Quando se fala da saúde do pênis, a maior preocupação é que ele não funcione como deve. A receita para mantê-lo em boas condições é conhecida: estilo de vida saudável, ou seja, dieta equilibrada, atividade física regular, sexo protegido e evitar o consumo de álcool e tabaco.
Além disso, manter a higiene íntima em dia é medida da mais alta importância. Embora possa parecer óbvio que caprichar na higienização previne desconfortos, nem sempre os homens associam descuidos nesse “setor” a possíveis complicações.
Os urologistas afirmam que a razão para isso é que muitos jovens não recebem informações adequadas na adolescência e, na idade adulta, eles ainda demoram a buscar por orientações ou avaliações médicas.
Segundo os periódicos médicos The Lancet e British Medical Journal:
Iniciativas de educação focam mais na prevenção e tratamento de IST (Infecções Sexualmente Transmissíveis) e menos na saúde e no bem-estar sexual.
A proporção de homens que procura por um médico é desconhecida.
Para a maioria, essa iniciativa é desafiadora, hesitante e, por vezes, ocorre por motivo diverso do que realmente motiva a consulta.
Somente 15% a 20% deles descreve ter algum tipo de problema.
A higiene íntima é indispensável porque está associada à produção de esmegma, uma substância natural produzida por glândulas presentes na glande (cabeça) do pênis, de consistência branca e pastosa, e formada por células mortas, fluídos e gorduras.
Quando essa substância se acumula na região, além do mau cheiro, ela facilita estados irritativos e o aparecimento de doenças. Confira os quadros associados:
As inflamações se instalam
Balanite e balanopostite são inflamações geralmente causadas pela falta de higiene local.
Quando a região afetada é a glande, o problema é chamado de balanite; quando é o prepúcio, postite. Quando ambos são acometidos, a inflamação é definida como balanopostite.
Dor, coceira, vermelhidão, inchaço, mau cheiro ou mudança do odor, dor ao urinar, pequenas feridas ou lesões na pele, rachaduras e bolhas são sintomas comuns.
A falta de cuidado com as balanopostites pode facilitar seu avanço para a uretra (canal da urina). O quadro pode acarretar o seu estreitamento, além de processos inflamatórios crônicos na pele peniana e mucosa da glande.
O risco de ter tumor aumenta
Embora os urologistas considerem esse tipo de câncer raro, entre os fatores que facilitam o aparecimento de um tumor na região, destaca-se a falta de higiene pessoal, assim como o histórico de fimose, balanite, inflamações crônicas, tabagismo, além de IST —principalmente o HPV e o HIV.
Dados publicados nas revistas médicas Current Opinion in Urology e Journal of Urology mostram que pessoas com histórico de fimose devem estar atentas porque tal condição se associa ao aumento do risco desse tipo de câncer (25% a 60%).
De acordo com a SBU (Sociedade Brasileira de Urologia), o Brasil registrou média superior a 600 amputações de pênis nos últimos dez anos devido ao câncer de pênis.
Os especialistas garantem que, em qualquer idade, a higienização deve acontecer pelo menos uma vez ao dia, e ela não deve se limitar apenas ao banho. Veja a seguir:
Lave as mãos antes e depois de urinar.
Na hora do banho, lembre-se sempre de expor a glande, afastando delicadamente o prepúcio.
Lave a região com água e sabonete.
Após enxaguar com água corrente, a região deve ser mantida seca e livre de umidade. A medida reduz o risco de ter uma inflamação local.
É importante sempre retornar o prepúcio retraído à posição original após a higiene e a secagem.
A higienização deve abranger a base do pênis, o púbis e também a região dos testículos, a virilha e o períneo.
Repita a operação após as relações sexuais.
Depois de urinar, certifique-se de enxugar toda a região para evitar que restos de urina permaneçam no local e provoque alguma irritação.
Ela não é contraindicada e pode até ser útil para pessoas que transpiram muito na região.
A mistura de pelos pubianos e suor pode produzir um odor forte e semelhante ao das axilas. O único cuidado é evitar cortes locais.
Para quem se depila ou não, usar roupa íntima de algodão permite maior “ventilação” local e evita o acúmulo de suor.
A regra geral é higienizar-se com água e sabão, mas em situações nas quais isso não seja possível, o lenço umedecido pode ser utilizado.
Lembrando que lenços umedecidos, sabonetes especiais, sabonetes para banhos de banheira, desodorantes íntimos perfumados não são para todos. A depender da tolerância individual, eles podem causar irritações locais.
Nos recém-nascidos, a presença do prepúcio impede a exposição da glande —o que acontece em 90% dos bebês. Lá pelos 3, 4 ou 5 anos de idade, 90% dos meninos serão capazes de fazê-lo.
A essa altura, pode ser que alguns ainda tenham um pouco de adesão, mas tal característica não é considerada fimose.
Aliás, na infância, a retração do prepúcio para limpeza também deve ocorrer durante o banho diário. Mas a prática deve ser feita com cuidado, sem forçar excessivamente.
Na adolescência, a impossibilidade de exposição acometerá 5% ou menos dos jovens. Já na idade adulta, tal dificuldade pode chegar a 1%. Caso a limpeza eficaz não seja possível na idade adulta — porque há alguma obstrução—, uma avaliação médica é recomendada.
Jovens do sexo masculino raramente vão ao urologista assim que entram na adolescência para fazer uma avaliação médica ou receber orientações.
No entanto, em caso de dúvidas e diante de qualquer mudança no pênis, a melhor conduta é procurar por ajuda especializada.
São exemplos de situações que merecem uma consulta com o urologista:
não conseguir expor completamente a glande;
presença de manchas, feridas ou verrugas que não desaparecem após 30 dias.
Fontes: Carlos Augusto Fernandes Molina, urologista e professor do Depto. de Cirurgia e Anatomia da FMRP-USP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo); Lucas Batista, urologista, chefe do Serviço de Urologia do Hupes-UFBA/Ebserh (Hospital Universitário Prof. Edgard Santos da Universidade Federal da Bahia, que integra a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares) e cirurgião robótico; Ricardo Brandina, médico urologista e professor do curso de medicina da PUCPR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná), campus Londrina, coordenador de Serviço de Cirurgia Robótica do Hospital Evangélico de Londrina (PR). Revisão técnica: Carlos Augusto Fernandes Molina.
Referências: SBU (Sociedade Brasileira de Urologia).
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Informações UOL