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Presidente fez um discurso para gerar polêmica interna, desmontou narrativa global que acusa o Brasil de vilão ambiental e apresentou fatos sobre como o governo agiu no combate à pandemia

Foto: Eduardo Munoz/EPA/EFE

Jorge SerrãoEduardo Munoz/EPA/EFEJair Bolsonaro foi o primeiro chefe de Estado a discursar na Assembleia-Geral da ONU

Vacinado contra o globalismo, o único chefe de Estado e de governo que não tomou vacinacontra Covid-19 abriu a 76a Assembleia Geral das Nações Unidas. Jair Messias Bolsonarotinha advertido que seu discurso seria “em braile” (ou seja, para ser entendido por portadores de deficiência visual). Pura ironia com o tema geral do evento: “A reconstrução de um mundo pós-pandemia de maneira sustentável”. Na estética, Bolsonaro foi conciso e protocolar, como recomenda o jeitinho diplomático do Itamaraty. Em termos geopolíticos, não atacou abertamente a globalização. Mas ressaltou a importância da liberdade para a democracia e apresentou ao mundo a visão objetiva de como seu governo lidou com a pandemia em termos sociais, políticos e econômicos. O presidente falou, na ONU, para o Brasil.

Bolsonaro começou sua fala com forte tom político ideológico: “É uma honra abrir novamente a Assembleia-Geral das Nações Unidas. Venho aqui mostrar o Brasil diferente daquilo publicado em jornais ou visto em televisões. O Brasil mudou, e muito, depois que assumimos o governo, em janeiro de 2019. Estamos há 2 anos e 8 meses sem qualquer caso concreto de corrupção. O Brasil tem um presidente que acredita em Deus, respeita a Constituição e seus militares, valoriza a família e deve lealdade a seu povo. Isso é muito, é uma sólida base, se levarmos em conta que estávamos à beira do socialismo”. Bolsonaro retomou o raciocínio no fim do discurso: “No último 7 de setembro, data de nossa Independência, milhões de brasileiros, de forma pacífica e patriótica, foram às ruas, na maior manifestação de nossa história, mostrar que não abrem mão da democracia, das liberdades individuais e de apoio ao nosso governo. Como demonstrado, o Brasil vive novos tempos. Na economia, temos um dos melhores desempenhos entre os emergentes. Meu governo recuperou a credibilidade externa e, hoje, se apresenta como um dos melhores destinos para investimentos”.

O ponto mais importante dos 12 minutos de discurso de Bolsonaro, em termos geopolíticos, foi o desmonte objetivo da narrativa que coloca o Brasil como “vilão ambiental”: “Nenhum país do mundo possui uma legislação ambiental tão completa. Nosso Código Florestal deve servir de exemplo para outros países. O Brasil é um país com dimensões continentais, com grandes desafios ambientais. São 8,5 milhões de quilômetros quadrados, dos quais 66% são vegetação nativa, a mesma desde o seu descobrimento, em 1500. Somente no bioma amazônico, 84% da floresta está intacta, abrigando a maior biodiversidade do planeta. Lembro que a região amazônica equivale à área de toda a Europa Ocidental. Antecipamos, de 2060 para 2050, o objetivo de alcançar a neutralidade climática. Os recursos humanos e financeiros, destinados ao fortalecimento dos órgãos ambientais, foram dobrados, com vistas a zerar o desmatamento ilegal. E os resultados desta importante ação já começaram a aparecer! Na Amazônia, tivemos uma redução de 32% do desmatamento no mês de agosto, quando comparado a agosto do ano anterior. Qual país do mundo tem uma política de preservação ambiental como a nossa? Os senhores estão convidados a visitar a nossa Amazônia! O Brasil já é um exemplo na geração de energia, com 83% advinda de fontes renováveis. Por ocasião da COP-26, buscaremos consenso sobre as regras do mercado de crédito de carbono global. Esperamos que os países industrializados cumpram efetivamente seus compromissos com o financiamento de clima em volumes relevantes”.

Outro ponto diplomaticamente fundamental foi a confirmação de que, em 2022, o Brasil volta a ocupar uma cadeira no Conselho de Segurança da ONU, “onde buscamos assento permanente”. Bolsonaro lembrou que o Brasil sempre participou em missões de paz da ONU: “De Suez até o Congo, passando pelo Haiti e Líbano. Nosso país sempre acolheu refugiados. Em nossa fronteira com a vizinha Venezuela, a Operação Acolhida, do governo federal, já recebeu 400 mil venezuelanos deslocados devido à grave crise político-econômica gerada pela ditadura bolivariana. O futuro do Afeganistão também nos causa profunda apreensão. Concederemos visto humanitário para cristãos, mulheres, crianças e juízes afegãos. Nesses 20 anos dos atentados contra os Estados Unidos da América, em 11 de setembro de 2001, reitero nosso repúdio ao terrorismo em todas suas formas”.

Sobre o tema central da assembleia, Bolsonaro ponderou que a pandemia pegou a todos de surpresa e lamentou as mortes ocorridas no Brasil e no mundo. Nesse ponto, teve a coragem de deixar clara a postura do governo brasileiro: “Sempre defendi combater o vírus e o desemprego de forma simultânea e com a mesma responsabilidade. As medidas de isolamento e lockdown deixaram um legado de inflação, em especial, nos gêneros alimentícios no mundo todo”. Bolsonaro lembrou que, “até o momento, o governo federal distribuiu mais de 260 milhões de doses de vacinas e mais de 140 milhões de brasileiros já receberam, pelo menos, a primeira dose, o que representa quase 90% da população adulta. Oitenta por cento da população indígena também já foi totalmente vacinada. Até novembro, todos que escolheram ser vacinados no Brasil, serão atendidos”.

Bolsonaro, que não tomou vacina contra a Covid-19 porque não quis, aproveitou para desmontar outra narrativa midiática, a de que o governo fosse contra a vacinação em massa da população: “Apoiamos a vacinação, contudo o nosso governo tem se posicionado contrário ao passaporte sanitário ou a qualquer obrigação relacionada à vacina. Desde o início da pandemia, apoiamos a autonomia do médico na busca do tratamento precoce, seguindo recomendação do nosso Conselho Federal de Medicina. Eu mesmo fui um desses que fez tratamento inicial. Respeitamos a relação médico-paciente na decisão da medicação a ser utilizada e no seu uso off label. Não entendemos porque muitos países, juntamente com grande parte da mídia, se colocaram contra o tratamento inicial. A história e a ciência saberão responsabilizar a todos”.

Na ONU, para desespero dos inimigos, Jair Messias Bolsonaro confirmou por que é um inegável fenômeno político, que desperta amor e ódio. Em 2018, depois de tomar uma facada, quase morrer e não participar dos debates eleitorais, conseguiu se eleger presidente da República de maneira surpreendente para o establishment. Os “donos do poder” no Brasil não aceitaram a escolha de um sujeito com perfil conservador, com o agravante de não ter o verniz da tradicional aristocracia tupiniquim. O cara foi um militar, que saiu do Exército por seu agressivo estilo reivindicatório quase “sindicalista”. Depois, durante 28 anos, foi um político (vereador e deputado federal) que agiu sempre como “lobo solitário”. Sempre isoladamente. Não se envolveu em esquemas porque não tinha índole, mas também porque não era convidado.

Foi como outsider da política, paradoxalmente dentro dela, que Bolsonaro fez um marketing de base em rede social de internet, atingiu a juventude do interior com seu discurso conservador de “Tiozão do Churrasco” e ocupou o espaço de anti-PT (o partido que desmoralizou a honradez). Bolsonaro sempre apanhou da mídia tradicional, antes, durante e depois de ser eleito. Também sempre bateu nessa facção ideológica e fisiológica da “imprensa”. Na Presidência, cortou as verbas publicitárias desses “inimigos”. Leva o troco instantaneamente, em pancadas editoriais. E devolve as pancadas, em linguagem popular, nas redes sociais. Foi esse sujeito, “sem tempo para morrer”, com um discurso escrito, arrumadinho e um pouco mais rebuscado, quem discursou para o planeta Terra na 76a Assembleia Geral das Nações Unidas.

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Resumindo: um discurso na ONU tem pouco resultado prático externamente. Todo ano acontece, e as coisas não mudam em função das belas palavras. A realidade globalitária é cruel. Agravou-se com a pandemia. Em nome do combate ao vírus, a população mundial foi submetida a experimentos medicinais. Mais grave, no entanto, foram os experimentos de engenharia social. O sistema de poder real mundial testou a reação das diferentes sociedades e medidas sociais padronizadas. Houve flagrantes surtos autoritários, com doses cavalares de abusos de poder. O Estado cresceu sobre os indivíduos, mesmo nos países mais avançados social, política e economicamente. Em todo planeta, assistimos a espasmos fascistoides e a práticas dignas do mais hediondo nazismo. A vacina contra isso é a liberdade — luta permanente do ser humano.Até onde vai o globalitarismo? Dependerá de cada um de nós. Na ONU, com certeza, Bolsonaro fez um discurso para gerar polêmica interna.

Informações Jovem Pan

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