Por Mário Sabino para Revista Oeste
No mundo do petista, as pecinhas são encaixáveis e não existem lei da oferta e da procura, mercado internacional, dividendos de acionistas e governo gastão
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, faz o que pode para tentar passar a ideia de que temos um governo fiscalmente responsável e de que existe um projeto racional de país na cachola dele e de Lula.
Não convence ninguém. Os empresários paulistas e adjacentes até tentam levá-lo a sério, reconhecem os seus esforços publicamente, mas o desejo de todos eles é o de que esse governo passe logo e não tenha bis.
Veja-se, por exemplo, o que Fernando Haddad disse a respeito da contínua interferência de Lula na Petrobras.
“O presidente já falou um milhão de vezes que, tanto em relação à política de preços da Petrobras quanto em relação à política de investimentos, sendo uma empresa estratégica, ele vai atuar como o controlador para que a Petrobras, por exemplo, invista mais em transformação ecológica”, afirmou Fernando Haddad. “É um direito do controlador fomentar a Petrobras nessa direção. O petróleo, se não vai terminar, vai ser cada vez menos usado.”
Ele tenta emprestar normalidade ao que é anormal. Ele tenta justificar uma enormidade com uma mentira visível a olho nu até para míopes.
Lula não é o controlador de coisa nenhuma. O Estado brasileiro é o controlador da Petrobras. Mas isso não dá o direito a quem representa o Estado de prejudicar os interesses dos demais acionistas.
Prejudicar os acionistas foi o que Lula fez, em relação aos dividendos extraordinários que não foram distribuídos. Prejudicou, inclusive, o Estado brasileiro, porque o Tesouro deixou de embolsar até R$ 15 bilhões. Faria bastante diferença para qualquer governo, em especial um tão deficitário como o de Lula — para relembrar, em fevereiro, o déficit primário foi de R$ 58,4 bilhões, o pior da história.
O presidente, que se comporta como CEO da Petrobras, também se dá o direito de controlar os preços dos combustíveis para domar a inflação, receita desastrosa da época de Dilma Rousseff que resulta em prejuízo para a empresa e só represa a inflação por algum tempo.
É cascata também que Lula esteja interessado em transição ecológica. Ele gosta mesmo é de se lambuzar em óleo. Basta ver a retomada dos gastos exorbitantes em refino, com a ressurreição de dois ícones da corrupção: a Abreu e Lima e o Comperj.
Nas duas refinarias, foram enterrados R$ 36,3 bilhões, sem que fossem completadas. Agora, Lula quer terminar o serviço. É uma ideia péssima. Investir em exploração e produção rende três vezes mais do que em refino. Parte desse retorno poderia ser usado na transição ecológica, sem prejudicar os acionistas no imediato e os beneficiando no futuro.
Na sua cabecinha enevoada, Lula acha que, se a Petrobras produzir mais gasolina e diesel, ele poderá controlar mais os preços na bomba. Lula não governa, brinca de Lego, aquele mundo infantil de pecinhas encaixáveis no qual não existem lei da oferta e da procura, mercado internacional, dividendos de acionistas e governo gastão, a causa primordial da inflação.
Fernando Haddad disse que a Petrobras é uma empresa estratégica. Ouvimos esse lugar-comum e não nos perguntamos qual é o seu significado real. Ser estratégica significaria fazer parte de um projeto de país. Ele é inexistente da parte desse governo e de quase todos os outros anteriores. A única estratégia de Lula é servir-se das empresas estatais ou de capital misto para fazer populismo eleitoral e propaganda ideológica do que nunca deu certo. O Brasil não cresce por causa de Lula. Cresce, apesar de Lula.
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