Com 99% das urnas apuradas nas eleições de Portugal, o PS (Partido Socialista) admitiu a derrota nas eleições parlamentares realizadas neste domingo (10), que foi marcada pelo aumento expressivo da bancada da extrema direita.
O líder da AD (Aliança Democrática), de centro-direita, Luís Montenegro, reivindicou a vitória — o país estava havia oito anos sob o governo socialista do primeiro-ministro António Costa. Com 99,01% dos votos apurados, a AD, coligação composta pelo PSD (Partido Social Democrata) e dois partidos conservadores menores, e o PS (Partido Socialista) aparecem cada um com 28,67%. A informação é da Comissão Nacional de Eleições.
“Parece incontornável que a AD ganhou e o PS perdeu”, diz líder da centro-direita.Comemorando a vitória, Montenegro minimizou a pouca diferença para o Partido Socialista e declarou que o desafio para realizar um novo governo e novas políticas é grande, mas já prometeu um programa de saúde nos primeiros 60 dias de governo.
Já o Chega, de extrema direita, obteve o terceiro lugar com 18,03% (1.100.429 votos). O resultado mostra o crescimento da ultradireita em Portugal, quase quadruplicando a sua bancada. No pleito de 2022, o partido obteve 7,3% dos votos — 12 cadeiras, contra 46 cadeiras de agora. O Chega entrou no parlamento português há apenas quatro anos.
A sigla surgiu em 2012 e é comandada pelo deputado André Ventura e cresceu com uma pauta anti-imigração. O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) é um dos principais apoiadores do partido e chegou a gravar um vídeoconvocando os brasileiros com dupla nacionalidade a votarem em Ventura.
Os portugueses elegem 230 deputados da Assembleia da República neste domingo (10).Diferentemente do que ocorre no sistema eleitoral do Brasil, em Portugal os eleitores votam nos partidos e não em um candidato. Estimativas apontavam que abstenção deveria ficar entre 32% e 46,5% dos 10,8 milhões de eleitores aptos a votar, segundo as projeções das redes de TV.
O Ministério da Administração Interna (MAI) informou que até as 16h (horário de Lisboa), 51,96% dos eleitores tinham votado. A taxa é superior à das últimas eleições legislativas, em janeiro de 2022, quando a estimativa de comparecimento médio às urnas na mesma hora foi de 45,66%.
Esta é a noite em que acabou o bipartidarismo em Portugal. Não sabemos quem será o próximo governo, mas o Chega fez história ao atingir mais de 1 milhão de votos. É uma vitória que tem de ser ouvida no Palácio de Belém, onde um Presidente da República procurou, à última hora, condicionar o voto dos portugueses. Mas este povo sabia o que queria e disse que é ele quem escolhe o governo.
André Ventura, deputado à frente do partido de extrema direita Chega
Temos de ver o que desse voto [no Chega] é voto estrutural e o que é voto de protesto.
Temos um partido forte e unido, pronto para os combates que temos pela frente. O PS será oposição. Como dizia o nosso militante número um, só é derrotado quem desiste de lutar. Voltaremos a construir uma maioria que permita governar Portugal.
Pedro Nuno Santos, líder do Partido Socialista
Eleição, que acontece a cada dois anos, foi antecipada. O pleito de 2024 foi marcado após a renúncia do primeiro-ministro socialista António Costa em novembro do ano passado. Ele é investigado pela Procuradoria-Geral da República por interferências na concessão de projetos de lítio e hidrogênio verde.
Porém, logo depois de a apuração vir à tona, a imprensa local noticiou que a investigação pode confundido o premiê socialista com António Costa Silva, ministro da Economia e do Mar — o MP não se manifestou.
Após pedido de renúncia, Costa negou “a prática de qualquer ato ilícito ou censurável”.Ele também agradeceu aos portugueses por terem “depositado a confiança” nele ao longo dos oito anos em que esteve no cargo. Ainda, afirmou que sai com a “cabeça erguida” e com “consciência tranquila”.
Costa estava no governo desde 2015. Ele foi reeleito em 2022 e permaneceria no cargo até 2026 caso não tivesse renunciado.
(UOL com informações da AFP, Ansa, Euronews, Publico e Reuters)