O ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, disse ao Estadão estar “extremamente preocupado” com a tensão entre os Poderes. “A simples ilação de o presidente da República ter de entregar o seu celular é uma afronta à segurança institucional”, afirmou ele.
Azevedo reforçou as críticas feitas por seu colega de governo, general Augusto Heleno, que, na sexta-feira, 22, considerou “inconcebível” uma medida nesse sentido. Em texto intitulado “Nota à Nação Brasileira”, Heleno chegou a dizer que, se o celular do presidente Jair Bolsonaro for apreendido, a medida “poderá ter consequências imprevisíveis para a estabilidade nacional”.
A nova crise ocorreu porque, na última sexta, o ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), solicitou uma manifestação da Procuradoria Geral da República (PGR) sobre pedido de partidos da oposição para que o celular de Bolsonaro seja apreendido no âmbito do inquérito que investiga se ele tentou interferir na Polícia Federal para livrar sua família e amigos de investigações.
Mello explicou, em nota, que apenas consultou a PGR, sem ainda tomar uma decisão a respeito. A simples consulta, no entanto, foi considerada pelo ministro da Defesa como “inconcebível”. O Supremo tem tomado várias iniciativas de contrapeso a decisões do governo Bolsonaro. Já impediu, por exemplo, a nomeação de um delegado para o comando da Polícia Federal. O presidente, por outro lado, tem participado de atos com agenda antidemocrática, nos quais seus apoiadores pedem o fechamento da Corte e do Congresso.
Como revelou o Estadão, a nota do general Heleno recebeu o apoio do ministro Azevedo antes da publicação. Ele afirmou ter concordado com o teor do comunicado, fortemente criticado no meio político, que enxergou ali uma ameaça ao Judiciário. Segundo o ministro da Defesa, era importante que o general Heleno se pronunciasse por considerar que o telefone celular do presidente é um instrumento de trabalho, que contém, inclusive, informações de Estado. Para Azevedo, “preservar a segurança institucional do presidente da República é uma das atribuições do GSI”. Trata-se da sigla do Gabinete de Segurança Institucional, comandado por Heleno.
Generais com cargos no governo, ouvidos pelo Estadão, reforçaram, nos bastidores, o que Bolsonaro já disse em público: o presidente não irá entregar o seu celular, mesmo que isso signifique uma desobediência a uma ordem judicial, uma quebra institucional com “consequências imprevisíveis”, como Heleno destacou na nota. Argumentaram que “ordens ou decisões absurdas não se cumprem”, uma máxima que impera nos quartéis.
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Foto: Reuters