Lideranças bolsonaristas têm mostrado insatisfação com o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ao candidato à reeleição para a Prefeitura de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB). Ao mesmo tempo, eles têm se articulado para apoiar Pablo Marçal (PRTB).
Aliados de Bolsonaro têm evitado demonstrar insatisfação nas redes sociais para não contrariar o ex-presidente. O UOL apurou que o descontentamento parte de lideranças parlamentares do PL e de partidos aliados, como deputados do Republicanos, sigla do governador Tarcísio de Freitas.
Ordem do ex-presidente impede principais influenciadores de direita e extrema-direita de compartilhar conteúdos pró-Marçal nas redes sociais. Ele têm receio de criticar o atual prefeito, que divide a chapa com o vice Ricardo Mello Araújo (PL).
Bolsonaristas afirmam que estão silenciosos nas redes sociais. Eles se queixam de não poder declarar apoio abertamente ao candidato que, segundo eles, representa o Bolsonaro de forma mais evidente. Na convenção partidária, Marçal evocou diversas vezes a pauta de costumes, adotou um discurso agressivo e pediu uma oração ao final do evento —símbolos utilizado em eventos do ex-presidente.
Lideranças bolsonaristas também não demonstram apoio público a Nunes. Parlamentares e candidatos tem priorizado posar para fotos ao lado de Bolsonaro e incluído a imagem dele em santinhos.
Presença nos atos convocados para o 7 de setembro será divisor de águas para o apoio de Bolsonaro. A expectativa é que a manifestação tenha a presença de Marçal e Nunes em espaços diferentes. Interlocutores afirmam ao UOL que, se o candidato à reeleição estiver presente e não se posicionar criticamente de forma contrária ao ministro do STF Alexandre de Moraes, deve haver uma debandada pública de lideranças que o apoiam.
Marçal tem feito bolsonaristas contrariarem Bolsonaro. À reportagem, lideranças afirmam que é a primeira vez que essa divergência ocorre. O bolsonarismo está caminhando com suas próprias pernas, independente de seu líder, disse um dos parlamentares ouvidos. Para eles, o apoio a Nunes tem mais relação com a costura política do presidente do PL, Valdemar Costa Neto.
Apoio de Valdemar a Nunes veio porque Marçal não tinha a força política que tem hoje. Com a projeção que o empresário vem ganhando nas últimas semanas, o cenário tem sofrido mudanças.
Aliança com Nunes também significa tentativa de blindagem no Judiciário. Interlocutores afirmaram ainda que, ao apoiar o atual prefeito, Bolsonaro e o presidente do PL contariam com lideranças dos principais partidos do centrão para “segurar Alexandre de Moraes” em eventuais decisões relacionadas a ambos. Investigações da Polícia Federal impedem a dupla de manter contato.
O UOL apurou que Marçal foi orientado a ocupar espaços considerados “gargalos” deixados por Nunes. O empresário se apresenta sem “amarras”, se diz contra o sistema e recorre a factoides e fake news para atacar os adversários.
Um pé em cada candidatura para não ‘dinamitar’ base. Em entrevista a uma rádio, Bolsonaro elogiou Marçal ao dizer que o candidato do PRTB é “uma figura nova”, que “fala muito bem”, que “é uma pessoa inteligente” e “tem suas virtudes”. O ex-presidente chegou a dizer que Marçal “não tem experiência, mas faz parte”. Depois, voltou atrás e reforçou o apoio a Nunes.
Bolsonaristas afirmam que vídeo em que Nunes apoia Joice Hasselmann (Podemos) demonstra desconhecimento. O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL) não gostou do apoio de Nunes à ex-deputada, desafeto do ex-presidente. O parlamentar acusou o prefeito de falhar nos acenos à direita e de apoiar a “maior traidora do bolsonarismo”.
Marçal reagiu ao vídeo de Bolsonaro. O empresário pediu perdão e disse que sente carinho e amor pelo ex-presidente. “Meu respeito a você, mas o povo de São Paulo não vai prestar continência para o vagabundo do [Guilherme] Boulos nem para o banana do Nunes.”
Bolsonaro publicou vídeo para estancar crescimento de Marçal. “Eu peço, para o bem da cidade e de todos nós, que reelejam Ricardo Nunes para a Prefeitura de São Paulo”, diz. Ele também cita a coligação do PL com o MDB de Nunes.
Publicação não atingiu o objetivo desejado. Bolsonaristas afirmam que pela primeira vez há um líder diferente do apoiado pelo ex-presidente. Para eles, Nunes tem um comportamento político “mais brando”, o que desagrada a base e é considerado um traço “tucano”. Na avaliação de lideranças de partidos que apoiam Bolsonaro, o ex-presidente está sendo “desrespeitado” pela própria base.
Bolsonaro chegou a dizer que Nunes não era “o candidato dos sonhos” dele. Mas que tinha um compromisso com a candidatura do prefeito: “Vou ajudá-lo onde for possível”. A simpatia do ex-presidente pelo candidato do PRTB é conhecida entre bolsonaristas. Mas, após os debates eleitorais, a avaliação é de que empresário ganhou ainda mais força.
Campanha de Nunes fez reuniões de alinhamento para estancar apoio velado a Marçal. Na semana passada, ocorreram encontros entre interlocutores de Nunes e lideranças bolsonaristas para, segundo a campanha do prefeito, “aparar as arestas”. Em relação ao apoio a Joice, o que se diz é que “foi um material de campanha em meio a tantos outros”.
Vídeos de Bolsonaro são resultado dessas reuniões. A campanha de Nunes afirmou estar satisfeita com a relação entre o candidato, o ex-presidente e a família Bolsonaro. Mas enfatiza que nem mesmo Bolsonaro tem controle sobre “toda a direita” —segundo a campanha, partes minoritárias têm apoiado Marçal.
Informações UOL