A transformação pela qual a Globo está passando vai atingir diretamente grandes artistas da dramaturgia da emissora. O canal vai seguir o modelo de negócios das plataformas de streaming, como Netflix, Prime Video e HBO Max, e os novos contratos com atores serão assinados apenas por projeto fechado (por obra). A empresa vai demitir todo o elenco fixo de atores, com exceção de alguns nomes, por estratégia de mercado. A diretoria já avalia uma economia milionária com a mudança, que segue a tendência da indústria mundial de entretenimento.
Como o NaTelinha já havia adiantado, essa mudança é uma das consequências do programa Uma Só Globo, que visa unificar e reorganizar o maior Grupo de mídia do Brasil. Com isso, como já vem acontecendo, todos os atores que tiverem seus contratos vencidos, nos próximos meses, serão informados de que não haverá renovação.
A reportagem apurou que até o ano passado, mesmo com as demissões, a Globo ainda estava renovando compromisso com alguns artistas, porém, oferecendo salários mais baixos para continuar na casa, mas este cenário acabou. A regra de não renovação valerá para todos. O banco de elenco fixo será composto apenas com pequenas exceções. Internamente, existe uma forte expectativa na redução dos custos operacionais fixos com o novo modelo. A Netflix, Prime Vídeo e os grandes estúdios de Hollywood já trabalham desta forma.
Dentre os atores medalhões que permanecem contratados pela Globo estão Lima Duarte, Susana Vieira, Adriana Esteves, Fernanda Montenegro, Reginaldo Faria, Irene Ravache, Tony Ramos, Marieta Severo, Renata Sorrah, Glória Pires, Murilo Benício e Flávia Alessandra, dentre outros.
Recentemente, famosos como Juliana Paes, Antonio Fagundes, Glória Menezes, Miguel Falabella e Letícia Sabatella anunciaram sua saída do quadro de funcionários do canal, mas deixaram portas abertas para futuros trabalhos. Caso surja uma oportunidade e o ator esteja disponível, ele participará do projeto e receberá por ele, sem criar um vínculo com a empresa após o término da função.
Procurada pelo NaTelinha, a Globo enviou a seguinte nota:
“Em sintonia com o mercado, a Globo vem adotando novas dinâmicas de trabalho com seus talentos. Destacando que a não renovação de um contrato não significa o final de uma parceria. Ao contrário, o novo modelo de gestão de talentos permite que essa parceria seja renovada em muitos outros formatos e projetos futuros.”
Essa reestruturação já havia sido pensada há quase 40 anos. Em 1985, uma reportagem do Jornal do Brasil noticiou que a Globo estava cogitando adotar o modelo de contrato por obra, já que muitos atores ficavam um bom tempo sem pisar nos estúdios. Na época, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, era quem comandava a emissora e o projeto não saiu do papel.
Ainda hoje, o veterano não concorda 100% com a estratégia adotada. Para o ex-superintendente de operações da Globo, o canal tem direito de reavaliar o quadro de funcionários, mas precisa valorizar quem o ajudou a se tornar a principal rede de televisão do Brasil.
Em setembro de 2020, em vídeo enviado ao A Tarde É Sua, da RedeTV!, o executivo argumentou. “Quando a Globo começou, teve um ano de incertezas até que nós chegamos e evitamos que ela fosse à falência. Alguns artistas vieram não por salários milionários, porque não havia dinheiro. Eles vieram porque acreditaram em uma ideia, de forma que eles têm que ser tratados de uma forma diferente. Tem que haver uma gratidão em relação a esse pessoal, que eu considero investidores, não contratados da Globo”, defendeu, deixando claro que julga legítima a contratação por obra, mas que preza pela gratidão.
Jorge Nóbrega em foto de João Cotta, da TV Globo
Em julho do ano passado, Jorge Nóbrega, atual conselheiro e ex-presidente executivo do Grupo Globo, falou em entrevista para o Jornal Valor que a empresa passou por uma mudança radical, mas que foi necessária pelos desafios que o mercado impõe.
Segundo ele, a estratégia central dessa reorganização foi transformar o grupo em uma media tech, formato híbrido que se tornou dominante na indústria global de entretenimento. Empresas de tecnologia, como Amazon, por exemplo, passaram a investir na produção de conteúdo. Já companhias de mídia, como a Disney, apostaram na digitalização.
“Somos, hoje, uma companhia com dois corações: a produção de conteúdo, que sempre foi nossa fortaleza, e a tecnologia”, resumiu Nóbrega, que ainda ressaltou que estratégias como essa visam apoiar novos produtos digitais, como o Globoplay.
Informações Na Telinha UOL