Por Djalma Andrade
Psicólogo/Neuropsicólogo
Que grito foi esse? Não se trata de “que tiro foi esse”, mas de que grito foi esse: “comunidade, venha testemunhar a honra ou desonra da polícia do estado da Bahia”. Eis o grito de ordem do policial, na tarde desse domingo, 28,03, no farol da barra, ponto turístico de Salvador.
Que grito foi esse? Infelizmente o grito já foi silenciado pelo diagnóstico, surto! A psicologia social nos ensina que em qualquer categoria ou ordem social, sempre vai se erguer alguém para denunciar um sistema, mas o próprio sistema abafa sua voz através de diagnósticos direcionados, o surtado, o louco.
Que grito foi esse? O diagnóstico já dado não me tira seu alto e bom som, seu barulho estridente ainda ecoa em meus ouvidos. Em minha análise, não se diz de um grito de um surtado, mas do grito de socorro de uma categoria, a polícia militar da Bahia. Ao cobrir a face com tinta, o policial do farol da barra deixa claro que não fala em nome de si, mas de uma categoria, não há identidade, há morte psicológica diariamente.
Que grito foi esse? É o grito do policial do farol da barra que, lucidamente, escolhe o principal ponto turístico da cidade, é o contraste social, a realidade, a vida diária de tortura psíquica do policial sendo posta no palco principal da cidade, o farol da barra. A mensagem é clara e objetiva, vejam!
Que grito foi esse? É o grito do policial do farol da barra, abatido pelos próprios colegas de profissão, porque também estão abatidos pela humilhação das remunerações, pelas desvalorizações, pelas exposições de suas vidas, pelas incertezas de retorno para casa. É como canta o Rappa: “também morre quem atira”, quando não a morte física, a morte psicológica.
Que grito foi esse? É o grito do policial do farol da barra que sobe no palco principal para rasgar o silêncio dos colegas que velam suas próprias mortes psíquicas nas madrugadas sombrias, geralmente em um lar sem conforto, na periferia dos transtornos mentais que o medo e o risco à vida impõem. Que grito foi esse?
Eu já contei aqui para vocês a história de quando, no começo do escritório, sem entrar honorário nenhum, eu passei bastante dificuldade.
Eu morava num quarto alugado, cujo único outro cômodo era um banheiro.
No momento mais crítico, após meses sem receber nada, minhas reservas acabaram.
Olhei para a conta corrente e o saldo era de apenas R$ 200,00.
200 fucking pratas.
Eu precisava pagar aluguel, a parcela do financiamento do carro e fazer feira — como a maior parte dos brasileiros.
Não tem como. É matemática.
Claro que bateu medo. E eu só pude rezar — uma das orações mais sinceras da vida — abandonando-me e pedindo uma solução para não ter que arrumar as malas.
Providencialmente, nos dias seguintes, um cliente (já esquecido até) apareceu e nos pagou e eu pude me virar por mais uns dois meses.
Eu não me envergonho disso. Pelo contrário, hoje conto isso com orgulho, porque faz parte de mim.
É o que me ajuda a não esquecer de onde vim e a ter empatia pelos outros que passam por essa situação.
É fácil defender lockdown quando você tem salário certo no fim do mês e pode fazer paralisação — como a maioria dos agentes públicos e burocratas que só vivem reclamando de “receber pouco”.
É fácil defender lockdown quando você é nascido em berço de ouro, mora em apartamento chique e “fica em casa” pedindo sushi e tomando vinhozinho enquanto assiste série na Amazon Prime.
O seu vinhozinho vai pagar o aluguel da dona Maria?
O seu sushi vai comprar a feira do seu João?
Algum burocrata vai doar o seu salário para ajudá-los?
Fala-se tanto em “efeitos colaterais” de remédios, mas não se pensa nos efeitos colaterais dessas medidas que também afetam pessoas.
Você não pode dizer que está cuidando de uma doença e, do outro lado, matar a pessoa de desemprego, miséria e fome — no fim, qual foi a vida que você conservou?
Então, não seja tão rápido para julgar as pessoas que precisam trabalhar.
Se a vida foi mais fácil para você, seja grato, mas não as julgue por elas não engolirem medidas desastrosas que acabam a vida delas, mas não arriscam nada da sua aí.
Tenha empatia.
Elas têm bocas para dar de comer e são mais vítimas dos dissabores da existência do que você.
Por Joilton Freitas
A luz artificial da lâmpada exerce um poder de atração irresistível sobre a mariposa. Culpa da natureza que a fez nessa condição. Eu não sei ao certo por que isso acontece. Por que exatamente a lâmpada e, não a luz, tem esse poder sobre esse tipo de inseto?
Se a lâmpada exerce esse fascínio sobre a mariposa, o mesmo acontece com o poder sobre os humanos. Pelo menos para a maioria da raça humana, que caminha com passos de formiga e sem vontade.
O poder é tão atraente, que até quem odeia quem está no comando central, quer participar dele. Nem que seja por poucos dias. Ninguém vai para o poder pensando em roubar. Alguns, sucumbem ao canto da sereia depois que sentem o sabor do poder e aí que vem a corrupção. As pessoas buscam o poder por vaidade, simples assim.
Veja o que aconteceu com Sérgio Moro, juiz federal com uma carreira brilhante. Deixou tudo para trás para se aventurar como ministro de Bolsonaro. Um homem que ele não conhecia e não tinha a mínima noção do seu temperamento na intimidade. E que, na verdade, secretamente desprezava. Isso fica evidente no vídeo divulgado pelo presidente depois da sua saída da pasta da Justiça. Bolsonaro, ainda deputado, foi cumprimentá-lo no saguão do aeroporto de Brasília, Moro o deixou com a mão estendida.
Mas a médica Ludhmila Hajjar é um caso quase que patológico pelo poder. Médica renomada do Sírio-Libanês, ela não resistiu à atração exercida pelo poder. O foco era o cargo de Ministra da Saúde no lugar de Pazuello. Seria mais um caso de amor pelo poder, não fosse o desprezo que Ludhmila reserva ao presidente. Ela foi para reunião de entrevista com o chefe do Executivo em busca do cargo. E logo depois da sua saída, o presidente recebe um áudio da pretensa ministra. Nele, a médica mostra toda a sua ojeriza ao presidente. O mínimo que ela o chamou foi de psicopata. Por isso, a médica foi descartada.
Mas Hajjar não se fez de rogada. Saiu contando o tipo de conversa que teve na reunião com Bolsonaro e alegou que foi ela quem não aceitou o cargo.
Se ela não queria ser ministra. Por que foi para a reunião de emprego com um homem que ela despreza?
Sorte do presidente. A julgar pelo seu comportamento, a vida dela na Esplanada dos Ministérios seria bem curta. E o pior: sairia atirando. Como a mariposa que tenta agarrar a lâmpada sem conseguir, Ludhmila também não deu o bote no coelho esperto que se tornou Bolsonaro.
Prof. frei Jorge Rocha, ofmcap.1
Nos últimos tempos, após decreto e decretos, sempre se escuta a expressão “atividade
essencial”. É natural que se esboce em cada cidadão a seguinte pergunta: o que é atividade essencial e onde encontrar uma definição segura? Numa análise preliminar, entende-se como “essencial” aquilo que caracteriza o básico para subsistência da vida humana. E a pergunta poderia se desdobrar: o que é essencial para a vida humana? É bom parar por aqui, a fim de não se cair num tautologismo infinitivo dos porquês, mas é preciso continuar refletindo e fazer um breve esboço.
Numa tentativa de conceitualização, a partir do prisma jurídico, uma luz se lança através do Decreto Federal 10.282 de 2020, que afirma: “[essenciais] são aqueles indispensáveis
ao atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade, assim considerados aqueles que, se não atendidos, colocam em perigo a sobrevivência, a saúde ou a segurança da população” (§ 1o do artigo 3o do Decreto Federal). Mesmo não sendo um conceito absoluto, é um caminho na tentativa de compreensão.
A conceitualização jurídica não termina com a querela nem encerra a discussão sobre o que é, de fato, essencial, de modo especial em tempos pandêmicos. Ilustrando com algumas atividades em busca da essencialidade, entende-se, por exemplo, após as brigas
jurídicas e os devidos recursos nas referidas instâncias, que a atividade física é essencial, pois ela, segundo os especialistas, cria um equilíbrio entre o corpo e a mente, evita transtornos psíquicos, diminui os riscos de suicídio e, com isso, restabelece um nível de saúde elevado, sobretudo, em tempos de crise. Isso a tornaria indispensável na prática de uma vida sadia. Na mesma esteira, incluem-se os profissionais da chamada área psi, pois o cuidado com a mente gera pessoas equilibradas e, por conseguinte, homens e
mulheres com uma capacidade de intervenção social que gera relações de qualidade com um alto grau de empatia social.
Os comerciantes, incluindo os supermercados, requerem a primazia de também serem considerados como essenciais, por quê? Os integrantes destas áreas afirmam que o comércio, enquanto lugar, é o local de menor transmissibilidade, pois os cuidados de
1 Mestre em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma (Itália), Doutor em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica Argentina, Superintendente da Fundação Santo Antônio, Radialista e Apresentador. Professor na Universidade Católica do Salvador.
distanciamento social e da assepsia das mãos são observados com rigor. Sendo assim, o comércio torna-se um ambiente de impulso econômico e – quem diria – até um espaço de entretenimento. Ademais, o vigor do comércio estaria dando um suporte para garantir a vida pós-pandêmica e, por isso mesmo, o comercio é uma atividade essencial. Mesmo com tanto cuidado, comércio e supermercados não têm um passe livre para se sobrepor a quaisquer outras atividades. Tudo precisa ser moderado.
Por outro lado, a comunicação é, também, essencial, pois, como fica o povo sem informação? Uma boa informação é um veículo seguro através do qual começa a saúde, são dirimidas as dúvidas, dá dinamismo ao cotidiano pelo entretenimento. Notícia é conhecimento, é cultura; notícia é cidadania, é compromisso com a verdade, pois manter- se bem-informado gera a saúde mental durante a pandemia e, por conseguinte, dissemina uma rede de informação segura, distanciando-se das narrativas, das fake news e, aproximando-se dos fatos comprovados pela ciência, contribui na formação crítica de um
cidadão, formando um povo esclarecido e inibindo a ignorância. Ademais, conhecer a verdade é libertação, pois, “conhecereis a Verdade, e a verdade vos libertará” (Jo 8, 32).
O cuidado espiritual é indispensável em tempo de crise, portanto, é uma atividade essencial. O senso religioso contribui com este momento, sublinhando a fragilidade da vida e, por causa disso, uma maior preocupação com o outro, gerando uma empatia e uma interdependência, criando uma relação sadia com Absoluto que nos leva a abraçar a vida, pois, segundo o ensinamento bíblico, disse Jesus: “Eu vim para que todos tenham vida e vida em abundância” (cf. Jo 10,10). Por causa disso, abraçar a Deus é abraçar uma vida que não se acaba, uma vida com sentido que não se esgota na contingência da vida humana. Proteger a vida, na atual conjuntura, está mais para lockdown que para exposição.
A essencialidade do serviço espiritual não significa, necessariamente, manter os templos de portas abertas – ou entreabertas -, mas é um agir além fronteiras e estruturas físicas. Vital na Igreja, como disse o Papa Francisco, ‘é não se fechar e não se sentir satisfeita com o que já conquistou’. Ela [a Igreja] é além dos seus templos, pois a Igreja é um Mistério, Tenda de Deus no meio do mundo, Tabernáculo do Eterno, onde o Espírito de Deus veio morar. Para compreender isso, é preciso perceber que a fé exerce mais que um papel fundamental como fator de equilíbrio psicoemocional, mediada pela Igreja. O estar na Igreja, presencialmente ou através das diversas plataformas de comunicação, contempla algo da natureza humana que só se encontra nesse ocular teológico, conforme nos lembra São Gregório Magno: “Deus coloca-se na posição de educar-nos durante toda a vida, quer curar-nos e fazer com que nos assemelhemos cada vez mais a Seu Filho; mas para isso é preciso começar a ver todas as coisas à luz de Deus”. Ver o mundo a partir de Deus, afirma o Santo Padre, o Papa Francisco, significa que: “Devemos olhar o nosso mundo com simpatia, sem medo, sem preconceitos e com coragem, como Deus olha para ele, sentindo como nossas as dores, as alegrias e as esperanças dos nossos irmãos; e daí anunciar com a vida e a palavra, e fazer ‘conhecer e amar Jesus e Maria’, com a criatividade de diaconias e obras de apostolado”.
A Igreja, nesse sentido, é um locus privilegiado que ilumina esse ocular. Na LG, n. 1, encontramos: A luz dos povos é Cristo: por isso, este sagrado Concílio, reunido no Espírito Santo, deseja ardentemente iluminar com a Sua luz, que resplandece no rosto da Igreja, todos os homens, anunciando o Evangelho a toda a criatura (cfr. Mc. 16,15). Mas porque a Igreja, em Cristo, é como que o sacramento, ou sinal, e o instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o género humano, pretende ela, na sequência dos anteriores Concílios, pôr de manifesto com maior insistência, aos fiéis e a todo o mundo, a sua natureza e missão universal. E as condições do nosso tempo tornam ainda mais urgentes este dever da Igreja, para que deste modo os homens todos, hoje mais estreitamente ligados uns aos outros, pelos diversos laços sociais, técnicos e culturais, alcancem também a plena unidade em Cristo.
É bem verdade, que muitos outros grupos poderão requerer a primazia da essencialidade em tempos pandêmicos. Isso nos leva a crer que essencial poderá percorrer, pelo menos, dois caminhos: é um conceito objetivo quando preconiza que é aquilo sem o qual o ser humano seria menos ser humano, isto é, é um movimento básico que impulsiona e dinamiza a vida humana. Porém, por outro lado, é um conceito subjetivo, pois a vida humana não é previsível e as necessidades variam de acordo com o ritmo de cada existência humana. As dores e os desejos são os mais variados, como também as vitórias e as derrotadas são encaradas a partir do ocular de cada um. Deve-se, portanto, a partir daquilo que se conceitua como essencial (objetivo), contemplar as individualidades, valorizando as alteridades. Irrenunciável mesmo é perceber que a vida é “dom e compromisso” e precisa ser protegida por todos, antes, durante e pós-pandemia num eterno “é tempo de cuidar”.
Uma epidemia que já existia antes da covid-19 agora caminha lado a lado com a pandemia de coronavírus e preocupa autoridades e especialistas na área de saúde mental: os transtornos mentais, como depressão e ansiedade, estão impactando a população e poderão colapsar o sistema de saúde, atingindo, inclusive, a economia brasileira nos próximos anos.
O alerta amarelo surge em pesquisas realizadas por universidades e associações, durante a pandemia, e também nos dados mais atuais da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho. Em 2020, o órgão confirmou recorde de 576,6 mil concessões de auxílio-doença e aposentadorias por invalidez devido a transtornos mentais e comportamentais. Os números são 26% a mais do que os registrados em 2019. Nos dois benefícios, os registros do primeiro ano da pandemia são os maiores da série histórica, iniciada em 2006.
No auxílio-doença, os afastamentos por transtornos mentais, como depressão e ansiedade, tiveram aumento de 33,7%, passando de 213,2 mil, em 2019, para 285,2 mil, em 2020. A alta dos pedidos de auxílio-doença por transtornos mentais superou aquela que costumava ser a campeã da lista: lesões causadas por fatores externos, como acidentes. Já o número de aposentadorias por invalidez concedidas em decorrência de problemas mentais subiu de 241,9 mil para 291,3 mil de 2019 para 2020, um aumento de 20,4%.
Por: GZH Saúde
Depois de muito tempo, o mundo parecia caminhar bem. Os EUA chegaram a um apogeu econômico nunca antes experimentado na sua história e sem fazer guerra. O Oriente Médio, depois da queda de vários ditadores, experimentava uma tranquilidade quase que normal, a exceção continua sendo a Síria. O conflito entre judeus e palestinos foi arrefecido. Na Europa, o partido Conservador inglês venceu de maneira esmagadora os Trabalhistas. Na América do Sul, a eleição do conservador Bolsonaro deu esperança ao Brasil – que teve 30 anos de governos de centro e esquerda – de poder escrever uma nova história.
Mas da Ásia veio a tempestade: O coronavírus! A princípio o mundo ocidental não acreditava na terrível ameaça que vinha da China. A OMS, uma organização que se preocupa mais com a geopolítica do que com a saúde mundial, estava perdida e continua até o momento. Os governos não sabiam que atitude tomar diante de uma ameaça desse tamanho e de nível global.
Mas no caos existe oportunidade, diz Sun Tzu, no livro A Arte da Guerra. Foi pensando nisso que a esquerda, a extrema mídia, intelectuais e artistas desse lado do planeta vislumbraram a oportunidade de tirar do poder Donald Trump, EUA, e Bolsonaro, no Brasil. Presidentes declaradamente conservadores e liberais.
Nos EUA e no Brasil foram montados planos para desgastar os dois presidentes. Donald Trump não foi reeleito, coisa muito rara nos Estados Unidos. No Brasil, Bolsonaro vive sob ataque diuturno da extrema mídia, do Congresso e principalmente do STF.
O STF vem há dois anos adentrando os poderes do Executivo e do Legislativo. A Suprema Corte tem violado a Constituição, a liberdade de expressão, de direitos individuais e humanos diante dos olhos passivos da imprensa e da sociedade.
A decisão monocrática do ministro Luiz Fachin, de anular todas as condenações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, faz parte desse plano. O veneno usado nos Estados Unidos contra Trump, parece não funcionar contra Bolsonaro. Mesmo diante dos ataques, a sua base eleitoral continua muito forte. Todas as pesquisas mostram o atual presidente caminhando para uma reeleição. Dos nomes colocados como possíveis candidatos para presidente nas eleições de 2022, Lula é quem tem alguma chance de derrotar Bolsonaro. O STF, passando por cima da Constituição, deu super poderes aos governadores, que roubam o dinheiro da saúde e que impõem restrições e toque de recolher a população. O STF sabe que as manifestações estão proibidas. Que a população não pode sair às ruas para manifestações. Foi diante dessa tempestade perfeita que Fachin anulou as condenações de Lula, um homem que comandou o maior assalto aos cofres da nação que se tem notícia.
O Brasil viveu períodos de ditaduras no século XX: Estado Novo, com Getúlio Vargas e a Ditadura Militar. Foram tempos difíceis. A livre expressão do pensamento era reprimida com prisão, tortura e até a morte. A partir dos anos 80, o Brasil voltou a ser um país democrático. Tivemos vários governos eleitos pelo povo. Esses governos enfrentaram uma oposição dura e combativa. Uma imprensa que passou a ser mais vigilante e mais crítica. Mas tanto a imprensa, como a oposição, tinham uma certa ética e um certo glamour. E mesmo os presidentes que foram afastados dos seus cargos tiveram uma vida fácil depois de perderem o poder, veja como é a vida de Collor e Dilma. Por que para tudo era encontrado um feliz meio termo? Porque o mecanismo estava satisfeito. Empreiteiros, banqueiros, imprensa, centrais sindicais, intelectuais, ONGs e artistas sugavam os recursos do Estado e fechavam os olhos para a corrupção que quase destruiu a nação.
Eis que chega ao poder Jair Messias Bolsonaro. Um deputado do “baixo clero”, sem meias palavras e com uma proposta conservadora/liberal e de combate à corrupção. Essa foi e continua sendo a agenda do presidente. Ninguém pode dizer que nos últimos dois anos teve corrupção no governo. As reformas estão caminhando e não avançaram mais por conta do Congresso Nacional.
Mas nenhum presidente enfrentou ataques tão ferozes como Bolsonaro. Por que? Voltamos a ele: O mecanismo. Quando Bolsonaro trancou as portas do cofre, ele fez um inimigo poderoso. Entranhado nas estruturas do país há tanto tempo, o mecanismo tem reagido de forma a derrubar o governo legitimamente eleito.
Os ataques diuturnos por parte da grande mídia, dos intelectuais e artistas servem como caixas de ressonância do sistema.
Com a pandemia, os abutres agradeceram a Deus pela tempestade perfeita. Passaram a culpar o presidente por tudo, até pela existência do vírus. STF, governadores, a grande mídia e a oposição se juntaram para o golpe final. O problema é que Bolsonaro tem o couro duro. Não se curva. Continua indo para cima. Mesmo com os constantes ataques, a sua popularidade sofreu poucos arranhões. Prova disto, é que a pesquisa do Instituto Paraná divulgada na última quinta-feira (04) mostra ele como favorito para 2022. A vacina está chegando, em breve, a vida voltará ao normal e o mecanismo vai continuar agonizando!
Por: Taiguara Fernandes de Sousa
“Vamos: o que podemos fazer para ter meu lockdown? Esses merdinhas estão muito desobedientes. Precisam voltar ao controle”.
Uma mesa de técnicos começou a expor os dados e a falar sobre como o costume nocivo de as pessoas comerem sem máscaras aumentou o contágio.
“Absurdo. Tem que comer de máscara”, disse o governador.
Trouxeram uma listinha de atividades. Bastava marcar um “x” para proibir.
“É, precisamos mostrar que somos duros… Fizemos vista grossa no Carnaval, eles já tiveram a putaria… É hora de acabar com essas férias! Que tal os restaurantes?”
Agora não. Os donos fariam barulho e as pessoas estavam gostando. Precisavam de mais um medinho antes disso.
“Tudo bem, tudo bem. Indústrias?”
Mas havia os impostos. Tinham que sanar umas contas antes de jogar o restante para o Governo Federal se virar.
“Certo. Na próxima… Ah, as igrejas! Sim”.
Indagaram se isso não traria oposição.
O governador gargalhou.
“Aqueles maricas! Não se preocupe. Eles nunca fazem nada, pagam de santinhos. E, se fizerem algo, sempre podemos dizer que eles… como falam? ‘Não vivem o amor’”.
Mas a Diocese mantinha alguns hospitais…
Gargalhou mais alto.
“Relaxe. Estão morrendo de medo da doença. Capaz de o Bispo mandar fechar antes da gente… Liga aí pro Dom”.
Tudo certo. O Dom apoiou. Ele estava trancado há meses e já até esquecera como era o mundo lá fora.
“Igrejas”, e marcou “x”.
“As praias? Sim. Os ambulantes não têm organização, não têm sindicatos, vão só chiar… Nem pagam ICMS! É bom que aprendem”.
Fechou.
Mais umas três atividades e tudo certo.
Alguém chegou com o relatório científico. O governador não leu.
“Muito grave, muito grave, mas seremos duros!”
E o tratamento precoce?
“Aqui trabalhamos com ciência, não com teorias da conspiração”.
Disseram que eram remédios antigos, já conhecidos…
“Sem comprovação!”
Mas um lobista trouxe uma vacina novíssima, criada ontem.
“Ah, a ciência! Queremos!”
O celular tocou.
“Oi, chuchuzinho”.
Era a filha de 15 anos. Hoje era o aniversário dela. 500 pessoas esperando na granja.
“Coloque o decreto para amanhã. Hoje tem essa festa da guria…”
Por Danillo Lisboa, psicólogo, doutorando e pesquisador do Laboratório de Processos de Subjetivação em Saúde da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP
Tem se tornado um jargão da atualidade a ideia de que todo mundo precisa de um psicólogo. Entre amigos, colegas e familiares, a necessidade de um acompanhamento psicológico tem sido posta à mesa das mais diferentes formas, geralmente, justificadas a partir de outros jargões, como: “Todo mundo tem um trauma a tratar”, “ninguém é 100%”, “todo mundo tem, nem que seja alguma coisinha, para falar para o psicólogo”. Mas será mesmo verdade que todo mundo precisa de um profissional da Psicologia? É claro que não. Ainda assim, por que estamos nos habituando com tanta tranquilidade a afirmar que “todo mundo precisa de um psicólogo”?
Com a ampliação do número de profissionais da Psicologia no Brasil, o uso corrente dessa ideia pode ter contribuído para aumentar a procura de pessoas pela clínica psicológica, especialmente, com a redução de preconceitos entre aqueles que acreditavam que psicólogo seria um profissional específico para pessoas enlouquecidas. Porém, o efeito colateral desse senso comum de que “todo mundo precisa de um psicólogo” tem revelado alguns prejuízos para a própria Psicologia, sobretudo, pelo raciocínio evidente de que: se todo mundo precisa, ninguém precisa.
Vejamos, se, ao invés do profissional psicólogo, afirmássemos: “Todo mundo precisa de um advogado”, quais efeitos isso teria? Seria um completo absurdo, isso porque, se todo mundo precisasse de um advogado, o que estaria em falha não seriam os direitos individuais, mas o próprio sistema de garantias de direitos. Uma outra situação se aplica ao caso da Medicina, se, de repente, afirmássemos: “Todo mundo precisa de um médico”, estaríamos revelando muito mais a ausência de saneamento básico, os problemas bacteriológicos, de saúde pública, virais, epidemiológicos, nutricionais, entre outros, do que de fato enaltecendo as contribuições da Medicina. No caso da Psicologia, o que parece é que, ao sustentar o jargão “todo mundo precisa de um psicólogo”, alguns profissionais se enveredam pelo canto da sereia generalizante que puxa cada vez mais a profissão para o fundo do oceano.
A Psicologia, enquanto ciência da subjetividade, precisa pôr em evidência as razões que sustentam os discursos engendrados no tecido sociocultural, a fim de tornar claro que na afirmação rotineira de que “todo mundo precisa de um psicólogo” há muito mais conteúdo dito do que gostaríamos de ouvir. Nas entrelinhas desse jargão, estamos também dizendo que todo mundo está adoecido psiquicamente e que, na atualidade, ninguém tem condições de ter saúde mental. A denúncia é importantíssima para compreendermos o nosso tempo, e é uma ilusão o psicólogo achar que ele detém a resposta que “todo mundo precisa” para resolver os males dessa era obcecada pelo desempenho e pela autoexploração. Aqui reside o canto da sereia que muitos profissionais têm preferido escutar.
Em parte, a ideia ingênua contida no jargão “todo mundo precisa de um psicólogo” encontra sustentação na cultura contemporânea do autoempreendedorismo, que convoca profissionais a criarem nichos de mercado a qualquer custo, e, também, no modelo biomédico presente no campo da saúde. Esse modelo, historicamente, tem privilegiado uma compreensão dos fenômenos de saúde-doença dentro de uma lógica individualizante, intrapsíquica, neuronal e biológica, isentando fatores sociais, políticos e culturais de questionamento, o que distancia a análise e correlações entre fenômenos sociais e necessidades clínicas.
Por isso, neste contexto, o mal-estar, por mais coletivo que seja, passa a ser visto como individual e cada um que procure um psicólogo de confiança para se “tratar”. É a lógica da clínica intrapsíquica e individualizante em sua capacidade pura de desconectar a necessidade existente do contexto em que ela surge, como se fosse possível uma doença surgir fora do contexto que a produz. Ao desconsiderar o contexto, o risco de culpabilizar o indivíduo por manifestar na pele os problemas de uma época pode ser ampliado.
Por isso, é preciso seriamente se perguntar: por que, hoje, todo mundo precisaria de um psicólogo? As contas não fecham. Ou a nossa sociedade está produzindo pessoas adoecidas psiquicamente ou estamos banalizando a potência de contribuição que a Psicologia poderia dar para o desenvolvimento de pessoas mais conscientes de si, de suas histórias e de suas possibilidades de transformação. E essas hipóteses podem atuar conjuntamente. No passado, no contexto educacional, a Pedagogia foi banalizada e usurpada por setores que buscaram minar suas importantes contribuições para a emancipação de pessoas. Agora, a Psicologia parece viver um processo muito semelhante de destituição de suas potências a partir da lógica de que “todo mundo precisa de psicólogo”, fenômeno que revela uma imposição determinista capaz de fazer ruir a própria subjetividade que a profissão almeja alcançar.
É preciso que os profissionais da Psicologia resistam ao canto da sereia de generalizar comportamentos passíveis de intervenção psicológica, como fazem os adeptos das fórmulas mágicas e receitas para tudo, e sustentem a subjetividade como eixo direcionador de suas intervenções, garantindo que cada pessoa alcance um reconhecimento pessoal do porquê procurar um psicólogo. Sem formular minimamente essa questão, nenhum processo terapêutico se inicia. Sem isso, é muito provável que a clínica da Psicologia caminhe para se tornar mais uma modinha do momento: “Porque todo mundo precisa”.
É claro que diferentes pessoas podem se beneficiar do acompanhamento psicológico com um profissional e isso pode vir a ser uma ajuda muito importante para a compreensão de si mesmo e para o movimento construtivo e reconstrutivo de questões subjetivas, feito que coloca a psicoterapia como um instrumento fundamental para o amadurecimento humano e uma grande contribuição para o desenvolvimento da saúde. Porém, se a lógica da atualidade é que todo mundo precisa de uma psicoterapia, estamos muito mais próximos da revelação do modo de funcionamento social do nosso tempo, cuja ênfase recai sobre o indivíduo, do que propriamente do papel potencial da psicoterapia para o desenvolvimento humano.
Se, diante da evidência de que o mundo não vai bem e de que as pessoas estão adoecendo psiquicamente, a cultura contemporânea tem adotado a estratégia de enfiar nos consultórios psicológicos, ou no de outras especialidades, os adoecidos que este tempo produz, justificando que “todo mundo precisa”, não estamos agindo na raiz do problema, apenas individualizando questões através dos compartimentos dos consultórios. Se é esse o anseio da atualidade na busca pela clínica psicológica, é preciso que os próprios profissionais da Psicologia, na honestidade da clínica, frustrem-no, contribuindo para que as questões individuais passem a ser comunitárias. Como afirmou o psicólogo Gilberto Safra (USP), muito do que as crescentes demandas clínicas da atualidade têm revelado é a urgente necessidade de reerguer um mundo comum onde o rosto humano possa ser reconhecido.
O espaço de uma clínica profissional especializada, cercada pela segurança de um consultório planejado e estruturado, não isentará ninguém de ver o mundo, pelo contrário, deve ampliar esse olhar. O mal-estar contemporâneo, mais do que nunca, vai além da individualidade historicamente privilegiada na compreensão dos fenômenos psicológicos e de saúde, e nos revela aspectos comunitários fundamentais para que o ser humano possa ter saúde. O mal-estar contemporâneo não poderá ser enfrentado transformando a clínica da Psicologia em lugar desmedido para todo mundo, pois é o mundo que precisa voltar a ofertar a hospitalidade necessária para que o ser se torne humano.
Ao invés de afirmar que “todo mundo precisa” de um determinado tipo de profissional/especialidade, poderíamos encaminhar nossos esforços para afirmar que todo mundo precisa de saúde e saúde mental para viver, utilizando conceitos mais amplos que nos coloquem em relação com o mundo comum em que vivemos, reivindicando que a Psicologia e os demais campos do conhecimento reconheçam que, na oferta de cuidado e saúde, o mundo comum é sempre maior do que a clínica de qualquer especialidade.
Jornal da USP
Por Taiguara Fernandes de Sousa
Não sei quem é. O texto não é sobre ela. Ou, talvez, seja sobre todos.
Na verdade, eu só queria refletir a respeito do interessante fenômeno social decorrente do BBB: as pessoas começaram a ver que a lacração é chata.
Lacrar não é normal. Era bonitinho para ganhar aplausos e receber um pouquinho de aceitação social que resolvia sua carência, mas não é o modo normal de viver.
A vida cobra suas contas e seus boletos. Ela exige resultados reais da mesma forma como possui problemas reais.
Não existe uma dívida cósmica com você: na verdade, a maior parte das pessoas no mundo, sua quase totalidade, sequer sabe que você existe.
Quando a lacração trazia seguidores, curtidas e carinho afetivo, ela era interessante.
Mas esse BBB teve um mérito: mostrou como seria uma comunidade de pessoas lacradoras vivendo juntas.
E ninguém agüentou.
Há coisas que as pessoas só compreendem depois que vêem, porque, então, podem imaginá-las.
E elas começaram a imaginar: “e se isso fosse a regra geral?”
Houve um embrulho inconsciente no estômago.
E o sentimento foi descarregado nos participantes: “ei, isso não legal; isso não é a vida verdadeira e ninguém aqui vive assim”.
O resultado foi que até os companheiros de lacradas aqui fora começaram a negar os antigos parceiros: “eles não nos representam”.
Mas não representavam até ontem?
Os aplausos da lacração são ilusórios até nisso: não são sinceros.
Carência louva carência e retira o seu louvor tão rápido quanto o gozo passa.
E os participantes? Esses são os mais perdidos nisso tudo.
Eles estavam acostumados a fazer aquilo e a ser louvados em seus próprios perfis.
Era seu mundo: seu único mundo, onde eles definiam as regras e recebiam os aplausos por isso.
Então, foram convidados para outro ambiente de glamour e atenção. Pensaram: “qual o problema? É só continuar a fazer o que já fazíamos”.
Mas não era, porque, enquanto cada um criava seu mundinho artificial, ali todas essas artificialidades se chocaram e não puderam subsistir.
Glamour, aplausos, lacração: tudo é fugaz.
Tão fugaz que eles mesmos ficam sem entender depois que voltam para cá.
Para nós, pelo menos, isso serve como uma lição prática.