O ataque ocorreu na região russa islâmica do Daguestão, onde há dias estão sendo registrados protestos antissemitas e contra Israel
Um avião vindo de Tel Aviv, em Israel, foi atacado neste domingo, 29, por uma multidão no Aeroporto de Makhachkala, na república russa do Daguestão, na região do Cáucaso.
Uma massa de pessoas foi alertada sobre a presença do avião vindo de Israel pelas redes sociais.
Eles assaltaram o avião logo após a aterrissagem, invadindo a pista de pouso do aeroporto gritando “Allahu Akbar“, Alá é grande, em árabe.
Imagens divulgadas nas redes sociais mostram dezenas de homens derrubando barreiras, tentando controlar carros que saem do aeroporto ou arrombando as portas do interior do terminal.
Muitos deles estavam com bandeiras da Palestina.
As imagens que circulam nas redes sociais são dramáticas e testemunham o que parece ser uma verdadeira “caça aos judeus“, em um país onde até poucas décadas atrás ocorriam “pogroms“, os massacres de judeus por parte da população russa.
O Daguestão é uma república da Rússia com a maioria da população de religião islâmica.
Os vídeos que mostraram o assalto circularam inicialmente nos canais russos do Telegram, depois se espalharam para outras redes sociais, principalmente o X (antigo Twitter).
Entre os muitos vídeos publicados há alguns em que a polícia aparece parada e sem defesas diante da quantidade de pessoas que se empurram para entrar no aeroporto.
Alguns dos invasores estão armados com paus. Outros vídeos mostram carros da polícia sendo atacados e escritórios do aeroporto sendo “verificados” em busca de cidadãos israelenses.
Os manifestantes mostraram cartazes onde aparecem frases como “Assassinos de crianças não têm lugar no Daguestão ” e “Somos contra os refugiados judeus”.
Os passageiros do avião foram obrigados a permanecer a bordo e outros voos são desviados, enquanto as forças de segurança demoraram para intervir.
A multidão cercou o aeroporto e verificou se havia judeus nos carros que entravam ou saiam da estrutura.
As pessoas só eram liberadas se “amaldiçoavam o fedorento estado de Israel“.
A intervenção das forças especiais e da polícia locais conseguiu retomar o controle. As autoridades do Daguestão lançaram um apelo para acabar com os “atos ilegais”.
Os funcionários do aeroporto sugeriram que os manifestantes escolhessem três pessoas equipadas com câmeras para entrar no avião e demonstrar que não havia judeus na aeronave.
Segundo sites de informação israelenses, todos os passageiros e tripulantes do avião eram cidadãos russos, não havendo israelenses na aeronave.
Esse foi apenas o mais recente ataque antissemita violento na Rússia, especialmente na região do Cáucaso, onde há uma forte presença de muçulmanos.
Há dias estão sendo organizadas “caças aosjudeus” e protestos contra Israel.
Em Cherkessk, capital da Circássia, manifestantes pediram às autoridades que “não permitissem a entrada de refugiados israelitas no norte do Cáucaso” e também que “desalojassem refugiados de etnia judaica”.
Em Nakchik, capital do Kabardino-Balkaria, um centro cultural judaico em construção foi incendiado e vandalizado com pichações como “morte aos judeus”.
Mas os atos mais violentos foram registrados sobretudo no Daguestão, a república russamais multiétnica e com a maior presença muçulmana.
Em Khasavjurt, uma multidão cercou o HotelFlamingo depois que nas redes sociais se espalhou a notícia de que o hotel estava prestes a acolher “refugiados” judeus.
A polícia deixou os manifestantes entrarem no hotel para verificar de que não havia judeus no interior.
Na capital do Daguestão, Makhachkala, houve uma manifestação anti-Israel na Praça Lenin.
Os episódios foram classificados pelas autoridades locais como “provocações organizadas por extremistas orientados pelos inimigos da Rússia”.
O governo de Israel protestou formalmente após o ataque no Daguestão.
“Israel espera que as autoridades policiais russas protejam a segurança de todos os cidadãos israelenses e judeus, onde quer que estejam, e atuem resolutamente contra os manifestantes e contra o incitamento selvagem dirigido contra judeus e israelenses”, informou o Ministério das Relações Exteriores de Israel, especificando que “o embaixador israelense na Rússia, Alex Ben Zvi, está trabalhando com as autoridades russas para garantir a segurança dos israelenses e judeus no país”.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, que é judeu, também comentou o ataque.
O líder da Ucrânia condenou os “vídeos assustadores de Makhachkala”, salientando que o que aconteceu no Daguestão “não é um incidente isolado, mas faz parte da cultura russa generalizada de ódio contra outras nações”.
“Este ano, o Ministro dos Negócios Estrangeiros russo fez uma série de declarações antissemitas e o presidente russo também proferiu insultos antissemitas”, acrescentou Zelensky.
O ataque no Daguestão ocorre num momento de tensão entre a Rússia e o Israel devido à guerra em Gaza.
Nos últimos dias uma delegação do Hamaschegou em Moscou para encontrar líderes russos.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros de Israel convocou o embaixador russo, Anatoly Viktorov, para protestar formalmente, salientando, entre outras coisas, que considera a falta de uma condenação clara por parte da Rússia de Hamas como organização terrorista.
Informações Revista Oeste