Políticos que apoiaram Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições deste ano criticaram o discurso do petista que relativizou a importância da estabilidade fiscal. A declaração do presidente eleito, proferida na quinta-feira 10, derrubou as ações de empresas brasileiras e provocou uma alta na cotação do dólar.
“O discurso caiu mal não só para o mercado, mas também para aqueles que acharam que a ‘frente ampla’, essencial para a vitória dele no segundo turno, valeria também para o governo”, disse o presidente do Cidadania, Roberto Freire. “Lula dava sinais positivos na transição, mas fez um discurso desnecessário. Foi um passo mal dado.”
O empresário João Amoêdo, fundador do Novo, tem a mesma leitura. “Achei ruim e desnecessário fazer esse discurso na largada”, afirmou. “Mas ainda é prematuro dizer como será o governo dele. A transição trouxe coisas boas e ruins. Mas o mercado está volátil demais.”
O tucano José Anibal, por sua vez, acredita que deve haver equilíbrio entre a estabilidade fiscal e os gastos com programas sociais. “É possível trabalhar nas duas frentes”, observou.
O mercado financeiro reagiu mal às declarações de Lula sobre os gastos públicos e às indicações do petista para o grupo de transição. O dólar atingiu a maior alta semanal desde junho de 2020, com valorização de 5,45%. No mês, a moeda norte-americana acumula alta de 3,28% sobre o real. O resultado do ano, contudo, é de desvalorização: -4,31%.
Na quinta-feira, o Ibovespa — índice que reúne as maiores empresas listadas na Bolsa de Valores de São Paulo (B3) — fechou em queda de 3,35%, com 109 mil pontos. Trata-se da maior redução diária desde setembro de 2021.
O índice perdeu R$ 156 bilhões em valor de mercado apenas na quarta-feira 9. Em dois dias de quedas seguidas, as perdas totais chegaram a quase R$ 250 bilhões. O cálculo é da consultoria TradeMap, que leva em consideração a variação no valor de mercado das companhias que integram o Ibovespa.
Ainda na quinta-feira, Lula ironizou a reação do mercado financeiro. Indagado sobre a queda do Ibovespa e sobre a alta do dólar, o ex-presidente não mostrou preocupação.
“Por que as pessoas são levadas a sofrer por conta de garantir a tal da estabilidade fiscal neste país?”, perguntou o presidente eleito, ao defender mais espaço no Orçamento para o financiamento de programas sociais. “Por que toda hora as pessoas falam que é preciso cortar gasto, é preciso fazer superávit, é preciso fazer teto?”
Créditos: Revista Oeste.