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Quando o cinema se supera e produz filmes pelos quais ninguém estava esperando, ganhamos todos. Ganhamos os críticos, que ao menos por algum tempo não somos forçados a tornar às mesmas queixas nunca atendidas; ganha o mercado, que se renova e atinge novos públicos; e ganha ele, o distinto público, que se abre para novas perspectivas. Em ganhando tanta gente, sendo bastante otimista, acaba se favorecendo a sociedade como um todo, uma vez que demandas inéditas vêm a lume, mundos nunca antes imaginados passam a ser conhecidos e pessoas que, tenha a certeza, existem na esfera do real, mas jamais tiveram a oportunidade de se manifestar, se fazem ouvir. Sobretudo no Brasil, pródigo em reproduzir modinhas pseudoartísticas ou repisar temas sem dúvida importantes, como os que se espraiam sobre diversos aspectos da ignominiosa ditadura militar que sequestrou os sonhos de toda uma nação por mais de duas décadas, mas que têm de ceder espaço justamente ao sonho, à fantasia, à loucura, por que não? A arte se presta exatamente a esse papel, resgatar no homem seu lado obscuro, iluminando-o e o fazendo tão necessário a si e aos outros que renuncia a sua natureza meramente lúdica e torna-se cura.

Eduardo Nunes chegou em boa hora ao embolorado panorama cinematográfico nacional. 2017 foi um ano especialmente profícuo para a história do cinema brasileiro. Produções como o drama “Gabriel e a Montanha”, dirigido por Fellipe Gamarano Barbosa, sobre um estudante determinado a viver uma aventura perigosa, e o suspense “O Crime da Gávea”, de André Warwar, que tenta esclarecer um assassinato tão macabro quanto nebuloso, tiveram relativo destaque — o destaque que geralmente têm filmes brasileiros num mercado que luta para se desamarrar de cruéis padrões estrangeiros, mas se vê presa constante dos onipresentes conglomerados de estúdios norte-americanos, detentores do interesse dos donos de salas de projeção. Afora todo o cenário desfavorável, esses longas (e ressalve-se que são lançados mais de oitocentos curtas por ano no Brasil) põem o nariz fora d’água, ainda que por um período reduzido, como se não fossem mesmo para o bico de qualquer um. Sorte de quem os consegue assistir.

E “Unicórnio” não é um filme para todos. Evitando o curso fluido da narrativa, mas apresentando outras opções que suprem a necessidade de tornar o enredo inteligível, mas sem maiores facilidades, e flertando desabridamente com o realismo fantástico, o roteiro de Nunes, baseado nos contos “O unicórnio” e “Matamoros”, da escritora paulista Hilda Hilst (1930-2004), elabora um todo que escorre lentamente, explorando possibilidades recusadas pelo dito cinema comercial pelos motivos errados. A vida de Maria não tem nada de especial. A protagonista, vivida por Bárbara Peixoto, segue até um poço, de onde tira água todos os dias, e faz daquele espaço o seu mundo particular, sem limites diante de uma existência quase precária. Maria concede permissão para que um único intruso habite esse seu universo paralelo, o pastor interpretado por Lee Taylor, cuja importância o diretor vai acentuando aos poucos. É como se cada um defendesse a própria história diante do outro e frente ao mundo que os cerca, que passa a ser só deles. Todos os outros habitantes daquele pedaço de paraíso — que a fotografia de Mauro Pinheiro Júnior, cheia do verde cintilante das montanhas de Minas Gerais, salpicado aqui e ali por pedras cinzentas — somem quando apreciada a força da subtrama conduzida por Peixoto e Taylor, mesmo a presença sempre encantadora de Patrícia Pillar no papel da mãe de Maria, lembrando vagamente a estética da personagem de “O Quatrilho” (1995), levado à tela por Fabio Barreto (1957-2019) e indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, marco da retomada da produção cinematográfica brasileira em escala industrial após 21 anos de regime militar. Durante a repressão, os filmes engajados do Cinema Novo de Glauber Rocha (1939-1981) disputavam literalmente a tapa um lugar ao sol, isso quando a preguiçosa censura dormia no ponto, o que, em verdade, era mais ou menos corriqueiro — isso para não falar do desmonte da Embrafilme, responsável por garantir alguma salvaguarda à produção audiovisual brasileira, no governo Fernando Collor de Mello (1989-1992).

O unicórnio do título, tal como o pretendia Hilst, deixa de habitar apenas o imaginário de Maria, e ganha o mundo real, em contraponto a seu pai, interpretado pelo sempre ótimo Zécarlos Machado, uma figura nitidamente messiânica, que faz de tudo para trocar o invencível desajuste com o mundo real pela mudança terminante para uma terra exclusivamente onírica. Nunes bate nessa tecla sem cessar, inclusive na sequência em que a personagem de Ines Peixoto, onipresente nos filmes de roça, toca uma sanfona como só uma legítima sertaneja o faria, malgrado os demais atores em cena se embriaguem de aguardente. “Unicórnio” é exatamente isso, a junção da dureza da vida, em especial a do brasileiro, tanto faz se nos rincões ou nas megalópoles, a sua peleja por um naco de poesia.


Filme: Unicórnio
Direção: Eduardo Nunes
Ano: 2017
Gêneros: Drama/Fantasia
Nota: 10

Informações Revista Bula

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