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Aos 73 anos, José Ronaldo (União Brasil) se prepara para assumir pela quinta vez a prefeitura de Feira de Santana, após uma disputa acirrada, mas finalizada no primeiro turno, que manteve o tabu sobre a rejeição ao PT na Princesa do Sertão. Nesse novo ciclo, ele diz que pretende oxigenar a política feirense e revelar novos quadros para a vida pública, com uma composição de secretariado que vai mesclar juventude e experiência.

Nesta longa e exclusiva entrevista ao Política Livre, José Ronaldo analisa o impacto das eleições municipais na disputa ao governo do Estado em 2026 e alerta que o campo da oposição deve marchar unido porque “ninguém conseguirá ser governador sozinho”. Ele afirma que o “projeto é apoiar ACM Neto”, mas vê com bons olhos o nome de Bruno Reis, caso o ex-prefeito recue.

O futuro prefeito também assegura que “não há nenhuma chance” de deixar a Prefeitura para ser candidato daqui há dois anos. Além disso, avalia o cenário nacional e diz que “as urnas demonstraram algumas coisas novas no Nordeste”, ao defender um representante da região na chapa presidencial.

Leia a entrevista completa:

Política Livre – Como foi o desafio dessa última eleição? Mesmo com o PT juntando a força do governo do estado e do governo federal, o senhor venceu e mais uma vez mostrou força política.

José Ronaldo – É, mais uma luta foi travada e graças a Deus com sucesso. Feira de Santana é uma cidade muito diferente, sabe? Essa história de vincular para eleger fulano porque tem o apoio de beltrano, em Feira de Santana isso nunca colou. Não é agora, isso é histórico na cidade, isso vem lá dos anos 60, 70. Era um governo militar e os governadores eram indiretos e mesmo assim Feira de Feira de Santana elegia um prefeito diferente. Foi assim com Chico Pinto, Zé Falcão, Colbert pai ao longo da história. Essa eleição também se repetiu. Nós temos uma história na cidade, minha história é Feira de Santana, minha vida é Feira de Santana. Lutamos com os amigos, que são muitos e graças a Deus vencemos mais uma eleição. Vou trabalhar arduamente para realizar tudo que eu assumi de compromisso com o povo de Feira. Já estou me reunindo, discutindo o futuro, analisando como fazer tudo isso. Já comecei a me reunir com algumas pessoas para que, ao iniciar o governo, a gente inicie realmente com os compromissos que assumimos já bem encaminhados.

A composição com Pablo Roberto para vice pareceu uma demonstração de renovação da política de Feira. Essa também vai ser a tônica da sua gestão, no sentido de revelar novos quadros, de oxigenar a política de Feira?

Estou com esse objetivo. Na nossa equipe vai ter jovens, não é só a questão de jovem na idade, jovens também que vão entrar na vida pública. Acho que tem algumas pessoas dessa natureza, eu estou pensando muito a respeito disso, estou começando a fazer esse planejamento. Mas também teremos pessoas experientes dentro do processo, vai ser uma mistura de tudo isso. Mas espero formar um governo com pessoas realmente que conheçam suas pastas, que estejam dispostas a trabalhar doze horas no mínimo por dia. Porque para a gente vencer na vida pública e fazer uma gestão boa, trabalhar três, quatro horas por dia não dá não, é impossível você fazer.

“Ele [Pablo] só não será secretário se ele não desejar”.

Já pode adiantar algum quadro do secretariado?

Não.

Seu vice, Pablo, será secretário?

Sim, esse aí eu posso falar. Ele só não será secretário se ele não desejar. Esse é o único que eu posso dizer a você que tivemos uma conversa no sentido de ele ocupar uma secretaria. Agora qual é a secretaria só no futuro para a gente falar.

O ainda prefeito Colbert terá alguma participação na sua gestão?

Colbert pretende ser candidato a deputado federal e vai disputar a eleição. Pretendemos que ele faça um trabalho junto conosco, uma pessoa que terá o direito de ser candidato e terá o meu respeito.

A gente viu no segundo turno de Camaçari que a oposição deu uma demonstração de grupo como não se via há bastante tempo. Como viu esse comportamento?

“[…] não pode ser da cabeça de uma pessoa. Isso tem de ser uma coisa mais ampla com várias pessoas pensando junto. Ninguém conseguirá ser governador sozinho, é preciso ampliar esse debate”

Falando de uma maneira geral, como é que o senhor viu a performance da oposição nas eleições municipais? Mudou o quadro para 2026?

Eu vejo da seguinte maneira: há um ar de respiração, de desejo de mudança no estado. Mas nada disso vai acontecer se você não tiver uma união da oposição. Que as pessoas realmente trabalhem com essa determinação, porque a eleição de prefeito é uma realidade e eleição de governador é outra realidade. São duas posições muito diferentes do eleitorado. A eleição de prefeito é extremamente local. É o município que decide. É naquela esfera lá dentro do seu território. Eleição de governador é esse gigantismo que é esse estado, esse estado enorme, é um continente. Então, para fazer essa política eu acho que tem algumas maneiras de se fazer. O estilo de fazer política para prefeito de Salvador é uma coisa, para prefeito de Feira é uma coisa, para prefeito lá em Chorrochó é outra coisa. Mas para governador, eu acho que é bem diferente. É um outro mundo. Então é preciso que você sente, discuta e analise esse processo de governador como fazer. E para você fazer isso, não pode ser da cabeça de uma pessoa. Isso tem de ser uma coisa mais ampla com várias pessoas pensando junto, sentando, discutindo, debatendo, ouvindo, falando. Mas ninguém conseguirá ser governador sozinho, é preciso ampliar esse debate.

O senhor aceitaria um convite para participar da majoritária em 2026?

Não, isso não. Isso não aceito, essa decisão já está tomada, não há o que pensar, o que decidir, é decisão tomada já. Eu fiz a campanha e disse ao povo de Feira de Santana que cumpriria o meu mandato, não me afastaria de hipótese alguma. Não há nenhuma chance de me afastar da Prefeitura de Feira para ser candidato. Isso aconteceu no passado, mas no presente em hipótese alguma acontecerá.

“Nosso projeto é apoiar Neto, não passou em minha cabeça algo diferente”.

Em caso de o ex-prefeito de Salvador ACM Neto ser candidato ao governo, o senhor estará com ele?

Isso é nossa ideia. Neto é uma pessoa que a gente tem uma boa relação e somos companheiros de partido, nosso projeto é apoiar Neto, não passou em minha cabeça algo diferente.

Nos bastidores, muita gente já cita o nome do prefeito Bruno Reis como um possível candidato ao governo, caso ACM Neto não concorra. O senhor considera essa possibilidade, acha que é um caminho?

Se Neto não sair, ele pode ser esse quadro sim. Bruno é uma pessoa que saiu extremamente bem da eleição, foi muito bonita a sua vitória. Bruno é um político nato, gosta de política, come política com farinha. Não tenho a menor dúvida que tem um futuro muito bonito na política. Quando é que vai ser, não sei, mas é um futuro muito bonito.

“As urnas demonstraram algumas coisas novas no Nordeste”

Há quem ventile a possibilidade de ACM Neto ser o nome do Nordeste para compor a chapa presidencial. Para o senhor, esse cenário é razoável?

Não, porque se eu responder isso eu já estou querendo tirar ele de governador. Então, como ele não conversou comigo ainda essa questão de governador, que dirá de vice-presidente, então isso é uma coisa que tem que ser analisada, discutida. Eu não gosto de colocar o carro adiante dos bois, eu quero fazer as coisas com respeito a todo mundo. Ele seria um nome muito bom para o Nordeste, mas deve ter outros nomes. Recentemente em Fortaleza apareceu aí um jovem que eu nem conhecia, nunca tinha ouvido falar desse rapaz, e o camarada disputou uma eleição com 36 anos. Perdeu por 11 mil votos no eleitorado de um 1,7 milhão de eleitores. Esse cabra é um fenômeno. Soube que a governadora de Pernambuco está fazendo uma boa gestão. Tem prefeito de Maceió, que também é um fenômeno. As urnas demonstraram algumas coisas novas no Nordeste. Em Aracaju, elegeu uma mulher. Em Mossoró, a maior cidade do Rio Grande do Norte elegeu também um prefeito do União Brasil, Campina Grande é um prefeito do União Brasil, Teresina também. São coisas que saíram muito diferentes das urnas.Eu acho que as pessoas que têm esses pensamentos precisam descer da cadeira, do trono e sentar e ouvir pessoas que estão em cadeiras comuns e discutir esse assunto. Eu acho que é importantíssimo sentar quem é do Sul, Sudeste, do Centro, Norte, Nordeste. Nós temos um político muito bem avaliado que é o governador do Mato Grosso. É um estado pequeno, mas ele pode contribuir muito naquela região ali. Agora, se você quer deixar para discutir isso em 26, eu acho que fica muito atrasado. Precisa ser agora no início de 2025, o ano bom para fazer isso é 25.

O que o senhor está falando de Brasil também se aplica à Bahia?

Eu acho que a Bahia precisa ampliar essa discussão. Quanto mais você amplia uma discussão, você cresce, você evolui. Venha cá, você é um cidadão que não é político, mas é jornalista. Um jornalista é um meio político. A natureza do jornalista é parecida com a do político. Você adora receber um telefonema de uma pessoa que você gosta, não adora? Você se sente bem em receber um telefonema, não é? Eu me sinto bem em receber um telefonema de alguém. ‘Parabéns por sua vitória aí, vamos trabalhar juntos’. Isso é bom, isso alimenta a alma de quem está recebendo um telefonema. Se algum ser humano falar que não gosta disso, ele não está expressando a verdade, ele está mentindo. Eu conheço modestamente a política do interior da Bahia. Eu fui deputado muitos anos, convivi com o governos por muito tempo, convivi na oposição, então eu sinto que nós que somos do interior adoramos receber uma ligação. ‘Oi, Zé Ronaldo… oi meu amigo Tiago, de Santo Estevão… oi meu amigo Tarcísio, de São Gonçalo dos Campos… e por aí vai. Nós gostamos, nós queremos isso. Eu acho que isso é uma coisa que precisa acontecer com uma frequência muito maior por todos nós.

A falta de perspectiva de grupo foi um ponto evidente na campanha de ACM Neto em 2022. Até hoje sobram reclamações nesse sentido, inclusive pela falta de telefonemas. O senhor vê algum sinal de mudança para 2026?

Não, eu não sei se isso aconteceu ou não aconteceu. Eu saí do segundo turno no final de outubro e em dezembro de 2022 eu comecei a rodar por Feira, fiz isso em 2023 e em 2024 todinho. Então, eu me concentrei muito, me situei totalmente dentro de Feira de Santana. Depois, no segundo turno, andei um pouquinho em Camaçari e comecei a me concentrar para os meus projetos, as nossas ideias para colocar em prática. O que eu estou dizendo aqui serve para todo mundo, é algo que é importante para todo ser humano que deseja viver na política. Isso eu escuto, eu ouço, eu vejo e eu pratico. Sempre fiz isso e eu entendo que foi isso que foi o meu sucesso na política. Então, se eu tive algum sucesso na política, como vereador mais votado, deputado bem votado, prefeito bem votado, eu fiz sempre isso respeitando as pessoas, ouvindo as pessoas, sendo ouvido por elas. Então eu acho que isso no mundo da política que nós vivemos e principalmente no interior, isso é fundamental para ganhar uma eleição. Isso é fundamental.

Sobre a eleição da UPB, o senhor tem intenção de ser candidato a presidente? Defende o nome de alguém? Como está analisando a corrida?

Não está em meus planos me envolver na eleição da UPB, a não ser como eleitor. Eu não sei quantos candidatos têm, mas não fui procurado por nenhum candidato. Eu acho que esses candidatos estão tentando a benção de alguém para ser presidente, mas pode ser que tenha dois candidatos e tendo dois candidatos tem que procurar todo mundo. Não sei se é porque eu estou por fora, estou afastado, mas eu estou achando esse assunto muito morno, muito frio […] Não sei quem é que vai ser candidato, mas eu vou comparecer para votar, é uma instituição que eu respeito, tenho um prazer, seja lá quem for candidato, eu vou lá dar o meu voto espontaneamente, livremente para o novo presidente da UPB para ele representar os prefeitos, defender os interesses dos municípios. É isso que eu espero de qualquer um que venha ser presidente da UPB.

“Eu nunca li uma entrevista de Jerônimo falando da gestão, eu só leio entrevista de Jerônimo falando de política”.

Como está a relação com o governador Jerônimo depois do embate municipal, como o senhor avalia a gestão dele e como é que vai ser essa parceria institucional governo-prefeitura?

Nunca estive com o governador Jerônimo após eleito. Eu conheci Jerônimo professor da Uefes, conheci Jerônimo sendo assessor de um ministério em Brasília. Eu nunca estive com Jerônimo governador. Eu acho que Jerônimo ele faz política, política, política, política e política como governador. Eu nunca li uma entrevista de Jerônimo falando da gestão, eu só leio entrevista de Jerônimo falando de política. Não estou criticando, não estou dizendo nada, eu estou comentando. Eu já dei algumas entrevistas e vou abordar esse assunto aqui agora com você também. Segurança pública é uma atribuição do Estado, você não pode querer envolver o município. Bom, se o município tem câmeras instaladas na cidade, essas câmeras estarão hoje, amanhã, depois e sempre à disposição da segurança pública do estado cem por cento. Se você quer o apoio do município para ampliar esse número de câmeras, o município está aí para sentar, discutir, debater e ajudar em tudo isso. Mas o município não vai ser chamado nunca para discutir como é que aquela segurança está sendo feita ou como vai deixar de ser feita. Eles não vão chamar para isso nunca, nunca chamaram e não vão chamar, isso é uma política de segurança, eles têm que fazer lá a política de segurança dele, dos policiais, da Polícia Militar, da Polícia Civil, etc. Mas eu tenho dado umas entrevistas dizendo o seguinte, na saúde eu acho que é preciso conversar muito. Morre por ano em Feira 300, 400 pessoas na fila da regulação, aguardando uma vaga no hospital para poder ser transferido. De quem é a responsabilidade dos hospitais regionais? É do estado […] Eu entendo que o investimento que o estado fez no anexo do Hospital Clériston Andrade foi muito pequeno para a grandeza de Feira de Santana e da sua importância regionalmente falando. É preciso que Feira tenha um novo hospital regional como é o Clériston Andrade. E esse novo hospital regional tratar de ortopedia e neurologia.

Esses dois itens são muito importantes. Hoje continua lá no Clériston Andrade pessoas com fraturas internadas esperando 15, 20, 30 dias para ser transferido. No hospital particular, o paciente entra em um dia e sai dois dias depois para casa para fazer uma cirurgia ortopédica. No estado, ele leva 15, 20, 30 dias ocupando um leito. Ora, aquele leito não tem rotatividade e isso não amplia, não adianta você fazer mais cinco leitos dentro do hospital, se você não dá rotatividade àquele leito. Eu quero dizer o seguinte: o município tem as responsabilidades dele, o estado tem as responsabilidades do estado. Eu estou disposto a sentar com o governador, a pessoa que vai ser meu secretário de saúde me acompanhando, é a pessoa que vai entender bem disso mais do que eu, mais do que o governador, com a secretaria de Saúde do estado, sentar, discutir a saúde em Feira de Santana. O que é da responsabilidade do município, nós vamos fazer. O que é da responsabilidade do estado, o estado vai fazer. Vamos fazer isso? Estou aberto para fazer isso tranquilamente sem nenhuma dificuldade. Eu disse isso na campanha política, estou repetindo as mesmas palavras que eu disse no horário de televisão, no rádio, na rua e nas dezenas e dezenas de entrevistas que eu dei. Estou repetindo aqui as mesmas coisas do meu período eleitoral. Eu estou fora da eleição, estou falando a mesma coisa. Uma pessoa que está com câncer não pode esperar seis meses, oito meses, um ano para fazer uma ressonância magnética. Isso é um absurdo. Vamos resolver essas coisas? Vamos sentar, discutir e cada um cumprir o seu papel. Estou às ordens.

Fonte: Política Livre

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