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Renato Machado com um cachecol marrom; Chico José com uma camisa azul
Foto: Reprodução/ Tv Globo

Os jornalistas Francisco José e Renato Machado foram demitidos pela Globo nesta segunda-feira (29). A mudança se deve pela nova política da empresa, que tem renovado seu quadro de funcionários e dispensado repórteres mais experientes. Celetistas, Machado e José tinham mais de 40 anos de emissora e atuavam nos últimos tempos no jornalístico Globo Repórter. 

Diretor de Jornalismo da Globo, Ali Kamel enviou e-mail para se despedir dos antigos colegas. Ele elogiou o profissionalismo de ambos e contou que os dois ainda têm trabalhos para serem exibidos, principalmente no Globo Repórter, no qual atuavam prioritariamente. Francisco José havia acabado de voltar de férias. 

Eles se juntam a nomes como Alberto Gaspar, Ari Peixoto,José Hamilton Ribeiro, Eduardo Faustini, Isabela Assumpção e Linhares Júnior, que também saíram neste movimento recente da emissora. A notícia chocou colegas e tocou admiradores internamente, principalmente no Recife, onde Francisco José é considerado uma lenda viva. 

A carreira de Renato Machado

Renato Machado tem 78 anos e estava na Globo desde 1982. Antes, trabalhou no extinto Jornal do Brasil durante 12 anos. Uma de suas primeiras aparições foi na cobertura de um ano da Guerra das Malvinas, entre Reino Unido e Argentina, para o Jornal da Globo.

Em 1983, foi enviado para o escritório da capital britânica. De lá, produziu reportagens especiais e partiu para cobrir momentos marcantes, como atentados terroristas em Paris (1986) e o acidente nuclear de Chernobyl (1986).

De volta ao Brasil em 1995, Machado causou uma revolução nas manhãs. Passou a ser editor-chefe e apresentador do Bom Dia Brasil, função que ocupou entre 1996 e 2010. Foi nas mãos de Machado que o jornalístico passou a ser um jornal factual e mais relevante. Antes, era produzido em Brasília, Com ele, passou a ser feito no Rio de Janeiro.

Saiu do noticiário diário em 2011, quando iniciou mais uma temporada em Londres. Cobriu eventos importantes e acompanhou a escalada do terror na Europa. Voltou novamente ao Brasil em 2016, onde produzia reportagens especiais para o Globo Repórter desde então.

Francisco José: a voz do Nordeste

Francisco José tem 77 anos, 46 deles dedicados ao trabalho na Globo. Ele é uma lenda do Jornalismo no Nordeste. Estava desde 1975 na emissora e foi um dos primeiros rostos com sotaque de fora do eixo Rio-São Paulo a aparecer no Jornal Nacional. Com o tempo, passou a ganhar mais espaço em rede nacional e cobriu grandes eventos fora da região.

Entre eles, estão a Guerra das Malvinas, em 1982; quatro Copas do Mundo (Argentina 1978, Espanha 1982, México 1986 e Estados Unidos 1994); e a ECO-92, conferência sobre o clima realizada no Rio de Janeiro.

Um dos episódios mais impactantes na trajetória de Francisco José aconteceu mesmo no Recife (PE), na cobertura de um assalto a banco em 1987. Uma mulher grávida estava sendo ameaçada com um revólver na cabeça. O repórter se propôs a ficar como refém no lugar dela.

Desde seu começo na Globo, Chico José, como é carinhosamente chamado por colegas, fazia reportagens para o Globo Repórter. Começou a se dedicar mais à função nos últimos anos. Mergulhador, virou o rosto de reportagens sobre as belezas do Brasil.

Leia o e-mail de homenagem para Renato Machado:

“A primeira vez que conheci Renato Machado pessoalmente foi em Brasília, na cobertura do impeachment de Collor, eu pelo Globo e ele pela TV. Estávamos na casa de Eliane Cantanhêde com outros tantos jornalistas – e Renato encantando a todos com suas histórias bem humoradas.

Quando cheguei à Globo em 2001, ele já era apresentador e editor-chefe do Bom Dia Brasil, programa cujo novo formato ele ajudou a criar, em 1996, com mais conversa, mais análise. Sucesso imediato, passou a pautar as redações sobre o que vinha pela frente. Tivemos, nesse período, um contato estreito –especialmente durante as coberturas eleitorais, quando preparávamos as entrevistas que seriam feitas com os candidatos. Atento, atencioso, certeiro.

Renato tem uma experiência invejável no jornalismo: BBC de Londres por dois anos, Jornal do Brasil por 14, e, na Globo, desde 1982 (com apenas um ano de afastamento, quando trabalhou para a TV Manchete). Aqui, foi repórter especial, correspondente em Londres por dois longos períodos e editor-chefe e apresentador do Bom Dia Brasil por 15 anos. Cobriu de tudo: guerras, atentados terroristas, revoluções, tragédias, escândalos políticos, acontecimentos culturais, entrevistas com grandes personalidades internacionais.

Poucos alcançaram tamanho êxito. Entre as coberturas marcantes da qual participou, eu destaco aquela do acidente nuclear de Chernobyl, em 1986. O stand up que fez, à beira de uma lagoa em Upsala, mostrou a qualidade do seu texto e a capacidade de explicar fenômenos complexos. Eu cito de memória, e peço desculpas pela inexatidão. Mas era algo assim: “A radioatividade fica presa nas águas paradas do lago, contaminando tudo, inclusive esse chão onde piso. E é exatamente por isso que devo sair daqui logo”. Virou-se de costas e partiu. Algumas palavras, um gesto, e o público entendeu a dimensão da tragédia.

Renato está há cinco anos no Globo Repórter. E não me surpreende que, logo o primeiro programa dele tenha sido indicado ao Emmy, na categoria “Atualidade”. Emprestou certamente ao programa sua experiência com o jornalismo internacional, que começou já na sua estreia na BBC em 1967. Mas também o traqueio no manejo de temas nacionais, culturais e de comportamento. A câmera gosta dele e o público mais ainda.

A maneira cordata que deixa transparecer no vídeo é a mesma com que trata colegas e amigos. Um profissional ímpar, um colega gentil e um amigo querido.

Também ele, como Zé Hamilton Ribeiro e Chico José, de quem já falei, combinou comigo a sua saída. Foi tão logo voltou de Londres. Um planejamento de longo prazo e por etapas. Segundo nosso acerto, sairia em 2020, mas adiamos para o fim desse ano por conta da pandemia.

Renato deixa um legado de bom jornalismo. É um exemplo do profissional de excelência. Em meu nome, em nome da Globo e de seus colegas, muito obrigado.”

Leia o e-mail para Francisco José: 

“Chico José, cearense de Crato, começou a trabalhar como jornalista em 1966 no Jornal do Commercio do Recife, antes mesmo de a profissão ser regulamentada, como ele gosta de frisar. Pelo jornal, Chico cobriu duas Copas do Mundo e chamou atenção de Armando Nogueira, que o convidou para ser repórter e apresentador do Globo Esporte. O programa começaria a ser exibido na capital pernambucana. Depois de estrear em frente às câmeras, em 1975, achou que a TV não era para ele.

Chico estava enganado.

Há 46 anos, vem fazendo uma carreira brilhante na Globo. Ao longo de sua trajetória, pelo Esporte, Chico participou de quatro Copas do Mundo e duas Olimpíadas. No Jornalismo, coleciona histórias inesquecíveis: foi o primeiro repórter do Nordeste a aparecer no JN, mergulhou ao vivo na Baía de Guanabara durante a Rio-92 (um feito inédito e antológico), cobriu a Guerra das Malvinas (quando chegou a ser expulso pelo militares), acompanhou dezenas de apresentações do Galo da Madrugada, mostrou ao Brasil a importância das festas de São João, acompanhou o Papa João Paulo II na Coreia, revelou ao país as primeiras imagens do naufrágio do Bateau Mouche, e alcançou a impressionante marca de 103 edições do Globo Repórter… Sim, não é erro de digitação: são 103 programas com reportagens dele, um feito. Esses são apenas alguns dos muitos momentos em que Chico deixou sua marca.

Aliás, foi no Globo Repórter que ele mostrou seu lado aventureiro. Pulou de bungee jump, mergulhou com tubarões, seguiu onças na Amazônia, mostrou a vida selvagem na África do Sul e os tesouros do Caribe, encarou elefantes marinhos na Patagônia e muito mais. Foi ao Polo Norte e ao Polo Sul. Em 2013, Chico foi finalista do Emmy com um Globo Repórter sobre a rotina e os rituais dos índios Enawenê-Nawê, na Amazônia.

Mas nada representa mais Chico José do que sua identificação com o Nordeste. É um apaixonado. Durante 10 anos, fez coberturas da seca e da miséria que assolavam o sertão nordestino. Em 2008, percorreu seis capitais para mostrar, ao vivo, o São João no Jornal Nacional. Por 15 anos, ao lado de Beatriz Castro, apresentou e fez reportagens no programa local de meio ambiente Nordeste Viver e Preservar.

Recebeu vários prêmios, inúmeras homenagens e títulos – entre eles o de Cidadão Pernambucano. Convidado para ser correspondente internacional, nunca quis. Costuma dizer que não troca o Nordeste por nenhum outro lugar do mundo. Mas tem no currículo reportagens feitas em todos os continentes. Tem um jeito único de fazer reportagem: envolvente, cativante, leva o espectador para onde ele está. Com palavras precisas, com cenas que marcam.

Eu o conheci pessoalmente ao chegar à Globo, numa visita que fiz ao Recife. Depois dos afazeres na redação, aceitei o convite dele para almoçar. Andando pelas ruas, pude comprovar o quanto é querido, tratado como família pelos pernambucanos, carinho puro, que ele retribui. Uma conversa com ele nunca é curta e é sempre prazerosa. Num de nossos encontros mais recentes, tínhamos uma agenda breve, mas quando nos despedimos já havia se passado uma hora. Conversamos sobre a profissão, o fazer jornalístico, a vida. Chico é um baú de boas histórias e um observador agudo. Jo Mazarollo me disse dele: “Adora contar histórias. As histórias das reportagens e as histórias que surgem enquanto está fazendo as reportagens”. É verdade.

Há três anos, começamos a conversar mais detidamente sobre este movimento que se conclui hoje. Primeiramente, deixou o dia a dia para se dedicar aos projetos que tinha no Globo Repórter. Para a nossa alegria e satisfação do público, fez o que planejou. Em outubro, partiu para o Atol das Rocas, período mais propício para realizar a reportagem há muito sonhada. O resultado, como sempre, superou todas as melhores expectativas. Ao dar o ponto final no texto, ao pronunciar as últimas palavras do programa, encerrou com chave de ouro esses 46 anos de Globo. O resultado vai ao ar em 25 de março do ano que vem. Como planejado.

Eu agradeço ao Chico José, cearense do Crato, cidadão de Pernambuco, jornalista do Brasil, por todo o legado que nos deixa e por tudo o que fez pelo nosso jornalismo. Em meu nome, no nome da Globo e no de seus colegas”. 

Informações Noticias da TV UOL

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