O presidente Luiz Inácio Lula da Silva estaria pessoalmente envolvido na tentativa de colocar o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega no comando da Vale.
A nomeação de Guido Mantega como diretor-presidente da mineradora faz parte de uma grande articulação pessoal de Lula, iniciada há meses, para posicionar homens do Partido dos Trabalhadores (PT)em cargos-chaves da gestão pública e da economia brasileira. Em uma palavra: aparelhamento.
A confirmação do economista Marcio Pochmann no comando do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)é parte dessa estratégia do presidente da República, que também visa agradar a ala mais à esquerda do PT.
Parte dessa mudança também envolveria nomeações petistas nas diretorias da Petrobras. Repetindo uma história já conhecida, e que resultou no envolvimento desses quadros nos escândalos de corrupção descobertos pela Operação Lava Jato.
No caso do IBGE, entidade pública, ou da Petrobras, empresa estatal, o governo não teve dificuldades em mudar a liderança. No caso da Vale, todavia, essa operação será muito mais complexa.
A Vale foi privatizada em 1997, e hoje Executivo controla apenas 8,68% do capital total da mineradora, através da Previ, o fundo previdenciário dos funcionários do Banco do Brasil– também epicentro de corrupção em passadas gestões petistas -e tem somente dois representantes no Conselho de Administração.
Entretanto, boa parte do PT considera que aVale, mesmo desestatizada, deveria atuar seguindo os chamados “interesses estratégicos nacionais”. Ou seja, fazendo o que o governo mandar.
A nomeação de Mantega, substituindo o atual presidente da Vale, Eduardo Bartolomeu, seria parte dessa estratégia. O mandato do atual CEO vai até maio de 2024.
Os outros acionistas da Vale não teriam gostado da ideia de ter Mantega na presidência. Principalmente grandes nomes, como o fundo americano Blackrock ou o grupo Mitsui, que possuem respectivamente 6,10% e 6,31% do capital da mineradora.
Por isso, o governo teria iniciado uma série de conversas com os outros acionistas, tentando convencê-los da nomeação
Lula teria se comprometido com Mantega em colocá-lo em um cargo de alto nível. Caso a operação na Vale não se concretize, outra opção seria nomeá-lo na chefia de estatais, como Itaipu, no conselho da Petrobras, ou em algum órgão internacional, como no Banco Mundial.
Caso a opção Mantega não vingue, o governo estaria pensando em nomear no comando da Vale Paulo Caffarelli, ex-presidente do Banco do Brasil e Cielo.
Um dos maiores receios dos acionistas da Vale é que Guido Mantega nunca ocupou um cargo na iniciativa privada.
O economista foi Ministro do Planejamento entre 2003 e 2004, presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)entre 2004 e 2006 e ministro da Fazenda entre 2006 e 2015.
Durante sua gestão foi implementada a chamada “Nova Matriz Macroeconômica“, uma série de medidas heterodoxas que incluíam a redução forçada da taxa de juros, desvalorização do real em relação ao dólar, desonerações tributárias à indústria, expansão do crédito do BNDES, e redução das tarifas de energia.
O resultado dessa política foi o fim do superávit fiscal em 2014 e a maior crise econômica da história do Brasil desde a Grande Depressão de 1929.
As péssimas lembranças de Mantega no comando da pasta econômica, e suas recentes declarações polêmicas – como a crítica ao teto de gastos públicos e a reforma trabalhista– estão entre as principais razões da negativa dos acionistas daVale à sua nomeação.
Em setembro de 2016 Guido Mantega foi alvo de mandato de prisão temporária no âmbito da Operação Lava Jato, após o empresárioEike Batistadeclarar ter pago US$ 2,35 milhões ao PT a pedido do ex-ministro. Esse episódio também reforça a resistência dos acionistas da Vale.
Informações TBN