Não há ninguém no mundo que nunca tenha pensado haver nascido no tempo errado, no lugar menos propício, sob condições injustamente adversas e das pessoas mais inadequadas. Esses pensamentos torturam a alma e o corpo de muita gente às vezes por tempo demais — até por uma vida inteira — e não existe tanto assim a ser feito: se o indivíduo não resolve pegar o bicho feio chamado destino pelos chifres, arrastá-lo até pastagens seguras e domá-lo de uma vez por todas podem transcorrer anos, quiçá décadas, para que se tenha alguma ilusão quanto a se vencer a mais cruenta das guerras. Enquanto não se chega a esse termo, alguma coisa parece restar sempre por ser concluída, feito o alvorecer num dia sem sol, como se a noite não tivesse mais fim, prolongada pelo canto mavioso e sinistro dos pássaros madrugadores. Há quem resolva o enigma, há quem se feche para a vida e morra para tudo o mais que levanta e derruba o mundo, mas também existem os que passam por cima de uma tristeza impendente e renovam suas forças com a ajuda de um mecanismo admiravelmente imperfeito.
Um casal nada comum dá a “De Férias da Família” (2022) a profundidade que poucas comédias ditas banais, os tais besteiróis, alcançam. O diretor John Hamburg resolve abordar desilusões, sonhos frustrados, sonhos por deixar o limbo e emergir à superfície do real e, claro, o amor, onipresente nas relações humanas mais vigorosas e transformadoras, valendo-se de um núcleo familiar nada óbvio, e também por isso memorável, capaz de despertar a simpatia de públicos heterogêneos. Grande parte do mérito do filme de Hamburg se deve ao desempenho particularmente dedicado do protagonista. Kevin Hart é o homem certo para o papel certo e faz de Sonny Fisher um personagem memorável, guardadas as devidas proporções. “De Férias da Família” é uma produção assumidamente modesta, e é essa mesma a sua força. O diretor encaminha seu roteiro de modo a dar oportunidade a que todo o elenco, composto maciçamente de negros e latinos, tenha sua vez, o que imprime ainda mais fluidez aos enxutos 104 minutos. Tempo que não sobra nem falta para se contar uma boa história.
Sonny é pai, mas não chefe de família, posto que cabe a Maya, a arquiteta bem-sucedida interpretada por Regina Hall — e nunca houve nenhum problema entre eles por essa razão. O abismo que os separa, deslindado com cautela por Hamburg, diz respeito a uma certa resistência do personagem central em amadurecer. Dono de um carisma magnético, Hart consegue fazer vir à tona alguns aspectos estimulantes em Sonny. Ao passo que assume a nobilíssima função de educar e assistir aos filhos, Dashiell e Ava, de Che Tafari e Amentii Sledge, ele também mete os pés pelas mãos ao querer se mostrar sempre solícito aos amigos, em especial Huck Dembo, que conhece desde tenra idade. Prestes a completar 44 anos, o tipo um tanto marginal vivido por Mark Wahlberg faz questão de contar com a presença do companheiro de toda a vida. Sonny continua a querer-lhe bem, mas os rumos que cada um escolheu tomar faz com que o protagonista verbalize com todos os esses e erres que não tem mais energia — e nem vontade — de despender uma noite de bebedeira (e outras farras) acompanhado de gente recém-saída da adolescência. Uma boa reviravolta na trama acaba garantindo que compareça à pândega e reviva tempos que se supunha mortos, como os que registra a abertura do longa, quinze anos atrás no deserto de Utah, oeste dos Estados Unidos.
Hamburg entulha o filme de uma pletora de subtramas, todas anticlimáticas em maior ou menor proporção e bastante duras de engolir. À participação de Luis Gerardo Méndez como Armando, espécie de guru do capitalismo que se aproxima de Maya e desperta a fúria ciumenta de Sonny, juntam-se as figuras de Thelma, personificada por Ilia Isorelys Paulino, e Stan, de Jimmy O. Yang, em extremos opostos, mas que vibram no mesmo diapasão: poluir o enredo de passagens escatológicas, sempre dispensáveis. Nesse particular, a atuação de Méndez ganha destaque graças a nuanças menos chapadas de seu personagem, um ricaço mulherengo e solitário.
Esse pecado de “De Férias da Família” — sempre pelo excesso, nunca pela falta — é até capaz de se constituir um capital do trabalho de Hamburg, responsável por outros filmes de escopo semelhante, qual seja, fazer com que a plateia simplesmente esqueça da vida. E nada como, de quando em quando, imaginar que todos os problemas da nossa patética existência se resolvem com um besteirol tolinho, como numa das finadas matinês de antanho.
Filme: De Férias da Família
Direção: John Hamburg
Ano: 2022
Gêneros: Comédia
Nota: 8/10
Informações Revista Bula
O ano mal começou e agosto já está em seu último final de semana. O mês mais longo passou rápido e o natal de 2021 parece que foi há um piscar de olhos atrás. Quando você para um pouco para analisar, gastou seu ano inteiro trabalhando muito, com os olhos grudados nas redes sociais pelo seu celular e se divertiu e descansou muito pouco. Ainda dá tempo de virar o jogo e planejar um segundo semestre diferente. Aproveite seus finais de semana para descansar bastante, curtir sua família e amigos mais especiais, assistir bons filmes e séries e cuidar da sua saúde. Nesta lista, trouxemos alguns filmes que foram lançados nos últimos meses na Netflix para você curtir durante seu fim de semana. Destaques para “Árvores da Paz”, de 2022, de Alanna Brown; “Big Bug”, de 2022, de Jean-Pierre Jeunet; e “Contra o Gelo”, de 2022, de Peter Flinth. Os títulos disponíveis na Netflix estão organizados de acordo com o ano de lançamento e não seguem critérios classificatórios.
Árvores da Paz (2022), Alanna Brown
Em abril de 1994, quatro mulheres de diferentes origens e crenças se escondem juntas em um cubículo durante o Genocídio Contra os Tutsis em Ruanda, onde passam meses no limite da sobrevivência. A experiência de sofrimento e terror as une em uma aliança de irmandade inquebrável. Após libertas, lideram um movimento de reabilitação de seu país.
Big Bug (2022), Jean-Pierre Jeunet
Em um futuro distópico, Alice fica presa dentro de sua própria casa controlada por robôs que trabalham como empregados domésticos. Com ela, estão o filho, o namorado, o ex-marido e sua esposa e filha adolescente. Do lado de fora, máquinas tentam tomar o controle do mundo e dominar os humanos. Enquanto isso, a família faz o possível para tentar escapar de casa, onde os robôs os mantêm encarcerados.
Contra o Gelo (2022), Peter Flinth
Em 1909, a Expedição Ártica da Dinamarca, liderada pelo capitão Ejnar Mikkelsen, tenta resistir à reivindicação dos Estados Unidos ao nordeste da Groenlândia. De acordo com o país norte-americano, a Groenlândia era parte dos Estados Unidos, que havia se divido em um outro pedaço de terra. Mikkelsen embarca em uma jornada pelo gelo com seu colega Iver Iverson para encontrar provas de que a Groenlândia é uma ilha. A jornada, no entanto, se mostrará muito mais complicada que o esperado, sujeitando os expedicionários à fome, fadiga extrema, ataque de urso polar e paranoia.
Perdoai Nossas Ofensas (2022), Ashley Eakin
Ambientado na Alemanha de 1939, o conto sombrio narra a história de um menino com deficiência física, que é obrigado a fugir para salvar a própria vida quando os nazistas decidem perseguir e matar aqueles que não eram considerados padrão de saúde e superioridade. Em seu caminho terá de escapar de pessoas que querem entregá-lo ao sistema genocida e eugenista, que acreditam que sua morte vale mais que sua vida.
Um Marido Fiel (2022), Barbara Topsøe-Rothenborg
Christian e o Leonara são, aparentemente, um casal perfeito. Eles têm um filho que conseguiu se curar de uma doença grave e agora o futuro parece brilhante novamente. Durante uma festa da empresa de Christian, Leonara vê o marido com uma moça mais jovem e sente que ele irá deixá-la. Se sentindo injustiçada, já que Leonara sacrificou sua carreira e desistiu de tudo para cuidar do filho doente e de sua família, ela decide tomar medidas contra Christian. Mas ele também tem planos misteriosos contra a mulher.
O Rei das Fugas (2021), Mateusz Rakowicz
O filme narra a história de Zdzisław Najmrodzki, o criminoso mais famoso dos tempos finais do comunismo na Polônia. Conhecido por roubar carros e escapar da polícia 29 vezes, ele é apelidado de “o rei da fuga”. Naymro desafia o sistema e as autoridades enquanto pode, mas a queda do Muro de Berlim muda seu destino.
O Soldado que não Existiu (2021), John Madden
Em meio à Segunda Guerra Mundial, as forças aliadas preparam uma tomada da Sicília pela costa sul. No entanto, os nazistas descobrem os planos. Os oficiais da inteligência, Ewe Montagu e Charles Cholmondelcy são convocados para elaborar uma estratégia para embaraçar os soldados de Hitler e fazê-los acreditar que o alvo das forças aliadas é, na realidade, a Grécia. Inspirado em uma história real.
Informações Terra Brasil Noticias
Amantes povoam o inconsciente coletivo há muito tempo, de certo modo inspirando o cidadão comum a também nutrir suas ilusões de casamento perfeito — aos olhos da sociedade — com ampla margem para vivências extraconjugais que ao cabo de um tempo mais ou menos breve deixam pelo caminho uma fieira de egos cheios, corações destroçados, mágoas inexpugnáveis de parte a parte e não raro filhos desassistidos que, tomados pelo desespero, optam por decisões sem volta. Decerto a primeira história de um amor desditoso a capturar o público no contrapé, sem muita ideia do êxito que iria alcançar foi “Anna Kariênina”, do novelista russo Liev Tolstói (1828-1910). Tão popular quanto acerbo, o caso fictício entre a protagonista, Anna Kariênina, mulher de Alieksiéi Kariênin, alto comissário do czar Alexandre II, com o Conde Vronsky, oficial da cavalaria, foi um escândalo junto à aristocracia da Rússia imperial. Anna pede o divórcio, mas Kariênin, além de não aquiescer, ainda a impede de ver o filho. O casamento, claro, termina mesmo assim, bem como o romance extraconjugal e o fim da anti-heroína é o pior possível. Homem com os dois pés muito bem fincados na realidade, Tolstói jamais imaginara ter escrito um dos enredos de amor vívido, desamor oculto e ódio manifesto mais longevos se todos os tempos, não por acaso levado às telas cinco vezes, entre 1935 e 2012. Muito mais dado à louvação de seus pares e da audiência, o alemão Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832) — escritor, poeta, diretor de teatro, crítico cultural, um generalista por natureza — conseguiu exprimir muito (mas não tudo) do abatimento de espírito do personagem central, desiludido, cônscio da impossibilidade de seu amor por Charlotte, prometida em matrimônio a Albert. Talvez não existam dois homens de letras mais díspares entre si que Tolstói e Goethe, gênios no mesmo ofício, donos de trajetórias longevas (ambos morreram com a mesma idade, 82 anos, um assombro tanto no século 18 do germânico como no 19, atravessado pelo russo) e bem-sucedidas, mas que enxergavam o amor — e por óbvio a vida ela mesma — por prismas diametralmente opostos. E por essa justa razão, complementares.
Querendo ou não, a dinamarquesa Barbara Rothenborg fora capaz de condensar em boa medida o melhor de Tolstói e de Goethe numa história cheia de altos e baixos ao falar de um casamento que deveria ter findado, mas que ao se prolongar indefinidamente — alicerçado na areia fina da vaidade e da hipocrisia — implica um cenário de desabrida loucura. Trata-se de “Um Marido Fiel” (2022), drama com notas de suspense em que a ânsia pela verdade se sobrepõe à verdade em si. O roteiro de Anders Rønnow Klarlund e Jacob Weinreich centra a história na figura de um casal aparentemente acima de qualquer suspeita, aparentemente apaixonado, aparentemente feliz e aparentemente normal. Como se vê, as aparências não só não enganam como podem ser um componente elementar na vida de duas pessoas que escolhem viver juntas, constituir uma família e enfrentar as vicissitudes do dia a dia. Rothenborg explora bem os pequenos, ínfimos sinais que explicariam a nuvem de paranoia que flutua sobre Christian e Leonora, quarenta e poucos anos e um filho, Johan, dezoito, recém-saído de um grave problema de saúde e prestes a se formar no ensino médio.
Os personagens de Dar Salim e Sonja Richter terminam de educar Johan, de Milo Campanale, na casa construída sob medida à beira lago, permeada por um bosque denso. Nem poderia ser de outra forma, uma vez que Christian é um dos mais bem-sucedidos arquitetos do mercado, e muito de sua excelente reputação profissional se deve a Xenia, a arquiteta-assistente vivida por Sus Wilkins, com quem mantém um caso. A vida do trio — não há muito a se especular acerca de Johan — conservar-se-ia numa paz de cemitério não fosse o imprevisto que sucede nos bastidores da festa que a empresa de Christian oferece para comemorar um negócio importante, gancho para todos os eventos trágicos que passam a se desenrolar na história.
A diretora trabalha bem a psicopatia da dupla de protagonistas, oferecendo a Wilkins farto material para que também sua personagem, uma coadjuvante que cresce além do esperado, mostre a que veio. Numa análise ligeira, tudo leva a crer que Xenia seja de fato a grande vilã do filme, como Leonora sugere, mas causa espécie o jeito como Klarlund e Weinreich subvertem os papéis, revelando aos poucos quem é quem, momento em que a loucura da personagem de Richter vem à tona. Ex-virtuose que abandonou uma carreira promissora como violinista, Leonora não abre mão do marido adúltero e tampouco do casamento aos pedaços por um mero capricho. Nesse ponto, a narrativa dá uma guinada algo farsesca — trata-se de um suspense, certo? —, à Adrian Lyne ou Brian de Palma, conduzindo o longa para o desfecho literalmente catártico.
É cedo para se dizer como “Um Marido Fiel” há de se sair junto a plateias mais amplas, mas pode-se dizer sem receio que a condução de Rothenborg garante 105 minutos de poucas certezas e ótimas possibilidades de se exercitar o faro detetivesco que pulsa em cada um, assistindo-se uma imensa fogueira de veleidades diabólicas queimar um circo de horrores.
Filme: Um Marido Fiel
Direção: Barbara Rothenborg
Ano: 2022
Gêneros: Drama/Suspense
Nota: 9/10
Informações Revista Bula
Não se sinta culpado por querer ficar em casa no final de semana, por dizer “não” aos amigos ou por não aproveitar os dias de folga se divertindo em barzinhos ou baladas. Às vezes, tudo que a gente precisa é ficar em quieto, sozinho ou com a família, recarregando nossa bateria social e descansando os ossos para a semana que virá. Se você quer saber o que fazer na tranquilidade e calmaria do ser lar para relaxar sem morrer de tédio, acompanhe essa lista de filmes novos para ver na Netflix. Destaques para “Big Bug”, de 2022, de Jean-Pierre Jeunet; “Buba”, de 2022, de Arne Feldhusen; e “Código: Imperador”, de 2022, de Jorge Coira. Os títulos disponíveis na Netflix estão organizados de acordo com a ordem alfabética e não possuem critérios classificatórios.
Big Bug (2022), Jean-Pierre Jeunet
Em um futuro distópico, Alice fica presa dentro de sua própria casa controlada por robôs que trabalham como empregados domésticos. Com ela, estão o filho, o namorado, o ex-marido e sua esposa e filha adolescente. Do lado de fora, máquinas tentam tomar o controle do mundo e dominar os humanos. Enquanto isso, a família faz o possível para tentar escapar de casa, onde os robôs os mantêm encarcerados.
Buba (2022), Arne Feldhusen
Jakob Otto perdeu seus pais em um acidente de carro quando criança e se culpa pelo acidente, já que não estava junto pois foi a uma competição de break dance. Seu irmão, Dante, sobreviveu, mas ficou com sequelas, como uma Síndrome do Sotaque Estrangeiro e dificuldades para caminhar. Eles vivem de pequenos delitos em sua cidade e Jakob acredita que deve ser infeliz, caso contrário algo de ruim irá acontecer com as pessoas que ama. Ameaçados por um chefe do crime local, Jakob para de cometer crimes para se tornar atração de circo, em que é punido com dores. A profissão lhe garante o sofrimento que ele acha que precisa para manter as pessoas ao seu redor a salvo. Enquanto isso, Dante passa a trabalhar para o mafioso que os ameaçou.
Código: Imperador (2022), Jorge Coira
Juan é um agente secreto que se aproxima de Wendy, uma empregada filipina que trabalha na casa de um casal envolvido com o tráfico de armas. Mas Juan também está envolvido em atividades ilegais para proteger interesses das elites mais poderosas do país. Uma de suas missões é impedir que Ángel Gonzalez, um político aparentemente comum, exponha segredos de um ator conhecido.
Como Seria se…? (2022), Wanuri Kahiu
Logo antes de se formar na faculdade, Natalie fica dividida entre duas realidades paralelas: na primeira, ela fica grávida e continua morando em sua cidade natal. Na segunda, ela se muda para Los Angeles. Mas uma coisa é certa: nas duas realidades, Natalie vive amores marcantes, corre atrás do sucesso como artista e segue em frente em uma jornada para descobrir quem realmente é.
Dupla Jornada (2022), J.J. Perry
Bud Jablonski é um pai trabalhador que só quer dar uma vida tranquila para sua filha. Seu trabalho como limpador de piscinas de em San Francisco Valley, entretanto, não passa de fachada para sua verdadeira fonte de renda. Ele é um caçador de vampiros que integra a União Internacional de Caçadores de Vampiros.
Meu Lugar (2022), CJ Wang
Miss Yeh é uma professora de arte que tem uma oficina de móveis em miniatura para casinhas de brinquedo. Seu sonho sempre foi conhecer o mundo, mas o casamento e a família acabou mudando seus planos. Seu marido já está aposentado e não sabe fazer nada sozinho, nem mesmo separar o lixo ou fritar um ovo por conta própria. Além disso, a filha adulta do casal volta a morar na casa dos pais para economizar e abrir um negócio. A jovem acaba ocupando o quarto que Yeh havia separado para sua mãe idosa, que sofre de demência. Então, Yeh decide que precisa comprar uma casa maior e que caiba toda a família.
Na Sinfonia do Coração (2022), Soner Caner
Piroz é um violinista itinerante que viaja de aldeia em aldeia tocando e cantando em casamentos e funerais. Um dia, ele se apaixona por Sumbul, uma moça que estava prestes a se casar. Foi amor à primeira vista. Mas os sentimentos entre eles provocam uma trágica briga entre as famílias da moça e do noivo. A confusão faz com que os familiares dela decidam que ela deve ser punida com a morte. Então, Piroz luta para proteger sua amada e recebe o apoio de aldeões que o ajudam a salvá-la.
Informações Revista Bula
Da mesma forma que não existe crime perfeito, criminosos nunca são iguais uns aos outros. Por mais que se cerquem de métodos semelhantes a fim de alcançar seus execráveis objetivos, golpistas de toda ordem, estelionatários, ladrões ou assassinos seriais — todos psicopatas em maior ou menor grau —, sempre fazem questão de manifestar em seu comportamento bestial uma característica qualquer que os difira dos outros, como uma impressão digital, e é a partir daí que policiais bem-preparados, ciosos de seu ofício, iniciam suas intrincadas averiguações, logo tornadas um jogo de gato e rato onde as aparências estão sempre muito perto do engano, a verdade se irmana com a mentira, vilões passam por mocinhos sem inspirar muita desconfiança e o caos é o déspota das ledas intenções do gênero humano, imperando sobre a lei e a ordem. Nesta conjuntura em que o homem é o lobo do homem, a vida mais parece uma caçada, cruenta e irracional, em que estamos todos condenados a sofrer nas mãos uns dos outros, sem saber quem é o grande predador.
Em Vitoria-Gasteiz, lugarejo bucólico da província de Álava, no País Basco, um maníaco ganha fama ao passo que intriga a polícia e aterroriza a população local. Aquele recanto antes aprazível no extremo norte da Espanha começa a padecer com as especulações da imprensa marrom, é forçado a renunciar a seu cotidiano de sossego e mergulha na atmosfera noir buscada por Daniel Calparsoro em “O Silêncio da Cidade Branca” (2019), thriller policial confuso e movimentado. Com base no título em inglês, “Twin Murders: The Silence of the White City” se poderia afirmar de imediato que o vilão da história contasse com o resguardo de uma possível dupla identidade na figura de um irmão gêmeo ou de um doppelgänger, um sósia involuntário, mas Alfred Pérez Fargas e Roger Danès declinam de tal facilidade em seu roteiro. Seu antagonista, um homem espantosamente habilidoso, ronda seus perseguidores sem se deixar descobrir enquanto se diverte com levando a termo um método sofisticadamente perverso de dar cabo de suas vítimas.
Unai, o detetive vivido por Javier Rey, abre a trama muito empenhado em desmascarar o facínora, celebrizado nos programas que se debruçam sobre os bastidores do mundo cão por usar de requintes de uma crueldade muito específica. Também conhecido como Kraken, Unai, subordinado direto da comissária Alba, de Belén Rueda, começa a ter algum sucesso em suas averiguações, dispondo da ajuda colateral do avô apicultor interpretado por Ramón Barea, mas parece estar sempre alguns passos atrás da genialidade do criminoso. Numa guinada um tanto afoita do texto de Fargas e Danès, fica-se sabendo que o autor dos homicídios é Mario, o tipo acima de qualquer suspeita de Manolo Solo, e de quase nada vale o périplo de Kraken ao presídio onde Tasio cumpre pena. Injustamente condenado como responsável pelas mortes, o personagem de Àlex Brendemühl presta um depoimento informal rico em detalhes e considerações sobre a história basca — suas analogias à invasão moura da Península Ibérica, em 19 de julho de 711; a reconquista católica, entre 718 e 1492, igualmente belicosa; bem como a referência a “Os Sofrimentos do Jovem Werther” (1774), do alemão Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832) dão uma pista do risco a que o policial e sua colega Estíbaliz, de Aura Garrido, estão sujeitos. Nesse momento, a escalada de tensão da narrativa sobe de nível e o filme entra numa segunda parte muito mais sombria.
Calparsoro sustenta a atmosfera macabra do romance homônimo de Eva García Sáenz de Urturi, de que tirou a essência de seu filme, fazendo com que Kraken, cada vez mais vulnerável, e Mario troquem de lugar. Gênio do mal, o assassino, que mantém um caso com Alba, tem um quê de Hannibal Lecter, mas consegue ser ainda mais sádico que o vilão eternizado por Anthony Hopkins em “O Silêncio dos Inocentes” (1991), de Jonathan Demme, ao se imiscuir nos ambientes em que ninguém esperaria achá-lo. Um trabalho de Hércules frente à exuberância da arquitetura dos prédios, valorizada pela ótima fotografia de Josu Inchaustegui.
“O Silêncio da Cidade Branca” flerta desabridamente com o caos, mas sabe tornar ao leito quando preciso, inclusive ao se fixar na psicopatia do assassino, um esteta da morte. Em mais um filme de que a adrenalina extravasa, Calparsoro se mostra um operário incansável, como a abelha em busca do néctar mais oloroso com que vai fabricar o mel mais doce. Aqui, no entanto, a amargura humana é o que sobressai.
Filme: O Silêncio da Cidade Branca
Direção: Daniel Calparsoro
Ano: 2019
Gêneros: Suspense/Mistério
Nota: 8/10
Informações Revista Bula
A escalada do supremacismo branco na Europa, mormente em países que entraram para a história por seu caráter pacifista, por sua opção bem pesada de não interferir na soberania de outros países e, na frente contrária, acolher cidadãos de nações em risco social, acossados pela fome, por políticas radicais e genocidas, pela perseguição religiosa e tantas outras desgraças inamovíveis ao longo da história, alçou uma conquista sem precedentes em 22 de julho de 2011, momento em que um lunático se desloca até uma ilha na Noruega e abre fogo contra crianças e adolescentes, em grande parte imigrantes, negros e muçulmanos. À violência da ação, iniciada por um atentado a bomba que fez oito vítimas, coube um movimento para a compressão da sangria de igual vigor, organizado nos mínimos detalhes, rápido e, o mais importante, eficaz. Em poucas horas o autor dos disparos, fatais para outras 69 pessoas, estava segregado do convívio social. Todo o país mergulhava então no torvelinho de que sairia transformado, ferido no que tem de mais precioso, porém maduro o bastante para encarar a necessidade de discutir um tema urgente ao qual nunca havia dado a devida importância.
Famoso por aceitar o desafio de verter para o cinema eventos trágicos, o premiado Paul Greengrass dá uma contribuição inestimável à humanidade com seu “22 de Julho” (2018), em que reporta de maneira pungente os bastidores do ataque, os dramas particulares dos atingidos e as consequências para uma das democracias mais civilizadas do mundo. Greengrass se vale dos recursos todos que o consagraram nesse filão — câmera na mão; enquadramentos que levam o espectador para dentro da cena; som ambiente no lugar de trilha sonora — a fim de imprimir à história a dramaticidade que ela sem dúvida tem, mas que em nenhum momento descamba para o melodrama ou para o sensacionalismo. O diretor se fixa em destrinchar um conflito por vez, didaticamente, sem que a fluidez ou a naturalidade do que é narrado sejam comprometidas. O que se observa na tela é um enredo caudaloso, rico em informações, de assimilação imediata e logo submetida a juízos de valor que condenam o facínora, mas com espaço para que tenha a chance de tentar expor seu ponto de vista.
Anders Behring Breivik escolhera aleatoriamente o dia para deixar como legado a humanidade o ódio gratuito a indivíduos que, no seu delírio, considerava impuros e portanto indignos de estar no mesmo país que ele. A admissão da ideia de que a Noruega marchava para se tornar um território apartado do restante da Europa pelos motivos diametralmente opostos ao que defendia se prestaram como lenha a uma fogueira que vinha ardendo há algum tempo, e Breivik dedicou-se boa parte de sua vida a arquitetar a ofensiva ao que chamava de desintegração moral da Noruega, submetida a um processo irreversível de absorção de outras culturas a partir do aumento exponencial de cidadãos de outros países junto à população. A condução de Greengrass, sempre preocupado com a fidedignidade da narrativa, mostra Breivik, brilhantemente encarnado por Anders Danielsen Lie, no pleno gozo de suas faculdades mentais, tanto na primeira fase de sua empreitada (a investida contra uma autarquia do governo do primeiro-ministro Jens Stoltenberg, de Ola G. Furuseth, Oslo) como na invasão à ilha de Utøya, distante cerca de 150km a noroeste da capital, onde fulminou quase setenta pessoas e feriu outras duzentas. Como em “United 93” (2006), o apuro técnico do diretor chega a provocar espanto, e ao cabo das sequências de perseguições da besta humana no encalço de adolescentes sonhadores e desarmados, o roteiro de Greengrass dedica boa parte do que ainda resta dos 144 minutos de projeção a convalescença de Viljar Hanssen, o mártir vivido por Jonas Strand Gravli.
O terceiro ato, que desfralda os intestinos de um dos julgamentos mais esperados da história da Noruega, sucede as cenas que registram o esforço de Viljar quanto a estar apto a reencontrar-se com seu algoz depois do olho esquerdo arruinado, incontáveis sessões de fisioterapia para recuperar o movimento das pernas e tornar a andar com alguma normalidade e os fragmentos de projétil alojados no cérebro, mantidos para que se preservassem as funções vitais, mas uma bomba-relógio que poderia explodir sem prévio aviso, tensão constante para toda a vida do personagem de Gravli. A trama quase se perde em meio à discussão sobre se Breivik teria ou não a dimensão fria do mal que estava a perpetrar — tese inicialmente defendida por Geir Lippestad, o advogado do terrorista, papel de Jon Øigarden, mas o próprio acusado confessa a sua vontade de matar e a história retoma o leito. Anders Behring Breivik foi condenado a 21 anos de detenção em regime fechado, pena máxima no ordenamento jurídico norueguês, em 24 de agosto de 2012.
Filme: 22 de Julho
Direção: Paul Greengrass
Ano: 2018
Gêneros: Drama/Crime
Nota: 9/10
Informações Revista Bula
Uma das primeiras medidas de um sistema de governo autocrático é perseguir artistas e combater qualquer forma de manifestação que ouse afrontar o estabelecido, e tanto pior se do que se encontra nesses trabalhos se passa a erigir a base para transformações essas, sim, em tudo revolucionárias. Pintor frustrado, Hitler encontrou no desprezo à arte verdadeiramente nobre uma válvula de escape para boa parte de sua mágoa contra a civilização, apostando as fichas maiores numa suposta inferioridade moral dos artistas, certamente medindo o mundo inteiro por sua régua deformada. Sua pretensão megalômana era de tal ordem que, em 1937, o Partido Nazista organizou uma espécie de circuito sobre o que deveria ser abominado por aspirantes a estetas alinhados com sua ideologia macabra. A exposição foi inaugurada em Munique e não demorou a peregrinar por toda a Alemanha, promovendo ataques grosseiros e infundados a qualquer ideia que lhe parecesse arrojada, isto é, perigosamente chegada ao que o restante do mundo entendia como progresso: liberdade de expressão, democracia, economia de mercado e, claro, integração racial, valores dos quais a humanidade não pretendia abrir mão. Sua escala facinorosa degringolou, dois anos depois, no início da Segunda Guerra Mundial, que se estenderia pelos seis anos seguintes — e lhe daria a ilusão de poder vingar o orgulho ariano, ferido desde que outros países da Europa, com destaque para a França, lhe abreviava um bom naco da receita advinda com a indústria farmacêutica e a produção de automóveis.
Em “Werk Ohne Autor” (2018), Florian Henckel von Donnersmarck alude a essa passagem da História, deslocando os acontecimentos de Munique para Dresden. Na introdução, o garoto Kurt, vivido inicialmente por Cai Cohrs, visita a exposição em que o guia de Lars Eidinger debocha de ninguém menos que Picasso, Mondrian, Kandinsky, Paul Klee, George Grosz. Sua tia Elisabeth, a personagem de Saskia Rosendahl, é quem lhe deixa claro, ainda que não precise dizer uma palavra, o quão equivocado é tudo aquilo, uma mistura de despeito e valorização macromaníaca bem ao estilo do Führer, espetáculo bizarro que deixava no ar o que se poderia esperar do regime que se ia fazendo conhecer.
Donnersmarck se inspirara na vida do alemão Gerhard Richter, talvez o maior pintor vivo, ainda em atividade. Nascido em 9 de fevereiro de 1932, Richter foi, como Kurt, tendo de se adaptar ao que o nazismo autorizava como digno de ser chamado de arte. O roteiro avança cerca de quatro décadas e o protagonista, assumido por Tom Schilling depois de adulto, continua submetendo-se a desmandos ideológicos mesmo após o ocaso da guerra, agora patrocinados pelos comunistas, difusores de uma excrescência chamada realismo socialista, que não deixava nada a dever ao nazismo em matéria de boçalidade e cerceamento à criação intelectual e estética. Ao longo de pouco mais de três horas de projeção, “Werk Ohne Autor” (“obra sem autor”, em tradução literal) destrincha cada conflito que se insinua no corpo do enredo sem afoiteza. Lembrando Tolstoi em clássicos da literatura mundial de tdos os tempos a exemplo de “Guerra e Paz” (1867) e “Anna Kariênina” (1878), o filme acompanha Kurt ao longo da vida, marcada por outra Elisabeth além da tia, internada numa “unidade de esterilização” para tratar da maneira mais abrutalhada a esquizofrenia que se apossa dela sem pedir licença. Já um adulto jovem, Kurt vai morar em Berlim na intenção de graduar-se em artes — malgrado saiba que terá de se sujeitar às diretrizes comunistas —, e conhece Elisabeth Seeband, a Ellie. Mesmo integrando a aristocracia tedesca e Kurt não passe de um estudante despossuído, a mocinha de Paula Beer se entrega a ele, sem saber que o pai, o professor Carl, um dos maiores ginecologistas do país, tem uma carta na manga caso o caminho dos dois teime em se cruzar. Mas o personagem de Sebastian Koch não é propriamente modelo de virtude para ninguém.
“Werk Ohne Autor” é um filme caudaloso, repleto de sugestivas reflexões, mas se há uma ideia-força aqui, é a que reza que arte nenhuma deve se sujeitar ao pragmatismo de quem deseja fazê-la útil. A arte existe porque viver é muito pouco e isso basta. Gerhard Richter que o diga.
Filme: Werk Ohne Autor
Direção: Florian Henckel von Donnersmarck
Ano: 2018
Gêneros: Drama/Romance
Nota: 9/10
Policiais não raro enfrentam questões que vêm a se tornar verdadeiros calvários para qualquer ser humano, e como eles também são de carne e osso, acabam indo parar no estaleiro, tendo de se dar por muito satisfeitos se essas crises não redundam na perda da carreira — o que por sua vez desencadeia um perverso efeito dominó, que arrasta sanidade mental, vida em família, saúde financeira e amor-próprio para o limbo. Nesses momentos, o prudente mesmo é deixar de lado a vocação para o heroísmo e ser algo mais pragmático, se concentrar no que deve ser feito e retomar o eixo da própria vida, o que como todas as coisas que verdadeiramente importam, demanda energia, planejamento, dinheiro e força de vontade e muito, mas muito sangue frio. Esses ingredientes reunidos, amassados, torcidos, devidamente amalgamados, ardem ao fogo baixo da vingança, pelo tempo que for necessário, até que a massa do acepipe esteja no ponto de servir, muito bem acompanhada de boa dose de humor negro, suspense, desafio à lógica e uma promessa de felicidade quando tudo chega, enfim, a bom termo.
Mas antes, o que se vê é a junção das várias peças que deságuam no inferno particular do ex-policial que protagoniza “À Beira do Abismo” (2012), em que o diretor dinamarquês Asger Leth refina o discurso da necessidade de reparação, aqui levado às últimas consequências, de um homem comum, que nunca desejou ser herói e mártir ainda menos, mas apenas ter uma vida como todo mundo. E “inferno” parece ser mesmo a palavra mais adequada para definir seu estado: perdido entre a vida que julga ainda ter e a realidade dura que o sitia, esse homem só viu uma chance de tentar escapar ao cerco do infausto, e mesmo assim seu arrojo pode não dar em nada. Ele não pensa em se matar, mas a desdita de sua situação autoriza que qualquer um pense que ele o faça — e é justamente desse mal-entendido que ele tem de se valer a fim de tentar dar a volta por cima, a despeito de toda torcida contra, do risco, da loucura, e no seu caso, é mesmo preciso atirar-se sem medo nos braços da insânia não como o último recurso, mas como a única medida realmente eficaz quanto a reverter sua miséria existencial.
Sam Worthington dá vida a esse homem, Nick Cassidy, subitamente exilado na própria vida. Cumprindo pena por um crime que não cometeu, Cassidy se depara todos os dias com a imagem de seu próprio fracasso, como policial e como homem, claro no desabafo com a psiquiatra vivida por J. Smith-Cameron numa aparição-relâmpago — aliás, esse é um bom filme composto de pequenas participações excelentes. Ao conseguir permissão para assistir ao sepultamento do pai, começa a botar em curso a estratégia que talvez lhe vá possibilitar escapar da cadeia (o que consegue de fato) e provar sua inocência, depois de uma altercação que deriva para a troca de socos, mesmo algemado, com o irmão caçula, Joey, de Jamie Bell, e como se assiste a dada altura do roteiro de Pablo F. Fenjves, a briga não passa da encenação que dá azo ao começo de sua desforra — e é bom o espectador não perder o fio da meada nessa parte. Quando finalmente está a salvo de seus captores, hospeda-se num hotel de luxo em Manhattan, pede um café da manhã com direito a champanhe e passa a desfilar no parapeito da janela da suíte.
Doravante, Leth começa a introduzir as frações que nos autorizam vislumbrar a angústia de Cassidy e o que pretende, utilizando-se principalmente de Lydia Mercer, a negociadora para situações extremas de Elizabeth Banks que, como seu novo analisando, passa por um momento-limite. Ao passo que o personagem de Worthington e Mercer trocam impressões, o verdadeiro conflito da trama se desenrola no arranha-céu ao alto, erigido e administrado por David Englander, o magnata interpretado por Ed Harris. Joey e a namorada, Angie, de Génesis Rodríguez, conduzem a operação que, se bem-sucedida, vai livrar Cassidy dos 25 anos de prisão que ainda deve, mais outros tantos pela balbúrdia em que mergulhou toda Nova York. Harris, para não variar, eleva seu vilão, diretamente implicado em tudo o que se passa, à condição de grande estrela do filme, enquanto no chão, em frente ao edifício, Suzie Morales, a jornalista sem escrúpulos de Kyra Sedgwick, ressuscita o mote central de “A Montanha dos Sete Abutres” (1951), de Billy Wilder, proporcionando ao drama do protagonista a cota de entretenimento por que o populacho clama.
“À Beira do Abismo” faz justiça ao nome e se equilibra muito bem entre a iminência de uma tragédia — que ao cabo de 102 minutos sabemos que não iria se concretizar — e a engenharia rigorosamente técnica de uma história que se deslinda em tantas outras. Parece que faz setenta anos, mas foi em 2012. Enquanto há vida, a esperança pulsa.
Filme: À Beira do Abismo
Direção: Asger Leth
Ano: 2012
Gêneros: Thriller/Crime
Nota: 9/10
Hoje o brasileiro tem muitos motivos para chorar. Encher o tanque de combustível do carro por menos de 300 reais virou lenda. Duas sacolinhas no supermercado e lá se vão mais 150 da sua carteira. A violência na televisão parece mais absurda que nunca. Se o seu plano era ter um apartamento próprio aos 30 anos antes, agora o objetivo é alcançar saúde mental. Se você sente falta dos antigos motivos para chorar da sua adolescência, como filmes tristes e emocionantes, confira essa lista da Revista Bula que vai fazer você esquecer dos problemas reais e chorar com os ficcionais. Destaques para “18 Presentes”, de 2020, de Francesco Amato; “O Caderno de Tomy”, de 2020, de Carlos Sorin; e “Se Algo Acontecer… Te amo”, de 2020, de Michael Govier e Will McCormack. Os títulos disponíveis na Netflix estão organizados de acordo com o ano de lançamento e não seguem critérios classificatórios.
18 Presentes (2020), Francesco Amato
Aos 40 anos e já no fim de uma gestação, Elisa descobre que tem um câncer de mama inoperável e não poderá ver sua filha crescer. Para se fazer presente na vida de Anna, Elisa deixa 18 presentes com diferentes significados para cada aniversário, que deverão guiar a filha até a idade adulta.
O Caderno de Tomy (2020), Carlos Sorin
María tem câncer nos ovários já em estágio terminal. Sem alternativas médicas, ela aguarda o momento da morte. Enquanto isso, decide fazer reflexões sobre a vida e relembra os momentos em família em um caderno de anotações que pretende deixar para o filho. Sua esperança é que seu legado, por meio das palavras, acompanhe o menino durante sua vida.
Se algo acontecer… Te amo (2020), Michael Govier e Will McCormack
Curta-metragem de 13 minutos, que narra o drama de um casal após a perda de um filho. Um mergulho em um abismo de emoções, que traz à tona lembranças alegres e, ao mesmo tempo, dolorosas demais para serem encaradas. Como superar uma tragédia tão grande? Como reconstruir as pontes que se desfizeram? Como colar os cacos de um relacionamento quebrado pela partida de um filho?
Milagre na Cela 7 (2019), Mehmet Ada Öztekin
Remake do filme coreano de 2013, “Milagre na Cela 7” conta a história de Memo, um homem com deficiência intelectual que possui uma filha de 6 anos, Ova. As vidas de ambos são destroçadas quando ele é acusado injustamente pela morte de outra menina, filha de um oficial de alto escalão. Memo é sentenciado à morte, mas antes é enviado para a prisão. Ova passa a ser criada pela avó, mas deseja desesperadamente conviver novamente com o pai.
Perfeita Pra Você (2018), Stephanie Laing
Abby e Sam se conhecem desde crianças e estão juntos há muitos anos. Após ser diagnosticada com um câncer terminal, Abby inicia a missão de encontrar uma companheira para substituí-la à altura. Com ajuda de seus amigos do grupo de apoio aos pacientes com câncer, Abby ainda irá traçar o caminho de aceitação para o que o destino lhe reserva.
Marley & Eu (2008), David Frankel
John e Jenny se casaram recentemente e decidiram se mudar para a Flórida, onde o clima é mais ensolarado. Quando Jenny demonstra desejo de ampliar a família, John pede a um amigo conselhos sobre como distraí-la. A sugestão do colega é de que o casal adquira um cachorro. E é aí que entra Marley, um cão indisciplinado e travesso, que acaba se tornando o foco central de crônicas escritas por John no jornal em que trabalha. A coluna acaba se tornando um sucesso e tornando pública a história de amor da família por seu cão.
Meu Primeiro Amor (1991), Howard Zieff
Vada Sultenfuss é uma menina de 11 com uma mentalidade poética muito adiantada para sua idade e uma certa obsessão pela morte. Seu pai é Harry, um agente funerário viúvo há anos. Seu melhor amigo é Thomas, que alimenta um amor platônico por Vada, enquanto ela acredita ser apaixonada por seu professor de literatura, décadas mais velho. Quando Harry se apaixona pela maquiadora Shelly DeVoto, Vada não irá aceitar nada bem a chegada dessa estranha em sua vida.
Se você acha que 1 milhão de dólares é muita coisa, saiba que para a produção de um filme isso não é nada. Pelo menos em Hollywood, onde os investimentos da indústria cinematográfico são monumentais e, para conseguir bons lucros, é preciso ter um roteiro promissor, um diretor visionário e uma aplicação financeira altíssima. O trabalho fica, sobretudo, nas mãos do produtor, que precisa negociar com o estúdio a quantia e acertar os gastos com o diretor. Algumas das obras mais importantes que conhecemos do cinema tiveram inúmeros problemas relacionados aos orçamentos e acabaram estourando a quantia estipulada pelo estúdio. Por mais que a gente acredite que a grana investida nos filmes são mais que suficientes, a realidade é outra. Para concretizar tudo que é preciso para que o filme fique perfeito, é mesmo necessário muito dinheiro. Aqui estão as obras mais caras da história da Netflix. Destaques para “Agente Oculto”, de 2022, Anthony Russo e Joe Russo; “Alerta Vermelho”, de 2021, de Rawson Marshall Thurber; e “O Irlandês”, de 2019, de Martin Scorsese. Os títulos estão disponíveis na Netflix e organizados de acordo com o mais caro para o menos.
10
Army of the Dead: Invasão em Las Vegas (2021), Zack Snyder
Um comboio militar norte-americano carregado de zumbis deixa a Área 51 e colide com um carro na saída de Las Vegas. Os zumbis escapam, depois matam e contaminam diversos soldados antes de irem em direção à cidade, onde também infectam a maior parte da população. Após o fracasso de uma operação militar, o governo decide isolar Las Vegas. Mesmo diante do caos, um grupo de mercenários decide se unir para realizar um assalto a um cassino.
9
O Céu da Meia-Noite (2020), George Clooney — US$ 100 milhões
Augustine é um cientista moribundo que opta por permanecer sozinho em um observatório do Círculo Ártico, quando um incidente deixa a Terra inabitável e os humanos precisam se esconder em abrigos subterrâneos. É 2049, quando Augustine descobre uma jovem escondida no observatório. Juntos, eles partem pelo terreno inóspito e perigoso para alcançar um satélite e tentar se comunicar com uma nave espacial que está retornando à Terra. Augustine quer avisar a tripulação que eles não podem fazer o retorno. A nave está voltando de um planeta chamado K-23, que foi descoberto graças a uma pesquisa original de Augustine. O local é habitável e o futuro da humanidade pode depender da tripulação.
8
Bright (2017), David Ayer — US$ 106 milhões
Em uma Los Angeles distópica, orcs e elfos existem junto a humanos. Os policiais Daryl Ward e Nick Jakoby convivem com os perigos que é ser policial em uma comunidade cheia de tensão entre as espécies. Jacoby é o primeiro orc a servir na força de segurança e praticamente todos os oficiais humanos o querem fora dali. Enquanto isso, os orcs o consideram um traidor. Até que os policiais tropeçam em um “Brilhante”, uma espécie de mago com uma varinha mágica na mão. A varinha é uma arma poderosa capaz de conceder qualquer desejo. Então, se inicia uma guerra entre humanos, orcs, policiais corruptos e elfos e uma corrida para colocar o “Brilhante” em segurança.
7
A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas (2021), Michael Rianda e Jeff Rowe — US$ 110 milhões
A tecnologia criou um abismo entre Katie e seu pai, Rick. Enquanto ela produz vídeos virais para o YouTube, o pai não tem ideia de como usar um smartphone. Além disso, as personalidades de ambos são bem diferentes. Katie planeja estudar cinema e seguir seus sonhos, já o pai pertence a uma geração que não sabe como expressar seus sentimentos. Para se aproximar da filha, Rick decide que toda a família irá levar Katie até a faculdade para uma última viagem juntos. No meio do caminho, um estranho evento apocalíptico fará com que robôs decidam dominar o mundo.
6
Operação Fronteira (2019), J.C. Chandor — US$ 115 milhões
Cinco amigos, que são ex-agentes das forças especiais norte-americana, se unem para derrubar um traficante sul-americano do cartel mais violento do mundo. A ação não tem o respaldo do governo e será realizada, principalmente, por interesses financeiros. Quando uma série de acontecimentos fora do esperado são desencadeados, a lealdade entre eles será testada.
5
Legítimo Rei (2018), David Mackenzie — US$ 120 milhões
O filme histórico retorna ao século 14, na Escócia, quando Robert the Bruce lidera um levante contra o domínio inglês. Em uma batalha de Davi e Golias, Robert the Bruce quer romper com o acordo que fez com o rei Eduardo I e reivindicar o trono. Mesmo com um exército menor e menos equipado, a empreitada do líder escocês é adornada por vitórias e fracassos.
4
Esquadrão 6 (2019), Michael Bay — US$ 150 milhões
Um bilionário e filantropo decide fingir sua própria morte e convocar seis pessoas de diferentes partes do mundo para formar um esquadrão. Cada vigilante tem um talento especial e eles são escolhidos pelo desejo de abandonar o passado para se tornarem “fantasmas”. A equipe planeja atacar o regime ditatorial do Turgistão, promover a revolução no país e colocar um novo presidente no poder.
3
O Irlandês (2019), Martin Scorsese — US$ 160 milhões
Na Pensilvânia, no ano de 1956, Frank Sheeran é um veterano de guerra de origem irlandesa que trabalha como motorista de caminhão e acidentalmente conhece o mafioso Russell Bufalino. Após realizar alguns serviços ilegais para Bufalino, Frank se torna seu homem de confiança. Então, Bufalino envia Frank para Chicago com a tarefa trabalhar como guarda-costas de Jimmy Hoffa, um poderoso líder sindical relacionado ao crime organizado. Frank mantém uma amizade íntima por quase 20 anos com Hoffa, que desaparece em 1975.
2
Alerta Vermelho (2021), Rawson Marshall Thurber — US$ 190 milhões
Um alerta vermelho em busca de uma criminosa habilidosa é emitido pela Interpol e o agente do FBI John Hartley assume a dura missão. Ele terá de capturar a ladra de arte mais procurada do mundo, Sarah Black. Em sua jornada global para conseguir pegá-la, terá de se unir e se aventurar com um poderoso ladrão de artes, Nolan Booth.
1
Agente Oculto (2022), Anthony Russo e Joe Russo — US$ 200 milhões
O Agente Oculto é o agente da CIA Courtland Gentry, codinome Sierra Seis. Ele foi retirado de uma penitenciária federal e recrutado por Donald Fitzroy. No passado, Gentry foi um habilidoso ‘negociante da morte’, mas agora ele é o alvo. Lloyd Hansen, um antigo colega da CIA, inicia uma perseguição global para destruí-lo. Gentry vai precisar de ajuda, e a agente Dani já está pronta para defendê-lo.
Informações Revista Bula