Lula Martins foi o astro de cinema que conheci. Ele era o protagonista do clássico udigrudi “Meteorango Kid: Herói Intergalático”. Vi uma vez e quero ver de novo. O filme é uma miscelânea de referências culturais dentro do espírito tropicalista de geleia geral da época.
É de 1969 a película dirigida por André Luiz Oliveira. Nela há muitas imagens da então Salvador, antes do Polo Petroquímico de Camaçari e o boom populacional e imobiliário motivado por ele. A capital baiana ainda beirava os 1 milhão de habitantes. Só por isso já vale a pena rever a epopeia de Meteorango.
Mas o que me interessa aqui é prestar minha homenagem a Lula Martins. Chamá-lo de astro de cinema é reduzir bastante o artista que ele foi. Sim, ele já não está mais entre nós. A triste notícia me chegou hoje cedo num zap de seu primo Lobão: “Lula Meteorango partiu numa jornada intergaláctica”.
Do próprio Lula, a última mensagem que recebi foi de cinco de junho deste ano. Compartilhava comigo mais uma música de sua autoria, dessa vez em parceria com o filho Alef: uma canção em inglês. Não informou o título. Na ocasião, ouvi apenas alguns segundos e nada comentei. Agora a ouço integralmente e constato mais uma vez o talento que lhe era nato e, pelo jeito, transmitira também ao filho.
Lula embarcou para a sua jornada intergaláctica e deixa um legado artístico não só na música e no cinema. A sua inquietude expressiva causava nele a necessidade de manifestações plurais. As artes plásticas também fazem parte de sua vida. Ainda em 2022, estava ele lançando o movimento antroplástico em exposição no Pelourinho. A literatura não fica de fora. Antonio Luiz Martins assina o livro “Mágicas Mentiras”.
O garoto cabeludo de Jequié não era só um grande artista. Era uma “grande figura”, como dizemos ao querer exaltar uma pessoa admirável. Bom de prosa oral, nunca esqueci o relato fantástico da peripécia que cometeu, em sua cidade natal, de colocar uma rádio pirata no horário da Voz do Brasil. A façanha causou frisson na Terra do Sol.
Não posso deixar de exultar a sabedoria do grande Lula Bom Cabelo, em suas negras e lisas madeixas nunca se viu um fio grisalho, apesar dos 80 anos. Então o que podemos dizer da definição de velhice dita por ele um dia num almoço com amigos:
“A velhice começa quando os sonhos acabam e começam os queixumes”. O aforisma de nosso Herói Intergaláctico rendeu até música que fez em parceria com Luiz Caldas e César Rasec. Boa viagem, grande Lula!!!
Fonte: Pacheco Maia / Site Política Livre
*Pacheco Maia é jornalista e foi secretário de Comunicação de Salvador na gestão de ACM Neto