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Ferramenta de inteligência artificial pode facilitar plágios e cópias sem reflexão. Por outro lado, é capaz de poupar tempo, resumir assuntos estudados e revisar o que foi aprendido em aula.

Uso do ChatGPT na educação tem vantagens e desvantagens; saiba quais — Foto: g1

Uso do ChatGPT na educação tem vantagens e desvantagens; saiba quais — Foto: g1 

O ChatGPT, novo sistema de inteligência artificial, está sendo tratado como “vilão” por escolas no exterior: nos Estados Unidos e na Europa, colégios bloquearam o acesso ao robô, temendo que os alunos trapaceiem nas provas e passem a apenas copiar e colar os textos escritos automaticamente pela ferramenta. 

Mas, afinal, vale a pena comprar essa briga nas salas de aula? Segundo especialistas ouvidos pelo g1, lutar contra o robozinho é perda de tempo. 

“Não vai adiantar proibir, é o cenário para o futuro. Primeiro, precisamos conhecer o ChatGPT e entender que ele não é um oráculo: tem limitações e pontos positivos. A partir disso, vamos adaptar a forma de ensinar e de avaliar [as turmas]”, explica Diogo Cortiz, professor de tecnologia da PUC-SP. 

Para quem ainda não sabe como funciona o ChatGPT, aqui vai uma explicação simplificada: a partir de um vasto material disponível na internet, o site (por enquanto, gratuito) responde a qualquer pergunta que o usuário digitar (desde “o que é Revolução Gloriosa?” até “Deus existe?”). Mas, atenção: o próprio sistema admite que tem limitações e que pode fornecer dados imprecisos, incompletos e desatualizados. 

Abaixo, conheça as vantagens e desvantagens de usar essa ferramenta na educação: 

🔴Desvantagens (e como superá-las)

🔍 Dificuldade de detectar plágios e de avaliar alunos

Se, ao fazer um trabalho da faculdade, o estudante copiar e colar um trecho da Wikipedia, softwares antiplágio identificarão exatamente o parágrafo transcrito. 

Mas esse “flagra” não acontece com o ChatGPT, porque o robozinho é mais esperto. Ele usa uma infinidade de textos disponíveis na internet para redigir uma resposta “com as próprias palavras”, sem, em geral, citar as fontes. Ou seja: o risco de trabalhos acadêmicos serem plagiados aumenta.

Na FGV Direito Rio, por exemplo, o professor Luca Ili deixará de testar os conhecimentos dos alunos por meio de redações. 

“O ChatGPT faria o texto em 5 minutos. Vou passar a pedir que [as turmas] respondam as perguntas oralmente ou façam apresentações em sala de aula”, conta.

Não é só uma questão de nota. Se a maioria dos alunos só tirar notas boas “artificialmente”, por meio do robô, os professores não conseguirão detectar as dificuldades que precisam ser sanadas ao longo do semestre. 

💡 Possível solução: repensar a forma de avaliar os estudantes (trocar as provas no computador por formulação de projetos ou apresentações orais). 

🤔Opiniões rasas e desestímulo ao pensamento crítico

Se o estudante fizer ao ChatGPT qualquer questão que envolva opiniões, receberá uma resposta rasa. Sim, o robô é bem “ensaboado”.

“A tecnologia ainda não conseguiu replicar a inteligência humana. Em conteúdos que vão além do factual e que exijam a própria versão de algo, [a ferramenta] vai até responder, mas de forma básica e pouco convincente”, explica o professor Ili. 

⬇ Veja abaixo um exemplo do que ele escreveria sobre aborto. Se o aluno apenas copiar a resposta, perderá a oportunidade de desenvolver o pensamento crítico. 

Exemplo de dúvida sobre aborto no ChatGPT — Foto: Reprodução 

💡 Possível solução: estimular os alunos a usarem o ChatGPT apenas como um ponto de partida para a discussão, em vez de limitarem-se às respostas rasas dele. 

🤦‍♀️Imprecisão de respostas

Martin Oyanguren, vice-presidente do Educacional (ecossistema de tecnologia e inovação), afirma que o ChatGPT “pode fornecer respostas incompletas ou incorretas, especialmente se as perguntas forem mal formuladas ou se as informações na base de conhecimento estiverem desatualizadas”. 

O próprio robô tem “consciência” de suas limitações: no painel principal, há um aviso de que os dados podem estar errados ou ultrapassados (especialmente se o assunto for recente, de 2021 até agora). 

“Será importantíssimo por parte do professor e do aluno garantir a curadoria do conteúdo”, diz Oyanguren.

Olhe só um exemplo de resposta incompleta: o ChatGPT não menciona o nome de Santos Dumont na discussão (polêmica) de quem inventou o avião. Ele é categórico ao afirmar que foram os irmãos Wright. ⬇ 

Resposta do ChatGPT sobre a invenção do avião não menciona Santos Dumont — Foto: Reprodução 

💡 Possível solução: Propor debates em grupo e “correções” a partir de respostas dadas pelo ChatGPT. 

🎨Falta de estímulo à criatividade e à pesquisa

Se o aluno parar de se esforçar para solucionar problemas e deixar de pesquisar novas fontes de informação, não exercitará sua criatividade. 

Carlos Neves, professor do curso de sistemas de informações da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), conta que fez uma brincadeira: pediu para o ChatGPT criar um roteiro de propaganda de cerveja. 

“O sistema criou algo genérico, que tiraria um 3 ou 4 na nota. Mas dá para o aluno usar aquilo como ponto de partida, se não souber por onde começar”, diz. 

💡 Possível solução: Professores explicarem que a ferramenta é útil para dar ideias iniciais, mas não para criar um material inédito. 

💬 Novas formas de interagir com a informação

O ChatGPT pode ser interessante para que o aluno e os professores interajam de forma diferente com o conteúdo ensinado. 

“Serve como um suporte. Por exemplo: para testar os próprios conhecimentos, você consegue pedir para a ferramenta gerar perguntas sobre um assunto. É um treino personalizado muito bacana”, diz Neves, da ESPM. 

Exemplo de perguntas geradas pelo ChatGPT — Foto: Reprodução 

Oyanguren dá outro exemplo: o sistema é útil para “gerar tutoriais interativos que permitem aos alunos aprenderem de forma mais independente”. 

🩺Desenvolvimento de habilidades de análise 

Henrique Braga, coordenador do ensino médio do Sistema Anglo, explica que o ChatGPT pode ser uma oportunidade para os estudantes exercitarem a capacidade de raciocínio analítico. 

“Se o aluno estiver diante de uma questão proposta pelo professor ou extraída de um vestibular/concurso público, pode ser interessante elaborar [primeiramente] sua própria resposta e, depois, comparar com a oferecida pelo robô”, diz. 

“Qual ficou mais adequada? É possível melhorar? Esse tipo de reflexão na construção de conhecimento estimula o desenvolvimento de habilidades complexas, como análise e avaliação.” 

O ChatGPT pode ajudar alunos e professores a pouparem o tempo que gastariam com tarefas repetitivas e mecânicas, para que se dediquem a trabalhos mais criativos, explica Luca Ili, da FGV. 

👅Treino em idiomas estrangeiros

O mecanismo de conversação do robozinho também é um bom apoio para treinar idiomas estrangeiros: 

ChatGPT escreve em idiomas estrangeiros — Foto: Reprodução 

📱 Aprendizado sobre ética digital

O aluno pode usar o ChatGPT de forma desonesta ou pouco crítica? Sim, há esses riscos. Mas não será a primeira vez que uma nova tecnologia terá um “lado ruim”. 

“A existência de um robô que traz prontas todas as respostas gera ótimas oportunidades para exercitar uma relação ética com as tecnologias digitais na escola”, afirma Henrique Braga.

A competência 5 da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) — documento com o que deve ser ensinado nas escolas — diz que, ao terminar a educação básica, o estudante precisa saber “compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais”.

Informações G1

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