A legislação brasileira não determina idade para parar de dirigir: isso depende das condições da pessoa. Vale o bom senso, com a ajuda da família e dos médicos, para reconhecer quando é hora de deixar o volante de lado.
A validade da CNH (Carteira Nacional de Habilitação) muda de acordo com a idade dos motoristas. Até 49 anos, é exigido o exame de aptidão física e mental a cada dez anos. O prazo cai para cinco anos para quem tem entre 50 e 70 anos e para três anos para quem tem mais de 70. Essa diminuição de tempo leva em conta as dificuldades do envelhecimento.
E se o idoso passou no teste, mas, dentro desse intervalo, seu estado de saúde declinou? Cabe a ele, com incentivo familiar, deixar o carro de lado. As transformações, principalmente após 80 anos, podem acontecer de forma muito abrupta, então entra a questão do bom senso.
Em alguns casos, é possível dar uma ajudinha adaptando o carro ou optando por um modelo mais moderno e que compense algumas perdas. O carro manual exige uma coordenação maior para algumas tarefas, como engatar marcha, soltar embreagem, apertar pedais. Se o problema do idoso for apenas uma limitação motora, eventualmente trocar o carro por um automático diminua suas dificuldades. Atenção: isso não exclui a necessidade de uma avaliação médica e de outras questões, que independem de o carro auxiliar mais ou menos.
Além da direção hidráulica e do câmbio automático, também podem ser úteis para o idoso sensores de alarme, câmeras de ré e GPS (principalmente se já não reconhece tão bem caminhos). Outros aparelhos úteis são retrovisor com campo de visão maior, volantes ajustáveis, apoios lombares, espelhos antirreflexos, sistemas de controles de velocidade, estabilidade e tração.
Para usar a tecnologia, é necessário o idoso querer e se sentir confortável, e a família ter vontade para ensiná-lo e paciência enquanto se acostuma.
Há uma série de doenças ou condições, quando não controladas, que representam obstáculos significativos. Disfunção visual (catarata, glaucoma) somada a um reflexo mais lento, redução de mobilidade ou deficiência auditiva podem deixar o idoso inapto para dirigir.
Para fazer curvas, manobras bruscas e acessar pedais e comandos mais duros é importante ter firmeza, flexibilidade e não sentir dores. Comuns em idosos, algumas doenças osteoarticulares podem interferir nisso. A osteoartrose, desgaste da cartilagem da coluna, pode diminuir movimentos do pescoço e comprimir a medula, alterando a força e a sensibilidade dos membros.
Outras condições representam ainda o fim ou uma limitação da independência. São preocupações: transtornos, demências, sequelas de AVC e infarto, além de alterações naturais do envelhecimento e que podem comprometer atenção, concentração, memória e retardar respostas no trânsito. Algumas medicações também têm efeito colateral que afeta os níveis de consciência e causam tontura e sonolência excessiva.
Pode não ser fácil conscientizar o idoso a diminuir o ritmo, principalmente se ele dirigiu a vida toda. Se estiver na ativa, mas enfraquecendo, vale pedir para evitar vias movimentadas demais, horários de pico ou viagens longas.
Ele pode assumir o volante na região onde mora, por caminhos tranquilos e momentos breves, como para ir até o supermercado.Dirigir com um acompanhante também pode ser uma segurança a mais, assim como sair com o celular ligado e, se possível, instalado com algum aplicativo que permita rastrear sua localização via satélite.
Só não é indicado dirigir esporadicamente, pois o idoso pode perder o hábito e os reflexos necessários para a atividade. Cada caso deve ser avaliado individualmente e a palavra final sobre o assunto cabe ao médico, que deve contar com o apoio da família, quando há constatação de comprometimento físico ou cognitivo irreversível ou grave e que ofereça riscos para a saúde e a integridade do idoso e para as demais pessoas nas ruas.
O médico deve ser vigilante e perguntar ao seu paciente se ele dirige ou não. Feito o diagnóstico de uma ou várias condições que o impeçam de dirigir, informar que já não é mais seguro que ele tenha a carta de motorista e, por mais que essa permissão seja válida, que ele não faça isso.
Fontes: Felipe Gargioni Barreto, neurocirurgião pela PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná) e especialista em coluna; Natan Chehter, geriatra pela SBGG (Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia) e da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo; e Paulo Camiz, geriatra e professor de clínica geral do HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo)
Informações UOL