, contudo, viveu uma situação particular depois de 1831, quando o tráfico de escravizados foi proibido por lei – mas não acabou na prática.
“A partir daí, a elite e o Estado passam a conspirar para que a escravidão continuasse, ainda que ilegalmente. Entre 1831 e 1850 (ano da promulgação da Lei Eusébio de Queiroz, que reafirmava a proibição ao tráfico), algo entre 700 mil e 800 mil pessoas foram trazidas ilegalmente para o Brasil para serem escravizadas. E toda a estrutura do Estado durante esses anos foi desenvolvida para ajudar as pessoas a contornar a lei.”
“Acho que essa é uma diferença fundamental. Nos Estados Unidos, nós tendemos a legalizar as brutalidades. Tornamos legal a possibilidade de que as pessoas andem armadas na rua, por exemplo. Então muitas das coisas que aparecem nos dois países acontecem dentro da lei nos EUA e fora da lei no Brasil”, acrescenta.
“Acredito que isso, de diversas formas, ajudou a moldar a maneira como o país opera. Um dos pontos que argumento é que o poder informal se desenvolveu muito cedo no Brasil, para preservar a ‘casa grande’ (termo usado para se referir aos grandes proprietários rurais do Brasil colonial), de forma que muita gente simplesmente não tem acesso a direitos políticos e civis básicos ou tem acesso limitado a direitos econômicos e sociais, quando estes entram em cena.”
Sem esses direitos básicos, a forma como essas pessoas que estão fora do círculo das elites têm acesso ao poder, por sua vez, é fora da estrutura do Estado e da lei. “E acho que o fato de que isso absorve uma fatia tão relevante das relações de poder no Brasil, em comparação ao que tradicionalmente se viu nos EUA, explica boa parte das divergências entre os dois países”, conclui a professora.
Algumas dessas ideias estão na tese de doutorado de Fischer, resultado de uma pesquisa na cidade do Rio de Janeiro, que ganhou no ano 2000 o Harvard University Gross Prize como melhor dissertação em História. O trabalho virou livro em 2010, publicado pela Stanford Press University e intitulado A Poverty of Rights: Citizenship and Inequality in Twentieth-Century Rio de Janeiro(“Pobreza de Direitos: Cidadania e Desigualdade no Rio de Janeiro do Século 20”, em tradução literal).
Uma das ferramentas em um país em que o poder informal tem muita relevância é justamente o “jeitinho brasileiro”, que se relaciona com o conceito do “homem cordial” de Sérgio Buarque de Holanda, que está na bibliografia do curso ensinado por Fischer.
Na visão da historiadora, contudo, o “jeitinho” é outra “ideia hiper-real”, uma espécie de exagero, na medida em que está longe de ser uma exclusividade do Brasil.
“Quando há estudantes brasileiros nas minhas aulas, eles são os primeiros a mencionar o ‘jeitinho’ e dizer: ‘Ah, nós somos bastante diferentes dos EUA!’. E aí o que eu tento fazer é mostrar as diversas maneiras pelas quais as pessoas nos Estados Unidos usam o ‘jeitinho’. Não chamamos de ‘jeitinho’, mas a ideia de alguém tentar contornar as normas que não lhe favorecem é universal.”
Fischer ilustra essa discussão com um comentário sobre o antropólogo Roberto da Matta, um dos “intérpretes do Brasil” mais lidos nos Estados Unidos, que chegou a escrever que o trânsito caótico no Brasil e o hábito dos motoristas brasileiros de “fechar” e “furar” são, em certa medida, reflexos do “jeitinho”.
“Ele morava numa cidade pequena em Indiana, onde viveu quando lecionava na [Universidade de] Notre Dame, e tinha essa ideia de que nos EUA as pessoas respeitam as leis de trânsito – mas, se você estiver em qualquer grande cidade, vai ver que isso não é verdade. As pessoas atravessam fora da faixa o tempo todo, estão quebrando regras, vendendo produtos ilegalmente na rua… Todas essas coisas acontecem em toda parte aqui, então é mais uma daquelas ‘ideias hiper-reais’.”
A diferença, ela diz, é muito mais uma questão sobre como um povo vê a si mesmo.
“Acho que tem a ver com a discussão sobre como a autopercepção de uma nação de fato acaba lhe dando forma. Se você é brasileiro, a ideia de que o ‘jeitinho’ está no centro do seu mundo o legitima e o transforma em algo que as pessoas estão dispostas a fazer com maior frequência.”
“Aqui nos EUA, a ideia ‘hiper-real’ do que nos tornava diferentes era a lei e a ordem, de que nós seguimos as regras. Não era verdade, mas era como pensávamos sobre nós mesmos. Acho que isso começa a se desintegrar – nos EUA, mais e mais pessoas não confiam nas leis e no Estado. Mais pessoas não acham que a melhor forma de resolver seus problemas é respeitando as normas. A ideia do ‘jeitinho’ aqui tem cada vez mais se tornado senso comum, na forma como o tem sido há tanto tempo no Brasil.”
Uma das diferenças mais complexas entre Brasil e EUA se dá no campo das relações raciais, destaca a professora. Apesar de ambos os países terem instituído sistemas brutais de escravidão, o Brasil passou por um processo intenso de miscigenação entre brancos, negros e índios, que não se viu na mesma medida nos EUA.
Um dos fatores que ajudam a explicar os contrastes, diz a historiadora, é a própria demografia. O Brasil recebeu um volume muito maior de africanos escravizados, aproximadamente 5 milhões, ante cerca de 250 mil desembarcados nas 13 colônias que formariam os EUA, conforme a plataforma Slave Voyages, um grande banco de dados mantido por pesquisadores da Universidade de Emory, nos EUA.
Isso foi determinante para que o Brasil se tornasse um país de maioria negra, que hoje corresponde a cerca de 50% da população, conforme a classificação do IBGE que reúne quem se declarou preto ou pardo no Censo de 2010. Nos EUA, ainda que haja regiões no sul em que a população negra seja predominante, no país como um todo ela é minoria – algo entre 12% e 13% do total, atualmente.
“Acho que isso às vezes é minimizado”, diz a professora, que se prepara para lançar o livro The Boundaries of Freedom: Slavery, Abolition, and the Making of Modern Brazil (“Os Limites da Liberdade: Escravidão, Abolição e a Construção do Brasil Moderno”, em tradução livre) em coautoria com a historiadora brasileira Keila Grinberg. Prevista para 2022, a obra é editada pela Cambridge University Press.
Com uma proporção elevada de pessoas escravizadas, foram diferentes os mecanismos de controle social colocados em prática no Brasil para manter o sistema escravista vivo durante três séculos. Ainda que fosse brutal e violento, ele incorporou, por exemplo, o instrumento das alforrias. Menos recorrentes nos EUA, aqui elas foram mais largamente utilizadas, concedidas não apenas pelos “senhores de escravos”, mas compradas pelos próprios escravizados, por organizações abolicionistas e de caridade.
Outra diferença importante e que teria reflexos profundos na formação das relações raciais no Brasil foi a relativa mobilidade que corria em paralelo à lógica de violência e sujeição que marcou o regime escravista.
No Brasil, um escravizado poderia passar a vida cortando cana-de-açúcar e ver seu filho trabalhando como escravo doméstico, exemplifica a historiadora. Ela lembra as obras do pintor francês Jean-Baptiste Debret, que chegou a retratar uma espécie de “hierarquia” entre os escravizados que viviam no ambiente urbano.
Além dos escravizados que se dedicavam aos afazeres domésticos na casa de seus “senhores”, havia, por exemplo, os escravos de ganho, que trabalhavam fora – como vendedores ambulantes ou prestando serviços a terceiros – e repassavam parte do que auferiam a seus proprietários. Pesquisas como a da historiadora Ynaê Lopes dos Santos, professora de História das Américas na Universidade Federal Fluminense (UFF), apontam ainda que, no Rio de Janeiro do século 19, alguns escravizados chegavam a morar fora da casa dos “senhores”, em cortiços e imóveis alugados.
“Essa foi uma dimensão importante. Era um certo nível de mobilidade que poderia ser conquistado sem um confronto aberto à instituição da escravidão”, pontua Fischer.
Nos EUA, especialmente nas colônias do sul, essa mobilidade era praticamente inexistente e as tensões sociais, muitas vezes mais visíveis.
“A polarização era tão grande que não havia muita alternativa a não ser criar grupos de solidariedade e eventualmente movimentos pelos direitos civis.”
Os EUA implementaram uma série de normas e leis racistas que desencorajavam a miscigenação. O casamento interracial, por exemplo, foi proibido em diversas partes do país até 1967, quando uma lei do Estado da Virginia foi derrubada na Suprema Corte.
Outro exemplo prático foi a chamada “one drop rule” (“regra de uma gota”, em tradução literal), adotada em vários Estados: independentemente do fenótipo, um indivíduo com qualquer antepassado de origem africana era classificado como negro, com todas as implicações legais que isso acarretava no país. Nenhum outro grupo étnico era identificado dessa forma.
Já no Brasil, a miscigenação muitas vezes foi vista como instrumento de mobilidade social – e, nesse sentido, é fundamental para entender a forma particular de racismo que se desenvolveu aqui, que se manifesta muitas vezes de forma velada.
“Faço muita pesquisa com ações judiciais do século 19, e essa é uma das coisas mais dolorosas com as quais tenho que trabalhar como historiadora”, comenta Fischer.
“Nesses processos você consegue ver todo tipo de estratégia que as pessoas usavam para tentar melhorar um pouco suas vidas. E uma das coisas que se pode observar são pessoas que tentavam clarear a pele dos filhos. Elas querem que os filhos sejam chamados de pardos, alguns querem que eles sejam reconhecidos como brancos na certidão de nascimento. Há uma espécie de racismo internalizado, que funciona de forma parecida com a da mobilidade dentro do sistema escravista, de forma que não se confronta o racismo como sistema.”
“Então você pode ir de negro, a pardo e branco, e o racismo ainda está completamente colocado – está sendo reforçado, na verdade.”
Essas dinâmicas, completamente diferentes do racismo institucionalizado que se via em países como EUA e África do Sul, culminam na “democracia racial”, a ideia de que não havia discriminação racial no Brasil, disseminada por teóricos como o sociólogo Gilberto Freyre, autor de Casa Grande e Senzala, obra que reforça essa visão.
A historiadora comenta que a “ilusão” da democracia racial aparece inclusive na imprensa negra americana, em artigos de jornais como o Chicago Defender, que ela apresenta aos alunos no curso.
Jornalistas e sociólogos como W. E. B. Du Bois, ativista pelos direitos civis, vieram ao país no início do século 20, após a visita do presidente americano Theodore Roosevelt, e chegaram a escrever que o Brasil seria um exemplo a ser seguido no contexto das relações raciais.
“Você vê negros americanos dizendo: ‘Olha, eu fui lá e vi médicos negros, políticos, Machado de Assis, um grande escritor negro… O que eles não percebem é que essas pessoas não necessariamente são vistas como negras.”
“E isso foi muito antes de a ideia da democracia racial emergir mais formalmente no Brasil nos anos 1940.”
Esse conceito seria desmistificado por intelectuais brasileiros como Abdias do Nascimento, ativista pelo direitos dos negros e que também faz parte da bibliografia do curso de Fischer, com a obra Brazil: Mixture or Massacre (“Brasil: Mistura ou Massacre” em tradução livre).
De volta à questão do poder informal, a historiadora argumenta que ele é chave para entender o racismo no Brasil e é um dos instrumentos usados até hoje para reforçá-lo.
“Nos Estados Unidos, essa questão (sobre como o racismo é reforçado) tem um pouco mais a ver com o fato de que as instituições são abertamente e claramente racistas em suas práticas. É uma comparação interessante, porque, no fim do dia, se você é negro e pobre no Brasil, é baixa a probabilidade que você tenha acesso a direitos, e o mesmo vale para os EUA. Existe uma semelhança em relação aos resultados, mas os caminhos para se chegar a eles são bem diferentes – e tentar entender isso pode trazer benefícios para os dois países”.
Informações BBC News Brasil
Aos médicos, ele disse que “escorregou” e caiu em cima do objeto
Um fato inusitado ocorreu em um hospital na cidade de Gloucestershire, na Inglaterra, na quarta-feira (1º). Um homem deu entrada no Hospital Real com um projétil de canhão dentro do reto e precisou da ajuda do esquadrão antibombas para desarmá-lo.
De acordo com o jornal The Sun, o homem afirmou que o projétil foi parar no reto após um acidente. Ele contou que estava realizando uma limpeza quando colocou no chão o objeto que possui 17 cm de comprimento e 6 cm de largura. Em seguida, disse que escorregou e caiu em cima do projétil, que acabou entrando em seu ânus.
Após a entrada do homem no hospital, a equipe do Regimento de Descarte de Artilharia Explosiva foi ao local e registrou a ocorrência como “um paciente com munição no reto”.
Ainda segundo o veículo, especialistas afirmaram que o objeto é um projétil de 57 mm da Segunda Guerra Mundial, utilizado em canhões antitanques. Os profissionais de saúde decidiram chamar o esquadrão antibombas por acreditar que o projétil poderia explodir.
Um integrante do 11º Regimento de Descarte de Artilharia Explosiva afirmou que o projétil era um “pedaço de chumbo pontudo e grosso, projetado para atravessar um tanque”.
Informações Pleno News
Com o passar do tempo, é comum haver uma baixa de testosterona no organismo. De maneira errada, muita gente associa a testosterona apenas aos homens. De acordo com o endocrinologista, Luís Bianchi, o hormônio, também é importante para as mulheres, estando diretamente ligado à produção de massa muscular, manutenção do desejo sexual e regulação do humor.
Conforme publicou o Portal Metrópoles, parceiro do Bahia Notícias, a quantidade de testosterona no corpo é medida em exames de sangue. De acordo com o nutricionista Paulo Mendes, apesar de um consenso sobre os níveis ideais ainda não ter sido estabelecido, os parâmetros mais comum de equilíbrio são 300 nanogramas de testosterona por decilitro de sangue para homens e entre 50 e 80 nanogramas para as mulheres.
O nutricionista Paulo Mendes afirma que, por conta do estilo de vida moderno, é mais comum apresentar menos testosterona do que o ideal. O sedentarismo e uma alimentação que não faz o aporte necessário de os nutrientes estariam por trás do problema.
Há condições de saúde pré-existentes que impactam na produção de testosterona. A obesidade, por exemplo, seria uma delas. Caso você esteja apresentando déficit na produção deste hormônio, Mendes sugere a adoção de hábitos mais saudáveis para tentar regulá-lo antes de partir para a reposição hormomal. Veja 8 dicas separadas por ele:
Pratique atividade física – Segundo o nutricionista, manter o corpo em movimento aumenta os estímulos energeticamente positivos no organismo. Os treinos de força, como o funcional, a musculação e o crossfit, aumentam a produção de testosterona. Já os exercícios aeróbicos, diminuem. O importante é manter o equilíbrio entre os dois tipos de treino;
Tenha boas noites de sono – Mendes explica que dormir bem é fundamental, pois garante o bom funcionamento do organismo. Segundo o especialista, pessoas que têm privações de sono por 3 horas diminuem em até 20% sua produção de testosterona;
Medite – De acordo com o nutricionista, a prática meditativa melhora o funcionamento das regiões do cérebro e, consequentemente, diminui o estresse. O controle do estresse colabora para a regulação da produção de testosterona;
Evite dietas muito restritivas – Mendes explica que restrições calóricas e dietas com baixo teor de carboidratos durante muito tempo também reduzem os níveis de testosterona. Se sua necessidade for aumentar a produção do hormônio, evite fazer dietas low carb e a cetogênica por muito tempo;
Aumente a vitamina D – A vitamina D é importante para a produção de testosterona. Para aumentá-la, basta tomar sol de maneira frequente;
Mantenha um peso saudável – De acordo com Mendes, o sobrepeso e a obesidade reduzem os níveis de testosterona, pois aumentam a quantidade de gordura na região das vísceras. Com isso, a testosterona é convertida em estradiol, aumentando a incidência de disfunção erétil e a perda da libido;
Evite fumar – O tabagismo suprime a produção de testosterona;
Cuidado com os anticoncepcionais – Paulo Mendes sugere que as mulheres com o hormônio em baixa evitem o uso de anticoncepcionais de uso oral, pois eles diminuem a quantidade de testosterona que circula no corpo. Segundo o especialista, com isso, há redução na libido, piora do sono e alteração do fluxo menstrual.
*Bahia Notícias
Há 90 anos, o Cristo Redentor é um simbolo da fé. Mas além da questão religiosa, o santuário também é uma fonte geradora de negócios que gera empregos e desenvolve outras atividades em seu entorno.
Segundo um estudo recém concluído pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), o monumento é responsável por movimentar R$ 1,4 bilhão na economia e por gerar e manter pelo menos 21.393 empregos diretos e indiretos em 68 setores da economia.
São negócios que os turistas movimentam como na rede hoteleira, restaurantes, serviços de transporte, entre outros. O levantamento conclui ainda que os turistas que vistam a estátua permanecem até 1,2 dia a mais na Cidade Maravilhosa do que aqueles que descartam uma passadinha no Corcovado.
A estátua é ainda o único santuário católico do mundo localizado a céu aberto e o espaço também pode receber eventos variados e de exposição de marcas. Em janeiro, por exemplo, a prefeitura escolheu o local para iniciar sua campanha de vacinação contra a Covid-19. O lado místico não foi esquecido, já que a marca é valorizada porque o Cristo é símbolo de esperança para os brasileiros.
*Metro1
Com a queda do WhatsApp nesta segunda-feira (4), usuários do aplicativo de mensagens foram em busca de outras opções para se comunicarem com familiares e amigos. E o aplicativo que obteve maior procura por usuários foi o Telegram.
Concorrente direto do WhatsApp, o Telegram é um dos aplicativos de mensagem que mais cresce e conta com recursos exclusivos que não estão presentes no rival, como melhores funções grupos.
1 – O primeiro passo é entrar na loja de aplicativos do seu celular e procurar pelo aplicativo do Telegram: o link direto para usuários de iPhone é este, enquanto que, para usuários do Android, é este.
2 – Depois é só clicar no botão de instalar e esperar o download terminar e a instalação ser concluída.
3 – Por fim, é só abrir o aplicativo e seguir as instruções para criar sua conta. O Telegram irá enviar um código por SMS que deverá ser inserido no campo especificado. Quem quiser trocar a foto, é só ir menu escrito “Configurações” e editar o nome de usuário e sua foto de perfil.
Interessados em transferir as conversas do WhatsApp para o Telegram podem seguir o procedimento descrito aqui.
Informações: Pleno.News
No Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+, celebrado anualmente em 28 de junho, a dúvida de muita gente se concentra na “sopa de letrinhas” que não para de crescer.
A evolução da sigla para designar diversas minorias sexuais e de gênero é uma resposta ao tamanho do espectro e das demandas da comunidade composta por lésbicas, gays, bissexuais, travestis, trans, queers, pansexuais, agêneros, pessoas não binárias e intersexo por mais visibilidade.
O movimento se constituiu na Revolta de Stonewall, em Nova York, em 1969. Gays, lésbicas e travestis colocaram fim às agressões que sofriam em batidas policiais ocorridas naquele ano em um bar da cidade, o Stonewall Inn. O grupo resistiu por três dias, e o ato virou um marco por mais igualdade de direitos.
Na primeira sigla, GLS, o “S” representava os simpatizantes, pessoas aliadas à causa LGBTQIA+. Mas logo o acrônimo se mostrou ultrapassado e excludente porque deixava de fora as demais identidades.
A grande mudança na sigla ocorreu, depois, com o “L” passando a encabeçar a sequência de letras para dar mais visibilidade às demandas de mulheres lésbicas. A abreviação também ganhou o “B”, para bissexuais.
O “Q” (“questionando”, para uns; “queer”, termo genérico antes pejorativo, para outros) também surgiu, e o amontoado de letras continua a crescer.
Atitudes continuam a mudar, e a linguagem para orientação sexual e identidade de gênero também.
Eis, abaixo, um glossário incompleto.
Gay e lésbica
Quando “homossexual” passou a soar clínico e pejorativo, no fim dos anos 1960, “gay” virou o termo para pessoas atraídas por parceiros do mesmo sexo. Com o tempo, “gays e lésbicas” se popularizou para frisar questões distintas das mulheres, e “gay” hoje é mais usado para homens
Bissexual
Alguém atraído por pessoas de seu gênero e de outros. Estereótipos de que seria uma transição ou camuflagem para promiscuidade são alvo de debate nos círculos LGBTQIA+. Defensores criticam o questionamento da identidade bissexual, mas há pessoas que veem no prefixo “bi” o reforço do binômio masculino/feminino
Pansexual
Quem sente atração por gente de todas as identidades de gênero ou pelas qualidades de alguém independentemente da identidade de gênero. Antes termo acadêmico, ganhou aderência com visibilidade de celebridades como Miley Cyrus
Assexual
Alguém que sente pouca ou nenhuma atração sexual. Não equivale à falta de atração romântica (os “arromânticos”)
Cisgênero
Alguém cuja identidade de gênero se equipara ao sexo que lhe foi designado ao nascer
Transgênero
Termo amplo para pessoas cuja identidade ou expressão de gênero difere do sexo biológico designado ao nascer
Não conformidade de gênero
Quem expressa o gênero fora das normas convencionais de masculinidade ou feminilidade. Nem todos são transgênero, e alguns transgêneros se expressam da forma convencional masculina/feminina
Não binário
Pessoa que não se identifica como homem nem mulher e se vê fora do binômio de gênero, como o personagem Taylor Mason, da série “Billions”
Genderqueer
Outro termo para quem não se vê no binômio feminino/masculino e exibe características de um, de ambos ou nenhum
Fluidez de gênero
Termo usado por pessoas cuja identidade muda ou flutua. Às vezes podem se expressar como mais masculinas em um dia e mais femininas em outro
Neutralidade de gênero
Alguém que não se descreve por um gênero específico e opta pelo uso de pronomes neutros [em português, prevalece o uso de “x” ou “e” no lugar de “a” e “o”, como “elx”]
Intersexual
Pessoa com características sexuais biológicas não associadas tradicionalmente a corpos femininos ou masculinos
+
O sinal denota tudo no espectro do gênero e sexualidade que as letras não descrevem.
Informações: Folhapress
Foto: Reprodução
Ainda um mistério, a verdadeira origem do vírus da Covid-19 divide opiniões. No entanto, novas evidência reforçam a teoria inicial de que o coronavírus do tipo Sars-Cov-2 foi criado em um laboratório em Wuhan, na China – possibilidade esta que já havia sido exposta pelo ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump.
O comentarista do programa Pânico, da rádio Jovem Pan, Paulo Figueiredo, esmiuçou o que tem sido relatado por diversos veículos norte-americanos, como a Fox News, Washington Post, New York Times e outros.
Figueiredo começou explicando sobre o recente artigo de um famoso editor de Ciências de jornais renomados.
O veterano editor da área científica do New York Post, que também já passou pelas revistas Science e Nature, Nicholas Wade, publicou um artigo no jornal Washington Post afirmando que há pouquíssimas dúvidas de que o vírus da Covid-19 realmente tenha surgido em um laboratório de Wuhan, província China.
No artigo, Wade expõe as ‘coincidências’ da pandemia que levam a crer que há uma espécie de conspiração global entre líderes, países, empresas e até a própria Organização Mundial da Saúde com o único interesse de esconder a verdadeira origem do vírus.
Uma das evidências é a de que há um laboratório em Wuhan que, antes da pandemia, fazia pesquisas sobre o coronavírus. Ao contrário do que foi informado na época, os primeiros infectados com a Covid-19 não estavam em um mercado em Wuhan consumindo sopa que tinha o morcego como ingrediente. Os primeiros infectados teriam sido trabalhadores do laboratório que conduzia pesquisas sobre o coronavírus – informação que os Estados Unidos já haviam divulgado no início da pandemia.
Informações: Pleno News
BBC NEWS
As grandes instituições religiosas do Brasil colonial e imperial tiveram negros escravizados — e muitos. Pesquisas recentes apontam para um número de escravos muito acima da média do que havia nas grandes propriedades rurais, práticas de incentivo à procriação para aumentar a quantidade de mão de obra e até mesmo uma tabela de preços para quem quisesse comprar a alforria — com critérios específicos para precificar cada ser humano.
Os escravizados mantidos por mosteiros e conventos também eram obrigados a professar a fé católica, participando de missas, momentos de orações e recebendo os sacramentos.
Os que se rebelavam quanto à conversão costumavam ser punidos com castigos “de forma exemplar” ou seja, com intensidade suficiente para convencer os demais a não repetir gestos de desobediência.
De quebra, a luta pela aquisição de liberdade — ou seja, a compra de uma carta de alforria — costumava ser mais difícil para um escravo de ordem religiosa do que para alguém que estivesse sob o jugo de um senhor leigo.
Por outro lado, a libertação dos escravizados por mosteiros e conventos ocorreu 17 anos antes da assinatura da Lei Áurea, em 1871.
Autor do recém-lançado livro Escravos da Religião (Ed. Appris), pesquisador na Universidade Federal Fluminense (UFF) e idealizador do podcast Atlântico Negro, o historiador Vitor Hugo Monteiro Franco revira arquivos da Ordem de São Bento desde 2014.
O material foi tema de sua iniciação científica, de sua monografia de conclusão de curso, de seu mestrado e, agora, está sendo esmiuçado em seu doutorado.
“Uma das principais descobertas foi o próprio termo ‘escravos da religião'”, conta ele.
“Não foi um termo que eu criei. É o termo na época que encontrei em livro de batismos. Foi um choque para mim.”
Na ocasião, ele estava analisando os registros dos nascidos no século 19 em propriedade rural mantida pelos beneditinos na Baixada Fluminense, a Fazenda São Bento de Iguassú.
“Na hora de qualificar os pais, o monge não os qualificava como ‘escravos da Ordem de São Bento’, mas sim como ‘escravos da religião’.”
Para o pesquisador, residia aí uma diferença fundamental entre o modo de vida dos escravos mantidos por instituições religiosas: o fato de o senhor não ser uma pessoa, mas sim uma entidade.
“Parece simples, mas não é. A situação geral da escravidão no Brasil é de escravos privados, de senhores leigos. No caso dos ‘da religião’, eles não pertenciam a um monge específico, eram de propriedade coletiva. E isso teve repercussões na vida dessas pessoas para sempre, porque influenciava na forma, no dia a dia deles”, diz o historiador.
Franco ressalta que o cotidiano desses negros escravizados estava “regulado” pelos hábitos religiosos do catolicismo e da vida monástica.
“Por mais que a sede dos religiosos estivesse no centro do Rio e a fazenda na Baixada Fluminense, sempre havia um monge cuidando de lá. Era o chamado padre fazendeiro”, contextualiza.
“Ele fazia o trabalho espiritual: batizava as pessoas, casava-as, sepultava-as. Os beneditinos eram um tipo de senhor que conhece muito bem sua escravaria, anotando tudo em muitos detalhes.”
“Os monges conheciam cada momento, cada fase da vida dos seus escravizados. Por mais que as propriedades fossem enormes, eles tinham o controle administrativo sobre aquelas pessoas, ao contrário dos senhores leigos, que muitas vezes tinham um contato muito pequeno com os escravizados”, compara.
“Isso dava (aos religiosos) um poder muito grande. Ser ‘escravo da religião’ significava ter sua vida controlada por uma instituição religiosa”, acrescentou Monteiro Franco.
E não era um rebanho pequeno para ser controlado. De acordo com as pesquisas de Franco, quando os religiosos emanciparam seus escravos, em 1871, somente os beneditinos tinham um total de 4 mil escravizados.
“Eram três as principais ordens religiosas escravistas do Brasil: os jesuítas, os beneditinos e os carmelitas. Em menor escala, os franciscanos também”, elenca.
A primazia da Companhia de Jesus foi até o século 18. Em 1759, contudo, os jesuítas foram expulsos do Brasil.
E aí os beneditinos assumiram essa posição. Durante o século 19, período analisado pela pesquisa de Franco, a Fazenda de Iguassú costumava ter um número constante de cerca de 130 escravos.
“Destoava muito das outras fazendas da região, em que havia em média 10 escravos por senhor”, afirma o pesquisador.
Mas essa propriedade não era a maior das beneditinas. Em Jacarepaguá, a fazenda dos religiosos tinha mais de 300 escravos. Em Campos dos Goitacazes, 700.
“E essas são só as três maiores propriedades dos monges de São Bento”, diz Franco. “É muita gente. Era a principal ordem escravista do Brasil. Eu nem considero a Ordem de São Bento uma grande proprietária [de escravos]. Era uma megaproprietária, estava acima dos grandes proprietários, era a elite da elite.”
Uma maneira de garantir a abundância de mão de obra escrava era o incentivo que os monges davam para que as escravizadas tivessem muitos filhos.
“As mulheres que procriavam pelo menos seis filhos conseguiam privilégios, tais como não realizarem trabalhos ‘penosos'”, conta o historiador Robson Pedrosa Costa, autor do livro Os Escravos do Santo(Editora UFPE) e professor no Instituto Federal de Pernambuco e na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
A partir de 1866, os benefícios às mães de pelo menos seis filhos passaram a ser a liberdade gratuita — desde que elas “estivessem devidamente casadas”, pontua o historiador.
Para os monges senhores de escravos, religião era uma coisa, negócios eram outra. Pelo menos é o que fica claro em outro achado do historiador Monteiro Franco: nos registros de batismo, a maior parte das crianças era registrada como sendo filho de mãe solteira.
Havia uma razão econômica para isso. “Até pouco tempo atrás se acreditava que as ordens religiosas de maneira geral incentivavam o casamento por causa do valor cristão do matrimônio e também para um fator de incentivo da reprodução da comunidade escrava, do ponto de vista senhorial”, pontua o pesquisador. “Mas o que encontrei foi a maior parte das mulheres como mães solteiras.”
Segundo ele, isso não significa que essas mulheres não tivessem relacionamento estável ou que vivessem na promiscuidade.
A questão chave estava na propriedade da criança que nasceria dessa gravidez. Em caso de mãe e pai sacramentalmente unidos, poderia haver alguma discussão se o filho pertenceria ao senhor da mãe ou do pai.
Então, os beneditinos preferiam não oficializar relações estáveis quando as mulheres de sua fazenda tinham homens de fazendas vizinhas.
Quando ambos eram da mesma propriedade, aí sim, o sacramento do matrimônio era concedido.
Tais condutas fizeram com que os beneditinos conseguissem manter um grande número de escravos no século 19, mesmo com a dificuldade, para os latifundiários escravocratas, decorrentes da Lei Eusébio de Queirós — que, a partir de 1850, proibiu o tráfico negreiro.
“Estas instituições [religiosas] construíram, ao longo dos séculos, grandes corporações, muito semelhantes a grandes empresas pautadas em um complexo sistema organizacional”, afirma Costa.
“No caso dos beneditinos, foi possível entender que a instituição foi capaz de construir um sistema de gestão eficiente e duradouro, que garantiu o fornecimento de escravos para as suas propriedades sem recorrerem ao tráfico.”
“Claro que eles compraram escravos no século 19, mas foram poucos”, completa o professor.
A estratégia consistia em incentivar a procriação e a tentativa de manutenção das famílias. “Eles evitavam ao máximo vender seus escravizados, principalmente a separação de famílias, uma instituição sagrada para os monges. Apenas os cativos considerados ‘incorrigíveis’ deveriam ser vendidos. Mas eles foram poucos. As famílias escravizadas eram extensas e duradouras. Isso garantia a perpetuação do quantitativo de escravos”, explica Costa.
Prática relativamente comum entre escravizados no Brasil, a compra da liberdade era mais difícil para um “escravo da religião”. Enquanto no caso daquele que servia a um senhor leigo bastava convencê-lo — com acordos e, muitas vezes, um valor em dinheiro — no caso dos monges era preciso passar por um processo formal.
Aquele que pleiteava a alforria precisava fazer uma petição aos religiosos. Não havia negociação direta. “Estamos falando de uma propriedade institucional”, lembra o historiador Franco. “Não era simples. Os monges liam a petição e colocavam para votação, usando favas pretas para marcar as negativas e favas brancas para sinalizar positivo.”
A partir da década de 1850, a Ordem de São Bento criou uma tabela de preços para casos de alforria. Pelo documento, o preço dos escravizados variava conforme saúde, idade e sexo.
“O valor ia aumentando de acordo com a idade até a fase mais produtiva. A partir da adolescência, eles passam a entender que um homem pleno de saúde vale mais do que uma mulher”, explica Franco.
“Esse documento mostra com todas as letras qual a posição de um senhor de escravos: transformar as pessoas em commodities”, define ele.
Embora haja uma corrente que acredite que a escravidão impetrada por religiosos fosse mais branda do que a conduzida por senhores leigos, pelos valores cristãos supostamente respeitados, Franco não compactua com essa ideia. Primeiramente porque é enfático ao dizer que a privação da liberdade a que um escravo está sujeito já é, por si só, uma grande violência.
Além disso, ele encontrou registros que atestam atos de crueldade. “Tem um caso, em um fazenda de Cabo Frio, também dos beneditinos, em que dois monges foram presos depois de matarem, de tanto espancar, um escravizado. Isso no século 18”, conta ele. “Olha o nível da violência.”
Ele também se deparou com relatos de fugas em que o escravo, uma vez capturado, era submetido a um “castigo exemplar”. O mesmo acontecia para quem não demonstrasse seguir a fé católica.
“Há um registro de uma visitação realizada por um monge (encarregado de vistoriar os trabalhos do padre fazendeiro), que dizia que era bom que o mesmo não descuidasse do espiritual dos escravos, para ver se eles estavam seguindo os preceitos do cristianismo”, aponta Franco.
“E, verificando que não estivessem seguindo, que fossem punidos exemplarmente. Se não se redimissem, que fossem vendidos.”
Mas em que trabalhavam os “escravos da religião”?
Boa parte deles fazia um trabalho semelhante a qualquer outro escravo de propriedades rurais. As instituições religiosas tinham muitas terras e nelas cultivavam cana de açúcar e outros insumos valiosos para a economia da época. Quem fazia esse trabalho era a mão de obra escrava.
No caso dos religiosos, contudo, havia também muitos escravos com trabalhos especializados. Carpinteiros, ferreiros, oleiros, sapateiros, boticários, enfermeiros. “Além daqueles que serviam os monges no claustro: botavam a comida na mesa, tocavam o sino da capela, seguravam o livro na hora da missa, e por aí vai”, diz o historiador Franco.
Nesse sentido, a Ordem de São Bento investiu em capacitação. Como eles tinham grandes propriedades com necessidades específicas, passaram a treinar os escravos que pareciam mais aptos a trabalhos específicos. “Para eles, era melhor fazer isso do que pagar um sujeito livre para desempenhar esses papéis”, afirma.
Esses que tinham ofícios especializados não eram inimputáveis a sofrerem castigos. “Encontrei um registro de um monge que se dedicava a ensinar ferraria a escravos. E ele era tão violento que acabou sendo deslocado de posição”, exemplifica Franco.
Desempenhar essas funções especiais, por outro lado, conferia prestígio dentro da comunidade escrava. E muitos desses profissionais acabavam conseguindo fazer trabalhos “por fora” e, assim, juntar dinheiro para, no futuro, comprar a alforria.
As ordens religiosas libertaram seus escravos ao longo de 1871, ou seja, 17 anos antes da Lei Áurea. A primeira instituição a fazer isso foi a Ordem de São Bento. Aos poucos, os beneditinos foram seguidos pelos demais religiosos.
Segundo os pesquisadores, esse movimento era resultado de um embate da Igreja Católica com o Estado.
“Havia uma relação de tensão entre Estado e as ordens religiosas”, pontua Franco. “Estava ocorrendo um embate político em que cada vez mais a classe política e outros setores da elite brasileira acreditavam que os religiosos tinham propriedades demais, escravizados demais e eram improdutivos. Por outro lado, o Estado via a chance de se apropriar das propriedades dos religiosos.”
Ao libertar os escravos na mesma época da promulgação da Lei do Ventre Livre, as instituições católicas geraram uma comoção nacional.
“A abolição não significa simplesmente a questão humanitária por trás da liberdade do indivíduo, mas também uma questão de ordem econômica sobre aqueles que você teria de estar empregando”, afirma o historiador Philippe Arthur dos Reis, pesquisador na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
“O custo de manutenção desses indivíduos, em geral era muito mais dispendioso ter os escravos do que importar pessoas de fora e pagar salário”, acrescenta.
O historiador Costa lembra que desde a Independência, em 1822, “várias vozes começaram a sugerir que as ordens religiosas eram instituições inúteis e péssimas administradoras de seus bens”.
“Quando os debates sobre a abolição se acirraram a partir de 1865, novamente as ordens, consideradas grandes escravistas, foram colocadas na berlinda. Uma lei de 1869 instituiu que as instituições religiosas deveriam libertar todos os seus escravos em um prazo de 10 anos. Até lá, poderiam libertá-los ou criar contratos de prestação de serviço por tempo determinado”, detalha o historiador.
“Prevendo uma maior intervenção do Estado e do Parlamento, a Ordem de São Bento do Brasil já havia se antecipado, decretando a liberdade de todo as crianças nascidas a partir do dia 3 de maio de 1866”, diz ele.
Essa medida teve impacto nas autoridades. O imperador Dom Pedro Segundo (1825-1891) presenteou o então abade geral com uma caixa de ouro cravejada de diamantes. Já o deputado Tavares Bastos (1839-1875), voz abolicionista, declarou que o gesto era “um ato generoso e solene” — e que deveria ser seguido pelas demais instituições religiosas.
Em 1871 veio a libertação total dos “escravos da religião”.
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Usuários de uma rede social se pronunciaram sobre uma notícia de que Dudu Camargo, apresentador do Primeiro Impacto, não tem o Ensino Médio completo. A informação foi divulgada por conta de um boletim de ocorrência obtido pelo site TV POP.
O caso veio à tona após Dudu causar um acidente de trânsito, no último domingo (18), e não prestar socorro à vítima. A escolaridade dele foi exposta no boletim, que foi registrado na 89º DP pelo condutor de uma motocicleta, identificado como Breno Rocha.
O acidente aconteceu no bairro do Morumbi, em São Paulo. Na ocasião, também foi descoberto que Dudu dirigia sem habilitação. Ele foi liberado da delegacia após a abertura de um Termo Circunstanciado por ter cometido crime contra a coletividade.
Informações: Pleno News