Depois do anúncio da Cúpula do Brics de que as ditaduras da Venezuela e da Nicarágua tinham sido vetadas para ingressar no grupo, o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, desembarcou em Kazan na noite de terça-feira 22, de surpresa. Embora fosse convidado de Vladimir Putin, o presidente russo, a ida de Maduro não era esperada. Ele havia informado a interlocutores que não iria para a Rússia.
Maduro pretende pressionar pela inclusão da Venezuela no bloco, contando com o apoio russo. Até então, o ditador não planejava participar, mas a resistência do Brasil pode ter motivado sua decisão. Ao chegar a Kazan, Maduro afirmou que sua presença representa um avanço significativo para a geopolítica global.
Diplomatas brasileiros são céticos sobre a possibilidade de uma reviravolta — depois de um consenso ter sido alcançado — e lembram que os próprios russos sabem da atual irritação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o chavista e do esgarçamento das relações. No entanto, reconhecem que pode ocorrer mudança no cenário, uma vez que a cúpula não se encerrou ainda e que a instância decisória máxima é a reunião de líderes.
Na segunda-feira, Celso Amorim, assessor especial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, revelou que era contra a entrada da Venezuela no bloco. “Há um excesso de nomes colocados à mesa. O Brics tem que conservar a sua essência de países expressivos e com influência nas relações internacionais. Não estou diminuindo os outros países [candidatos], mas para isso tem a ONU e o G-77”, afirmou.
O Brasil era contra a entrada da Nicarágua, que também foi vetada, assim como a Venezuela. Lula e o antigo aliado, Daniel Ortega, se afastaram depois que o Brasil tentou interceder por religiosos católicos perseguidos pela ditadura do aliado de longa data do petista. O embaixador brasileiro em Manágua foi expulso do país em agosto.
A nova lista de membros convidados para o Brics inclui Cuba, Bolívia, Indonésia, Malásia, Uzbequistão, Casaquistão, Tailândia, Vietnã, Nigéria, Uganda, Turquia e Belarus.
Depois do acordo fechado, a ideia do Brics era não anunciar os novos membros imediatamente. A presidência da Rússia ficou de consultar se os 12 países se comprometem com os critérios de expansão, os princípios e as regras do Brics para chegar a pelo menos dez membros novos.
A intenção era evitar constrangimentos, como a demora da Arábia Saudita em formalizar a adesão e a recusa formal da Argentina de Javier Milei, depois dos convites anunciados durante a expansão do ano passado.
Esses novos países não se tornarão membros “plenos” do Brics, como os atuais — Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Egito, Etiópia e Irã. A ampliação acertada nesta terça na Rússia cria uma nova categoria de associação, os chamados países “parceiros”.
Segundo o Itamaraty, entre as condições avaliadas estavam relevância política, equilíbrio na distribuição regional dos países, alinhamento à agenda de reforma da governança global, inclusive do Conselho de Segurança da ONU, rejeição a sanções não autorizadas pelas Nações Unidas no âmbito do conselho e relações “amigáveis” com todos os membros.
Redação Oeste, com informações da Agência Estado