A história de Gypsy Rose Blanchard já virou documentário, série, livro e agora ganha novos capítulos com a liberdade da jovem, condenada por matar a própria mãe em 2015. Gypsy nasceu no estado norte-americano da Louisiana em 1991. Logo após o nascimento, sua mãe, Dee Dee Blanchard, afirmou ao pai da menina e aos familiares que ela tinha uma síndrome cromossômica não-identificada.
A suposta síndrome teria causado várias consequências na saúde da menina, como distrofia muscular, deficiência intelectual, apneia do sono e asma. Anos depois, a mãe alegou também que a menina tinha leucemia. Os diagnósticos, no entanto, foram todos inventados por Dee Dee.
Gypsy passou quase 20 anos de sua vida em uma cadeira de rodas sem que isso fosse necessário, se alimentando por sonda sem precisar, respirando com tanque de oxigênio, tomando medicações e fazendo procedimentos, inclusive cirurgias, para tratar problemas de saúde que não tinha.
Durante 23 anos, Dee Dee conseguiu enganar médicos, planos de saúde, parentes, vizinhos, ONGs, jornalistas, o governo dos EUA e a própria filha criando doenças e sintomas que não existiam. Mais tarde, ela foi apontada como portadora de uma condição mental chamada Transtorno Factício Imposto a Outro (TFIA), ou síndrome de Munchausen por Procuração.
Dee Dee também exercia forte controle sobre a vida da filha, proibindo-a de frequentar a escola, limitando suas amizades, regulando seu uso de internet e intermediando todas as suas conversas e interações com outras pessoas —inclusive médicos. Gypsy não sabia sua própria idade e nunca tinha visto os próprios cabelos, que a mãe raspava.
Fraude
Fraudando documentos e relatórios médicos, Dee Dee ganhou uma casa do governo, recebia benefícios, deu entrevistas a canais de TV e foi até presenteada com uma viagem para a Disney. A dupla era muito querida e ajudada por vizinhos, funcionários de hospitais e comunidades das cidades onde morou.
Vítimas do furacão Katrina, que devastou várias cidades do Sul dos EUA em 2005, Dee Dee e Gypsy ganharam ainda mais simpatia e benefícios. As duas foram morar em Springfield, no estado americano do Missouri. O furacão ainda serviu a Dee Dee como um bom álibi para o sumiço de relatórios médicos.
Conforme entrou na adolescência, Gypsy descobriu que podia andar e começou a desconfiar que não tinha atraso intelectual. Continuava tomando os medicamentos administrados pela mãe e obedecendo sua rígida rotina, mas algo começou a mudar quando arrumou um namorado na internet.
O crime
Escondida da mãe, Gypsy começou a se relacionar virtualmente com Nicholas Godejohn, que morava no estado de Wisconsin. Todas as noites ela esperava a mãe dormir e ficava online para trocar mensagens com Nicholas. Impossibilitada de sair e não vendo outra solução para se livrar dos abusos da mãe, Gypsy planejou matá-la com a ajuda do namorado.
Na madrugada de 9 de junho de 2015, Gypsy abriu a casa para Nicholas e entregou a ele uma faca de cozinha. O rapaz matou Dee Dee com 17 facadas enquanto ela dormia. O casal fugiu para o Wisconsin e foi preso seis dias depois.
Gypsy Rose confessou o crime, foi condenada a dez anos de prisão e ganhou liberdade condicional na semana passada após cumprir 75% da pena. Ela tem 32 anos. Nicholas Godejohn tem 34 anos e cumpre pena de prisão perpétua.
Em 2018, Gypsy afirmou a um canal de TV que se sentia mais livre na cadeia do que quando morava com a mãe. “Agora posso viver como uma mulher normal”, afirmou. Em 2022, ela se casou.
Com 6,8 milhões de seguidores no TikTok, Gypsy é considerada uma heroína por seus fãs. Sua história foi contada no documentário Mamãe Morta e Querida (HBO Max) e na série The Act (Hulu). A jovem ainda se prepara para lançar um livro que escreveu na prisão e estrelar uma nova série documental no canal History.
Fonte: f5/Folha de S. Paulo.