Foto: Divulgação/Ministério da Economia da Argentina
Em plena campanha eleitoral, Sergio Massa, ministro da Economia e candidato do governo à Presidência, diz que acordo com Fundo foi pior herança do governo Macri
Para saldar o compromisso — e evitar um calote que muitos temiam — o governo do presidenteAlberto Fernándezutilizou recursos de um swap com a China (acordo entre os bancos centrais dos dois países) e um empréstimo de curto prazo com a Corporação Andina de Fomento (CAF). Nesta terça, aArgentinadeverá pagar, ainda, US$ 758 milhões ao Fundo em conceito de juros.
O pagamento foi realizado após oencerramento de negociações entre a Argentina e organismo, no final da semana passada, que permitirão ao país receber US$ 7,5 bilhões nos próximos meses. O entendimento foi possível graças a vários “waivers” (perdões) concedidos pelo Fundo pelo não cumprimento de metas por parte da Argentina, entre elas a não acumulação de reservas e um saldo fiscal primário abaixo do esperado.
Inflação atingiu nível mais alto em 30 anos.
Após longas e difíceis conversas, a conclusão da quinta e sexta revisões do acordo selado em março de 2022 pelo governo Fernández — que ao assumir o poder, em dezembro de 2020, suspendeu o entendimento fechado por seu antecessor, Mauricio Macri, em 2018 — levou, segundo fontes de organismos internacionais, à modificação (leia-se flexibilização) de metas.
O Fundo, segundo as mesmas fontes, reconheceu os enormes desafios impostos pela pior seca já sofrida pelo país em cem anos, e seu impacto negativo nas exportações e receitas fiscais.
Em comunicações oficiais, o organismo falou na importância do “crescimento sustentável, resiliente e inclusivo no médio prazo”, termos pouco comuns em acordos do organismo. Segundo outra fonte, a Argentina conseguiu um acordo inédito. Em troca, a Casa Rosada concordou em aplicar um pacote de políticas nas próximas semanas.
Como explicou uma fonte de um importante organismo internacional em Washington, a Argentina é “too big to fail” (grande demais para cair). Isso significa que o país, membro de peso do FMI, recebeu uma ajuda extraordinária do organismo, em grande medida, pelo impacto que um eventual calote argentino teria causado dentro do Fundo e na região.
— Não vamos usar sequer um dólar de nossas reservas para pagar o FMI — disse nesta segunda-feira o ministro da Economia e candidato à Presidência Sergio Massa, ao comunicar ao país, em cadeia nacional de rádio e TV, o pagamento ao Fundo.
— O programa [com o FMI] tem dois [futuros] momentos de desembolsos: um na terceira semana de agosto, e outro em novembro — explicou Massa, que, em plena campanha eleitoral e faltando menos de duas semanas para as Primárias Abertas Simultâneas e Obrigatórias (Paso, teste eleitoral crucial antes do primeiro turno, no dia 22 de outubro), aproveitou para alfinetar a oposição:
— O acordo [com o FMI] é provavelmente a pior herança do governo anterior, basicamente porque se trata de uma dívida que não está em estradas, nem escolas ou hospitais, não melhorou a vida das empresas nem das famílias —.
Nas últimas semanas, Massa, que não está conseguindo decolar nas pesquisas, liderou as conversas com o Fundo, nas quais convenceu o organismo sobre a necessidade de, mais uma vez, socorrer a Argentina. O ministro e candidato falou sobre a pior seca sofrida pelo país em cem anos, os danos causados pela pandemia, e a necessidade de recuperar as reservas do Banco Central, atualmente em negativo.
As dúvidas sobre o pagamento da dívida nesta segunda eram grandes. Na última sexta-feira, perguntado pelo GLOBO, um importante assessor do ministro admitiu que o governo ainda estava buscando uma alternativa para saldar o vencimento. A decisão de usar o swap com a China e o socorro emergencial da CAF foram a solução mais viável.
A Argentina acabar de receber mais um tubo de oxigênio, que o governo espera que permita ao país chegar às primárias e às eleições presidenciais sem grandes sobressaltos. Semana passada, o dólar paralelo voltou a disparar, chegando a 550 pesos. Um dos grandes temores da Casa Rosada é uma forte desvalorização da moeda antes das eleições, o que impactaria numa taxa de inflação que já supera 100% ao ano.
Semana passada, Massa disse que quer ser o presidente que derrote a inflação, frase que causou cerca perplexidade já que quem fala é o atual ministro da Economia do país.
Informações TBN