A presidente da Associação Instituto Liberdade do Amazonas, Luciane Farias, mulher de Clemilson dos Santos Farias, apontado como um dos líderes do Comando Vermelho no estado, fez um apelo ao presidente Lula (PT) para que sejam reforçadas as políticas de proteção a defensores de direitos humanos.
Luciane diz que vem sofrendo ataques por ter ido a Brasília participar de eventos oficiais promovidos pelo governo Lula. “As pessoas que não levantam a bandeira para essa pauta me atacam em redes sociais, e isso me afeta mentalmente”, afirmou ao UOL.
Apelido “Dama do Tráfico” causou “dano irreversível”, declara. “Me sinto constrangida devido à alcunha que me imputaram nacionalmente.”
Luciane contou que tem evitado sair, mas que precisa voltar a frequentar as aulas da faculdade de direito e a levar as filhas à escola. “Minha filha fica em frente à TV e me defende. Isso tem me abalado.”
Ela diz que as meninas fazem terapia e acompanhamento com psiquiatras. “É muito difícil para uma criança ver a mãe sendo atacada, além de todo o trauma que teve quando o pai foi preso [em 2018].”
Luciane e Clemilson, conhecido como Tio Patinhas, estão juntos há 22 anos, e ela nega ter relação com organizações criminosas. “Quando meu esposo foi preso, minha filha mais velha foi pressionada, colocaram arma na cabeça dela, era uma criança. Ela tentou suicídio aos 11 anos. Hoje tem 16 anos e toma medicações. A mais nova tem ansiedade e também começou a ir ao psicólogo.”
Quero sensibilizar nosso presidente, que passou pelo sistema, a Janja que já visitou [unidades prisionais]. Talvez eles não tenham passado por tantas mazelas, porque o status é diferente. Queria que olhassem para gente, ativistas de direitos humanos, e criassem protocolos para nos proteger.
Queria que olhassem para mim como a esposa de uma pessoa que errou, mas não como uma criminosa.Luciane Barbosa Farias
O UOL procurou a Presidência, o MDHC (Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania) e o Ministério da Justiça para comentar as declarações de Luciane, mas não obteve resposta.
Na última segunda (13), o Ministério da Justiça informou ao Estadão que Luciane foi recebida por secretários, mas ressaltou que ela integrava uma comitiva de advogados. “A presença de acompanhantes é de responsabilidade exclusiva da entidade requerente e das advogadas que se apresentaram como suas dirigentes.”
Na última quarta (15), o MDHC afirmou que “nem o Ministro, nem a secretária, nem qualquer pessoa do Gabinete do Ministro tiveram contato” com Luciane.
O Ministério Público do Amazonas denunciou Luciane e Clemilson sob acusação de tráfico de drogas, lavagem de dinheiro e organização criminosa em 2 de agosto de 2018. Ele havia sido preso preventivamente no dia 16 de junho de 2018. Ambos negam as acusações.
Em dia 25 de janeiro de 2022, o casal foi absolvido em 1ª instância.
A sentença foi modificada em 8 de outubro deste ano pelo Tribunal de Justiça do Amazonas (2ª instância), que condenou Luciane e Clemilson. A decisão judicial ocorreu depois da presença de Luciane nos eventos oficiais em Brasília.
Ela foi condenada a 10 anos de prisão, e Clemilson a 31 anos, 7 meses e 3 dias. Luciane tem direito de recorrer em liberdade. “Entramos com recurso no STJ para que seja mantida a sentença do 1º grau [para o casal]”, informa o advogado João Evangelista Generoso de Araújo.
Em relação a supostas investigações da polícia de que a associação que Luciane preside receberia recursos financeiros de organizações criminosas, como o Comando Vermelho, ela disse que a entidade é aberta a doadores. “Não tenho associação, ligação nenhuma com o tráfico. Trabalho com doações, está disponível lá a conta da instituição, e as pessoas ajudam.”
As pessoas estão me considerando condenada, mas só é condenada quando o processo tramita em julgado. Até que se prove o contrário em todos os graus de recursos, eu sou inocente.
Luciane afirma que familiares de pessoas presas “não podem pagar pelo erro de quem está no sistema”. “Parece que voltamos à época da inquisição e estou sendo apedrejada no meio da rua, sem defesa”, diz ela.
“Como não tenho sentença, não sou condenada”, afirma. “Por que eu não posso entrar na casa do povo? Eu voto, eu sou cidadã. Quero que ouçam minhas pautas”, diz ela, em referência ao Congresso Nacional.
Luciane lembra que esteve em Brasília pela primeira vez em 2019, quando, segundo ela, um laudo médico de sua filha foi encaminhado ao então presidente Jair Bolsonaro (PL). Ela afirma que não chegou a ser recebida por nenhum órgão vinculado ao governo Bolsonaro.
UOL