Uma pessoa segura bandeira do movimento trans — Foto: Brendan McDermid/Reuters/Arquivo
Na sala de espera do ginecologista, mulheres de todas as idades. Jovens, idosas, grávidas. O médico chama pelo nome e elas entram, uma de cada vez, numa rotina comum.
De repente, entre os tantos nomes femininos, um masculino ecoa. Os olhares se voltam. Dessa vez, o paciente é um homem, que tenta seguir até a porta sem chamar mais atenção.
O ambiente é tomado por sussurros, que logo ficam só do lado de fora. Ele entra na sala, fecha a porta e a consulta começa em meio a um tom de constrangimento.
O cenário pode causar estranheza, mas não deveria. O paciente é um homem transexual, que nasceu com sistema reprodutor feminino, tem útero e precisa se cuidar como qualquer pessoa.
No entanto, o medo de situações constrangedoras, como a citada acima, o despreparo de profissionais e o preconceito fazem com que esse público deixe a saúde ginecológica de lado.
Outra preocupação é com o ciclo menstrual, que pode continuar ativo entre alguns homens trans. Para eles, banheiros em que o mictório é a única opção são sinônimos de desrespeito e vergonha.
De acordo com a ginecologista Luciana Pistelli, cuidar da saúde ginecológica é indispensável e cabe ao profissional de saúde se informar para garantir os cuidados específicos.
No Dia da Visibilidade Trans, celebrado neste sábado (29), o g1 destaca relatos de pessoas transexuais do Alto Tietê e mostra que cuidar da saúde independe de gênero e é direito de todos.
Fernando é diretor do Núcleo Transexuais Transgeneres e Travestis de Mogi das Cruzes — Foto: Fernando Silva Santos/Arquivo Pessoal
Fernando Silva Santos é um homem transexual. Isso significa que nasceu com o sexo biológico feminino, mas tem uma identidade de gênero masculina. Ele faz tratamento hormonal de transição de gênero há oito anos e, além do endocrinologista, precisa de exames ginecológicos de rotina.
Porém, um cuidado que deveria ser visto com normalidade, é cercado por constrangimentos. Afinal, infelizmente, nem todos os profissionais da saúde entendem que, apesar do gênero masculino, o paciente precisa de uma atenção que, normalmente, é associada ao feminino.
Por isso, para fazer o Papanicolau, por exemplo, exame conhecido como sendo de exclusividade das mulheres, ele tem um ritual obrigatório. Uma das formas que encontrou para se proteger foi buscar atendimento na rede privada, na tentativa de ter mais segurança na hora do atendimento.
“Eu, muitas e muitas vezes, aqui em Mogi das Cruzes, acabava pagando exames [de Papanicolau] no laboratório. Era toda uma conversa antes. Eu tinha que chegar, conversar com o responsável, chamar de uma forma privada uma enfermeira, de forma geral, explicar toda a situação”.
O Papanicolau, também chamado de preventivo, é essencial para o diagnóstico do Papilomavírus Humano (HPV), que é o maior causador do câncer de colo de útero. Sem realizá-lo, homens transexuais correm o risco de descobrir a doença tardiamente.
Outro constrangimento está presente na hora de encontrar o médico ginecologista. Seja dentro da sala ou do lado de fora, a desinformação e o preconceito podem fazer com que o paciente transexual não se sinta acolhido e, consequentemente, se afaste.
“Acontecem situações corriqueiras. Por exemplo, você está em um ambiente de acesso só às mulheres, gestantes, aí chega um casal. Você está conversando com o marido da gestante, ela passa pela consulta e, logo em seguida, a médica chamar seu nome”.
“São olhares sem entender. Você acaba se tornando um foco de atenção. Eu passei por isso. É muito difícil. Muitos meninos trans acabam evitando ao máximo de fazer esse acompanhamento com essa especialidade, o que é grave, porque acaba gerando problemas de saúde seríssimos”.
Momentos como esse podem até passar rápido, nunca são esquecidos e ainda colocam a saúde em risco. Sem acesso ao atendimento, pessoas trans não recebem o tratamento adequado e acabam expostas, como explica Santos.
“Tenho relatos de homens trans que tem orientação sexual gay. [Isto é], esses homens trans se relacionam com homens cisgêneros. Por isso, acabam misturando hormônios por não ter a orientação de um ginecologista, especialista, que possam orientar e até oferecer uma forma anticonceptiva”.
“Esses meninos acabam, muitas e muitas vezes, com dúvidas. Fazem misturas de remédios, trocam hormônios, usam hormônios de forma clandestina e sem acompanhamento. Isso acaba gerando consequências, já que tem toda uma mudança hormonal que pode afetar e muito a questão do útero”.
Com o auxílio de um espéculo, o ginecologista pode observar o colo de útero do paciente — Foto: Divulgação
Pietro de Medeiros é um dos jovens transexuais que, aos 23 anos, só passou por uma consulta com ginecologista. Ele utiliza a rede pública de saúde e acredita que nem mesmo os sistemas ligados ao atendimento estão preparados para receber uma pessoa trans.
“Pelos meus documentos já terem sido alterados o sistema acaba dando alguns problemas. Um exemplo foi quando tentei marcar exames de rotina na minha primeira ida ao médico. Eu já estava com 22 anos”, lembra o jovem.
“Tentei marcar os exames em nenhum deles eu fui chamado. Atribuo isso a esse conflito. De acordo com a lei, em nossa proteção, não pode haver nenhum documento que faça menção sobre sermos ou não pessoas transexuais. Então, imagina que é como se um homem cisgênero tivesse tentando marcar uma consulta ginecológica”.
“Apesar de fazer sentido pra mim muitas dessas questões, elas são algumas barreiras que me impedem de cuidar da minha saúde genital muitas vezes, já que só de pensar nisso eu acabo me sentindo ansioso”
Para Fernando, que é diretor do Núcleo de Transexuais, Transgeneres e Travestis Mogiano, além da orientação da própria população trans, falta, principalmente, a capacitação de profissionais e estabelecimentos de saúde.
“Nós precisamos, urgente, dessa especialidade. Alguns homens trans não gostam de falar desse assunto abertamente. É um assunto que gera desconforto para nós. Ir ao ginecologista, a gente precisa tirar essa imagem de que é algo ruim, que vai ser sempre constrangedor”.
“Não pode ser uma experiência tão ruim, porque é crucial para que a gente possa fazer nossa hormonioterapia de forma saudável. Até concluir, aos meninos trans que desejam concluir a cirurgia total, que a gente precisa urgente desse olhar humano, profissional, mas humano acima de tudo”.
Sophia é uma mulher transexual e faz parte da coordenação do Fórum LGBT de Mogi das Cruzes — Foto: Sophia Falcone/Arquivo Pessoal
A desigualdade também entra nessa discussão. Isto porque as pessoas trans que dependem da rede pública ficam ainda mais limitadas na hora de decidir onde querem buscar atendimento médico. Muitas vezes, isto sequer é uma opção e o cuidado é feito pelo profissional que estiver disponível.
Sophia Falcone, de 52 anos, diz ser privilegiada por isso e lamenta que o acesso à saúde tenha que ser tão difícil para a maioria desse público. Ela é uma mulher transexual, fez redesignação de gênero – conhecida como mudança de sexo – e já procurou por atendimento ginecológico.
“No último ginecologista que eu fui ele disse: ‘eu, realmente, não sei muito bem como tratar você, porém, vou procurar saber e vou te tratar da melhor forma possível’. Achei isso super legal, porque demonstrou que a pessoa, apesar de não ter conhecimento, que obviamente ninguém nasce sabendo, ele se prontificou”.
“A gente se sente uma pessoa normal, vamos dizer assim. Tem de você ir no médico e a pessoa de tratar como um igual. É muito complicado você ir, como já aconteceu comigo pouquíssimas vezes, e a pessoa achar que você não é normal”.
O atendimento ocorreu na rede privada. Sophia, que faz parte da coordenação do Fórum LGBT Mogiano, destaca que é comum ouvir relatos sobre a dificuldade de encontrar profissionais preparados para o atendimento de pessoas transexuais na rede pública.
“Minha preocupação, quando eu penso nesse privilégio que eu tenho, nessa condição de ter esse plano de saúde, é nas pessoas que têm que enfrentar o sistema de saúde. Não sei como funciona lá. Não é meu lugar de fala. Eu vejo as pessoas falando que é muito difícil, que é complicado”.
O g1 questionou os municípios do Alto Tietê se possuem unidades de referência para o atendimento de pessoas transexuais. Ferraz de Vasconcelos e Mogi das Cruzes informaram que não. Itaquaquecetuba, Poá e Suzano pontuaram que contam com unidades do Serviço de Atendimento Especializado (SAE) , que é dedicada ao atendimento de pessoas com HIV/Aids e que também atendem a comunidade LGBTQIA+.
As cinco cidades também disseram que esse público tem acesso a clínico geral e ginecologista para atendimento de rotina na rede básica e que os profissionais de saúde passam por capacitações constantes, onde também são orientados sobre o respeito ao nome social. Arujá, Biritiba Mirim, Guararema, Salesópolis e Santa Isabel não responderam.
“Eu sei que aqui em Mogi nós não temos um ambulatório que trate pessoas trans. Essas pessoas têm que ir para o CTA de Guarulhos. É uma situação complicada, porque muitas vezes essa pessoa não tem condições de ir, condições financeiras. Perder o dia inteiro de serviço para ir em uma consulta”, lamenta Sophia.
Lyan é um homem trans e reclama da falta de acessibilidade para pessoas transexuais em banheiros — Foto: Lyan Silva/Arquivo Pessoal
Os homens trans que optam por não fazer hormonioterapia ou retirar o útero – ou que estão aguardando pelos procedimentos – podem continuar menstruando. Para quem prefere usar o banheiro masculino, acaba enfrentando transtornos sérios quando o período chega.
Em alguns ambientes, como bares e casas noturnas, é comum que o sanitário masculino tenha apenas mictórios. Sem cabines com vasos sanitários, urinar ou trocar um absorvente, por exemplo, se torna impossível. Situação que já foi vivida por Pietro.
“Sempre fui muito discreto quando ia trocar absorvente e com isso nunca cheguei a ter um problema direto com as pessoas além de quem já me olhava feio independente disso. Mas, um problema que sempre tive, é que os banheiros masculinos não estão preparados pra receber pessoas como eu”.
“Isso acontece em bares, onde os banheiros masculinos nem porta direito tem. Com isso eu acabo usando o feminino, o que torna tudo bem constrangedor na maioria das vezes. Já deixei de frequentar lugares ou ir embora mais cedo por não poder ter acesso a banheiros”.
Lyan Silva é cantor e também passa, com frequência, por momentos parecidos. Nos bares em que se apresenta, é comum deparar com olhares de julgamento quando vai ao banheiro. Um ato simples, natural a todo ser humano, vira motivo de desconforto.
“Eu tenho um problema com banheiro. Meu medo é o banheiro de balada. Quando vou tocar em um lugar, que as pessoas me conhecem, eu uso banheiro feminino sem medo, mas eu tenho receio do preconceito”.
“Só que, em outros locais, eu uso masculino. O banheiro do shopping eu uso sem medo, mas teve vezes que eu precisei usar e não ter. Não ter condições de usar, porque só tinha mictório, tudo aberto. Eu tenho muito bloqueio. É impossível. Já quis ir ao banheiro e não tinha onde ir”, conta.
O músico destaca um desses episódios, quando precisou ir ao sanitário de uma casa de shows. Naquela noite, ele estava se apresentando. Ao tentar entrar no banheiro feminino, vivenciou uma cena de preconceito. Sequer teve tempo de explicar sua situação.
“Fui tocar numa casa, não tem muito tempo, e tinha trocado a moça que ficava no banheiro. Eu fui usar o banheiro feminino e, quando entrei, ela disse: você não pode entrar aqui. Eu sorri, entrei, ela foi chamar segurança. O segurança viu que era eu, falou que me conhecia”.
Placa em banheiro de café em Durham, na Carolina do Norte, dá as boas-vindas a homens e mulheres; sinalização foi instalada depois da aprovação da lei que obriga uso de banheiros públicos de acordo com sexo de nascimento e não identidade de gênero —
Foto: REUTERS/Jonathan Drake
Pietro compara a dificuldade com a falta de acessibilidade para pessoas com deficiência. Para ele, a instalação de uma cabine com sanitário privativo resolveria o problema, evitaria julgamentos e excluiria a necessidade de explicações.
“No meu trabalho eu tenho bastante sorte porque uso o masculino e ele é meio unissex, tem privada e mictório pra quem prefere e está sempre limpinho e a gente consegue fechar bem. Mas devo admitir que esses lugares são uma grande exceção à regra”.
“Eu vejo isso quase como a acessibilidade para pessoas com deficiência, porque também acaba incluindo isso né? É como uma calçada mal feita. Enquanto o problema não te atinge, nem parece que ele está lá, mas, depois que você passa por alguma situação que evidencie, isso ela fica gritante”.
O constrangimento e o preconceito não deveriam ser uma barreira. Menos ainda, na hora de cuidar da saúde. A médica ginecologista Luciana Pistelli afirma que a avaliação de pessoas transexuais é fundamental, pois é uma oportunidade de assistência global a essa população. A especialidade é capaz de oferecer orientações sobre saúde em geral, uso de métodos contraceptivos e prevenção de infecções, além de auxiliar na hormonioterapia e no combate ao câncer.
“Para pacientes que desejam iniciar ou estejam em processo de transição, o ginecologista pode prescrever hormonioterapia, para homens e mulheres trans, de modo adequado a cada paciente, de acordo com seu histórico de saúde, idade e objetivos. Outro importante tema é a discussão sobre métodos de preservação de fertilidade, antes da hormonioterapia e especialmente antes da realização de cirurgias de afirmação de gênero”, explica.
“Após o processo de transição os cuidados de saúde específicos para cada órgão se mantém. Por exemplo, sabe-se que dentre os homens trans, 80% utilizam hormônios, porém apenas 20% se submetem a cirurgias para afirmação de gênero e por tanto, mantêm órgãos como útero, ovários, vagina, vulva e mamas. Esses órgãos precisam de cuidados e screening [rastreios] específicos que não devem ser abandonados”.
As mulheres trans também devem se atentar aos cuidados com a saúde íntima. “Da mesma forma, mulheres trans devem seguir as recomendações de screnning para câncer de próstata, testículo e se acima de 50 anos, em hormonioterapia há mais de cinco anos, devem realizar screnning para câncer de mama, com palpação das mamas e mamografias. Mulheres trans submetidas a neovaginoplastia necessitam de cuidados específicos para esse novo órgão.”
A iniciativa de se cuidar, porém, não deve partir apenas do paciente. Cabe ao profissional de saúde se manter informado para orientar esse público. Afinal, um atendimento respeitoso, que compreende as necessidades de quem procura atendimento, é essencial para que a pessoa trans se sinta acolhida.
“A primeira coisa que qualquer profissional de saúde pode fazer é pesquisar e se informar a respeito de cuidados específicos de atenção à saúde da população trans. Há diversos guidelines [orientações] disponíveis gratuitamente na internet. Deve também treinar seu staff [equipe] para o acolhimento e uso de linguagem neutra e inclusiva para atender aquele ser bio-psico-social da melhor maneira possível”.
“Pergunte como aquela pessoa prefere ser chamada e como se refere aos seus órgãos. É necessário deixar de lado nosso modo binário de pensar e nos lembrar que se trata de indivíduos, seres humanos que precisam de cuidados de saúde gerais e específicos. Deve-se deixar a curiosidade de lado e perguntar, observar, apenas o que é essencial para fornecer um cuidado de saúde excelente. O exame físico pode ser uma parte desafiadora para médico e paciente, estabeleça uma boa relação médico-paciente e mantenha uma atitude respeitosa”.
“Infelizmente ainda temos poucos especialistas no atendimento a essa população e é comum que deixem de procurar assistência por medo e constrangimento. Um estudo revelou que 80% dos ginecologistas que se formaram nos últimos cinco anos não receberam treinamento sobre cuidados específicos para pessoas trans. Felizmente esse tema sem tornado cada vez mais frequente em publicações e congressos médicos”.
Informações G1
Criança segue sendo monitorada após ser imunizada com o equivalente a seis doses da vacina contra a Covid-19
A bebê de seis meses que foi vacinada por engano com um frasco inteiro da vacina da Pfizer contra a Covid-19, em Altinópolis (SP), deve passar por novos exames na próxima semana como parte do monitoramento de seu estado de saúde. A menina, que recebeu o equivalente a seis doses do imunizante, está bem, segundo a mãe, mas seu quadro ainda inspira cuidados.
– Eles [os médicos] não sabem ainda por quanto tempo que vai ter que estar monitorando ela. Acreditam que vai ser um longo prazo aí, mas só de saber que ela está reagindo bem, pelo fato de não ter tido nenhum sintoma – diz.
A mãe da menina, que também é técnica de enfermagem, afirmou que os últimos exames da filha apresentavam alteração na parte de coagulação e, por esse motivo, ela deve continuar sob acompanhamento médico.
A profissional de saúde que aplicou erroneamente a dose de Pfizer em vez da vacina pentavalente, que previne doenças como coqueluche, meningite, tétano e hepatite, é colega de trabalho da mãe da bebê e aplica as doses na menina desde que a criança nasceu.
– A hora que ela me falou o que tinha acontecido, a cabeça vai a mil. Você fica sem chão. A primeira coisa que vem na cabeça é “minha filha vai morrer”. Mas, graças a Deus, na hora que veio esse pensamento eu já pensei “não, infelizmente aconteceu, então vamos ver o que a gente tem que fazer a partir de agora para intervir” – relatou a mãe.
Já no dia 17, quando o fato aconteceu, a criança foi levada ao Hospital de Misericórdia de Altinópolis, onde ficou em observação e, no dia seguinte, foi encaminhada para o Hospital das Clínicas (HC) de Ribeirão Preto, onde permaneceu por três dias em observação. Atualmente, a criança está em acompanhamento por equipes médicas em Altinópolis e em Ribeirão Preto.
– Todos os dias tem uma equipe que vem ver ela, pediatra, enfermeiros, alguém está sempre avaliando ela. No HC, ela vai ter consultas constantes também. Hoje [quinta-feira, 27] ela foi em consulta, foi coletado sangue para verem a resposta imunológica dela, como que está. Semana que vem, vai coletar novos exames – completou a mãe.
Informações Pleno News
Foto: Jorge Magalhães
Unidades de saúde essenciais, como Policlínicas, Unidades de Saúde da Família (USFs), Unidades Básicas de Saúde (UBSs) e até mesmo Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), estarão sob risco de fechamento em razão de ausência de orçamento aprovado para 2022. Sem aprovação de orçamento, a partir desta terça-feira, 1º de fevereiro, a Policlínica do Parque Ipê e várias unidades de saúde precisarão ter seus atendimentos suspensos.
A Secretaria Municipal de Saúde de Feira de Santana informa que possui recursos financeiros para manter normalmente o funcionamento das unidades, mas a ausência de lei orçamentária torna ilegal o pagamento para manutenção das atividades dessas unidades.
A necessidade de adequação ao orçamento em um doze avos, obriga a suspensão de funcionamento de 30% das unidades de saúde. Com a interrupção do funcionamento da Policlínica do Parque Ipê, a população deve se dirigir a UPA da Mangabeira ou a Policlínica do George Américo. No caso das demais unidades de saúde a população deve procurar outras unidades mais próximas.
Lamentamos os transtornos, mas a permanência destas unidades em funcionamento, poderia ser classificada como crime de responsabilidade. A Prefeitura Municipal de Feira de Santana confia que a Lei será aprovada rapidamente, permitindo que estes serviços essencias ao atendimento da população possam permanecer na sua inestimável missão de prestar seus serviços em saúde. Unidades com atendimento suspenso a partir de 1° de fevereiro:
1. Policlínica do Parque Ipê
2. Unidade Básica de Saúde Caseb I
3. Unidade Básica de Saúde Irmã Dulce
4. Unidade Básica de Saúde Subaé
5. Unidade Básica de Saúde Serraria Brasil
6. Unidade de Saúde da Família Asa branca III
7. Unidade de Saúde da Família Aviário I e II
8. Unidade de Saúde da Família Campo Limpo II
9. Unidade de Saúde da Família Candeal II
10. Unidade de Saúde da Família Conceição I
11. Unidade de Saúde da Família Conceição III
12. Unidade de Saúde da Família Expansão I
13. Unidade de Saúde da Família Feira IX – I
14. Unidade de Saúde da Família Feira VII – II
15. Unidade de Saúde da Família Feira X – I
16. Unidade de Saúde da Família Feira X – II
17. Unidade de Saúde da Família Feira X – V
18. Unidade de Saúde da Família Fonte do Lili
19. Unidade de Saúde da Família Fulô
20. Unidade de Saúde da Família Gabriela II
21. Unidade de Saúde da Família George Américo I e II
22. Unidade de Saúde da Família Humildes II
23. Unidade de Saúde da Família Pampalona
24. Unidade de Saúde da Família Panorama III
25. Unidade de Saúde da Família Queimadinha IV e V
26. Unidade de Saúde da Família Rocinha II
27. Unidade de Saúde da Família Rosário
28. Unidade de Saúde da Família Rua Nova I
29. Unidade de Saúde da Família Santa Mônica II
30. Unidade de Saúde da Família Sobradinho I
31. Unidade de Saúde da Família Tomba II
32. Unidade de Saúde da Família Tomba IV
Os conselhos nacionais dos Secretários de Saúde (Conass) e das Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) entregaram ofício ao Ministério da Saúde nesta quinta-feira (27) que solicita a revogação de uma nota técnica da Secretaria de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde que inicialmente indicava medicamentos do chamado kit covid.
A nota técnica havia sido assinada pelo secretário de Ciência e Tecnologia da Saúde, Hélio Angotti Neto, e tinha informações divergentes das contidas no relatório da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec).
O relatório do Conitec aponta a inexistência de evidências que validem o uso da ivermectina, da cloroquina e da hidroxicloroquina no tratamento da covid-19.
“As Diretrizes Brasileiras para Tratamento do Paciente com Covid-19 (hospitalar e ambulatorial) precisam ser adotadas com urgência pelo Ministério da Saúde, e empregadas pelos gestores do Sistema Único de Saúde (SUS) para orientar profissionais e organizar os serviços de acordo com as melhores práticas e tratamentos, com base no melhor conhecimento científico em benefício da saúde da população brasileira”, destaca o documento.
O ofício foi apresentado na reunião da Comissão Intergestores Tripartite (CIT), da qual participam as representações das secretarias estaduais e municipais juntamente com o Ministério da Saúde. Na reunião, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, declarou que irá avaliar a reivindicação.
“Quem decide se vai haver incorporação de tecnologia, atendendo a critérios de segurança e eficácia, é o secretário de Ciência e Tecnologia. Naturalmente que as decisões no setor público têm que ser fundamentadas. Todas as decisões podem sofrer contestações, que são encaminhadas ao autor da decisão. Cabe recurso ao ministro de Estado. Havendo recurso, ele será avaliado por esse ministro”, disse.
O ministro informou que serão avaliados o juízo de admissibilidade e o mérito da questão. “Motivarei a minha decisão dentro da lei e do conhecimento científico”, informou.
O relatório da Conitec, datado de novembro de 2021, conclui que não há medicamentos específicos para tratamento de pacientes ambulatoriais com covid-19. “Nenhuma das tecnologias de saúde avaliadas foi indicada para uso de rotina no tratamento ambulatorial do paciente com suspeita ou diagnóstico de covid-19”, afirma o texto.
O documento argumenta que as evidências não mostram benefício clínico da cloroquina e da hidroxicloroquina em casos de covid-19. O relatório também pontua que não há evidências suficientes para recomendar o uso de ivermectina, budesonida, colchicina, corticosteróide sistêmico e nitazoxanida.
Na nota técnica, o secretário Hélio Angotti Neto apontou razões para a decisão, entre as quais a incerteza do cenário científico diante de uma doença desconhecida, a utilização de medicamentos fora da bula (prática chamada de off label) durante a pandemia, o respeito à autonomia profissional, a seleção restritiva de estudos destinados à tomada de decisão e análise dos fármacos “de forma isolada ou em combinação simples”.
Uma nova versão da nota recuou em questões pontuais, como em uma tabela que questionava a eficácia de vacinas contra a covid-19, mas manteve argumentos em defesa de medicamentos do kitcovid, como a hidroxicloroquina.
O Conselho Nacional de Saúde (CNS), membro da Conitec, também criticou a nota. “O CNS vem a público defender a integridade da Conitec, a reputação e a idoneidade de seus membros, e a transparência e o rigor técnico de suas decisões contra os ataques que, motivados por interesses obscuros e ideias retrógradas, põem em risco essa grande conquista da saúde no Brasil.”
Informações Agência Brasil
Independentemente da ordem, vacinação ou infecção primeiro, os dois fatores combinados podem aumentar a imunidade, vacinação continua sendo essencial, porque infecção tem tempo de proteção limitado
Pesquisadores da Universidade de Saúde e Ciência de Oregon (OHSU), nos Estados Unidos, descobriram que pessoas que foram vacinadas e infectadas pelo SARS-CoV-2 , independente da ordem, adquirem imunidade até dez vezes superior à proteção imunológica de quem apenas recebeu a vacina.
A pesquisa ocorreu antes do surgimento da variante Ômicron. Os resultados foram publicados na revista Science Immunology.
A vacina, no entanto, continua sendo o fator mais importante — principalmente porque a proteção natural oferecida pela infecção é de curta duração. “Estaremos mais preparados se estivermos vacinados. Neste caso, se o vírus vier, você tem uma contaminação mais branda e ainda fica com a imunidade maior”, comentou Fikadu Tafesse, coautor da pesquisa, e professor de microbiologia molecular e imunologia na Escola de Medicina da OHSU.
Marcel Curlin, médico e também coautor do estudo, ressaltou que a imunidade adquirida apenas pela infecção do vírus varia muito de pessoa para pessoa. “A imunidade conferida apenas pela infecção natural é muito variável. Algumas pessoas produzem uma resposta forte, outras não. Mas a vacinação combinada com a imunidade da infecção quase sempre oferece respostas fortes”, comentou em comunicado.
Isso tudo não quer dizer, é claro, que as pessoas que já foram vacinadas e não pegaram Covid-19 devem deixar de lado a proteção. Mesmo a variante Ômicron sendo considerada mais leve e as vacinas fazendo efeito, a Covid ainda é uma doença com sintomas intensos e risco de morte. Além disso, há os riscos dos efeitos de longo prazo (a chamada Covid longa) e os perigos de espalhar o vírus para crianças, sobrecarregar o sistema de saúde — como explicitados nesta reportagem.
Esta não é a primeira pesquisa a apontar para tais resultados. Em dezembro, pesquisadores da mesma universidade já haviam revelado, em outro estudo, que a combinação da infecção com a vacina ajudava a ter mais proteção.
Na nova pesquisa, os cientistas mediram as respostas de anticorpos neutralizantes de 104 indivíduos e os dividiram em três grupos. No primeiro, 42 pessoas que foram vacinadas e não tiveram infecção; 31 que foram vacinadas após uma infecção e 31 que tiveram infecções após a vacinação.
A equipe levou em consideração fatores como idade, sexo e tempo de vacinação e infecção.
Os pesquisadores coletaram amostras de sangue de cada participante e expuseram-nas a três variantes do coronavírus no laboratório Marquam Hill de nível 3 de biossegurança da OHSU.
Os resultados mostraram que dois grupos com “imunidade híbrida” — infectados e vacinados — podem gerar maiores níveis de anticorpos em comparação com o grupo de vacinados sem infecção, cerca de 10 vezes mais em comparação aos fornecidos pela vacinação.
Bill Messer, professor de microbiologia molecular e imunologia e medicina (doenças infecciosas) na Escola de Medicina da OHSU, e coautor do estudo, acredita que, neste momento, muitas pessoas vacinadas acabem com infecções – e, portanto, uma forma de imunidade híbrida.
Para Curlin, “os resultados indicam que em algum momento o SARS-CoV-2 poderá se tornar infecção endêmica leve, como doença sazonal do trato respiratório, em vez de pandemia” — o que é o caso da gripe.
A pesquisa não testou pacientes com reinfecções de Covid-19.
Informações CNN Brasil
Já são 1.256 cadastros este mês
Somente neste mês, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) emitiu 1.256 cartões do SUS. Nesta terça-feira, 25, foram feitos 198 atendimentos. Os números evidenciam que não procede uma denúncia anônima, publicada em um blog, de que uma mãe não teria conseguido realizar o cartão do SUS para a filha.
Também é inverídica a informação que foi negado atendimento nas unidades de saúde por falta desse documento.
“Nenhum paciente deixa de ser atendido nas unidades por falta do Cartão SUS”, explica a coordenadora do Cad SUS, Jamile Cristian dos Santos.
O serviço funciona de segunda a sexta-feira, das 8h às 12h e 14h às 17h, na sede da SMS. Além disso, as unidades de saúde Cassa, Baraúnas, Centro Social Urbano (CSU), Caseb I e II, Dispensário Santana, Rua Nova e Jardim Cruzeiro também efetuam o cadastro.
“Essas unidades enviam a documentação do solicitante para a secretaria [Saúde] que realiza o cadastro e devolve o documento no dia seguinte”, explica.
Ainda, para a emissão desse tipo de documento [Cartão SUS] não é necessário o uso de conexão à internet nas unidades de saúde.O cadastro é fácil e rápido: um representante da família pode solicitar o cartão dos outros integrantes apresentando documentos de identidade, CPF e comprovante de residência atualizado.
Para menores de 18 anos é necessário também o documento dos pais ou de um responsável legal. Em dezembro, um ataque hacker tirou o sistema do Governo Federal do ar por alguns dias, mas já encontra-se normalizado.
É o meuDNA PCR-LAMP Autocoleta de Saliva, da empresa Pague Menos
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) determinou o recolhimento de mais um autoteste contra a covid-19 – o meuDNA PCR-LAMP Autocoleta de Saliva, da empresa Empreendimentos Pague Menos S/A. Ontem (25), a agência suspendeu a comercialização distribuição, fabricação, importação, propaganda e uso do Autoteste Covid-19 Isa Lab.
Em nota, a Anvisa informou que, “até o momento, não existe nenhum produto aprovado como autoteste, ou seja, para uso por usuários leigos”.
A determinação de recolhimento e as suspensões do Autoteste Covid-19 Isa Lab foram publicadas na Resolução nº 210. A medida relativa ao outro autoteste foi determinada pela Resolução nº 213. Nenhum dos dois produtos tem registro na Anvisa. No caso do Isa Lab, a agência acrescenta que ele é comercializado por empresa não regularizada.
A denúncia, recebida pela Anvisa em 20 de janeiro, foi considerada prioridade para investigação. “Nessa etapa é avaliado o risco sanitário iminente à saúde da população, e a medida restritiva tem o objetivo de mitigar o risco rapidamente”, informa a agência, que disponibiliza serviço de consulta a produtos irregulares.
Informações Agência Brasil
O Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) notificou 14 empresas suspeitas de aumento de preços de testes de covid-19. A notificação foi tomada após ações de fiscalização de órgãos de proteção e defesa do consumidor estaduais e municipais verificarem aumento dos preços em lojas.
As empresas notificadas são farmácias, laboratórios e associações. Elas têm sete dias para explicar à Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), vinculada ao MJSP, o aumento dos preços dos testes.
A Senacon questionou sobre a demanda média dos últimos meses, o preço médio praticado nesses meses, os motivos para o aumento do preço, caso tenha ocorrido, e as dificuldades para obtenção de insumos. O governo quer entender as diferenças de preços e verificar possível violação à legislação de proteção ao consumidor.
“Embora os fornecedores tenham autonomia e liberdade para alterar os preços cobrados pelos seus produtos e serviços, e o sistema econômico brasileiro seja baseado na livre iniciativa, o Código de Defesa do Consumidor busca defender os consumidores de eventuais aumentos exagerados de preços. Para isso, é necessário analisar caso a caso, principalmente, em situações de excepcional vulnerabilidade do consumidor, como nessa situação de pandemia”, explicou o ministério, em nota.
Informações Agência Brasil
Surgimento de variantes altamente transmissíveis impulsionam pesquisas nessa área
Em formato de pílulas, sprays nasais ou à prova de variantes: a segunda geração de vacinas contra a Covid-19 está a caminho. O surgimento de variantes altamente transmissíveis, como a Ômicron, e a perspectiva de que o mundo terá de conviver com o coronavírus impulsionam pesquisas nessa área.
Por outro lado, barreiras como a falta de insumos e até a dificuldade de recrutar voluntários atrasam resultados.
Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que há 140 imunizantes em fase de estudo clínico (quando a vacina é testada em humanos) e 194 em estágio pré-clínico, com testes em animais. A lista inclui candidatas brasileiras e, no caso das nacionais, a expectativa é de que fiquem prontas no início de 2023.
Imunizantes que, atualmente, estão à disposição, vêm cumprindo sua função principal: prevenir o adoecimento e a morte. Apesar disso, cientistas em todo o mundo veem um campo aberto para marcar novos gols contra a Covid-19.
O desenrolar da pandemia já deixou claro que as vacinas podem ser aprimoradas para reduzir infecções e transmissão.
No momento, especialmente com a Ômicron, vacinados se infectam e transmitem, ainda que em escala menor do que não imunizados. O avanço da variante fez a Coalizão Internacional de Autoridades Reguladoras de Medicamentos convocar uma reunião para debater “estratégias de longo prazo” sobre tipos de vacinas necessárias para gerenciar a Covid-19.
– Uma das razões pela qual a Ômicron é tão transmissível é que muita gente já vacinada tem o vírus (alojado) no nariz, mas é assintomático – disse o pesquisador da Universidade de São Paulo (USP), Jorge Kalil.
O cientista quer armar o organismo contra o Sars-Cov-2 antes que ele invada e se multiplique pelo corpo. Por isso, ele desenvolveu uma vacina de spray nasal, e poucas com este método estão em teste no mundo.
– O gol final é ter uma vacina de imunidade esterilizante, aquela que gera tantos anticorpos na porta de entrada, de forma que o vírus praticamente não infecta. Mas isso é difícil de alcançar – afirmou o virologista Fernando Spilki, da Universidade Feevale.
Spilki também é membro do comitê de especialistas da Rede Vírus, do Ministério da Ciência e Tecnologia. Tecnologias como a do spray nasal podem, se não barrar totalmente a entrada do Sars-Cov-2, reduzir o alcance, diminuindo o contágio.
E, embora não tenham efeito direto no nariz, vacinas injetáveis, no braço, também diminuem a transmissão porque evitam a replicação do vírus dentro do corpo. Essa função é melhor desempenhada à medida em que o imunizante é capaz de atacar de forma certeira a variante em circulação.
– Vamos continuar dando dose de reforço a quem perde parte da proteção, mas o ideal é conseguir vacinas melhores, inclusive para prevenir formas leves – falou Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações.
Com a Ômicron, é possível que vacinas disponíveis se atualizem para cumprir melhor esse papel, e as farmacêuticas já engatilharam isso.
MUTAÇÕES
Outros estudos em teste miram evitar o problema das mutações, com vacinas “à prova de variantes”, que é mais uma meta difícil de alcançar.
Uma das tentativas é da empresa americana Gritstone bio, que projetou um produto com foco nas células assassinas de estruturas infectadas pelo vírus. O CEO André Allen diz que a vacina é um primeiro passo para desenvolver um imunizante “pancoronavírus”.
Já em teste em brasileiros, uma vacina desenvolvida pelo Senai Cimatec, em parceria com a empresa americana HDT Bio Corp, aposta em alta proteção com baixíssimas doses, até 30 vezes menores do que a da Pfizer. Isso é possível porque o imunizante usa uma técnica para que o RNA, que contém informações para a síntese de proteínas, se autorreplique nas células.
Uma das possíveis vantagens seria juntar, em uma só injeção, doses projetadas para cada uma das variantes – o fato de cada dose ser pequena facilitaria, em tese, criar esse “combo” sem causar tanta reação.
– A expectativa para o futuro é que essa plataforma consiga ter o RNA de diferentes variantes por causa da tecnologia de baixíssimas doses. Talvez seja possível ter uma vacina multivalente – disse a pesquisadora Bruna Machado, líder técnica do projeto no Senai Cimatec.
Outras vacinas da segunda geração estão mais adiantadas: a da americana Novavax, por exemplo, foi aprovada na Europa. Sem usar tecnologia de RNA mensageiro, é uma aposta para convencer quem ainda resiste a se vacinar. Já contra o medo das agulhas, há propostas como a da Vaxart, na Califórnia, que criou uma vacina em forma de pílula e começou testes em humanos.
Além da possibilidade aumentar a proteção na mucosa da boca, outra vantagem seria a facilidade de transporte e administração. Desenvolvimentos de vacinas levam em conta, agora, não só o nível de proteção, mas o quanto podem melhorar as campanhas.
Novas vacinas para reforço com proteção de maior duração podem ampliar, por exemplo, os prazos para revacinação. A Agência Europeia de Medicamentos já deixou claro ao dizer, em comunicado semana passada, que aplicar doses de reforço em intervalos curtos não é uma “abordagem sustentável” a longo prazo. O reforço demanda alto investimento, e nem sempre tem boa adesão.
DESAFIOS
Pesquisas da 2ª geração de vacinas encontram entraves logísticos e financeiros. A pesquisa da vacina de spray nasal, por exemplo, do cientista da USP Jorge Kalil, está travada pela dificuldade de conseguir lotes piloto para ensaios em seres humanos. Não há como fabricá-los no Brasil.
Outra vacina em parceria com pesquisadores da USP, a Versamune, também atrasou.
– Houve escassez geral: de luvas a frascos para envases – contou Helena Faccioli, CEO da Farmacore.
Além disso, estudos precisam ser constantemente redesenhados diante da falta de voluntários não vacinados. Especialistas, no entanto, são otimistas: as pesquisas podem servir não só para a Covid, mas para melhorar vacinas que já temos e encontrar soluções para doenças ainda sem prevenção.
*AE
Documento foi divulgado na sexta-feira
A nota técnica publicada na sexta-feira (21) pelo Ministério da Saúde para barrar as diretrizes que contraindicam o uso do chamado “kit covid” classifica a hidroxicloroquina como eficaz para o tratamento contra a Covid-19. O texto também afirma que as vacinas não demonstram a mesma efetividade, contrariando uma série de estudos e orientações sanitárias pelo mundo.
O documento é assinado apenas pelo secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde da pasta, Hélio Angotti Neto. A nota barra as diretrizes que contraindicam o “kit covid” no tratamento ambulatorial e hospitalar da doença e outras duas normas, mantendo o País sem uma recomendação oficial de como tratar pacientes de Covid-19 com quase dois anos de pandemia.
Na nota, o secretário apresentou uma tabela colocando a hidroxicloroquina em oposição às vacinas.
Uma das colunas pergunta se há demonstração de efetividade em estudos controlados e randomizados para a Covid-19. A resposta é “sim” para a hidroxicloroquina e “não” para as vacinas. A tabela contrapõe os dois métodos ao afirmar que o medicamento tem demonstração de segurança em estudos experimentais e observacionais contra a Covid e que a vacina não tem a mesma resposta.
Além disso, a cloroquina teria um custo baixo sem recomendação das sociedades médicas e sem financiamento da indústria, enquanto as vacinas representariam um custo alto com financiamento da indústria e recomendação dos especialistas. O uso da tabela causou críticas nas redes sociais.
O líder da oposição no Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), anunciou que vai acionar o Supremo Tribunal Federal (STF) para barrar o incentivo ao medicamento em oposição à vacinação.
A nota cita “treze estudos controlados e randomizados com direções de efeito favoráveis à hidroxicloroquina, com efeito médio de redução de risco relativo de 26% nas hospitalizações, altamente promissor para o uso discricionário e prosseguimento dos estudos”.
Para a falta de efetividade das vacinas, a referência citada são “dezoito ensaios não finalizados, dos quais, oito ainda em fase de recrutamento, nove ainda não finalizaram o seguimento e um finalizado, mas ainda em fase insuficiente para a avaliação de segurança, mas recomendado para ‘combate à pandemia’”.
QUEIROGA
O questionamento da eficácia das vacinas contraria políticas do próprio Ministério da Saúde. Neste sábado (22), o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, participou de uma ação promovida pela pasta para incentivar a vacinação e a testagem da população nos estados da Região Norte com Angotti Neto, responsável pela nota técnica, e outros secretários do ministério.
Na ação, Queiroga esteve em Manaus (AM) e o secretário foi para Porto Velho (RO). O ministro pediu que as pessoas se vacinassem e afirmou que “não há um caminho mais eficiente para nos livrarmos dessa pandemia do que a vacinação da nossa população”. Por outro lado, ele voltou a criticar o passaporte vacinal e a exigência da imunização.
Durante o evento, Queiroga citou um estudo patrocinado pela secretaria de Angotti Neto e publicado na revista Lancet comprovando a efetividade das vacinas. O levantamento, de acordo com o ministro, mostrou que pessoas vacinadas com a Coronavac apresentaram nível de anticorpos “muito baixo” após seis meses da segunda dose e que a Pfizer registrou índices de anticorpos elevados “em mais de 150 vezes” após o esquema vacinal.
– O ministério tem acompanhado não só a eficiência das vacinas, mas também a efetividade – disse o ministro.
*AE