ÚLTIMAS NOTÍCIAS
Esportes

Vídeo: veja o lance anulado pelo árbitro que gerou revolta do Bahia

Foto: Letícia Martins / EC Bahia O árbitro Bruno Vasconcelos causou uma grande polêmica no Ba-Vi ao anular um lance que renderia...
Read More
Bahia

Projeção do Carnaval de Salvador 2025: 850 mil turistas são esperados

Evento, que celebra os 40 anos do Axé Music, deve movimentar R$ 1,8 bilhão no total Foto: Betto Jr./Secom PMS...
Read More
Política

PGR quer condenação de Carla Zambelli e Walter Delgatti por invasão do sistema do CNJ

A deputada e o hacker podem ser culpados por falsidade ideológica De acordo com a PGR, os alvos criaram e...
Read More
Política

Retaliação: Canadá impõe tarifas de 25% sobre produtos dos EUA

Cerveja, vinho, bourbon, frutas, roupas, equipamentos esportivos e eletrodomésticos estão na lista O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, durante uma...
Read More
Saúde

Como a ioga modifica o seu cérebro e até aumenta o volume de massa cinzenta

Descobriu-se que a ioga aumenta a massa cinzenta e altera as principais redes do cérebro. Agora, há esperança de que...
Read More
Feira de Santana

Prefeito José Ronaldo anuncia conclusão da obra da UPA de Humildes em até 10 meses

A Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Humildes, cuja construção foi anunciada em 2021 deve ser concluída em um prazo...
Read More
Feira de Santana

José Ronaldo visita ponte danificada em Humildes e autoriza obra de recuperação

Foto: Rafael Marques Na manhã deste sábado (1º), o ex-prefeito de Feira de Santana, José Ronaldo de Carvalho, esteve na...
Read More
Esportes

Bahia e Vitória empatam o clássico Ba-Vi 500 na Arena Fonte Nova

Foto: Letícia Martins/EC Bahia O primeiro Ba-Vi da temporada 2025 terminou empatado sem gols. Na tarde deste sábado (1º), Bahia...
Read More
Feira de Santana

Irmãs de sangue recebem órgão do mesmo doador e se tornam ‘irmãs de rim’

As irmãs Maria Elizabete Ribeiro Dias, 30 anos, e Naiara Ribeiro Dias, 32, têm uma história de luta e superação...
Read More
Política

Otto Alencar diz que não vai apartar briga entre Rui Costa e Haddad

Futuro presidente da CCJ, senador disse ter boa relação com os dois ministros do governo Lula Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado...
Read More
{"dots":"false","arrows":"true","autoplay":"true","autoplay_interval":3000,"speed":600,"loop":"true","design":"design-2"}

Suz Temko
Após descobrir sua intersexualidade, Suz Temko achou que precisava ser mais feminina e se encaixar em certos padrões de beleza

Suz Temko descobriu que era intersexual no dia da sua festa de formatura na escola e passou os 10 anos seguintes lutando com sua própria autoestima e identidade.

Intersexual é o termo usado para descrever pessoas que nascem com características sexuais biológicas que não se encaixam nas categorias típicas do sexo feminino ou masculino.

*Suz Temko decidiu contar sua história para dar visibilidade a pessoas como ela – que ela diz não serem raras, mas simplesmente invisíveis.

Gráfico com representação de sexos: masculino, femenino e intersexual
As pessoas intersexuais apresentam variações genéticas que não correspondem completamente ao sexo masculino ou feminino

Portanto, o câncer que eu tive não era realmente um câncer de ovário, porque eu simplesmente não tinha ovários. Os médicos sabiam disso, mas estavam esperando o momento certo para me contar.

Eu sou intersexual, isto é, uma pessoa que nasceu com uma variação nas características sexuais que identificam cada sexo. As diferenças podem ser encontradas nos genitais, cromossomos, gônadas ou hormônios, que não coincidem com o entendimento binário padrão dos corpos – nem masculino, tampouco feminino.

É muito raro que essas alterações genéticas causem o desenvolvimento de câncer. Acontece com apenas 1% das pessoas intersexuais, segundo as estatísticas.

Eu tinha acabado de colocar os pés para fora do hospital quando tudo começou a fazer sentido. Por fim, descobri por que nunca havia menstruado.

Comecei a entrar em pânico. Senti um vazio enorme no peito.

Era o dia do meu baile de formatura, mas decidi não ir porque não estava no clima.

Guardar segredo

Na minha busca por respostas, encontrei várias cartilhas e artigos sobre câncer, mas nada sobre o que fazer se você for intersexual. Sentia que eu estava em um buraco negro.

A recomendação geral dos médicos e da minha família era “manter em segredo, não contar às pessoas”.

Nos dois anos seguintes eu fui muito feliz. Estava emocionada por estar viva. Me tornei porta-voz do Teenage Cancer Trust (associação britânica dedicada a adolescentes com câncer) e isso me ajudou muito a saber como lidar positivamente com a doença.

Suz Temko com a família
Suz Temko manteve sua intersexualidade em segredo por um longo tempo por sentir vergonha da sua condição

Mas havia algo que eu estava deixando de lado: minha intersexualidade.

Tudo mudou quando eu tinha 18 anos e peguei malária em uma viagem à Tanzânia. Por causa da cobertura do meu seguro, tive que falar com um médico no Reino Unido.

Antes desse episódio, achava que todos os médicos eram maravilhosos, infalíveis. Pensava que eram pessoas que diziam a verdade e faziam as pessoas se sentirem bem.

Esse conceito idealizado fez com que eu me sentisse muito mal depois do que viria a acontecer.

O médico me pediu um histórico médico completo e quando expliquei que meus cromossomos eram do tipo XY, ele me disse: “Você me passou o histórico médico errado, se você tem cromossomos XY, você é homem”.

Eu tentei explicar, mas ele não quis ouvir:

“Não sei o que te disseram, mas você é um menino”, afirmou.

Mulher sentada no chão junto à parede na sombra
A partir de 18 anos, Suz Temko começou a ter problemas de autoestima e identidade, assim como pensamentos suicidas (imagem ilustrativa)

Eu estava muito doente, em uma posição vulnerável e apesar de estar chorando, ele continuou:

“Como você se parece? Como são seus peitos?”

Foi um pesadelo. Parecia que ele não ia me deixar terminar a ligação até admitir que era homem.

Pensamentos suicidas

Foi a partir dessa conversa que comecei a esmorecer.

A voz dele era como um alto-falante para alguns dos meus pensamentos mais sombrios: que eu era uma pessoa estranha, um fenômeno desagradável.

Como ele era um médico, suas palavras ganharam muito mais relevância.

Médico
‘Toma esses hormônios, eles vão fazer você parecer uma menina…’, chegaram a dizer alguns médicos

E cada vez mais médicos me fizeram sentir que eu não era uma pessoa normal.

“Toma esses hormônios, eles vão fazer você parecer uma menina… Você tem três dos cinco critérios para ser considerada mulher. Ainda bem que você é bonita.”

Se ia ao médico por causa de um resfriado, eles inventavam qualquer desculpa para poder examinar “lá embaixo”.

Entrei em depressão severa. Cheguei a ter pensamentos suicidas.

Comecei a sentir que não estava bem do jeito que eu era. Achei que precisava ficar super magra e tentei até fazer uma voz mais fina.

Fiz questão de ter cabelo loiro e comprido e segui uma dieta rígida para emagrecer.

Achava que deveria ser uma modelo da Victoria’s Secret com doutorado.

Naquela época, eu tinha um namorado encantador, mas não me atrevi a contar a verdade a ele com medo que terminasse comigo.

Aceitação

A situação começou a mudar no meu terceiro ano na faculdade, quando meu namorado foi para o exterior e passei a dividir apartamento com amigas queridas.

Elas eram pessoas incríveis. Contei a elas que eu era intersexual e elas deixaram bem claro que eu não tinha nada do que me envergonhar. Pelo contrário, foi motivo de comemoração.

Símbolo de intersexualidade
A descoberta de uma comunidade de pessoas que passaram pelas mesmas dificuldades ajudou Temko a aceitar sua intersexualidade

Meu namoro acabou no fim daquele ano por causa da distância. Mas não foi o fim do mundo. Comecei a fazer mestrado e a trabalhar com política. Também estreei um blog sobre câncer, mortalidade e aceitação do próprio corpo.

E um dia pensei: “Isso está errado. Sou hipócrita. Não estou sendo honesta. Estou dizendo às pessoas para aceitar o corpo delas quando não aceito o meu próprio”.

Então, escrevi um post no Facebook em que, basicamente, contei a todo mundo sobre minha intersexualidade.

O que veio a seguir foi incrível. As pessoas responderam imediatamente dizendo coisas como: “Nós amamos você”.

Contei ao meu ex-namorado e só recebi amor e compreensão da parte dele. Agora ele virou um amigo muito próximo.

As redes sociais me ajudaram a encontrar uma comunidade de pessoas que passaram pelas mesmas dificuldades. E poder encontrar com elas pessoalmente foi um alívio enorme.

Aprenda com as batalhas dos outros

E embora seja bom ouvir histórias positivas, você também aprende muito com as batalhas que cada um teve que travar – foi importante saber que não estava sozinha.

Cheguei a me sentir muito culpada por ter cogitado suicídio algum dia. Como poderia ousar pensar em algo assim se tinha sobrevivido a um câncer?

Suz Temko em foto promocional da BBC
Suz Temko participa de uma série especial da BBC para dar voz e visibilidade a pessoas intersexuais

Mas ouvir que outras pessoas passaram pela mesma situação me ajudou. E não foi só isso. Também fortaleceu minha determinação em lutar por direitos e para dar mais visibilidade a pessoas intersexuais.

Ser intersexual não é difícil. O difícil é ver como a sociedade te trata.

Todas as batalhas psicológicas que travei foram realmente por causa de como a sociedade reage a pessoas como eu.

A identidade de uma pessoa não é algo simples. Não sou apenas intersexual. Tampouco só uma sobrevivente de câncer.

Nenhum de nós é uma coisa só.

Houve um tempo em que eu implorava para “ser normal”. Agora eu não mudaria nada no meu corpo, ele me deu muito mais do que tirou.

Hoje em dia não escondo dos meus amigos, no trabalho e em meus relacionamentos íntimos.

E compartilho minha história porque quero acabar com o estigma (em relação a pessoas intersexuais) e trabalhar por um futuro em que conheçamos, celebremos e protejamos pessoas intersexuais como eu.

Ser intersexual não é raro. Entre 1,7% e 2% das pessoas no mundo são intersexuais. É uma questão estatística.

Não somos unicórnios, somos simplesmente invisíveis.

Informações BBC Brasil

Comente pelo facebook:
Comente pelo Blog: