Por Ives Gandra Martins para a Revista Oeste
As eleições municipais de 6 de outubro, com a esmagadora vitória da democracia e dos postulantes da centro-direita diante da esquerda, principalmente da radical, merecem algumas considerações.
A primeira delas diz respeito ao presidente Lula. Em seus dois mandatos anteriores, ele foi um presidente pragmático e não ideológico.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, talvez nosso melhor presidente depois da redemocratização, contou-me, certa vez, em meu escritório, na presença de um amigo comum, George Legman, que, quando Lula liderava as pesquisas em 2002, atacando o sistema financeiro, o dólar chegou a R$ 4.
Tanto o ministro da Fazenda quanto o presidente do Banco Central sugeriram que ele pedisse um empréstimo ao FMI para acalmar o mercado, que poderia até nem ser usado, pois os fundamentos da economia eram bons. Fernando Henrique, com seu prestígio, obteve o empréstimo com a garantia de que quem fosse eleito cumpriria o acordado. Ao chamar o candidato Lula, disse-lhe que, se obtivesse o empréstimo, acalmaria o mercado e ele receberia o país economicamente estabilizado; caso contrário, não haveria como segurar o pânico cambial. Teria Lula, portanto, de mudar o discurso.
Lula não só mudou o discurso, como um de seus primeiros atos como presidente foi indicar Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco de Boston nos Estados Unidos, que foi quem mais entendeu de economia em seu governo e lhe deu estabilidade. De rigor, foi o verdadeiro ministro da Economia de Lula.
O homem pragmático dos dois primeiros mandatos tornou-se um ideológico no terceiro, dizendo que tinha orgulho de ser comunista e que havia colocado um comunista no STF. Hospedou as teses fracassadas em todo o mundo albergadas no “Foro de São Paulo”, promovido pelo PT. A isso, acrescentou sua amizade com ditadores, não condenando a fraude do sangrento autocrata da Venezuela e sugerindo que a Ucrânia desejava a guerra e não queria a paz com a Rússia — paz que implicaria em entregar à Rússia parte de seu território. Além disso, há a amizade de Lula com os ditadores Putin e Xi Jinping, da China, e com a mais antiga ditadura da América, que é a de Cuba. Sem contar ainda seu apoio ao Irã, que provocou a chacina de 1,3 mil judeus através do grupo terrorista Hamas e financiou os atentados do Hezbollah em Israel.
Por fim, Lula afasta-se das nações democráticas ocidentais para unir-se ao Sul Global sob o comando da ditadura chinesa.
O Brasil democrático reagiu contra essa linha totalitária, ao votar pela democracia equilibrada da centro-direita, em clara sinalização de uma vocação a favor da liberdade do povo — e não da imposição governamental.
A segunda consideração foi a rejeição dos radicais de esquerda e de direita. O radicalismo perdeu espaço.
A terceira foi a não interferência da Justiça Eleitoral, como em 2022, em que veículos da mídia tradicional foram proibidos de veicular matérias a favor do ex-presidente nas duas semanas que antecederam as eleições.
Os resultados desta eleição, em que o partido do presidente obteve apenas 248 municípios entre os 5.569 do Brasil — metade do que o partido do ex-presidente, que obteve 510, e menos que o do chefe da Casa Civil do governo de Tarcísio de Freitas em São Paulo, que obteve 838 — devem merecer reflexão do presidente Lula. O próprio partido do governador conquistou muito mais municípios que o partido do presidente.
A meu ver, ou ele volta a ser o pragmático dos dois primeiros mandatos, governando para o país e não para o PT, ou creio que os futuros resultados eleitorais serão ainda piores que os atuais.
Ives Gandra da Silva Martins é professor emérito das universidades Mackenzie, Unip, Unifieo, UniFMU, do Ciee/O Estado de São Paulo, das Escolas de Comando e Estado-Maior do Exército (Eceme), Superior de Guerra (ESG) e da Magistratura do Tribunal Regional Federal – 1ª Região. É professor honorário das universidades Austral (Argentina), San Martin de Porres (Peru) e Vasili Goldis (Romênia); doutor honoris causa das universidades de Craiova (Romênia) e das PUCs PR e RS; catedrático da Universidade do Minho (Portugal); presidente do Conselho Superior de Direito da Fecomércio-SP; ex-presidente da Academia Paulista de Letras (APL) e do Instituto dos Advogados de São Paulo (Iasp).
Por Joilton Freitas
As urnas trouxeram mais uma vitória de José Ronaldo. Foi uma eleição difícil. A vitória de Ronaldo o consolida como a maior liderança política da história de Feira de Santana, em uma cidade que já teve grandes líderes como Chico Pinto, João Durval, José Falcão e Colbert Martins.
Mas você pode estar dizendo: foi com 50,32% dos votos. Sim, mas foi no primeiro turno. E é aí que a vitória dele fica maior do que os números mostram. Para chegar até a vitória, ele teve que usar de toda a sua astúcia política e sua capacidade de agregar.
Ronaldo sabia que essa era a eleição da sua vida. Portanto, não podia errar. Ele sabia que o seu maior trunfo era a memória afetiva que a população tem com ele. Caminhar era preciso. E se tem uma coisa que ele sabe, é caminhar e dialogar com povo. Foi com essa ideia na cabeça e com muita disposição, que ele percorreu todo o município, antes e durante as eleições. Falou diretamente com o povo.
Mas só falar com o povo não era o suficiente. Era preciso aglutinar lideranças. Foi assim que abrigou sob o seu guarda-chuva: José de Arimateia, Targino Machado, Carlos Geilson, Pablo Roberto, e manteve o apoio do atual prefeito Colbert Filho.
Ronaldo tinha o conhecimento de que enfrentaria duas máquinas poderosas: o Governo Federal e o governo estadual. O governador veio para dentro de Feira. Aqui, fincou o seu quartel-general. A máquina estatal foi usada como nunca em uma eleição municipal. A baixa aprovação de Colbert foi usada como o principal mote da campanha petista. A imprensa local recebeu recursos em propaganda que beiram um verdadeiro escândalo de desperdício de dinheiro público.
Com o início da propaganda gratuita, o marketing petista fez vários ataques. A ideia era desconstruir Ronaldo. Tentaram, mas não conseguiram. José Ronaldo saiu gigante da eleição. A vitória dele será importante para as eleições de 2026. Além de Feira, seu arco de influência se estende a mais de uma centena de cidades. Juntamente com Otto Alencar, que é da base petista, Ronaldo se tornou a maior liderança do interior da Bahia. Que venham as eleições de 2026.
Artigo: Como confiar em um candidato que não tem se quer os votos dos seu próprios padrinhos do PT? Zé Neto, que tenta se vender como representante de Feira de Santana, não conta nem com os votos dos seus companheiros.
O governador Jerônimo, que tem residência em Feira, vota no bairro de Brotas, no Colégio Estadual Luiz Viana, seção 14, em Salvador. O deputado estadual Robson Almeida, que teve muito mais votos aqui em Feira do que em Salvador, vota na UFBA, no bairro da Federação, seção 465, também em Salvador. Elisângela, suplente de deputado federal, que diz morar em Feira, vota no município de São Domingos, na creche municipal Elza Rios Costa, na seção 192. Até Igor Kannario, candidato a vereador em Salvador, não vota em Zé Neto.
Feira de Santana merece um representante que esteja ao lado da cidade e da sua população, e não alguém que usa Feira como “curral eleitoral”, para retirar votos importantes de candidatos que são efetivamente feirenses, para interesses de fora. Afinal, se nem o time do próprio partido vota em Zé Neto, você vai arriscar seu voto?
Supremo mantém a prisão da cabeleireira Debora dos Santos, mas soltou Sérgio Cabral e perdoou multas impostas a corruptos confessos
(J. R. Guzzo, publicado no jornal O Estado de S. Paulo em 2 de outubro de 2024)
Esqueça por alguns instantes as suas posições, ideias ou crenças políticas e faça, caso estiver interessado, o teste de lógica comum sugerido nas linhas a seguir. Trata-se, basicamente, de comparar dois tipos de situação e dizer se faz nexo que os dois existam ao mesmo tempo.
Considere num primeiro caso, por exemplo, o fato de que o ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral foi condenado a 400 anos de cadeia por corrupção a céu aberto, provada e confessa. Chegou a dizer, a um certo ponto, que roubava por ter compulsão por dinheiro. Cabral está solto para continuar a sua vida em plena liberdade. Considere, agora, o caso da cabeleireira Debora dos Santos, que está presa há um ano e meio por ter escrito “perdeu, mané”, com batom, na estátua da Justiça em Brasília. Ela é acusada, entre vários outros crimes, de “golpe de Estado”, “associação criminosa armada”, “abolição violenta do Estado de Direito” e dano contra o patrimônio da União com uso de “sustância inflamável”. Debora não entrou em nenhum dos prédios invadido na baderna do 8 de janeiro. Acaba de ter negado, pelo ministro Alexandre de Moraes, o seu terceiro pedido de soltura.
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A pergunta do teste vai a seguir. Honestamente, sem levar em conta se você é a favor ou contra Bolsonaro, se é a favor ou contra Lula, ou se não é nenhuma das duas coisas: faz algum nexo, pelas regras elementares do pensamento racional, que Cabral esteja solto e Debora esteja presa? Mais: ao negar pela terceira vez a soltura, o ministro alegou que Debora é pessoa de alta “periculosidade”. De novo, pela lógica mais rasa, quem é mais periculoso para a sociedade — o ex-governador ou a cabeleireira?
Digamos, agora, que você esteja contando essa história para um amigo estrangeiro. Vai se sentir à vontade para dizer que Cabral saiu da prisão, mas não foi absolvido de nada? Que a Suprema Corte de Justiça do seu país considera que um batom é “substância inflamável”? Que alguém possa dar um golpe de Estado pichando uma estátua de granito — e com uma frase dita e confirmada pelo presidente do STF?
Uma questão muito sugestiva que a comparação entre Cabral e Debora nos apresenta é qual o grau de respeito que o STF, o Ministério Público e os demais órgãos de repressão política do Brasil de hoje têm pela sua inteligência básica. Querem que você acredite, quanto falam em “substância inflamável”, que a cabeleira poderia provocar um incêndio ou uma explosão numa escultura de pedra usando o seu batom. Então: as autoridades acham que você é ou não é capaz de pensar? Uma segunda parte do teste inclui questões que dizem respeito ao ministro Dias Toffoli e à corrupção, de um lado, e a discutida anistia para os presos e condenados do dia 8 de janeiro, de outro.
Toffoli vem anulando, um depois do outro, todos os processos de corrupção por atacado dos governos Lula-Dilma. Não falhou em nenhum caso até agora. Todo ladrão que bateu à sua porta, mesmo ladrão confesso, foi transformado em vítima, levou um atestado de bons costumes e recebeu de volta dinheiro roubado — as somas que tinha devolvido ao Erário e as multas que aceitou pagar para sair do xadrez. É a maior anistia para a corrupção que já se viu na história universal da roubalheira.
O mesmo STF de Toffoli e de Moraes faz saber que não admite em nenhuma hipótese a anistia para os barbeiros, encanadores e motoboys presos no dia 8 de janeiro. Suspeitam que Bolsonaro possa se beneficiar, embora ele não faça parte do processo — e têm certeza de que uma anistia para crimes que não foram cometidos, coisa jamais vista em lugar nenhum, vai ser um perigo para a democracia no Brasil.
Faz sentido, de novo pela lógica de curso primário, que os corruptos que confessaram seus crimes sejam perdoados, e que pessoas que não cometeram qualquer crime — salvo destruição de patrimônio da União — não possam receber perdão? Outra questão, no quesito “destruição de patrimônio público”: quem destruiu mais patrimônio comum — os corruptos anistiados por Toffoli ou quem violou as poltronas do STF?
O teste pode continuar por horas. Faz nexo dizer que alguém quis dar um golpe de Estado armado com estilingues? Faz nexo dizer que outro golpe foi provado com as “minutas” de um tenente-coronel do Exército — umas folhas de papel com divagações incoerentes sobre a possível aplicação de um “estado de sítio”, ou de “emergência?” Faz nexo que os ministros julguem causas defendidas por escritórios de advocacia onde suas mulheres trabalham? É daí para o infinito.
Pense num cara destemido. Ele era a personificação da coragem. Poderia ser um general a comandar exércitos vitoriosos ao estilo Napoleão, no campo de batalha.
A medicina foi seu desafio. A gastroenterologia, a sua especialidade. Cirurgião, o bisturi era o seu instrumento para salvar vidas.
A sua guerra não era a das nações, mas a da saúde pública. Seu espírito aristocrático de querer e fazer o melhor foi travado, quando dirigiu o hospital geral de sua cidade: Feira de Santana.
Interesses nem um pouco republicanos impediram que sua gestão desse um exemplo nacional de como o serviço público pode ser executado de forma digna e eficiente numa área tão delicada quanto a saúde.
Ele não se calou diante do que testemunhou das mazelas da saúde pública em nosso país. Escreveu dois livros que descrevem a tragédia do Sistema Único de Saúde, o SUS.
Tiveram beneficiários das maracutaias que tentaram lhe punir na Justiça pelas verdades que denunciou. Com bravura, enfrentou-os e o veredito não poderia ter sido outro: vitória em todos os processos.
Veio a pandemia e o médico-guerreiro permaneceu altivo e combativo na defesa da liberdade, do direito do exercício livre da medicina sem o controle ideológico e totalitário que permeou as ações governamentais.
Eduardo Leite é o nome desse feirense, talento da medicina e cidadão exemplar, que planta a saudade, ao se despedir nesta terça-feira (24) nos corações daqueles que tiveram a honra e glória de conviver com ele.
Meus sentimentos a Leda, Thiago, Diego, Dudu e toda a família deste médico-guerreiro, sinônimo de coragem.
Pacheco Maia é jornalista.
*Site Toda Bahia
(J. R. Guzzo, publicado no jornal O Estado de S. Paulo em 21 de setembro de 2024)
Está valendo no Brasil de hoje uma nova modalidade de “enfrentamento”, palavra requerida pelo vocabulário político da moda, a tudo que o regime considera como ameaça à democracia. A lei, no entendimento do STF e do seu público, tornou-se um estorvo para a defesa do Estado democrático.
Há ali direitos para os acusados e deveres para a polícia — e a soma dessas duas exigências pode trazer todo o tipo de inconveniências para o ministro Alexandre de Moraes e suas esquadras de repressão às práticas golpistas. A solução para a charada, na visão da autoridade suprema, tem sido simples: a lei continua valendo, mas não para todos. Para os que são definidos como indesejáveis, só vale o que o STF diz.
Digamos que você seja um ladrão confesso do Tesouro Nacional e que tenha concordado em devolver o que roubou para não ser trancado numa penitenciária. A recomendação é ir para o STF, de preferência ao ministro Dias Toffoli, e dizer que os seus direitos foram violados: você na verdade não queria pagar nada, mas foi constrangido a aceitar o acordo. A “Suprema Corte” vai zerar o que você deve — e lhe entregar de volta quaisquer valores que tenha pagado. Digamos, agora, que você seja Elon Musk e opere a maior plataforma de comunicação social do Brasil — onde cada um pode escrever o que quiser e a junta de governo STF-Lula estava debaixo de pancadaria grossa. A rede X se vê expulsa do Brasil, por “não cumprimento de ordens judiciais”, e leva R$ 18 milhões de multas no lombo. As “ordens judiciais” são despachos de Moraes, sem processo legal e sem direito de defesa para os acusados, mandando o X praticar censura. A lei proíbe isso — mas não no caso de Musk, segundo a ciência jurídica ora em vigor no país.
Da mesma forma, está escrito na lei que uma empresa não pode ser obrigada a pagar dívidas de outra só porque têm ligações entre si. Não passa pela cabeça de ninguém, por exemplo, que o STFtire dinheiro do Itaú para pagar obrigações devidas pela Alpargatas, ou dinheiro da Ambev para pagar o rombo das Lojas Americanas. Mas o X não é nem o Itaú nem a Ambev e, portanto, a lei não vale para ele. Alexandre de Moraes, por conta disso, expropriou depósitos bancários da Starlink e transferiu para o governo, para pagar multas que ele mesmo aplicou no X. São do “mesmo grupo econômico”, decidiu ele. E daí?
Isso só poderia ser feito em caso de fraude — e fraude é coisa que tem de ser apurada em processo penal regular, com provas e a plena defesa do acusado por seus advogados. Mas a lei, aí, é um estorvo para o STF. Tudo bem que ela proteja o Itaú ou a Ambev. Tudo mal que ela proteja o X. Azar do X, então.
Informações Revista Oeste
O senador Jaques Wagner (PT), um dos principais articuladores da candidatura a prefeito do vice-governador Geraldo Júnior (MDB), resolveu dar um basta nos almoços e jantares promovidos pelo emedebista em balneários da Linha Verde. Segundo interlocutores, o cacique petista demonstrou bastante irritação e teria dito que até admite perder, mas que quer ver trabalho e empenho de Geraldo na campanha, o que não tem acontecido, na visão dele.
Nos bastidores da política de Salvador, se comenta que a campanha do vice-governador Geraldo Júnior recebeu recentemente uma nova pesquisa sobre a avaliação do cenário na capital baiana. O resultado aponta o prefeito e candidato à reeleição Bruno Reis (União Brasil) chegando na casa dos 70%, confirmando números de levantamentos já divulgados. Alguns dos integrantes da campanha ficaram atônitos, mas outros comemoraram. Internamente, a situação é tão desesperadora que há rumores de que a cúpula petista do estado tem atuado para segurar a divulgação de pesquisas. O receio maior é que Kleber Rosa (PSOL) se aproxime demais de Geraldo.
A máxima do vice-governador Geraldo Júnior de que quer discutir a cidade caiu por terra após a divulgação, pelo jornal O Globo, de que o plano de governo do emedebista só tem capa e contracapa no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). E o pior: todos os demais candidatos incluíram seus planos no sistema, inclusive aqueles de partidos nanicos como PCO, Unidade Popular, PCB e PSTU. Em suas entrevistas e sabatinas, Geraldo sempre diz para as pessoas olharem as propostas que constam em seu plano de governo, mas como o povo vai poder consultar o documento se não está no sistema da Justiça Eleitoral?
Toca Raul
Durante uma entrevista, para tentar justificar suas mudanças de lado e de posicionamentos, o vice-governador Geraldo Jr. resolveu citar Raul Seixas: “Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante”. Resultado: virou piada nas redes sociais. Usuários das redes não perderam a oportunidade e também citaram Raul para falar do candidato da base governista: “Plunct Plact Zum Não vai a lugar nenhum”, escreveu uma. “Eu não preciso ler jornais, mentir sozinho eu sou capaz”, ironizou outro.
Meu passado me condena
Descendo ladeira abaixo em Vitória da Conquista, o candidato do PT, Waldenor Pereira, resolveu, em um claro ato de desespero, jogar fora das quatro linhas (parafraseando Geraldo Júnior). Na tentativa de atacar a prefeita e candidata à reeleição Sheila Lemos (União Brasil), a campanha de Waldenor atacou a jornalista Daniella Oliveira, que atua na campanha da prefeita. A propaganda do petista comparou a atuação da profissional na campanha de Sheila e na TV Sudoeste, onde trabalhou por 26 anos. A estratégia não foi bem recebida e Waldenor tem sido acusado de misoginia.
Dormiu
A passagem do governador Jerônimo Rodrigues (PT) por Alagoinhas deveria turbinar a militância do candidato governista, mas deixou uma mensagem derrotista no ar. Mesmo com influência pesada das máquinas do estado e da prefeitura, o petista pediu um esforço sobre-humano da militância para tentar alcançar o ex-prefeito Paulo Cezar (União Brasil), que faz uma campanha popular e orgânica nas ruas. Para enfrentar a correria, a sugestão do petista para os seus foi “dormir de tênis”.
Puxa pra baixo
E por falar em Jerônimo, o governador apareceu essa semana na campanha de Geraldo Júnior na propaganda eleitoral, após ficar um tempo mais afastado. Talvez porque a desaprovação do petista só cresça na capital baiana. Com o retorno dele à propaganda, observadores da política baiana não perderam a oportunidade: “Agora que Geraldo afunda de vez”, brincou um deles.
Abandono
Enquanto sua titular mergulha de cabeça na agenda das campanhas eleitorais no interior, a Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab) sofre uma saraivada de críticas nos últimos dias diante do agravamento do já caótico sistema de regulação de pacientes. O ponto de maior revolta veio do Recôncavo com a notícia da morte de um recém-nascido que não resistiu ao tempo de espera. Da secretária Roberta Santana, não se ouviu uma palavra sequer. Ao que parece, abandonou a função para fazer política.
Pinta de ditado
O Instituto Histórico e Geográfico da Bahia (IGHB) entrou de vez na mira da democracia seletiva do PT baiano. Pela primeira vez na história, o governo do Estado cortou o repasse para manutenção no instituto puramente por capricho político, como forma de retaliar quadros ligados ao órgão que não votaram com o partido nas eleições de 2022. Segundo o presidente do IGHB, Joaci Góis, a determinação expressa para o corte veio do secretário de Cultura, Bruno Monteiro, classificado por ele como “jovem com pinta e vocação para ditador”.
Com tiranos não combinam
“Você pode imaginar se num momento de democracia plena no Brasil como esse, os baianos que construíram o 2 de Julho vão suportar uma violência desse tamanho”, afirmou Joaci Góis, em tom de quem não vai baixar a guarda para a investida tirana que vem sofrendo do secretário gaúcho que capturou a Secult com as bênçãos do senador Jaques Wagner.
*Correio da Bahia
(J. R. Guzzo, publicado no jornal O Estado de S. Paulo em 11 de setembro de 2024)
Mais cedo ou mais tarde, para o bem de todos e a felicidade geral da nação, a vida política brasileira precisará sair do ponto morto em que está hoje e fazer uma tentativa de andar para frente. Do jeito que está a coisa, não adianta nada ficar todo mundo querendo pisar no acelerador. O motor faz muito barulho, mas o carro não sai do lugar — e o lugar onde ele está é ruim. Como pode estar bem uma democracia em que o presidente da República chama o povo para a rua, e não vai ninguém? Pior: só vai tanque de guerra, polícia e os picaretas que vivem em palanque de governo.
Para complicar, o político que o governo descreve como a maior ameaça para a democracia que jamais apareceu neste país enche a rua, mais uma vez, com o seu próprio comício. Como se explica uma coisa dessas? Deveria ser o contrário. A praça de Lula (e do ministro Alexandre de Moraes) teria de estar dura de gente para defender a democracia que foi exibida naquele palanque. A praça de Jair Bolsonaro, que segundo as classes pró-governo quer impor uma ditadura, teria de estar vazia.
Como pode haver um regime democrático no Brasil se o povo faz o oposto do que os especialistas em democracia esperam que ele faça? Eleição, nesse caso, vira perigo de morte: os eleitores podem escolher os governantes antidemocráticos, e aí o que se vai fazer? A Venezuela, por exemplo, tem uma reposta pronta para isso: proíbe que os candidatos “errados” disputem a eleição, e se mesmo assim o povo escolher algum indesejável, o STF lá deles diz que foi o governo quem ganhou, com “ata” ou sem “ata”. Quem quer ver os números da votação é “golpista”.
É um caminho, sem dúvida. Pode ser um pouco “desagradável”, como diz o presidente Lula — mas resolve, e ele mesmo, mais muita gente boa, achava até outro dia que a Venezuela tinha democracia “até demais”. Mesmo agora, depois do roubo da eleição, acha que que não há uma ditadura por lá. É só “um rolo”, diz ele, e por conta dessa avaliação não há nada de realmente errado com a Venezuela, levando-se em conta que tudo o que está enrolado sempre pode se desenrolar um dia.
Se esta opção não for disponível para Lula, o Supremo e quem mais acredita neles, é possível pensar em outras — a começar pela possibilidade de se fazer eleições livres, com urnas que produzam as “atas” escritas tão desejadas por Lula na Venezuela e com o entendimento que o candidato mais votado vai para o governo. Caso o eleitorado escolha o pior de todos, nada de pânico. Se ele fizer um governo ruim, é só eleger um nome que seja o seu oposto na próxima eleição. Se ele fizer um governo bom, então talvez não fosse tão ruim assim.
Esta e qualquer outra solução para desatar a trava atual da política tem de se fundamentar num acordo coerente entre a maioria dos responsáveis pela condução da vida pública brasileira; ou faz sentido, ou nem sai do lugar. O norte deste acordo, como acontece nas democracias sérias, é a decisão de voltar à racionalidade. A ideia mais prática, aí, é ter o máximo de consenso em relação ao que não deve ser feito. Se não tem lógica, não se faz. O resultado mais provável é que o Brasil vai economizar um monte do tempo que está perdendo hoje com crenças irracionais.
Não é lógico, por exemplo, dizer que todos os cidadãos que discordam do governo, da conduta do STF e das “pautas” que ambos defendem são “bolsonaristas”. Não faz nexo, da mesma forma, dividir a população brasileira em duas classes de pessoas — os bons, que acreditam estar no “campo progressista”, e os que são réus do crime de “bolsonarismo” e, nessa condição, não têm direito de desfrutar a proteção da lei. Também é incompreensível sustentar que as urnas eletrônicas são um objeto mágico e, portanto, não podem receber nenhum tipo de aperfeiçoamento.
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É difícil sair do lugar quando dezenas de milhões de brasileiros são excluídos da cidadania por “golpismo” e “bolsonarismo”, sendo que jamais lhes passou pela cabeça defender golpe nenhum — e nem gostar de Bolsonaro. Não faz sentido achar que um projeto de anistia para crimes não cometidos, e sobretudo não provados, como o de “golpe de Estado” e o de “abolição violenta do Estado de Direito”, seja um “ato antidemocrático” e “fascista” — só porque pode, eventualmente, beneficiar Bolsonaro.
Mais que tudo, há a evidência de que enquanto Jair Bolsonaro continuar a ser tratado como o problema mais importante que já apareceu na vida política do Brasil, o carro não pega — é óbvio que ele continuará sendo apenas um problema sem solução. Lula, a esquerda, os comunicadores e outros tantos poderiam ter contribuído para o Brasil passar à fase seguinte se deixassem Bolsonaro para trás. Mas fizeram contrário. Não passam um dia sem dizer que ele vai acabar com o país — e aí o ex-presidente continua sendo o centro de tudo, mesmo porque pelo menos metade da população não acredita que ele vai acabar com nada.
Bolsonaro só vai sair de cena se disputar uma eleição efetivamente limpa — não eleição tipo Maduro — e perder. O que paralisa a política do Brasil de hoje não são os vícios e as virtudes do ex-presidente. É o medo de que ele ganhe. Porque não se considera, nunca, que Bolsonaro possa disputar a eleição presidencial e perder? Quer dizer, então, que ele já ganhou? Não há democracia de verdade com esse tipo de neura. Se o maior risco do regime é a vitória do candidato preferido pela maioria dos eleitores, nada vai funcionar.
Quem assiste à propaganda eleitoral gratuita já percebeu que tanto a campanha de Zé Neto (PT) quanto a de José Ronaldo (UB) informam números de pesquisas eleitorais. Contudo, o que passa despercebido ou não é de conhecimento do eleitor comum é a contextualização de cada pesquisa apresentada. E é justamente essa falta de contexto que permite o uso estratégico de dados para manipular a percepção pública, como tem feito a campanha de Zé Neto.
Recentemente, a propaganda petista começou a exibir o resultado de uma pesquisa realizada no começo de julho, ou seja, há mais de dois meses, logo após a divulgação da mais recente pesquisa do instituto Séculus Análise e Pesquisa, contratada pelo site Bahia Notícias, realizada neste mês de setembro. E a estratégia por trás disso é evidente: confundir o eleitor ao exibir números desatualizados e favoráveis ao candidato petista, sem esclarecer o contexto em que a pesquisa foi feita.
A pesquisa exibida pela propaganda petista, repita-se, realizada há mais de dois meses, ou seja, antes de a campanha eleitoral “pegar fogo”, utilizou uma metodologia que pode ser considerada tendenciosa. Nela, o entrevistado era questionado: “Sendo os candidatos, Zé Neto com apoio de Jerônimo e Lula; e José Ronaldo com apoio de ACM Neto e Bolsonaro, em quem você votaria?”. Esse tipo de abordagem é, no mínimo, questionável.
É necessário observar que a mesma pesquisa, realizada pela empresa IPM/Brasil, coloca José Ronaldo à frente no cenário espontâneo, aquele em que o eleitor é questionado em quem vota para prefeito sem a apresentação dos nomes dos candidatos. Isso revela uma realidade que a campanha de Zé Neto omite ao escolher qual dado irá apresentar. Além disso, vale destacar que, no período em que essa pesquisa foi feita, Pablo Roberto ainda era pré-candidato a prefeito. Posteriormente, ele se uniu à chapa de José Ronaldo como candidato a vice, o que altera significativamente o cenário político.
No atual contexto eleitoral, em que a manipulação de informações é uma ferramenta largamente utilizada, é fundamental que o eleitor esteja atento a tais artifícios. Quando um dado é apresentado de forma descontextualizada, sem a devida explicação de como e quando foi coletado, a sua utilização se torna questionável. É um recurso que busca, acima de tudo, moldar a percepção do eleitor a favor de um candidato, sem compromisso com a verdade ou com a transparência dos fatos.
A estratégia da campanha de Zé Neto, portanto, se revela como uma tentativa de confundir o eleitor, utilizando-se de uma pesquisa antiga e direcionada, omitindo o contexto atual das intenções de voto. Cabe ao eleitor buscar informações de diferentes fontes, comparar dados e, acima de tudo, questionar aquilo que lhe é apresentado como verdade absoluta. A democracia se fortalece com o acesso à informação precisa e contextualizada, não com o uso tendencioso de dados que só visam desvirtuar o debate público.
(Por: Ordachson Gonçalves)
Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião deste veículo de comunicação.
Ministro do Supremo está à beira de conseguir o que sempre quis em seu projeto geral de calar a voz das redes sociais: proibir o X de operar no Brasil, como acontece na China, na Rússia, no Irã, na Coreia do Norte, em Cuba e nas piores ditaduras do mundo
(J. R. Guzzo, publicado no jornal O Estado de S. Paulo em 31 de agosto de 2024)
A guerra de extermínio que o ministro Alexandre de Moraes declarou a Elon Musk e ao X não é, na verdade, uma guerra nem a Elon Musk e nem ao X. Também não é uma proclamação pedindo o cumprimento de decisões judiciais, ou das leis brasileiras. Não é uma ação em defesa da soberania nacional, nem de “enfrentamento” ao poder econômico estrangeiro e nem de apoio ao STF. A guerra do ministro é contra a liberdade de expressão no Brasil. É aí que está, e sempre esteve, o seu inimigo real.
Moraes está à beira de conseguir o que sempre quis em seu projeto geral de calar a voz das redes sociais: proibir o X de operar no Brasil, como acontece na China, na Rússia, no Irã, na Coreia do Norte, em Cuba e nas piores ditaduras do mundo. Expulsar o X e cassar a palavra de seus 20 milhões de usuários joga o Brasil nesse clube de malfeitores — mas o ministro, o STF e os esquadrões que dão apoio automático a tudo o que eles fazem estão achando que isso é um triunfo sobre a “extrema direita”.
‘A diferença entre Musk e qualquer cidadão brasileiro que quer cumprir as leis é uma só: ele, com os seus US$ 250 bilhões e morando nos Estados Unidos, tem os meios físicos para não obedecer a ordens ilegais. O brasileiro, se fizer isso, é enfiado num camburão da Polícia Federal”, afirma J. R. Guzzo
A direita, evidentemente, gosta de Musk, do X e da possibilidade de falar o que quer nas redes sociais, mas isso não muda em nada a agressão permanente de Moraes, do STF e dos seus liderados contra a liberdade de expressão. Também não tira a razão do empresário neste episódio. O fato essencial é que Musk não desrespeitou nada, nem desafiou ninguém e nem cometeu nenhum crime em seu entrevero com o ministro —apenas se recusa a cumprir as ordens ilegais que recebe dele.
Essas ordens querem que o X faça censura sobre os seus usuários, e que faça em segredo, sem dizer que a ordem vem de Moraes. Aplicar censura é proibido pela Constituição; quem fizer isso estará, aí sim, violando a lei. Musk tem a jurisprudência do próprio STF a seu favor. “Ninguém é obrigado a cumprir ordem ilegal, ou a ela se submeter, ainda que emanada de autoridade judicial”, definiu o STF em 1996, num voto do então ministro Maurício Corrêa. Essa decisão nunca foi reformada.
A diferença entre Musk e qualquer cidadão brasileiro que quer cumprir as leis é uma só: ele, com os seus US$ 250 bilhões e morando nos Estados Unidos, tem os meios físicos para não obedecer a ordens ilegais. O brasileiro, se fizer isso, é enfiado num camburão da Polícia Federal. Não é Musk, seja ele quem for, que está em questão aqui. É Moraes, que intima o empresário pela internet (pelo X, por sinal) e não por carta rogatória. É ele que bloqueia as contas de uma empresa para cobrar valores de outra. Que tal, então, cobrar a Ambev pelo rombo das Americanas, já que estão no mesmo grupo econômico “de fato”, como diz o ministro? O problema não está no acusado. Está no acusador.
Informações Revista Oeste