A escolha de Jerônimo Rodrigues para a disputa da prefeitura de Salvador em 2024 revoltou a militância do PT. Em texto publicado no site Página 13, a “Tendência Petista – Articulação de Esquerda” classifica Geraldo Júnior como uma “opção política autoritária”.
“Esse ‘anúncio’ [da candidatura] representa uma gravíssima questão de método e de conteúdo para o PT e sua militância”, chama a atenção o texto.
“Especialmente no momento delicado que demanda uma séria análise sobre os erros, limites e contradições da experiência de gestão governamental petista ao ser anunciado os dados de mortes do povo negro pelo aparato repressivo do governo estadual, com escalada nos números durante gestão petista. É afrontoso que a coalizão de tendências que dirigem majoritariamente o partido exija da sua militância que peça votos para uma candidatura com nítido perfil de direita”, completa.
Éden Valadares, presidente do PT baiano, se defendeu dizendo que “essa é a opinião de uma corrente minoritária e não do conjunto da militância ou do partido.”
Normas do partido burladas
Segundo a publicação, até o estatuto partidário foi colocado para debaixo do tapete. Duas pré-candidaturas petistas se apresentaram: Rodrigo Pereira e Robinson Almeida. Neste caso, o estatuto partidário determina a realização de prévias.
“Porém, ao arrepio desta norma democrática, em 24 de agosto, ocorreu uma reunião ampliada do Diretório Municipal com a presença de militantes e representantes dos Diretórios Zonais para decidir sobre a escolha do pré-candidato à prefeito de Salvador pelo PT. Na ocasião, foi aprovado o ‘indicativo’ da pré-candidatura do Deputado Estadual Robinson Almeida (DS) em evidente desrespeito ao estatuto do PT”, chama a atenção o texto.
Seguindo a narração da linha temporal, a pré-candidatura foi apresentada à presidente do partido, Gleise Hoffmann, indicando que PT teria candidato próprio no pleito de 2024.
“Passada a euforia, a pré-candidatura ‘indicada’ não ganhou corpo nem forma, vez que não buscou mobilizar a militância e não apresentou um eixo programático nítido de caráter democrático e popular”, aponta o texto.
Após a derrocada da pré-candidatura, chamada pela militância de “apática, insípida e inodora politicamente”, o nome do vice-governador foi anunciado. “Entregou-se os pontos, sem qualquer resistência, numa demonstração abjeta de genuflexão aos ‘aliados’ de direita que hegemonizam o referido Conselho e ao Governador do Estado”, ataca.
Leia texto completo
Durante a Conferência Eleitoral Nacional do PT, realizada entre os dias 08 e 09 de dezembro, o Presidente Lula, em seu discurso, chamou atenção publicamente para a fragilidade do PT na Bahia em não conseguir ganhar a prefeitura de Salvador, apesar de estar à frente do Governo do Estado por sucessivos mandatos.
Não adiantou a advertência pública de Lula. Na última semana, consumou-se mais um triste capítulo na história do PT da Bahia. Em 21 de dezembro, através de sua conta na rede social Instagram e, posteriormente, em declaração à imprensa, o Governador Jerônimo Rodrigues (PT) “anunciou” que Geraldo Jr. (MDB), atual vice-governador, será o candidato à Prefeitura de Salvador pela coalizão de partidos que dirigem o Governo Estadual.
Esse “anúncio” representa uma gravíssima questão de método e de conteúdo para o PT e sua militância.
No que diz respeito ao “método”, trata-se de uma violência política autoritária contra a democracia petista. A tradição petista demanda que a deliberação da tática eleitoral ocorra nas instâncias partidárias, através de processos democráticos que permitem a participação do conjunto da militância, a exemplo dos Encontros de Tática e/ou prévias eleitorais. Contudo, os fatos políticos que desembocaram neste “anúncio” evidenciam práticas que violam as disposições estatutárias e maculam a democracia no partido.
Inscreveram-se duas pré-candidaturas no PT de Salvador para representar o partido nas eleições 2024 em Salvador: o militante Rodrigo Pereira (AE) e o Deputado Estadual Robinson Almeida (DS).
Como determina o Estatuto partidário, havendo mais de uma pré-candidatura inscrita, devem ser realizadas prévias. Porém, ao arrepio desta norma democrática, em 24 de agosto, ocorreu uma reunião ampliada do Diretório Municipal com a presença de militantes e representantes dos Diretórios Zonais para decidir sobre a escolha do pré-candidato à prefeito de Salvador pelo PT. Na ocasião, foi aprovado o “indicativo” da pré-candidatura do Deputado Estadual Robinson Almeida (DS) em evidente desrespeito ao estatuto do PT.
No dia seguinte, foi organizado, pelo PT-BA e PT-Salvador, o Encontro Territorial, quando foi apresentada a pré-candidatura do Deputado Estadual Robinson Almeida (DS) à Presidenta do Partido, Gleise Hoffman. Criou-se a ilusão para os militantes e a nação petista, que o PT teria uma candidatura e lutaria por esta. Passada a euforia, a pré-candidatura “indicada” não ganhou corpo nem forma, vez que não buscou mobilizar a militância e não apresentou um eixo programático nítido de caráter democrático e popular. Reservou-se a emitir declarações à imprensa, inclusive, algumas problemáticas, como a insistente tese de “cidade prejudicial ao desenvolvimento de negócios” e “sem capacidade de atrair investimentos”, quando, na verdade, a cidade está escancarada ao Capital, mas com crescente exclusão do povo trabalhador, vide as votações na Câmara de Vereadores e os projetos de desafetação de áreas verdes, entre outras iniciativas de recorte neoliberal impulsionada pela gestão municipal.
Passados 04 (quatros) meses dessa pré-candidatura apática, insípida e inodora politicamente, o “anúncio” de Geraldo Jr. (MDB) é tratado com uma vergonhosa nota em rede social pela pré-candidatura “indicada” pelo PT ao Conselho Político da coalizão partidária presente no Governo do Estado. Entregou-se os pontos, sem qualquer resistência, numa demonstração abjeta de genuflexão aos “aliados” de direita que hegemonizam o referido Conselho e ao Governador do Estado.
No mesmo caminho da subserviência estão a trilhar as/os dirigentes municipais e estaduais, a começar pela Presidência do PT-BA e PT-Salvador, as/os parlamentares, a esmagadora maioria das tendências e coletivos, tal qual fizeram, vergonhosamente, em 2020, quando foi “decretada” uma candidatura pelo então ocupante do Palácio de Ondina. Aqui cabe reiterar a caracterização que fazemos da atual dinâmica partidária no PT-BA: uma grande coalizão de tendências/grupos aninhados numa mesma perspectiva estratégica de conciliação de classes, resumindo-se as disputas a conflitos burocráticos por nacos do aparato partidário e/ou institucional para aplicar a mesma orientação política.
Voltemos à discussão sobre o “processo decisório” que culminou no “anúncio”. Segundo anunciado, foi o chamado “Conselho Político” o espaço de discussão e deliberação sob comando do Governador. Ocorre que este “Conselho” é composto por representação dos partidos que compõem a coalizão presente no Governo do Estado. No máximo, portanto, deveria se restringir às discussões sobre os rumos governamentais, onde a direita possui peso desproporcional no aparato estatal e apetite insaciável, vide o acúmulo, por exemplo, do PSD em número de prefeituras e o decréscimo do PT nas eleições municipais dos últimos períodos.
Constituir o Conselho Político do Governo do Estado, na prática, como uma instância suprapartidária é um grave equívoco que tende a eternizar a tão falada “correlação de forças” em favor da ala direita da coalizão governamental. Ademais, como já dito, é uma violência política contra a democracia petista.
A Tendência Petista Articulação de Esquerda, em Salvador, repudia essa movimentação da maioria da cúpula partidária e governamental, ao passo que irá tomar todas medidas necessárias junto às instâncias nacionais do Partido, ao mesmo tempo que conclama a militância à rebeldia com realização de plenárias, encontros diversos para forjarmos uma reação coletiva a este brutal ataque ao PT.
Fonte: Correio