Pesquisa avaliou relação entre as taxas de suicídio, desemprego e relações familiares na população masculina de 20 países, incluindo Estados Unidos, Espanha, Japão, Reino Unido e Áustria
Homens que se dedicam mais aos cuidados familiares têm menor risco de cometer suicídio quando se veem diante de um cenário de desemprego ou instabilidade econômica. É o que conclui um estudo publicado em maio na revista médica Social Psychiatry and Psychiatric Epidemiology.
A pesquisa avaliou a relação entre as taxas de suicídio, desemprego e relações familiares na população masculina de 20 países-membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), incluindo Estados Unidos, Espanha, Japão, Reino Unido e Áustria.
O levantamento multinacional aponta que, ao contrário do que predizem a maior parte das teorias que tentam explicar por que as taxas globais de suícidio são maiores entre a população masculina, as adversidades econômicas e a consequente ameaça ao papel de “provedor” – historicamente atribuído aos homens – não são capazes de explicar totalmente a vulnerabilidade desse grupo ao ato de tirar a própria vida.
Os resultados foram obtidos a partir de uma investigação multidisciplinar dos dados de assistência familiar reunidos pelo Banco de Dados de Famílias da OCDE, que contém informações sobre 70 indicadores divididos em quatro categorias principais, incluindo estrutura das famílias dos países-membros e sua posição no mercado de trabalho.
Participaram do mapeamento cinco pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento: Ying-Yeh Chen, do Departamento de Saúde Pública da Universidade Nacional Yangming Jiaotong, em Taiwan; Silvia Sara Canetto, do Departamento de Psicologia da Universidade Estadual do Colorado, nos Estados Unidos; Qingsong Chang, da Escola de Sociologia e Antropologia da Universidade Xiamen, na China; ZiYi Cai e Paul S. F. Yip, ambos da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade de Hong Kong.
De acordo com a análise, nos países onde os homens relataram ter maior envolvimento com os cuidados à família, taxas de desemprego mais altas não foram associadas a índices mais elevados de suicídio. O oposto, no entanto, foi observado onde esse grupo alegou participar menos dos cuidados familiares: índices de desemprego mais altos foram relacionados a taxas superiores de suicídio, independentemente do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da nação.
Para os pesquisadores, esses dados sugerem que o maior envolvimento dos homens nas atividades familiares pode atuar como um fator protetor contra o suicídio, particularmente em circunstâncias financeiras menos favoráveis. “O trabalho de cuidar da família seria uma forma de o homem diversificar suas fontes de sentido e propósito, bem como seu capital social e redes [de socialização]”, avalia, em comunicado, Silvia Sara Canetto, psicóloga conhecida por suas pesquisas sobre padrões e significados do suicídio em diferentes culturas.
Igualdade de gênero e saúde
Ao mapear se haveria alguma relação entre os índices de seguro-desemprego da OCDE e as taxas de suicídio entre homens, o estudo constatou, ainda, que a disponibilidade do benefício não esteve associada a uma redução desse índice. Por isso, os especialistas sugerem que incorporar programas de apoio mais diversificados às políticas públicas de prevenção ao suicídio focadas nesse público pode ser mais eficaz do que limitá-las a projetos associados a busca por emprego, por exemplo.
Os achados reforçam a relação entre igualdade de gênero e saúde. “Esses resultados são consistentes com a evidência de que onde a igualdade de gênero é maior, o bem-estar, a saúde e a longevidade de homens e mulheres são maiores”, escreveram os cientistas no estudo.
Informações Revista Galileu