Foi prorrogado até o dia 21 de fevereiro o prazo para execução e prestação de contas dos projetos aprovados nos editais de Chamamentos Públicos 2, 3, 4, 5 e 6, publicados em 4 de dezembro de 2020, edição 1527.
Ainda, fica prorrogada para a mesma data a execução e prestação de contas dos subsídios mensais repassados aos beneficiários do inciso II da Lei Federal 14.017/2020.
As informações constam em edição do Diário Oficial Eletrônico publicado nesta sexta-feira, 21.
*Secom
A Arte na Avenida é uma vitrine a céu aberto para os artesãos da cidade divulgarem e comercializarem seus trabalhos, sem falar que é um local de lazer para as famílias. No entanto, o projeto está prejudicado devido a impasse na aprovação do orçamento 2022.
A Secretaria Municipal de Cultura, Esporte e Lazer (Secel) anunciou a suspensão aos mais de 400 expositores nesta terça-feira, 18, uma vez que mais uma edição do projeto estava prevista para ocorrer neste domingo, 23.
“Estamos impossibilitados de investir em despesas devido às circunstâncias impostas pela não aprovação do orçamento de 2022, por isso não será possível retomar as edições do projeto”, pontuou o secretário da pasta, Jairo Carneiro Filho.
Ainda de acordo com o secretário, a situação afeta diretamente os artesãos, cordelistas, músicos e entre outros expositores, que foram surpreendidos com a situação.
“Estamos aguardando a regularização para retomar as atividades culturais e espotivas”, garante Jairo.
Vale lembrar que o projeto tem o apoio da Prefeitura de Feira e é idealizado pela sociedade civil. O Arte na Avenida é realizado no espaço reservado no canteiro central da avenida Getúlio Vargas, no cruzamento com a rua Frei Aureliano, sentido avenida Noide Cerqueira.
*Secom
O secretário especial de Cultura, Mario Frias, usou as redes sociais, neste domingo (16), para rebater críticas da cantora Zélia Duncan. Ele reagiu após ser chamado de “pseudoartista e pseudosecretário”.
Zélia disse ainda que “toda uma classe é perseguida”, mas que “a arte vai atropelar essa gente”.
– Quer dizer que Mario Frias usou mal a Lei Rouanet? Por causa desse tipo de pseudoartista e pseudosecretário, toda uma classe é perseguida. Mas a arte vai atropelar essa gente – declarou a cantora, no sábado (15).
Segundo Frias, mau uso da Lei Rouanet “era despejar bilhões de reais para comprar a simpatia da elite artística militante”. Ele também pediu que a cantora “tenha o mínimo de vergonha na cara”.
– Mau uso, minha cara, era despejar bilhões de reais para comprar a simpatia da elite artística militante. Tenha o mínimo de vergonha na cara – respondeu.
Frias compartilhou uma publicação do secretário de Fomento e Incentivo Cultural, da Secretaria Especial da Cultura, André Porciuncula.
André afirmou que, por trás de todo crítico de Mario Frias, “há sempre alguém com saudade dos velhos tempos, da época das gordas verbas públicas que abasteciam a elite sindical artística”.
Mario Frias acrescentou que há “uma elite sindical artística e arrogante”.
*Pleno.News
Casa da Cultura de Feira de Santana no Casarão Olhos D`água está com horário ampliado para visitas. Agora, das 9h às 12h e das 14h às 17h.
O equipamento funciona na rua Dr. Araújo Pinho, bairro Olhos D`água. No local, os visitantes podem conhecer e fotografar o Memorial Maria Quitéria. Para isso, é exigido o uso de máscara facial e álcool nas mãos ao adentrar o ambiente.
Segundo a presidente da Academia de Letras e Artes, Lélia Fernandes, estão previstas iniciativas e eventos culturais no espaço a partir de março – se o período da pandemia for favorável.
“Estamos planejando projetos de visitação com estudantes, para que os acadêmicos conheçam mais sobre a heroína feirense Maria Quitéria e a nossa cultura em geral. O casarão tem história, é um patrimônio muito importante para nossa cidade e, desde já, merece ser visitado e valorizado”, afirma.
Gerido pela Fundação Municipal de Tecnologia da Informação, Telecomunicação e Cultura Egberto Tavares Costa (Funtitec) o espaço é patrimônio histórico e cultural do município, onde também funcionam o Memorial Maria Quitéria, as academias Feirense de Letras, de Letras e Artes, de Educação e o Instituto Histórico e Geográfico de Feira de Santana.
O local é administrado por meio de um convênio firmado com a Fundação Alfredo Pedra, proprietária do imóvel. Desde a realização da parceria, o espaço já passou por duas reformas a fim de conservar o patrimônio por muitos anos.
*Secom
O carnaval de rua permanece suspenso
O governo do estado do Rio de Janeiro decidiu manter, por enquanto, a realização dos desfiles das escolas de samba, na Marquês de Sapucaí (Sambódromo). A decisão foi tomada depois de reunião do Grupo Técnico de Assessoramento a Eventos de Saúde Pública, na tarde de ontem (7).
Por meio de nota, o governo fluminense informou que ainda não é possível “decidir sobre um evento que irá acontecer daqui a dois meses à luz do cenário epidemiológico momentâneo”. A situação será avaliada nas próximas semanas e novas reuniões estão previstas para decidir sobre os desfiles.
O carnaval de rua, no entanto, está suspenso por enquanto, porque não há, segundo o governo do Rio, como fazer controle sanitário para esse tipo de evento, como exigência de comprovante de vacinação e testes negativos para a covid-19.
Em entrevista à Agência Brasil neste sábado (8), o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, disse que ainda é cedo para tomar qualquer decisão sobre a suspensão ou não dos desfiles das escolas de samba.
“Vai chegar o momento certo para a gente definir regras e falar de carnaval. Nesse momento, temos que ver como as coisas vão funcionar na cidade do Rio de Janeiro, em relação à variante Ômicron. Com a nossa alta cobertura vacinal, como essa variante vai se comportar, para daí a gente poder falar de carnaval”, disse.
Informações Agência Brasil
A volta às aulas gera sempre custos para os pais ou responsáveis por estudantes com a aquisição dos itens do material escolar. Para aliviar o bolso, pechinchar é sempre uma boa opção. Na 15ª edição da Feira do Livro Usado é possível encontrar livros didáticos e paradidáticos com valores abaixo do preço em loja. As vendas acontecem no estacionamento da Prefeitura e seguem até o dia 25 de fevereiro.
Segundo Glauber Lira, coordenador da Feira, os pais ainda podem trocar os livros utilizados no ano letivo anterior.
“É uma boa oportunidade para aqueles que querem economizar com a aquisição de livros. São produtos conservados e em bom estado”, afirma.
Ainda segundo o coordenador, são aceitos pagamentos no dinheiro, modalidade pix e nos cartões de crédito e débito. No total, são 16 associados que comercializam os livros no espaço.
“O principal objetivo da Feira é oferecer a oportunidade de pagar mais barato, dando mais utilidade aos livros. A economia é de no mínimo 50%”, afirma Glauber Lira.
*Secom
O prefeito Bruno Reis (DEM) confirmou na manhã desta quarta-feira (5) que a capital baiana não terá, pelo segundo ano consecutivo, a tradicional Lavagem do Bonfim. A medida, que já havia sido cogitada publicamente, foi anunciada durante uma agenda no bairro de Vila Canária.
De acordo com o chefe do Executivo municipal, a decisão foi tomada por segurança sanitária, diante do aumento significativo de casos da Covid-19 provocados pela variante ômicron e pela chegada do vírus da gripe H3N2.
“Essa foi uma decisão conjunta entre a prefeitura e a Basílica do Bonfim e, diante dessa transmissão que está ocorrendo, não podemos dar margem para contribuir para que nesses números possam aumentar ainda mais. Sendo assim, infelizmente, o dia da Lavagem do Bonfim será um dia normal na cidade, com a região da Cidade Baixa funcionando normalmente”, declarou Bruno Reis.
Ele ainda aproveitou para pedir a pessoas que desejam cumprir seus compromissos religiosos referentes à data, como a visita à basílica, possam fazê-lo em outros dias do ano, a fim de evitar aglomerações. “Tenho certeza que o Senhor do Bonfim vai abençoar do mesmo jeito”, disse o prefeito.
No dia 13, data oficial da celebração, a basílica Santuário Senhor do Bonfim, na Colina Sagrada, ficará fechada durante a manhã e a tarde. O abrirá apenas às 18h para a missa da novena, que terá início às 19h.
Pela manhã, às 10h, será iniciada uma transmissão virtual com uma homenagem póstuma aos mais de 620 mil mortos pela Covid-19 no Brasil, que vai ocorrer no monumento ao Cristo Ressuscitado, na praça do Bonfim.
Em seguida, às 10h30, o reitor da Basílica do Bonfim, padre Edson Menezes, transmitirá a tradicional mensagem e benção à população. As ações podem ser acompanhadas poe mrio do site santuariosenhordobonfim.com e redes sociais da Basílica.
*Metro1
Com o objetivo de resgatar e valorizar a cultura alimentar sertaneja afroindígena, a websérie gastronômica narra a trajetória dos preparos dos comerciantes e nativos que contribuem para o desenvolvimento e a valorização cultural alimentar de Feira de Santana-BA.
A idealizadora do projeto, Chef Monia da Hora, que atua há 20 anos no mercado, ressalta que os estabelecimentos e comunidades do projeto foram escolhidos fruto de um estudo que definiu o feijão tropeiro de “Roque do Feijão”, o tradicional doce de leite com sorvete, do Abrigo Predileto, e o Cantinho do Bode do Feira VI como essenciais no patrimônio gastronômico cultural do município.
“O projeto destaca a riqueza cultural feirense através de diferentes comidas e conhecimentos adquiridos através da experiência gastronômica. É de grande importância para todos nós, feirenses, que muitas vezes não conhecemos e valorizamos a nossa cultura e culinária. Vamos, neste momento, possibilitar que os locais históricos de nossa gastronomia sejam eternizados em um conteúdo audiovisual”, diz a Chef Monia.
A web série do livro “Trilhado Sabores da Tradição”, está disponível no canal do YouTube “ONG Favela é Isso Aí” e pode ser acessado através deste link.
O projeto foi patrocinado com recursos da Lei Federal de Incentivo à Cultura, através da Mostra da Diversidade Cultural: Imagens da Cultura Popular, realizada pela Ong “Favela É Isso Aí”, Belgo Bekaert Arames e Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo e Governo Federal.
Administração Municipal entrou com ação liminar, mas pedido foi indeferido
A Prefeitura de Feira está devolvendo, nesta segunda-feira, 13, o saldo de cerca de R$ 160 mil (R$ 166.292,34) da Lei Aldir Blanc, que seria destinado a classe artística do município. Isso porquê a Câmara Municipal não cumpriu o prazo para votar no projeto de lei que autorizaria o Executivo usar o recurso destinando-o aos segmentos cultural e artístico.
Vale salientar o esforço da administração municipal em entrar com uma ação liminar pedindo a prorrogação do prazo para executar o saldo restante. Porém, o pedido foi indeferido pelo juiz federal Alex Schramm de Rocha, da 2ª Vara Federal de Feira de Santana.
Diante da decisão, o Município está devolvendo hoje a quantia ao Fundo Estadual da Cultura. Em dólar esse valor corresponde a $ 28.218,69 (cotação/dia R$ 5,67). O secretário de Cultura, Esporte e Lazer, Jairo Filho, salienta que o Município executou mais de 95% do total de R$ 3.789.947,60 (três milhões e setecentos e oitenta e nove mil e novecentos e quarenta e sete reais e sessenta centavos) da Lei Aldir Blanc.
Assim como muitos americanos, a historiadora Brodwyn Fischer não chegou a aprender muito sobre o Brasil quando estava na escola. O primeiro contato mais profundo veio no início da faculdade, 30 anos atrás e, desde então, ela não parou mais de pesquisar sobre a história brasileira.
“Uma das coisas que mais me fascinaram foi que começar a estudar história do Brasil me fez olhar diferente para a própria história dos Estados Unidos, porque os dois países têm muitas características básicas e estruturais, digamos assim, em comum.”
São dois países de dimensões continentais, ricos em recursos naturais, formados por populações originárias de três continentes, moldados pelo colonialismo e pela escravidão. No papel, Brasil e EUA são marcados por semelhanças – e, no entanto, tomaram caminhos completamente diferentes.
Há cerca de 10 anos Fischer explora essas questões com seus alunos em uma disciplina ministrada inicialmente na Universidade Northwestern e hoje na Universidade de Chicago, onde foi batizada de Brazil: Another American History (“Brasil: Outra História Americana”, em tradução literal).
Em 18 aulas, o programa é uma imersão na história brasileira, passando pelo período colonial e o regime escravista à industrialização e formação das grandes cidades. Entre as leituras obrigatórias há desde clássicos da literatura, como Vidas Secas, de Graciliano Ramos, até autores fundamentais para entender o Brasil, como Sérgio Buarque de Holanda (O Homem Cordial) e Celso Furtado (Formação Econômica do Brasil).
A BBC News Brasil conversou sobre alguns desses temas com a professora, que é Ph.D pela Universidade de Harvard e foi diretora do Centro de Estudos para a América Latina da Universidade de Chicago entre 2015 e 2020.
De forma geral, as comparações entre Brasil e Estados Unidos costumam ser permeadas por generalizações e exageros que colocam os dois países em polos opostos que muitas vezes não existem, avalia Fischer.
É o que a historiadora chama de “ideias hiper-reais” – algo que nunca existiu de fato, mas acaba sendo colocado no debate como a essência de um determinado conceito.
Uma dessas “ideias hiper-reais” seria justamente a razão que levou Brasil e EUA a se tornarem nações tão diferentes, apesar das semelhanças estruturais. No Brasil, muita gente reproduz a ideia de que a explicação está centrada no tipo de colonização a que os dois países foram submetidos – a portuguesa, implantada no Brasil, teria sido mais brutal e restritiva, enquanto a inglesa, levada aos EUA, teria dado aos americanos maior grau de liberdade, usado para desenvolver instituições e uma democracia mais sólidas. Uma divergência que teria selado o destino dos dois países.
“Acho que uma das coisas com as quais a gente se depara no Brasil, mesmo entre pessoas com maior escolaridade, é essa ‘ideia hiper-real’ do que são os Estados Unidos. (A questão da colonização) é exatamente isso, mas os historiadores americanos não pensam mais dessa forma sobre sua história.”
O que explica então as diferenças tão profundas?
Para Fischer, uma das razões remonta ao século 19 e tem uma ligação estreita com “as relações entre indivíduos e os direitos de cidadania”.
Em ambos os países, ela diz, a escravidão foi brutal, “algo que, moralmente, não deveria ter sido institucionalizado”. O Brasil, contudo, viveu uma situação particular depois de 1831, quando o tráfico de escravizados foi proibido por lei – mas não acabou na prática.
“A partir daí, a elite e o Estado passam a conspirar para que a escravidão continuasse, ainda que ilegalmente. Entre 1831 e 1850 (ano da promulgação da Lei Eusébio de Queiroz, que reafirmava a proibição ao tráfico), algo entre 700 mil e 800 mil pessoas foram trazidas ilegalmente para o Brasil para serem escravizadas. E toda a estrutura do Estado durante esses anos foi desenvolvida para ajudar as pessoas a contornar a lei.”
“Acho que essa é uma diferença fundamental. Nos Estados Unidos, nós tendemos a legalizar as brutalidades. Tornamos legal a possibilidade de que as pessoas andem armadas na rua, por exemplo. Então muitas das coisas que aparecem nos dois países acontecem dentro da lei nos EUA e fora da lei no Brasil”, acrescenta.
“Acredito que isso, de diversas formas, ajudou a moldar a maneira como o país opera. Um dos pontos que argumento é que o poder informal se desenvolveu muito cedo no Brasil, para preservar a ‘casa grande’ (termo usado para se referir aos grandes proprietários rurais do Brasil colonial), de forma que muita gente simplesmente não tem acesso a direitos políticos e civis básicos ou tem acesso limitado a direitos econômicos e sociais, quando estes entram em cena.”
Sem esses direitos básicos, a forma como essas pessoas que estão fora do círculo das elites têm acesso ao poder, por sua vez, é fora da estrutura do Estado e da lei. “E acho que o fato de que isso absorve uma fatia tão relevante das relações de poder no Brasil, em comparação ao que tradicionalmente se viu nos EUA, explica boa parte das divergências entre os dois países”, conclui a professora.
Algumas dessas ideias estão na tese de doutorado de Fischer, resultado de uma pesquisa na cidade do Rio de Janeiro, que ganhou no ano 2000 o Harvard University Gross Prize como melhor dissertação em História. O trabalho virou livro em 2010, publicado pela Stanford Press University e intitulado A Poverty of Rights: Citizenship and Inequality in Twentieth-Century Rio de Janeiro(“Pobreza de Direitos: Cidadania e Desigualdade no Rio de Janeiro do Século 20”, em tradução literal).
Uma das ferramentas em um país em que o poder informal tem muita relevância é justamente o “jeitinho brasileiro”, que se relaciona com o conceito do “homem cordial” de Sérgio Buarque de Holanda, que está na bibliografia do curso ensinado por Fischer.
Na visão da historiadora, contudo, o “jeitinho” é outra “ideia hiper-real”, uma espécie de exagero, na medida em que está longe de ser uma exclusividade do Brasil.
“Quando há estudantes brasileiros nas minhas aulas, eles são os primeiros a mencionar o ‘jeitinho’ e dizer: ‘Ah, nós somos bastante diferentes dos EUA!’. E aí o que eu tento fazer é mostrar as diversas maneiras pelas quais as pessoas nos Estados Unidos usam o ‘jeitinho’. Não chamamos de ‘jeitinho’, mas a ideia de alguém tentar contornar as normas que não lhe favorecem é universal.”
Fischer ilustra essa discussão com um comentário sobre o antropólogo Roberto da Matta, um dos “intérpretes do Brasil” mais lidos nos Estados Unidos, que chegou a escrever que o trânsito caótico no Brasil e o hábito dos motoristas brasileiros de “fechar” e “furar” são, em certa medida, reflexos do “jeitinho”.
“Ele morava numa cidade pequena em Indiana, onde viveu quando lecionava na [Universidade de] Notre Dame, e tinha essa ideia de que nos EUA as pessoas respeitam as leis de trânsito – mas, se você estiver em qualquer grande cidade, vai ver que isso não é verdade. As pessoas atravessam fora da faixa o tempo todo, estão quebrando regras, vendendo produtos ilegalmente na rua… Todas essas coisas acontecem em toda parte aqui, então é mais uma daquelas ‘ideias hiper-reais’.”
A diferença, ela diz, é muito mais uma questão sobre como um povo vê a si mesmo.
“Acho que tem a ver com a discussão sobre como a autopercepção de uma nação de fato acaba lhe dando forma. Se você é brasileiro, a ideia de que o ‘jeitinho’ está no centro do seu mundo o legitima e o transforma em algo que as pessoas estão dispostas a fazer com maior frequência.”
“Aqui nos EUA, a ideia ‘hiper-real’ do que nos tornava diferentes era a lei e a ordem, de que nós seguimos as regras. Não era verdade, mas era como pensávamos sobre nós mesmos. Acho que isso começa a se desintegrar – nos EUA, mais e mais pessoas não confiam nas leis e no Estado. Mais pessoas não acham que a melhor forma de resolver seus problemas é respeitando as normas. A ideia do ‘jeitinho’ aqui tem cada vez mais se tornado senso comum, na forma como o tem sido há tanto tempo no Brasil.”
Uma das diferenças mais complexas entre Brasil e EUA se dá no campo das relações raciais, destaca a professora. Apesar de ambos os países terem instituído sistemas brutais de escravidão, o Brasil passou por um processo intenso de miscigenação entre brancos, negros e índios, que não se viu na mesma medida nos EUA.
Um dos fatores que ajudam a explicar os contrastes, diz a historiadora, é a própria demografia. O Brasil recebeu um volume muito maior de africanos escravizados, aproximadamente 5 milhões, ante cerca de 250 mil desembarcados nas 13 colônias que formariam os EUA, conforme a plataforma Slave Voyages, um grande banco de dados mantido por pesquisadores da Universidade de Emory, nos EUA.
Isso foi determinante para que o Brasil se tornasse um país de maioria negra, que hoje corresponde a cerca de 50% da população, conforme a classificação do IBGE que reúne quem se declarou preto ou pardo no Censo de 2010. Nos EUA, ainda que haja regiões no sul em que a população negra seja predominante, no país como um todo ela é minoria – algo entre 12% e 13% do total, atualmente.
“Acho que isso às vezes é minimizado”, diz a professora, que se prepara para lançar o livro The Boundaries of Freedom: Slavery, Abolition, and the Making of Modern Brazil (“Os Limites da Liberdade: Escravidão, Abolição e a Construção do Brasil Moderno”, em tradução livre) em coautoria com a historiadora brasileira Keila Grinberg. Prevista para 2022, a obra é editada pela Cambridge University Press.
Com uma proporção elevada de pessoas escravizadas, foram diferentes os mecanismos de controle social colocados em prática no Brasil para manter o sistema escravista vivo durante três séculos. Ainda que fosse brutal e violento, ele incorporou, por exemplo, o instrumento das alforrias. Menos recorrentes nos EUA, aqui elas foram mais largamente utilizadas, concedidas não apenas pelos “senhores de escravos”, mas compradas pelos próprios escravizados, por organizações abolicionistas e de caridade.
Outra diferença importante e que teria reflexos profundos na formação das relações raciais no Brasil foi a relativa mobilidade que corria em paralelo à lógica de violência e sujeição que marcou o regime escravista.
No Brasil, um escravizado poderia passar a vida cortando cana-de-açúcar e ver seu filho trabalhando como escravo doméstico, exemplifica a historiadora. Ela lembra as obras do pintor francês Jean-Baptiste Debret, que chegou a retratar uma espécie de “hierarquia” entre os escravizados que viviam no ambiente urbano.
Além dos escravizados que se dedicavam aos afazeres domésticos na casa de seus “senhores”, havia, por exemplo, os escravos de ganho, que trabalhavam fora – como vendedores ambulantes ou prestando serviços a terceiros – e repassavam parte do que auferiam a seus proprietários. Pesquisas como a da historiadora Ynaê Lopes dos Santos, professora de História das Américas na Universidade Federal Fluminense (UFF), apontam ainda que, no Rio de Janeiro do século 19, alguns escravizados chegavam a morar fora da casa dos “senhores”, em cortiços e imóveis alugados.
“Essa foi uma dimensão importante. Era um certo nível de mobilidade que poderia ser conquistado sem um confronto aberto à instituição da escravidão”, pontua Fischer.
Nos EUA, especialmente nas colônias do sul, essa mobilidade era praticamente inexistente e as tensões sociais, muitas vezes mais visíveis.
“A polarização era tão grande que não havia muita alternativa a não ser criar grupos de solidariedade e eventualmente movimentos pelos direitos civis.”
Os EUA implementaram uma série de normas e leis racistas que desencorajavam a miscigenação. O casamento interracial, por exemplo, foi proibido em diversas partes do país até 1967, quando uma lei do Estado da Virginia foi derrubada na Suprema Corte.
Outro exemplo prático foi a chamada “one drop rule” (“regra de uma gota”, em tradução literal), adotada em vários Estados: independentemente do fenótipo, um indivíduo com qualquer antepassado de origem africana era classificado como negro, com todas as implicações legais que isso acarretava no país. Nenhum outro grupo étnico era identificado dessa forma.
Já no Brasil, a miscigenação muitas vezes foi vista como instrumento de mobilidade social – e, nesse sentido, é fundamental para entender a forma particular de racismo que se desenvolveu aqui, que se manifesta muitas vezes de forma velada.
“Faço muita pesquisa com ações judiciais do século 19, e essa é uma das coisas mais dolorosas com as quais tenho que trabalhar como historiadora”, comenta Fischer.
“Nesses processos você consegue ver todo tipo de estratégia que as pessoas usavam para tentar melhorar um pouco suas vidas. E uma das coisas que se pode observar são pessoas que tentavam clarear a pele dos filhos. Elas querem que os filhos sejam chamados de pardos, alguns querem que eles sejam reconhecidos como brancos na certidão de nascimento. Há uma espécie de racismo internalizado, que funciona de forma parecida com a da mobilidade dentro do sistema escravista, de forma que não se confronta o racismo como sistema.”
“Então você pode ir de negro, a pardo e branco, e o racismo ainda está completamente colocado – está sendo reforçado, na verdade.”
Essas dinâmicas, completamente diferentes do racismo institucionalizado que se via em países como EUA e África do Sul, culminam na “democracia racial”, a ideia de que não havia discriminação racial no Brasil, disseminada por teóricos como o sociólogo Gilberto Freyre, autor de Casa Grande e Senzala, obra que reforça essa visão.
A historiadora comenta que a “ilusão” da democracia racial aparece inclusive na imprensa negra americana, em artigos de jornais como o Chicago Defender, que ela apresenta aos alunos no curso.
Jornalistas e sociólogos como W. E. B. Du Bois, ativista pelos direitos civis, vieram ao país no início do século 20, após a visita do presidente americano Theodore Roosevelt, e chegaram a escrever que o Brasil seria um exemplo a ser seguido no contexto das relações raciais.
“Você vê negros americanos dizendo: ‘Olha, eu fui lá e vi médicos negros, políticos, Machado de Assis, um grande escritor negro… O que eles não percebem é que essas pessoas não necessariamente são vistas como negras.”
“E isso foi muito antes de a ideia da democracia racial emergir mais formalmente no Brasil nos anos 1940.”
Esse conceito seria desmistificado por intelectuais brasileiros como Abdias do Nascimento, ativista pelo direitos dos negros e que também faz parte da bibliografia do curso de Fischer, com a obra Brazil: Mixture or Massacre (“Brasil: Mistura ou Massacre” em tradução livre).
De volta à questão do poder informal, a historiadora argumenta que ele é chave para entender o racismo no Brasil e é um dos instrumentos usados até hoje para reforçá-lo.
“Nos Estados Unidos, essa questão (sobre como o racismo é reforçado) tem um pouco mais a ver com o fato de que as instituições são abertamente e claramente racistas em suas práticas. É uma comparação interessante, porque, no fim do dia, se você é negro e pobre no Brasil, é baixa a probabilidade que você tenha acesso a direitos, e o mesmo vale para os EUA. Existe uma semelhança em relação aos resultados, mas os caminhos para se chegar a eles são bem diferentes – e tentar entender isso pode trazer benefícios para os dois países”.
Informações BBC News Brasil