Depois de um início tenso, dominado por ataques pessoais, o debate Rede TV!/UOL, primeiro após a cadeirada de José Luiz Datena (PSDB) em Pablo Marçal (PRTB),conseguiu dar mais espaço a propostas dos candidatos. Sobretudo nos blocos finais, com planos especialmente sobre saúde.
Ataques pessoais dominaram o início do debate. No primeiro bloco, quando fizeram perguntas entre si, os candidatos relembraram temas sensíveis para os adversários e tentaram criar saias justas. Marçal foi quem mais estimulou confrontos, mas todos os participantes tiveram pelo menos um embate áspero.
Havia expectativa sobre o clima entre Datena e Marçal. A agressão ao candidato do PRTB, que dominou o debate anterior, foi lembrada logo no começo. Em uma pergunta ao prefeito Ricardo Nunes (MDB), Marçal afirmou que Datena “não é homem”, e que a Rede TV! decidiu parafusar as cadeiras no chão porque o tucano “teve o comportamento de um orangotango”.
Datena afirmou que não agrediria Marçal porque “covarde apanha uma vez só”. O apresentador entrou com ação contra Marçal por calúnia, injúria e difamação por ele ter citado uma denúncia de assédio sexual, que Datena nega. “O jeito de falar com bandido condenado, ladrão de velhinho virtual, é a Justiça. Não tem outro caminho. Essa é a realidade. Você vai responder na Justiça pelas injúrias que você dirigiu a mim”, disse.
Marçal atacou Nunes, o que levou a uma discussão aos gritos entre os dois. Os dois trocaram insultos e só pararam após levarem advertência da mediadora do debate, a jornalista Amanda Klein. Em suas considerações finais, Marçal parabenizou a atuação de Klein, e ainda ligou para a apresentadora após o debate para elogiá-la pela postura no debate.
O ex-coach acusou o prefeito de roubar dinheiro da merenda escolar e disse que, se ganhar a eleição, ele “prenderá” o prefeito, o que iniciou a discussão. “Você vai preso, Ricardo Nunes, por tocar na merenda das crianças”, disse o candidato do PRTB em referência à investigação da Polícia Federal contra Nunes por suposta participação na máfia das creches. O prefeito gritou que nunca foi preso e afirmou que Marçal “saiu da cadeia, mas a cadeia não saiu de dentro dele”.
Nunes também teve atritos com Boulos. Em um dos embates, o prefeito questionou o adversáriosobre um projeto de lei proposto pelo PSOL, em 2004, que pretendia “liberar 42 mil traficantes”, segundo o prefeito. Boulos reagiu afirmando que Nunes é “do mesmo nível” de Marçal, e repetiu que tem um posicionamento “muito claro” sobre drogas, que é de separar usuários de traficantes.
Também houve trocas de ataques entre Marina Helena (Novo) e Tabata Amaral (PSB). A candidata do Novo acusou a adversária de ter usado um avião particular para visitar o namorado, o prefeito do Recife, João Campos (PSB). Tabata negou e chamou a afirmação de “delírio”. As duas voltaram a trocar farpas em outro bloco do debate, quando discutiam sobre saúde.
A segurança do debate foi reforçada. Além de parafusar as cadeiras, a organização do evento disponibilizou um segurança para cada candidato. Nos intervalos, eles se posicionam em frente aos púlpitos. Além disso, cada campanha também foi autorizada a levar um agente particular.
Marçal já chegou ao debate em clima de confronto. Ao entrar nos estúdios, ele interrompeu a transmissão ao vivo do UOL para discutir com o jornalista Diego Sarza. Segundo apurou o UOL, a equipe do empresário não aceitou a água fornecida pela emissora a todos os candidatos e exigiu que ele bebesse uma água trazida por eles. Marçal nega ter recusado a água da emissora e afirma que apenas pediu uma garrafa lacrada.
Após um início tenso, as propostas apareceram a partir do segundo bloco. O clima agressivo não foi eliminado, mas diminuiu quando os candidatos responderam a perguntas dos jornalistas sobre temas específicos. A saúde foi o tema mais recorrente entre as propostas, mas segurança, trânsito e transporte público também foram lembrados mais de uma vez (veja detalhes abaixo).
Ao todo, o debate teve 17 pedidos de resposta, dos quais 8 foram aceitos. Nunes, sozinho, pediu direito de resposta sete vezes para rebater falas de Marçal, e três destes pedidos foram concedidos. Marçal, por sua vez, fez um total de cinco pedidos de resposta, dois dos quais foram acatados.
Nunes e Boulos tentaram se aproximar de seus padrinhos políticos. O prefeito mencionou o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), que tem dado apoio mais contundente à candidatura. Boulos, por sua vez, reforçou os laços com o presidente Lula (PT).
O prefeito não citou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), mas Boulos citou o vínculo entre os dois. Ao rebater uma acusação de uso de drogas, o candidato do PSOL afirmou que Nunes aposta em fake news e que “não é por acaso que ele recebeu o apoio do Jair Bolsonaro, que tem o mesmo mérito”.
Tabata reforçou que terá diálogo com Lula e também com Tarcísio. A candidata afirmou que montou, para a campanha, “um baita time com nomes da centro-esquerda à centro-direita” e que sabe dialogar com todos os lados.
Marçal apostou na agressividade, mas chegou a pedir desculpas. Além dos ataques diretos a Nunes, Datena e Boulos, ele chamou todos os adversários de “consórcio comunista”. Como tem feito em outros debates, poupou Marina Helena. Mas desta vez se retratou, ainda que timidamente, por um ataque feito a Tabata, em julho, quando culpou a candidata pelo suicídio do pai dela. Ele afirmou que “foi injusto” ao fazer essa menção.
O candidato do PRTB começou atacando Nunes e se referiu ao prefeito como “bananinha”. Foi este o momento em que Marçal foi advertido pela mediadora Amanda Klein, para que não usasse apelidos pejorativos. Marçal, no entanto, manteve a carga e, em seguida, associou o prefeito a investigações sobre transporte público e desvio de verba de creches. O empresário chamou o prefeito de “tchutchuca do PCC” e disse que ele “vai preso por causa das merendas”.
Nunes rebateu chamando Marçal de “condenado”. Ele relembrou que o empresário foi condenado em uma ação que envolveu golpes bancários digitais e afirmou que o ex-coach trata as pessoas “na forma da malandragem de cadeia”, ganhando a confiança delas para em seguida aplicar um golpe nelas.
A saúde foi o tema municipal mais abordado no debate. Além de criticarem a gestão de Nunes, que precisou se defender mais de uma vez, todos os candidatos apresentaram propostas específicas para a área.Continua após a publicidade
Boulos defendeu ‘poupatempo da saúde’ e prometeu centro oncológico. Como tem feito em outros debates e em seu plano de governo, o psolista defendeu o poupatempo para zerar a espera por exames e outros procedimentos. Ele afirmou ainda que um hospital ocológico no Jardim Ângela, na zona sul, só não saiu do papel porque a prefeitura não teria liberado o terreno.
Nunes citou medidas de sua gestão. Sobre o hospital oncológico, ele afirmou que a prefeitura já liberou um terreno em Cidade Tiradentes, na zona leste, para a construção. Nunes também citou ter inaugurado, em 2022, um centro de alta tecnologia para diagnóstico de câncer. O hospital recebeu o nome do ex-prefeito Bruno Covas, que morreu em razão da doença em 2021.
Marçal falou em convênios com o governo estadual para reduzir filas. Também defendeu a necessidade de expandir serviços de telemedicina, que teriam deixado de ser utilizados após a pandemia de covid-19. Na mesma resposta, o empresário aproveitou para atacar: disse que vai criar “centros especializados para tratar das mulheres” e disse que “tem dois agressores aqui”, em referência a Nunes e Datena.
Helena propôs reduzir a máquina estatal. Segundo a candidata do Novo, é possível resolver os problemas da saúde “com o tanto de imposto que a gente tira do trabalhador dessa cidade”. Para ela, é necessário reduzir indicações políticas na prefeitura. “Eu quero acabar com os parasitas, com os cabides de emprego”, disse.
Tabata enfatizou a saúde mental. A deputada citou dados sobre ansiedade, depressão e suicídio em São Paulo, propôs que todas as UBS (Unidades Básicas de Saúde) tenham uma equipe especializada em saúde e que haja um atendimento específico para mães atípicas, ou seja, que tenham filhos com alguma deficiência física ou intelectual.
Três candidatos apresentaram medidas sobre o preço do transporte coletivo. Marina Helena propôs a “tarifa variável”, que ofereça passagens mais baratas fora dos horários de pico, mas disse que sua principal medida para mobilidade é desenvolver a economia das periferias, para que menos pessoas tenham que se deslocar todos os dias ao centro da cidade.
Outros dois candidatos disseram querer ampliar a oferta de tarifa zero, que atualmente vale apenas aos domingos. Datena propõe que beneficiários do Bolsa Família tenham passe livre todos os dias da semana. Já Nunes defendeu que a gratuidade em todos os dias valha para mães que tenham filhos nas creches.
Na segurança, os candidatos fizeram propostas mais vagas. Marçal, por exemplo, reafirmou que vai criar 2 milhões de empregos como medida para reduzir a criminalidade, sem citar como essas vagas serão abertas. Outros candidatos, como Datena, falaram em combater o crime organizado, mas não citaram medidas concretas.
Informações UOL