Não há quem não saia ferido desta pandemia. Ela se disseminou e escancarou anos de equívocos da omissão política e social. Estamos sendo vítimas de políticas que não contemplaram a organização de um sistema de saúde mais eficaz e profissionalizado. A vida econômica teve que ser paralisada não pelo vírus, mas sim para que o sistema de saúde pudesse suportar o aumento da necessidade de leito. Não é fato novo, as pessoas já estavam morrendo na fila da regulação, aguardando um leito de UTI. Não podemos deixar de reconhecer o quanto foi determinante a existência do SUS e a dedicação de profissionais da saúde: mal remunerados e sem a capacitação necessária para este enfrentamento, expuseram suas vidas para amenizar a dor dos que precisaram de um atendimento hospitalar.
Transbordaram os problemas de pessoas que não pediam nada ao governo. Viviam fazendo biscates e conseguindo sobreviver com o muito pouco que ganhavam. Ninguém os enxergava, nem as estatísticas. Os governos foram surpreendidos com o tamanho da representação dessa camada da população.
Culpados, todos nós deixamos, assistimos e elegemos pessoas sem o real comprometimento com a coisa pública. Não tivemos coragem para nos expor à derrota e votamos no amigo e não no mais capacitado. Rubem Alves dizia que “a política como vocação é a coisa mais nobre que existe, a política como profissão é a coisa mais sórdida que existe”.
O novo mundo vai exigir de todos nós um comprometimento com as coisas públicas. Nós somos a cidade e devemos:
-Ter consciência que tudo que acontece em nossas vidas se deve às atitudes que tomamos ou não tomamos;
-Perceber que existe uma conexão das nossas ações individuais que impactam no coletivo: o todo é a soma das partes. Somos, sim, responsáveis por tudo de bom e de ruim que acontece em nossa cidade, por participação ou por omissão.
Não se enterre vivo, o recomeço vai ser doloroso para todos. Torna-se necessário compreendermos a necessidade de dar as mãos e perceber que, por mais forte que pensemos ser, vamos sempre depender de outros.
Apareça. Mude. Ande. Ouse. Se continuar o mesmo, ficaremos onde estávamos.
Alfredo Falcão