Entidade britânica diz que donos abandonam seus próprios cães em abrigos fingindo que encontraram os animais na rua.
Um dia depois de receber a cachorrinha Maggie, de um ano idade, a equipe do abrigo Hope Rescue Center, no Reino Unido, encontrou um anúncio na internet em que os donos tinham tentado vendê-la por 500 libras (quase R$ 3,9 mil).
Como não conseguiram vendê-la, os donos abandonaram a cachorra – da raça English Sheepdog (Cão Pastor Inglês) – no abrigo dizendo que ela tinha sido encontrada na rua.
“Nós não podemos recusar cães de rua, então cães que tinham donos estão entrando na fila à frente dos cães que realmente estavam abandonados”, diz Sara Rosser, chefe de bem-estar animal do Hope Rescue Center. “É um número sem precedentes no momento”, afirma.
O caso de Maggie não é único. Funcionários da instituição de caridade dizem que diversos donos de cães têm fingindo que seus próprios animais de estimação são vira-latas encontrados na rua e deixado os bichos em abrigos.
O Hope Rescue diz que o número de cães deixados em seu centro de resgate foi o maior em seus 15 anos de história.
A instituição de caridade acredita que a tendência é que o número continue alto. Mais de 3,2 milhões de animais de estimação foram comprados no Reino Unido durante o lockdown decretado para combater a pandemia de coronavírus, segundo números do governo.
Rosser afirma que só na semana passada cinco pessoas foram ao centro com cães que claramente eram seus próprios animais de estimação, mas o número “pode ser muito maior”.
O centro agora tem 150 animais abandonados – o maior número que já teve. “Todos os abrigos estão lotados e os veterinários ligam para nós contando que pessoas abandonaram bichos na clínica”, diz Rosser.
“Eles dizem ‘há alguma chance de vocês abrigarem os animais? Porque estamos preocupados que eles acabem tendo que ser sacrificados’.”
O Hope Rescue disse que recebeu mais de 7 mil pedidos de adoção de cães em 2021, durante a pandemia e teve que suspender os pedidos por causa do volume. Mas mesmo assim os centros estão lotados por causa do aumento de pessoas que receberam cães durante o confinamento da pandemia e depois perceberam que não podiam cuidar deles quando a vida voltou ao normal.
“No momento, estamos ouvindo de todos os centros de resgate com que trabalhamos que eles também estão lotados e que estão sob enorme pressão”.
Os cães que chegam aos centros de resgate pós-pandemia têm uma incidência maior de problemas de saúde ou de comportamento, ou ambos, tornando mais difícil encontrar um novo lar para eles.
Frequentemente os cães não podem ser transferidos para outros centros de resgate porque eles também atingiram a capacidade máxima.
“Achamos que isso vai durar de dois a três anos, talvez até mais”, diz Meg Williams, gerente de desenvolvimento da Hope Rescue.
O Brasil também tem sofrido com o abandono de animais de estimação durante a pandemia. Não há dados oficiais sobre o tema.
ONGs e entidades que cuidam de bichos abandonados relatam que a onda de adoções em 2020 foi seguida por um grande aumento nos números de bichos deixados desamparados por seus donos neste ano.
No início de 2021 a entidade Ampara Animal divulgou um levantamento com a estimativa de que o abandono cresceu 60% entre julho de 2020 e fevereiro de 2021 em comparação com o mesmo período nos anos anteriores.
Outras entidades, como a Associação Protetora dos Animais do Distrito Federal, e abrigos vêm relatando o mesmo problema.
Informações UOL