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Um experimento envolvendo 101 pessoas na Alemanha trouxe novas evidências de que o uso intenso do celular se assemelha ao vício em drogas e jogos.
Os resultados foram publicados nesta quarta-feira (18/11) na revista científica PLOS ONE.
Nele, os pesquisadores monitoraram o tempo de uso de iPhones pelos participantes. Estes, por sua vez, responderam a questionários que medem o comportamento em uma espécie de jogo de recompensas (denominado delay discounting, na literatura especializada) — avaliando se uma pessoa prefere esperar menos tempo e obter benefícios menores, ou se consegue aguardar mais para ter ganhos maiores.
O questionário faz perguntas do tipo: você prefere obter 15 euros imediatamente, ou esperar 13 dias para receber 35 euros?
Obter recompensas menores rapidamente caracteriza um comportamento impulsivo, já observado no uso abusivos de drogas, álcool e jogos de azar, segundo a publicação na PLOS ONE. Escolher o caminho mais curto ou mais longo também tende a ser um comportamento estável ao longo do tempo, então para estudiosos da área, ter uma postura ou outra é comparável a um traço de personalidade.
“Nossos principais resultados vão ao encontro de pesquisas anteriores destacando a importância do delay discounting como um indicador de comportamentos problemáticos”, respondeu à BBC News Brasil por e-mail Tim Schulz van Endert, coautor do artigo junto com Peter Mohr, respectivamente pesquisadores da área de economia e neurociência da Universidade Livre de Berlim.
No experimento com as 101 pessoas, aquelas que passaram mais tempo nos seus celulares tinham maior probabilidade de escolher esse caminho mais curto — especialmente quando o tipo de uso era focado nas redes sociais e em jogos.
Ambas foram usadas por um tempo considerável (média diária de 46 minutos para redes sociais e 35 minutos para jogos) pelos usuários, mas as redes se mostraram muito mais presentes nos celulares dos participantes (87% dos aparelhos analisados tinham apps de redes sociais, versus 40% que tinham apps de jogos).
Os participantes gastaram em média 3 horas e 12 minutos do dia nos celulares — sendo no mínimo de 12 minutos e máximo de 8 horas e 24 minutos.
Uma recompensa maior e mais distante foi escolhida em 45% dos casos.
“Os resultados parecem intuitivos, uma vez que ambos os tipos de aplicativos oferecem gratificações na forma de curtidas ou conteúdo engajador (redes sociais) ou prêmios e bônus (jogos). Pesquisas recentes já mostraram que o comportamento nas redes sociais corresponde aos princípios do aprendizado por recompensa”, diz o artigo na PLOS ONE.
Mas o que viria primeiro: pessoas que usam muito o celular seriam estimuladas a ter um comportamento mais impulsivo, ou pessoas mais impulsivas tendem a usar mais o celular?
De acordo com Tim Schulz van Endert, ainda não é possível responder isso.
“Essa questão de causalidade é provavelmente a mais importante nos estudos sobre o uso de smartphones. Nossos dados atuais — e praticamente todos os outros estudos — não permitem uma resposta conclusiva, infelizmente.”
“Considerando um estudo que não encontrou indícios de que o uso mais intenso de smartphones por alguns meses leva a mudanças no comportamento impulsivo em adultos, e no fato de que a escolha impulsiva é uma característica relativamente estável, atualmente tendemos para a interpretação de que indivíduos mais impulsivos tendem a usar mais o smartphone.”