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Bali quer revogar visto para russos e ucranianos após turistas violarem leis locais

Foto: Nyimas Laula/The New York Times.

Durante a maior parte do ano passado, milhares de russos e ucranianos se reuniram na ilha de Bali, na Indonésia, para escapar da guerra.

Lá, eles encontraram refúgio em um paraíso tropical, cujos moradores estenderam o tapete de boas-vindas para os ucranianos que fugiam do bombardeio e os russos que evitavam o recrutamento. Então, um influenciador russo escalou uma árvore sagrada de 700 anos, nu.

Depois disso, um artista de rua russo pintou um mural antiguerra numa casa particular, e um adolescente russo foi pego vandalizando uma escola. Uma série de colisões de motocicletas envolvendo russos e ucranianos levantou questões sobre a segurança do trânsito na ilha.

Agora, o outrora acolhedor povo balinês está farto. Confrontado com uma enxurrada de reclamações, o governador Wayan Koster anunciou no início do mês que pediu ao governo indonésio que revogue o acesso da Rússia e da Ucrânia ao programa de vistos na chegada ao país.

Ele disse que muitos dos que foram a Bali para evitar a guerra não apenas violaram uma série de leis locais, como procuraram empregos tendo vistos de curto prazo, para turistas. A obtenção de um visto na chegada, por uma taxa de US$ 33, geralmente é instantânea e sem burocracia.

Os balineses há muito suportam turistas malcomportados em incidentes isolados. Agora, reclamam regularmente de estrangeiros seminus andando de moto e profanando objetos considerados sagrados na ilha, onde predomina o hinduísmo.

“É como se eles vivessem numa bolha e não se importassem com o que está fora da bolha”, disse I Wayan Pardika, 33, guia de turismo balinês. “Para eles, tudo bem ficar seminu, só de biquíni, e dirigir sem capacete. Mas eles não veem que não é assim para os moradores ao seu redor.”

Os balineses inicialmente simpatizaram com a situação dos emigrados. Muitos concederam crédito para aluguel de carros e casas aos russos, que se viram isolados do sistema internacional de pagamentos por causa das sanções. Depois de ficarem fechados por dois anos durante a pandemia de Covid, eles estavam ansiosos por renda.

Mais tarde, porém, descobriram que muitos russos haviam aceitado empregos na ilha como instrutores de surfe e guias de turismo. Alguns iniciaram seus próprios negócios de aluguel de carros e residências, violando as leis que regem os vistos de turista e diminuindo a renda local.

“Abrimos nossas portas e nossos braços e os recebemos com um grande sorriso”, diz Niluh Djelantik, fundador de uma marca de calçados em Bali. “Mas nossa bondade foi considerada como algo garantido.”

As autoridades estão lutando para lidar com o súbito afluxo de russos, que agora constituem o segundo maior grupo de turistas na ilha, depois dos australianos. No ano passado, 58 mil russos e 7.000 ucranianos visitaram Bali. Somente em janeiro, 22,5 mil russos chegaram à província.

Em maio de 2022, o governo indonésio adicionou a Rússia e a Ucrânia à lista de países elegíveis para seu programa de visto na chegada. Isso permite que russos, ucranianos e cidadãos de outros 85 países permaneçam por um período inicial de 30 dias e por mais 30 dias se solicitarem prorrogação.

Sandiaga Uno, ministro do Turismo, indicou que o governo não revogaria o programa de vistos como pedido pelo governador de Bali. Em um discurso semanal no início deste mês, ele disse que o número de pessoas que causam problemas “não é muito significativo”.

Em novembro passado, Sandiaga disse ao The New York Times que o governo ajudaria a renovar os vistos de turista dos que fogem da guerra.

Mas as autoridades de Bali se concentraram nas crescentes infrações de trânsito envolvendo russos e ucranianos, que às vezes se tornam fatais. Em resposta, o governador Wayan anunciou na semana passada a proibição a todos os estrangeiros de conduzir motocicletas, decisão que, segundo Sandiaga, deveria ser revertida.

A agência de turismo de Bali disse que colocaria placas em inglês, russo e ucraniano pedindo aos turistas que sigam “regras de bom senso”. “Não poste fotos ofensivas e vulgares nas redes sociais”, dizia um cartaz. “Use roupas de banho reduzidas em locais apropriados.” Os infratores enfrentariam “grandes multas e deportações”.

O embaixador da Ucrânia na Indonésia, Vasil Hamianin, disse que ficou ofendido por Wayan ter misturado russos e ucranianos. Ele pediu ao governador que lhe mostre as estatísticas criminais envolvendo ucranianos e citou dados do governo indonésio que mostram que os russos foram responsáveis por 56 infrações de trânsito em Bali na semana passada, enquanto houve cinco casos ucranianos.

Hamianin disse que os 5.000 ucranianos que vivem atualmente em Bali contribuem para a economia local, pagam impostos e são “cidadãos bons e obedientes”. Explicou que eles estão lá por causa da guerra, mas que “a maioria absoluta diz que quer voltar para casa”.

“Acho que é simplesmente humano permitir que pessoas que fogem da guerra fiquem algum tempo em seu país”, disse Hamianin.

Elena Pozdniakova, 33, uma engenheira de Moscou que chegou a Bali em setembro passado com o marido e a filha de 3 anos, disse que os vários relatos de turistas russos que se comportam mal a deixam “envergonhada”. “Só quero dizer que nem todo russo é assim.”

O marido de Pozdniakova, Sergei Pozdniakov, disse que entende a frustração porque também testemunhou alguns de seus compatriotas se comportando de maneira rude. Apesar da raiva nas redes sociais, ele e sua esposa dizem que continuam emocionados com a hospitalidade. “Nunca conhecemos um balinês que dissesse: ‘Porque você é russo, você é mau’”, disse Pozdniakov.

Silmy Karim, diretor-geral de imigração do Ministério de Justiça e Direitos Humanos, disse que ainda está analisando a proposta de Wayan de revogar o programa de visto na chegada para a Rússia e a Ucrânia.

Ele afirmou que seu foco principal é eliminar os estrangeiros que violam a lei local e que está estudando os exemplos de outros países com grande número de turistas russos, incluindo a Tailândia, onde há mais de 350 mil russos apenas na ilha de Phuket. “Eles podem ser ordeiros”, disse ele. “Cabe a nós vigiá-los e discipliná-los.”

Créditos: Folha de S. Paulo.

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