Seja na igreja, em um vestiário de futebol antes de uma partida ou em casa, o Pai-Nosso é a oração mais conhecida do cristianismo. Católicos, protestantes, ortodoxos e espíritas kardecistas recitam a “oração que Jesus nos ensinou”.
Na Bíblia, o Pai-Nosso aparece duas vezes: no Evangelho de Mateus e no de Lucas. Em ambas, Jesus aparece ensinando seus discípulos a orar. No entanto, essa oração tem uma origem que precede Jesus e o Novo Testamento.
Jesus não era cristão, mas judeu. E foi justamente dentro da tradição judaica que ele se inspira na criação do Pai-Nosso. Pesquisadores consideram natural que Jesus, sendo judeu, tenha se familiarizado muito com as ideias e as próprias verbalizações da liturgia na sinagoga. Até porque Jesus participava da sinagoga.
Essa origem judaica se comprova, por exemplo, na semelhança que há entre o Pai-Nosso e a Amidá, ou Oração das 18 Preces, central da liturgia judaica.
A expressão Pai-Nosso aparece muitas vezes no Antigo Testamento, porque os judeus consideram Deus como pai e Deus considera os judeus como seus filhos. Isso já era muito comum nas orações judaicas.
Ao analisarmos o Pai-Nosso, são feitos sete pedidos a Deus. Esse número, na Bíblia, significa plenitude daquilo que o homem precisa.
Os três primeiros têm relação com o reino de Deus:
Já os quatro últimos pedidos são relacionados à vida do ser humano:
Na tradição católica, o Pai-Nosso está no centro das Sagradas Escrituras e é a oração do Senhor. Não é à toa que o Pai-Nosso é rezado em todas as missas.
Já para os protestantes, aparece como guia. Nessa tradição, o Pai-Nosso até pode ser rezado na íntegra — e muitas denominações de fato rezam em suas liturgias —, mas está mais para um guia de como orar.
Assim, Jesus não ensina uma fórmula, mas sim como se dirigir a Deus. Ao longo da história, essa oração foi tomada dos evangelhos para fazer parte da liturgia. Por isso que, na missa, reza-se a oração do Pai-Nosso no final.
Existem diversas versões e traduções do Pai-Nosso. Na Igreja Católica, usa-se a segunda pessoa do plural (vós) e a expressão “perdoai-nos as nossas ofensas”. Já no protestantismo, reza-se utilizando a expressão “nossas dívidas”.
Tanto o uso de dívidas quanto o de ofensas vêm de diferentes traduções e não podem ser considerados errados. No Brasil, a Igreja Católica usava “dívidas” até o Concílio Vaticano 2º, quando mudou para “ofensas”.
Outra diferença se dá no final da oração. Os protestantes, entre eles os evangélicos, terminam com “pois teu é o reino, o poder e a glória para sempre”, frase que não aparece em versões católicas da Bíblia. É provável que tenha sido um acréscimo feito por copistas e não tenha sido escrito por Mateus.
Ainda assim, é necessário ressaltar que, no uso litúrgico do Pai-Nosso dentro da Missa, após o “livrai-nos do mal”, o sacerdote reza uma prece em nome da assembleia, que responde, ao fim, “vosso é o Reino, o poder e a glória para sempre”.
O Pai-Nosso já foi usado até como medida de tempo. Muito antes dos cronômetros na cozinha, cozinheiros utilizavam a oração para poder saber o tempo que determinado alimento deveria ficar no fogo.
A oração também já virou algumas músicas. Liszt, Tchaikovsky e Verdi são só alguns dos compositores que já musicaram o Pai-Nosso.
Fonte: Donizete Scardelai, pesquisador, doutor pela USP e professor de Teologia na PUC-Campinas
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