Quando me dizem que Cuba é uma “ilhazinha” do Caribe eu falo: – Esse não conhece Cuba! Falar de Cuba em termos diminutos não traduz uma realidade, nem sua importância, muito menos seu calibre geográfico. Cuba é mais conhecida no Mundo do que o Brasil, e já falando de dimensão geográfica, de um extremo ao outro, a ilha mede mais de mil quilômetros, separando o paraíso de Maria la Gorda, ao inferno de Guantánamo.
Imagine percorrer de carro de Belo Horizonte a Florianópolis? Salvador a Fortaleza? Brasília a Curitiba? Essa é mais ou menos a distância entre um extremo ao outro na ilha de Cuba. A terra que ficou conhecida como o palco teatral de Fidel Castro e sua eterna ira contra os “Yankees imperialistas”, e é nessa ilha de regime ditatorial, que odeia até a morte qualquer administração estadunidense, que está a base militar mais misteriosa, mais secreta, mais conturbada dos próprios “Yankees”, o Campo Delta na Baía de Guantánamo, um pedacinho dos Estados Unidos dentro do território de Cuba!
Como assim? Não estou entendendo nada! Os Estados Unidos têm uma base militar dentro de Cuba, é isso? – Sim! Exatamente isso! Os Estados Unidos da América possuem em Cuba uma base militar que está regida por um tratado de aluguel eterno, e se por um lado Fidel Castro sempre quis a morte de alguns, ou todos, os presidentes dos Estados Unidos, por outro, durou sua vida inteira tendo que habituar-se com os Estados Unidos dentro da sua ilha, sem poder dizer nada, por causa de um tratado histórico, e de uma guerra pouco conhecida de nós brasileiros.
Em 1898 é deflagrada a Guerra Hispano-Americana depois que os Estados Unidos interviram na Guerra de Independência de Cuba. Pois é! Os Estados Unidos ajudaram Cuba a ficar livre da Espanha, e desse modo, o povo de Cuba e os “americanos”, lutaram lado-a-lado contra os fragilizados espanhóis, que acabaram sendo expulsos da ilha. Aliás, aquela guerra não foi uma guerra qualquer. Concomitantemente ao que ocorria em Cuba, também ocorria nas Filipinas, num modelo orquestrado de libertação do domínio espanhol, mas as Filipinas é uma outra história, porque o que se deseja saber é: porque os Estados Unidos tem um pedacinho de terra em Cuba?
Dez semanas de batalhas, depois que o navio “blindado” espanhol Cristóvão Colombo é afundado, os Estados Unidos saem vencedor, ironicamente após a queda de um artefato bélico com o nome do descobridor das Américas. E com os efeitos da guerra veio um verdadeiro tsunami de mudanças geopolíticas em todas as regiões das Américas, e Cuba fica de fato livre (Cuba Libre) da Espanha, mas não dos Estados Unidos, que a recebe como espólio de guerra.
Mudando um pouco de saco pra mala! E por falar em Cuba Libre, acho que todo mundo sabe, mas não custa nada dizer mais uma vez! O termo Cuba Libre no campo etílico refere-se ao drink composto de Ron e Coca-Cola, ou seja, a mistura do símbolo do caribe com o símbolo “americano” …
E assim Cuba saiu das mãos de uma potência e passou a pertencer disfarçadamente a outra, e mesmo depois de constituída a República de Cuba em 1902, quem dava as cartas eram os EUA com o “Governo Intervencionista”, até que em 1909, saem “quase” todos os Yankees de Cuba, mas não sem antes assinarem um contrato de aluguel de um terreno de 117km² da Baía de Guantánamo, eternamente arrendado por U$ 4.085,00 anuais.
Era a condição de saída definitiva, e os fragilizados cubanos não tinham escolha, senão assinarem e passarem a contar com os EUA como AMIGOS, para no caso de um ataque espanhol, ou de qualquer outro povo brigão do Caribe. Aliás, o termo Piratas do Caribe sempre foi bem empregado na mais alta acepção das palavras PIRATARIA e CARIBE, portanto, em terra de cego, quem tem um olho deveria ser Rei, mas no caso de Cuba, é caolho!
Oficialmente, por ser um território alugado, Guantánamo é de Cuba, mas desde a Revolução Cubana de 1959 que nenhum cubano tem acesso ao lugar, e mesmo a contragosto, o temido Fidel Castro nunca ousou invadir a base, nem no auge da crise dos mísseis soviéticos.
A Guantánamo estadunidense é uma baía com duas reentrâncias controladas com forte poder bélico, onde há, dentre outras instalações, um aeroporto, uma prisão e um porto, tudo voltado ao cunho militar, onde os Estados Unidos da América refugiam muitos dos seus segredos de guerras, inclusive prisioneiros. Todos os presos da Al-Qaeda estão lá, sendo interrogados há anos e alguns, confinados pelo mesmo período futuro que durar o acordo de aluguel do lugar.
O arrogante Fidel Castro sempre achou o maior insulto Yankee ao povo cubano, manter uma instalação militar legalmente, num país declaradamente inimigo, e dizem que depois de desvalorizados, os $ 4.085,00 (que permanece até hoje), o comandante Castro passou a recusar o pagamento feito por Washington, mas o contrato de aluguel “ad eterno” permanece em vigor!
Preciso abrir um parêntese: Que diabos de contrato de aluguel é esse que foi celebrado em 1909, com duração vitalícia, que não previu uma única correção? Será que eles, os cubanos, imaginaram que o Dólar nunca se desvalorizaria em mil anos? Será que o advogado que redigiu o contrato fez o curso de direito por correspondência? Ou será que Tio Sam estava com um fuzil apontado para a cara de um fumador de charutos na hora da redação e ciência do pacto?
Não bastassem as curiosidades sobre Guantánamo, a imprensa mundial afirma que é lá o único campo minado das Américas. A imensa e fortificada cerca que delimita a área da base, o Campo Delta, tem logo em seguida, uma área aberta onde estão enterradas milhares de minas explosivas, calibradas para detonarem ao menor sinal de um cão de pequeno porte.
De fato, deve ser muito difícil, para não dizer humilhante, ver o seu maior inimigo dormir em sua casa e não poder fazer nada. Os Estados Unidos possuem posições estratégicas em todo o território das três Américas. Em Cuba e bem em frente a Guantánamo, 160 km ao sul, há uma pequena ilha desabitada de 5,2 km² chamada Navassa. Um promontório rochoso entre a Jamaica e o Haiti que também pertence aos EUA, de onde por muitas vezes, já se ouviu histórias de ser uma futura base militar “americana”. Lenda ou fato, Navassa e Guantánamo estão lá, silenciosas ao lado de seus birrentos inimigos…
Quando estive em Havana pela primeira vez, não contive a curiosidade e fui até onde me permitiram ir. Cheguei bem perto da cerca limite do Campo Delta. Fui a cidade de Guantánamo, que pertence a Cuba, e cheguei no povoado de Caimanera, um lugar ‘sui generis’ de meia dúzia de casas de pescadores, que recebe alguns poucos turistas, que querem ver a bandeira dos Estados Unidos da América tremulando em solo cubano.
A impressão que me deu, como mero eufemismo, foi como ver dois canibais que dormem na mesma cama, como amantes!
Fonte: Champ Brasil