Foto: Benoit Peyrucq/AFP
No último dia 2, teve início o julgamento de Dominique Pélicot, acusado de cometer e organizar uma série de abusos sexuais contra sua esposa, Gisèle, ao longo de dez anos. Em sua primeira fala no tribunal, Pélicot expressou arrependimento, dizendo: “Eu era muito feliz com a Gisèle. Ela não merecia isso, reconheço”. Este depoimento inicial foi adiado várias vezes devido a complicações de saúde do réu.
Pelicot é apontado como o principal responsável numa ação judicial que envolve outros 50 homens, acusados de abusarem da esposa dele enquanto ela estava inconsciente. Durante a audiência, foi decidido pelo juiz Roger Arata que o julgamento prosseguiria mesmo na ausência de Pélicot, devido à sua condição médica.
Os relatórios psicológicos descrevem Dominique Pélicot como um homem com características manipuladoras e uma personalidade perversa. Ele teria utilizado sua esposa como isca, caindo em uma dinâmica de dependência sexual. A psicóloga Anabelle Montagne relatou que Pélicot se apresentava como um pai de família estável e respeitado, mas que na realidade escondia uma propensão à transgressão sexual.
Montagne ressaltou que Pélicot demonstrava sinais de perversão polimorfa e uma necessidade extrema de controle, especialmente em relação à sua esposa. Esses comportamentos são sinais de um indivíduo dissimulado e com tendências transgressoras em sua sexualidade.
A maioria dos coacusados esteve na casa de Pélicot em Mazan, no sul da França, apenas uma vez, enquanto dez destes homens visitaram a residência até seis vezes. Nenhum dinheiro foi trocado pelos crimes cometidos. Segundo especialistas, os acusados não apresentam patologias psicológicas significativas, mas possuem um sentimento de onipotência em relação ao corpo feminino.
Esses homens foram recrutados por via de um site de encontros da França, que já foi retirado do ar. A acusação alega que todos sabiam que a esposa estava sob efeito de drogas sem consentimento durante os abusos, e que Pélicot incentivava os crimes, inclusive filmando-os. Alguns dos acusados alegaram acreditar que participavam de fantasias consensuais do casal, o que foi refutado na investigação.
Gisèle descobriu a extensão dos abusos por acidente, quando Pélicot foi preso em 2020 ao tentar filmar mulheres em um shopping center. A investigação revelou que, ao longo de quase cinquenta anos de casamento, Gisèle havia sido drogada e abusada inúmeras vezes sem o seu conhecimento.
Ela sofreu diversas traumas físicos e psicológicos, contraindo quatro doenças sexualmente transmissíveis e necessitando de tratamento intensivo. Gisèle tomou a decisão corajosa de expor o caso ao público para impedir que outras mulheres passem pelo mesmo horror e passou a lutar por justiça.
Os atos de Pélicot causaram profundos impactos psicológicos em toda a família. Além dos traumas que Gisèle teve que enfrentar, seus filhos também sofreram com as repercussões dos crimes cometidos pelo pai. Gisèle se preocupa especialmente com a relação e o bem-estar psicológico de sua filha.
Ao renunciar ao anonimato, Gisèle, agora com 72 anos, pretende não apenas buscar justiça para si mesma, mas também conscientizar a sociedade sobre a importância de denunciar abusos. Sua história serve de alerta e de esperança para que outras vítimas encontrem a coragem necessária para romper o silêncio e lutar por seus direitos.
Informações TBN