A forte alta nos preços que a Argentina registra nas últimas semanas faz com que o país caminhe para fechar 2022 com uma inflação anual superior a 90%. Alguns analistas estão prevendo, inclusive, a chegada aos três dígitos, o que não tinha sido visto nas últimas décadas.
A segunda maior economia da América do Sul não supera a barreira dos 100% no índice desde 2002. Desta vez, em meio a um contexto global de disparada de preços pela guerra na Ucrânia e desequilíbrio na economia nacional, em nenhum mês a Argentina fechou com menos de 3,9% de taxa de inflação.
No entanto, os dados oficiais de julho, divulgados na última quinta-feira (11), dispararam os alarmes. Os preços ao consumidor subiram 7,4% na comparação com junho – a maior alta mensal desde 2002 – e 71% no acumulado dos 12 últimos meses. Só ao longo deste ano, a elevação foi de 46,2%.
A forte aceleração acontece em meio a um cenário de instabilidade política, com mudanças no gabinete ministerial do governo presidido por Alberto Fernández, que resultaram na nomeação, no início deste mês, de Sergio Massa como titular da Economia.
Diante da tensão, o valor do dólar americano disparou no mercado paralelo até alcançar níveis recordes, desencadeando uma forte remarcação de preços em toda a economia real.
Em julho, houve altas generalizadas nos bens e serviços, mas com um preocupante aumento médio de 6% nos preços dos alimentos, com altas exorbitantes para ingredientes básicos na cozinha. A cebola, por exemplo, subiu 57,9% na comparação com junho.
TRÊS DÍGITOS
Diante dessa dinâmica, houve fortes correções de alta nas previsões de inflação na Argentina.
Analistas privados, que são mensalmente consultados pelo Banco Central do país para a elaboração de um relatório de expectativas, projetavam no início do ano que 2022 terminaria com inflação de 55%, superando os 50,9% de 2021.
Esses mesmos consultores agora creem em uma alta de preços de 90,2% ao término do ano, muito acima da margem de 52% a 62% projetada pelo governo argentino e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).
Outros especialistas, contudo, calculam que a inflação irá superar os três dígitos em 2022.
– Certamente, teremos uma taxa próxima a 100%, a maior desde a hiperinflação de 1989 a 1990 – afirmou à Agência Efe Leonardo Piazza, diretor da empresa de consultoria LP Consulting.
Para o analista, o nível de gasto público, os ajustes tarifários e a inércia inflacionária, entre outros fatores, levarão a índices mensais que devem variar de 6,5% a 7%.
– Se a perda de reservas do Banco Central continuar e o governo não conseguir desacelerar o crescimento do gasto público, esse cenário de crescimento da inflação anual é bastante factível – avaliou Piazza.
DESAFIO
O novo ministro da Economia da Argentina admitiu que, assim como alertam consultorias privadas, agosto também será um mês intenso com relação aos preços, mas garantiu que, a partir de setembro, a curva começará a cair.
Até o momento, as medidas anunciadas por Massa visam moderar os gastos, reduzir a emissão de moeda e aumentar as reservas, mas muitos especialistas consideram que é preciso um plano mais agressivo de controle da inflação.
Para Víctor Beker, diretor do Centro de Estados da Nova Economia, da Universidade de Belgrano, o maior desafio do ministro é “colocar em prática um plano combinado e consistente com medidas fiscais, monetárias, cambiais e de receitas, que garanta uma drástica queda na inflação”.
– Dificilmente, o gradualismo é uma opção. O transbordamento inflacionário pede um tratamento de choque, caso se queira evitar uma recaída na hiperinflação – afirmou Beker.
*EFE