Do topo ao fundo do poço, a Parmalat viveu um carrossel de emoções desde sua chegada ao Brasil, em 1972, até sua falência nos anos 2000.
Famosa pelo comercial dos mamíferos e por patrocinar o Palmeiras no futebol, a marca chegou ao seu auge na década de 1990, antes de colapsar em meio a um esquema bilionário de corrupção.
A história começou na cidade de Parma, na Itália. Após perder o pai, um então jovem italiano chamado Calisto Tanzi assumiu uma fábrica familiar de presunto e massa de tomate, em Collechio, na província de Parma.
Pouco tempo depois, em 1961, com 22 anos, Tanzi decidiu investir no segmento de laticínios, abrindo a fábrica de pasteurização com o nome de Parmalat, que em poucas décadas se tornaria a maior produtora mundial de leite longa vida. A ideia do nome veio da combinação de Parma com a palavra “leite” em italiano (latte).
A companhia teve sua falência declarada em 2003 e, desde 2011, é uma subsidiária do grupo francês Lactalis, que obteve o controle total da empresa em 2019.
Cativada por comerciais de crianças vestidas de animais mamíferos, como vaquinha, porco e zebra, toda uma geração brasileira foi influenciada pela Parmalat.
A propaganda começou em maio de 1996 e, com o sucesso, perdurou quase quatro anos, até janeiro de 2000. O comercial foi criado pelos publicitários Erh Ray e Nizan Guanaes, da agência de comunicação DM9DDB, e ganhou diversos prêmios na publicidade brasileira.
A campanha ganhou maior projeção em 1998, quando foram lançados os bichinhos de pelúcia dos mamíferos segurando uma caixinha de leite. Para conseguir uma pelúcia, os consumidores precisavam juntar 20 códigos de barras das caixas de leite e completar com mais R$ 8,00.
Eram 21 modelos de mamíferos diferentes. Da tiragem de 300 mil unidades no início da campanha, a empresa precisou aumentar a quantidade para um total de 15 milhões de bichinhos.
A campanha fez as vendas de leite Parmalat dispararem no Brasil. A empresa viu seu caixa saltar de R$ 38 milhões para R$ 1,87 bilhão por ano, consolidando-se entre as três maiores alimentícias do país.
Quem tem ao menos 35 anos há de se lembrar da época gloriosa do Palmeiras nos anos 1990. O clube estava há 16 anos sem conquistar um título quando lavou a alma em 1993 ao vencer o arquirrival Corinthians na final do Paulistão pelo placar de 4 a 0.
A Era Parmalat no Palmeiras durou de 1992 a 2000. Neste período, o clube conquistou incríveis 11 títulos: Campeonato Paulista de 1993, 1994 e 1996; Torneio Rio-São Paulo de 1993 e 2000; Campeonato Brasileiro de 1993 e 1994; Copa do Brasil de 1998; Copa Mercosul de 1998; Conmebol Libertadores de 1999; e a Copa dos Campeões de 2000.
Além do Palmeiras, a Parmalat também injetou recursos financeiros em outros dois clubes brasileiros: o Juventude e o Paulista de Jundiaí.
O Juventude chegou a ser campeão invicto do Campeonato Gaúcho em 1998, vencendo o Internacional na final, e conquistou a Copa do Brasil, contra o Botafogo, no ano seguinte.
Em 1997, o clube chegou ao quadrangular de semifinal do Brasileirão e terminou o torneio na sétima colocação geral, a melhor de sua história.
Já o Paulista, durante a gestão da Parmalat, trocou o nome para Etti Jundiaí devido à semelhança com o nome de uma marca concorrente da empresa em São Paulo, a Leites Paulista.
Com a parceria, o time venceu a Copa Estado de São Paulo, que atualmente leva o nome de Copa Paulista, em 1999. Dois anos depois, veio o título da Série A2 do Campeonato Paulista e da Série C do Campeonato Brasileiro.
A Parmalat também patrocinou times da Argentina (Boca Juniors e Estudiantes), do Chile (Universidad Católica e Audax Italiano), do Uruguai (Peñarol), do Equador (LDU), França (Olympique de Marseille), da Rússia (Dínamo de Moscou), de Portugal (Benfica), da Espanha (Real Madrid), do México (Toros Neza) e até a seleção dos Estados Unidos.
Ao longo de sua história, a multinacional ainda fez parcerias com equipes de Fórmula 1 e de esqui.
De pequena empresa familiar, a Parmalat se tornou uma das maiores multinacionais do mundo no final do século 20.
Impulsionada pela onda de globalização internacional, a Parmalat chegou a atuar em mais de 30 países, de todos os continentes. Após sua falência e reestruturação, a marca diminuiu seu alcance, mas ainda assim, atualmente, está presente em 24 países, incluindo o Brasil.
Com empresas concorrentes crescendo ao final dos anos 1980, Calisto Ponzi deu uma cartada que deu fôlego financeiro à empresa e permitiu sua expansão na década seguinte.
Foi a entrada da Parmalat na bolsa de valores da Itália que abriu o caminho para os altos investimentos no esporte e em outras áreas, levando a empresa ao primeiro lugar mundial no mercado de leite de longa conservação.
Nesta altura, a multinacional empregava em torno de 37 mil funcionários pelo mundo, com um faturamento que chegou, em 2002, a 7,6 bilhões de euros, em valores da época.
Mas o voo foi tão grande quanto a queda, que veio no ano seguinte. O rombo bilionário nas contas da empresa foi descoberto no final de 2003.
Em sua multiplicação de filiais e empresas intermediárias, a companhia entrou também em paraísos fiscais. Em meio a investigações, autoridades descobriram, então, que um suposto fundo de 3,95 bilhões de euros, nas Ilhas Cayman, não existia.
Após anos de processos e brigas judiciais, Calisto Tanzi foi preso em 2011 e condenado a oito anos de prisão. Em busca na sua residência, obras de arte com valor estimado em mais de 100 milhões de euros (R$ 600 milhões), entre elas pinturas de Pablo Picasso, Claude Monet e Vincent van Gogh, foram leiloadas em 2019.
O empresário morreu no dia 1º de janeiro de 2022, aos 83 anos, em Parma.
Apesar das fraudes e da mancha em sua história, em 2011, a empresa francesa Lactalis adquiriu o controle acionário da Parmalat em nível global. A empresa retomou as atividades no Brasil em 2015, quando relançou o comercial dos mamíferos.
Hoje, a Parmalat ainda comercializa produtos, “produzidos dentro dos padrões de qualidade preconizados pelo grupo”, segundo a companhia, e mantém acesa a memória afetiva de muita gente.
Informações UOL