Sandra Terena compartilhou com o Pleno.News as dificuldades que ela e os filhos têm enfrentado junto ao marido
Alvo do inquérito que apura o financiamento e a organização de atos supostamente antidemocráticos, o jornalista Oswaldo Eustáquio teve a prisão decretada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), por “sistematicamente, descumprir medidas cautelares”, segundo o ministro. Antes da prisão, o jornalista já havia sido proibido de frequentar as redes sociais, de sair de Brasília sem permissão judicial e teve seu canal no YouTube suspenso.
Após ter sido preso, o jornalista Oswaldo Eustáquio denunciou ter sofrido agressões de agentes penitenciários, ter ficado paraplégico após uma queda na cela e ter sido impedido de se comunicar com sua esposa, Sandra Terena, durante os 40 dias em que esteve no regime fechado.
Sandra tem se manifestado nas redes sociais durante o período em que seu marido está judicialmente impedido de fazê-lo e hoje conta ao Pleno.News as dificuldades que ela e os os filhos têm enfrentado diante do caso de Eustáquio.
O que tem acontecido com sua família e filhos desde o dia 18 de dezembro, quando seu esposo Oswaldo Eustáquio foi preso por ordem do STF?
Na noite do dia 17, fui à igreja, e o culto acabou tarde. Cheguei em casa depois da meia noite do dia 18 de dezembro. O Oswaldo estava dormindo, e eu o acordei para mostrar uma mensagem que uma irmã da igreja enviou em oração, dizendo que passaríamos por um vento muito forte, ou seja, uma situação difícil. Falei para ele: “Espero que a PF não venha aqui em casa”. Percebi no rosto dele um pouco de apreensão. Ele respondeu que Deus estava no controle e dormiu.
Na manhã do dia 18, pedi [a ele] o cartão do banco para que eu fosse ao mercado fazer compras. Ele me deu o cartão e disse que me amava. Já no mercado, por volta das onze da manhã, recebi uma ligação do Oswaldo me dando feliz aniversário e [dizendo] que à noite haveria uma festa surpresa (que ele estava organizando), mas não poderia participar, pois estava sendo levado preso pela terceira vez, de forma imoral, ilegal e inconstitucional pela Polícia Federal, a mando do STF.
Minhas pernas tremeram, fiquei sem reação. Soube depois que os nossos dois filhos menores, o Bernardo e o Oswaldo André, estavam no colo dele. O Bernardo, de sete anos, disse aos policiais que eles não iriam levar o pai dele. A coragem dos meninos de defender o pai constrangeu os agentes que foram gentis e esperaram meu marido falar com as crianças com tranquilidade.
Oswaldo olhou para o Bernardo e pediu para que ele, então, como o homem mais velho da casa, em sua ausência assumisse o comando e cuidasse da mamãe e dos irmãos. Com lágrimas nos olhos, Bernardo prometeu cumprir a missão. Oswaldo deixou a nossa casa com parte da imprensa já presente do lado de fora de casa e mais uma vez ignorando a sua voz, pois queria apenas sua imagem no carro da PF. E, em seguida, ele foi encaminhado para o Presídio da Papuda.
Por volta das onze da manhã, recebi uma ligação do Oswaldo me dando feliz aniversário e dizendo que à noite haveria uma festa surpresa… mas [ele] não poderia participar, pois estava sendo levado preso de forma imoral, ilegal e inconstitucional
Você trabalhava como Secretária Nacional na Secretaria Nacional de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, do ministério de Damares Alves, e foi exonerada do cargo. Como avalia a sua saída?
O cargo é de livre nomeação e exoneração por parte da Ministra. Respeito a decisão dela. O motivo da minha exoneração, segundo a Ministra, seria o fato de eu ser casada com o jornalista Oswaldo Eustáquio e que [ela] soube pelas redes sociais que meu marido fez um evento conservador em nossa casa, com a presença do deputado Daniel Silveira e com jovens expoentes conservadores, e que esse teria sido o estopim para minha exoneração.
Participaram desta reunião, o próprio Oswaldo e a Secretária-adjunta de uma outra pasta, além de um assessor especial da Ministra. Foi um momento difícil para a nossa família, pois meu marido já estava sob censura e medidas cautelares, mesmo sem ter cometido crime.
Em dois anos à frente da pasta, tive a oportunidade de reorganizar a estrutura da secretaria, visando à otimização da força de trabalho da pasta, bem como à criação de um ousado banco de dados do público-alvo da secretaria, que é a população afrodescendente, bem como indígenas, quilombolas, ciganos e demais representantes de segmentos de comunidades tradicionais.
Foi um momento difícil para a nossa família, pois meu marido já estava sob censura e medidas cautelares, mesmo sem ter cometido crime
Para se fazer política pública, primeiro precisamos ter informações atualizadas desse público e fazer articulação com as outras pastas do governo. E foi isso que fizemos enquanto estive à frente da Secretaria. De forma inédita, resolvemos conflitos históricos em terras quilombolas que a esquerda não conseguiu resolver; ao contrário, apropriou-se da pauta para subjugar esse público.
Um grande exemplo em que atuamos foi na regularização do Quilombo dos Rios dos Macacos. Também articulamos a elaboração de ações para a comunidade quilombola de Alcântara, bem como, durante a pandemia, destinamos recursos para a aquisição e distribuição centenas de milhares de cestas básicas para indígenas e quilombolas em todo o Brasil, em uma grande ação interministerial.
Sei que dei a minha contribuição. Na época em que saí, a Secretaria estava entre as três primeiras em execução orçamentária. Saí de cabeça erguida porque não tenho do que me envergonhar.
Eustáquio é investigado no inquérito sobre financiamento de atos antidemocráticos. O que o relatório da Polícia Federal tem apurado sobre isso?
Meu marido está sendo perseguido por meio de um inquérito ilegal por ter denunciado um golpe contra o presidente da República. Em 19 de abril de 2020, em uma live com o presidente do PTB, Roberto Jefferson, ele denunciou que o ex-presidente da Câmara, Rodrigo Maia, pretendia colocar em pauta uma PEC que permitiria sua reeleição e que, depois de reeleito, acataria um pedido de impeachment contra Bolsonaro e Mourão, tornando-se o primeiro na sucessão para assumir a presidência da República – informação que foi confirmada e chegou ao STF que, por 6 votos a 5, impediu o projeto de poder de Maia. Este golpe, denunciado por Oswaldo Eustáquio e Roberto Jefferson foi sepultado no início deste mês, com a vitória de Arthur Lira na Câmara.
Existem dois documentos que comprovam a inocência de Oswaldo Eustáquio: [O primeiro é] o protocolo do deputado federal Nereu Crispim, que admite ao STF que foi usado pela cúpula do PSL para inventar acusações contra o meu marido e [contra] mais 10 deputados e dois senadores e que ele está arrependido do que fez.
Depois de quase dez meses de investigação, dezenas de buscas e apreensões, sendo cinco contra o meu marido, após quebrarem o sigilo telefônico e bancário de Oswaldo, prendê-lo três vezes, depois de tudo isso, concluiu-se que não há elementos para indiciar nenhum investigado
Além disso, [o segundo documento é] um relatório da PF encaminhado ao STF e a PGR, [que] informou que, depois de quase dez meses de investigação, dezenas de buscas e apreensões, sendo cinco contra o meu marido, após quebrarem o sigilo telefônico e bancário de Oswaldo, prendê-lo três vezes, depois de tudo isso, concluiu-se que não há elementos para indiciar nenhum investigado.
O contraste entre Lula (condenado em três instâncias, estar livre) e meu marido (sem sequer ser indiciado e estar preso) revela uma ditadura da toga, que envergonha o nosso país no âmbito internacional.
Uma ditadura da toga, que envergonha o nosso país no âmbito internacional
O que aconteceu com seu marido é passível de acontecer a outras pessoas pelo Brasil. Como ex-integrante do governo Bolsonaro, como você percebe esta administração do Supremo com poder de ordem de prisão para casos como este?
Infelizmente sim. E já está acontecendo. Veja o exemplo de Sara Winter, mãe de um menino de cinco anos. Temos outros cinco presos políticos. Há a censura imposta ao jornalista Allan dos Santos, que está fora do Brasil, pois presenciou a desagradável cena de ter uma pistola apontada para a cabeça de sua esposa grávida, como se ela oferecesse risco, e nada pôde fazer.
Meu marido está com quadro de paraplegia. Está sob a custódia do Estado, sem estar em uma cela de nível superior, uma vez que ele é jornalista diplomado
O ex-ministro da Educação, por exemplo, teve que deixar o país para não ser mais uma vítima. Por tantas perseguições, sou favorável à PEC contra censura que leva o nome de Allan dos Santos, amigo de Oswaldo, e que também é perseguido por um Sistema que não suporta a verdade.
É verdade que Oswaldo Eustáquio está paraplégico? E isso foi em decorrência de um tombo dentro da cela?
Infelizmente, sim. Meu marido está com quadro de paraplegia. Está sob a custódia do Estado, sem estar em uma cela de nível superior, uma vez que ele é jornalista diplomado.
Ele sofreu uma queda e perdeu o movimento das pernas, permanece preso com tornozeleira eletrônica e segue internado em um Hospital de Reabilitação, fazendo fisioterapia intensiva e ozonioterapia. Os médicos não garantem que ele vai voltar a andar, mas temos fé que, com muito esforço e com Deus na causa, ele possa reverter esse quadro.
E sobre a dificuldade dele em poder fazer um exame de ressonância magnética? O que aconteceu?
No dia 8 de fevereiro, meu marido foi impedido de fazer o exame de ressonância magnética, fundamental para seu tratamento, por conta da tornozeleira eletrônica. Recorremos, e a juíza Leila Cury se declarou incompetente e oficiou o STF, que até o momento não se manifestou sobre o pedido de remoção da tornozeleira eletrônica, incompatível com a máquina de ressonância.
[como se] Não bastasse isso, além de o meu marido ser privado de realizar exames, a juíza oficiou o STF por uma “falta cometida”, ocasionada por descarga total da bateria da tornozeleira. Todavia, o equipamento se desmagnetizou ao aproximar-se do aparelho de ressonância.
Quantos dias exatamente você ficou sem poder ver seu marido e por qual razão?
Foram quarenta dias de prisão em regime fechado entre o presídio da Papuda e as Papudinhas, celas dentro dos hospitais de Base e Paranoá. Hoje, a Papuda tem cerca de 16 mil presos, e Oswaldo era o único que não podia receber visita. Disseram que era por causa da Covid-19 e que me deixariam falar com ele por telefone, por 2 minutos a cada sete dias, o que também não aconteceu.
Oswaldo mandou através do Serviço Social da Papuda uma carta no dia 22 de dezembro, que chegou em minhas mãos quase um mês depois. Foi um total abuso de autoridade.
A Papuda tem cerca de 16 mil presos, e Oswaldo era o único que não podia receber visita
Como cidadã, você tem medo de sofrer retaliações e ameaças por parte do STF?
Vivemos uma vida reta, perante a sociedade e perante Deus. Já sofremos todo o tipo de retaliação. Meu marido foi preso, censurado, agredido, está internado, com quadro de paraplegia e, mesmo sem andar, está de tornozeleira eletrônica.
Eu perdi o trabalho por pressão, pelas verdades ditas por Oswaldo, e nossos filhos tiveram que deixar a escola depois de diversas ameaças de morte contra meu marido. Vivemos um pesadelo.
Nossos filhos tiveram que deixar a escola depois de diversas ameaças de morte contra meu marido
Mesmo assim, temos convicção de que tudo isso vai passar e que nossa geração vai transformar a história do Brasil. Nossos filhos e netos viverão em um país melhor e o sol da justiça vai raiar. Continuamos firmes em apoio ao presidente Bolsonaro, que também tem sofrido.
Oswaldo está numa cadeira de rodas e Bolsonaro foi esfaqueado. Outros amigos nossos estão presos ou em autoexílio. Outros morreram como heróis lutando pelo Brasil como nosso amigo querido Arolde de Oliveira.
Meu marido está impedido de exercer sua profissão e eu estou sem trabalhar, devido à perseguição que sofremos. Mas, até aqui o Senhor tem nos ajudado
Como está Oswaldo Eustáquio hoje e quais são as perspectivas com relação ao caso?
Pela constituição e pelas leis penais, um inquérito com réu preso tem que ser encerrado em dez dias. Este inquérito ilegal já dura quase dez meses.
Com o relatório da PF, apontando que não há motivos para indiciamento e que se esgotaram as possibilidades de novas diligências, dentro do Estado de Direito, o inquérito se encerra no dia 25 de março com o arquivamento de um inquérito que envergonha o Brasil e com a liberdade do meu marido e de demais presos políticos.
De quem você teve mais apoio e do que precisa hoje?
Nessa hora nos sentimos acolhidos por muitos amigos. Os deputados Daniel Silveira, Otoni de Paula, Filipe Barros, Bia Kicis, Carlos Jordy, José Medeiros, Eduardo Bolsonaro foram muito solícitos. Recebi também a solidariedade do ministro das comunicações, Fábio Faria e do ministro do turismo, Gilson Machado.
Também tivemos o apoio de Magno Malta e do presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson. Os brasileiros, que vivem aqui e em outros países, abraçaram a nossa família.
O inquérito se encerra no dia 25 de março com o arquivamento de um inquérito que envergonha o Brasil e com a liberdade do meu marido e de demais presos políticos
Cada mensagem que recebo nas minhas redes sociais enche meu coração de alegria e vejo que não estamos sozinhos, pelo contrário, é uma verdadeira corrente do bem. Nessa hora, eu percebo que mesmo diante de todas as dificuldades, Deus nunca saiu do controle. E o propósito que Ele tem em nossas vidas se sobrepõe às circunstâncias.
Hoje meu marido está impedido de exercer sua profissão e eu estou sem trabalhar, devido à perseguição que sofremos. Mas, até aqui o Senhor tem nos ajudado com o maná diário. Deus tem suprido todas as nossas necessidades.
As orações de todo o Brasil têm nos alcançado. Temos experimentado o cuidado de Deus nas nossas vidas em todos os detalhes, e é disso que precisamos: de oração. O nosso socorro tem vindo do alto, do Deus altíssimo.
Informações Pleno News