O senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS), ex-vice-presidente da República, está irritado com o tratamento que os militares do Exército têm recebido por parte de alguns parlamentares da CPMI do 8 de Janeiro. Em uma publicação nas redes sociais, o senador — que também é general — comentou sobre “honra, coragem e decoro parlamentar”.
“Sobre honra, coragem e decoro parlamentar… aqueles que aproveitam de seu foro privilegiado e de suas prerrogativas inquisitórias em uma CPMI, ofendendo e difamando pessoas que lá estão formalmente designadas para prestar esclarecimentos, não são dignos representantes dos votos que receberam e pior, demonstram que sua valentia só se presta para redes sociais”, escreveu Mourão na sexta-feira 15.
Conforme interlocutores de Mourão, o recado não tinha “nome”, mas tinha “endereço”. O general se referia a participação do senador Jorge Seif (PL-SC) na sessão da CPMI da quinta-feira 14. Na ocasião, Seif chamou o general Dutra, ex-chefe do Comando Militar do Planalto (CMP), de “covarde”.
Na CPMI, Seif mostrou um vídeo da oitiva de Dutra à CPI do 8 de Janeiro do Distrito Federal. O ex-chefe do CMP relatava que, na noite de 8 de janeiro, ligou para o G. Dias, então ministro do GSI, para pedir que a desmobilização no acampamento em frente ao quartel-general em Brasília fosse realizada apenas na manhã da segunda-feira 9.
G. Dias teria tentado convencer Lula, mas não obteve sucesso. “Insisti e ele passou o telefone para que eu falasse com o presidente”, continuou Dutra. “Expliquei ao presidente que, até o momento, o lamento era devido à depredação, mas que se a desmobilização acontecesse naquela noite, poderiam acontecer mortes. O presidente concordou.”
Na conversa, Lula teria dito que todos os que estavam nos acampamentos eram “criminosos”, e Dutra teria concordado. Dutra ainda elogiou a “inteligência emocional” do presidente. Além de Seif, nas redes sociais, internautas ofenderam o ex-chefe do CMP chamando-o de “general melancia” — verde por fora e vermelho por dentro.
A insatisfação de Mourão também se estende aos ataques proferidos pela base governista. O senador também não teria gostado do modo como o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Bolsonaro, e o coronel Jean Lawand Júnior foram tratados pelos membros do colegiado.
Na avaliação do ex-vice-presidente, quando os militares vão ao colegiado usando a farda, representam a instituição Exército, portanto, desrespeitá-los atinge a cúpula das Forças Armadas. Em resposta a Hamilton Mourão, nas redes sociais, Seif rebateu:
Os deputados federais André Fernandes (PL-CE) e Carla Zambelli (PL-SP) também rebateram Mourão. “Valente mesmo é você, que não teve sequer coragem de ir na CPMI defender seu colega de farda. Bundão!”, escreveu Fernandes.
Já Carla disse que Mourão deveria “honrar os votos que teve” e que “sempre teve a sensação de não confiar” nele. Além disso, a parlamentar disse que as Forças Armadas, até 2022, era a “instituição mais confiável” do Brasil.
Em entrevista a Oeste em junho deste ano, Hamilton Mourão comentou o fato de a imagem do Exército ter ficado “arranhada” com o eleitor conservador. Segundo ele, há uma “incompreensão muito grande por parte da sociedade”.
“Sempre pergunto quando me abordam: ‘Vocês queriam um golpe de Estado? Como ele se daria? Iriam destituir todos os governadores e o Congresso? Eu, que era vice-presidente, seria preso? Qual era a finalidade desse golpe de Estado? Fazer uma nova eleição ou manter o Bolsonaro como ditador?’. Esse processo das redes sociais, com as notícias falsas, é uma coisa complicada. Começou com a extrema-esquerda e, depois, chegou à extrema-direita”, disse o senador à época.
Revista Oeste