A veterana atriz Fernanda Montenegro esteve presente ao lançamento do longa Vitória, filme dirigido por Andrucha Waddington e produzido pela Globoplay. O filme é inspirado no livro Dona Vitória da Paz, escrito pelo jornalista Fábio Gusmão a partir das histórias de Joana Zeferino da Paz. Joana, sob o pseudônimo Dona Vitória, ganhou notoriedade nos anos 1980 escrevendo e descrevendo as ações criminosas de quadrilhas de traficantes no Rio de Janeiro, tudo sendo observado e por vezes filmado a partir da janela de seu apartamento.
Numa cerimônia no Teatro Municipal de São Paulo, na noite da última segunda-feira, 10, Fernanda anunciou ao público que este é o ultimo filme no qual será vista nos cinemas e que ela está se aposentando. A atriz não fez nenhuma menção ao fato de que a Vitória da vida real, na qual sua personagem se baseia, era uma mulher negra. Só que, mais uma vez, o cinema brasileiro vai criando o hábito de reescrever a história — assim como Wagner Moura o fez, chamando o cantor e ator negro Seu Jorge para interpretar o personagem central de Marighella, que era branco.
Fernanda Montenegro tem 95 aos de idade. Os primeiros passos para a carreira artística se deram quando ela ainda era uma menina de 15 anos, fazendo locução em novelas de rádio. Em 1950, estreou no teatro com a montagem Alegres Canções nas Montanhas, oportunidade em que conheceu o marido, Fernando Torres. No ano seguinte, foi contratada pela recém-criada TV Tupi do Rio de Janeiro, momento em que assumiu o nome Fernanda Montenegro (ela nasceu Arlette Pinheiro Esteves da Silva) e despontou em inúmeras produções de teleteatro. Entre os anos de 1960 e 1970, Fernanda marcou passagens pela TV Rio, Record, Tupi, Bandeirantes, pulando de uma a outra em novelas históricas como Redenção, A Muralha e Sangue do Meu Sangue.
A contratação pela Rede Globo se deu em 1981, quando a atriz participou de uma variedade de novelas de grande repercussão e que entraram para a história da TV brasileira, como Baila Comigo, Brilhante, Guerra dos Sexos, Cambalacho e Rainha da Sucata, entre tantas outras. A carreira na televisão cresceu, ao longo dos anos, paralelamente ao cinema: A Falecida, Tudo Bem, Eles Não Usam Black-Tie, A Hora da Estrela, O Que É Isso, Companheiro? são alguns destaques. O ponto alto, naturalmente, foi sua personagem Dora em Central do Brasil (1998), quando Fernanda Montenegro tornou-se a primeira brasileira a ser indicada ao Oscar de Melhor Atriz — derrotada pela norte-americana Gwyneth Paltrow, por Shakespeare Apaixonado.
No lançamento de Vitória, no Teatro Municipal, Fernanda agradeceu o diretor Andrucha Waddington, com quem já trabalhou no drama Casa de Areia, de 2005. Em tom de despedida, a atriz lembrou que as filmagens de Vitóriaocorreram durante a pandemia, o que exigiu muito esforço físico e fôlego. “Essa noite é pra mim também muito especial, porque na idade que eu estou posso até continuar fazendo minhas leituras em palcos, como já estou fazendo há bastante tempo”, disse ela. “Mas cinema pede físico, pede fôlego… é um momento muito especial nesse palco aqui agora. Muito obrigada.”
Fernanda Montenegro foi e ainda é considerada por muitos uma das melhores atrizes do teatro, da TV e do cinema. Construiu uma sólida e premiada carreira, conquistando o título de Dama das artes cênicas. Nos últimos anos, no entanto, muitos fãs acabaram se afastando por conta das polêmicas e controversas opiniões políticas da atriz, que chegou até mesmo a fazer campanha para Luiz Inácio Lula da Silva, político condenado e preso por corrupção.
O filme Vitória, anunciado para estrear em 2024, está chegando aos cinemas somente agora, nesta quinta-feira, 13 de março.
Informações Revista Oeste