Após uma série de efeitos colaterais estranhos associados ao Ozempic, incluindo a criação do meme “cabeça de Ozempic”, o uso desse medicamento ganhou mais um possível evento adverso bizarro.
Usuários do remédio na Inglaterra relatam ter se tornado mais impulsivos após começarem a aplicá-lo. Alguns culpam o Ozempic pelo “desejo intenso” de participar de aventuras sexuais ou praticar jogos de azar. Esse comportamento imprudente foi até associado à vontade de pedir divórcio.
Um artigo publicado em 22 de maio no Quarterly Journal of Medicine, escrito pelo professor de medicina molecular Raymond Playford, da Universidade de West London, registrou esses casos e relacionou o uso do remédio a impactos na personalidade.
Playford sugere que remédios como o Ozempic, que replicam a ação do hormônio GLP-1 no organismo, podem resultar em alterações cognitivas na tomada de decisões dos usuários.
Mas como o Ozempic pode afetar o cérebro dos usuários?
Embora a pesquisa tenha sido apenas observacional, baseada nos relatos dos participantes a médicos, a explicação encontrada por Playford é que o remédio pode levar a um aumento de dopamina no cérebro, o hormônio da felicidade.
“As alterações metabólicas decorrentes do déficit calórico e da rápida perda de peso, combinadas com os efeitos diretos da droga na função cerebral, podem estar gerando impactos na tomada de decisões e aumentando o risco de distúrbios do controle dos impulsos”, sugere o texto.
Para o pesquisador, as farmacêuticas que desenvolveram drogas desse tipo, especialmente a Novo Nordisk, fabricante do Ozempic, e a Eli Lilly, fabricante do Mounjaro, deveriam investir em pesquisas para entender o impacto dessas drogas no equilíbrio cerebral.
Caso a impulsividade seja confirmada, Playford acredita que as fabricantes têm o dever de alertar os usuários sobre os impactos do uso. As advertências atuais se concentram principalmente em problemas de motilidade intestinal, como inchaço, náusea e refluxo ácido.
Embora estudos tenham sido conduzidos sobre o impacto do remédio na cognição, o especialista ressalta que eles se concentraram no curto prazo, durante as doses iniciais. Portanto, as alterações de personalidade a longo prazo podem ter sido ignoradas.
No ano passado, a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) iniciou uma investigação sobre os remédios que simulam o GLP-1, devido a possíveis conexões com depressão grave, incluindo desejos de autolesão e suicídio. No entanto, a relação entre esses quadros ainda não foi confirmada.
Informações TBN