Por: Josias de Souza/UOL
ACM Neto ofereceu à crônica política uma cena de desequilíbrio explícito. Rodou a baiana nas redes sociais. “Considero lamentável a aceitação, pelo deputado João Roma, do convite do Palácio do Planalto para assumir o Ministério da Cidadania“, anotou o presidente do DEM. “A decisão me surpreende porque desconsidera a relação política e a amizade pessoal que construímos ao longo de toda a vida.”
João Roma já foi filiado ao DEM. Trabalhou como chefe de gabinete de ACM Neto na prefeitura de Salvador. Hoje, é um deputado federal inexpressivo dos quadros do Republicanos, partido do centrão que levou seu nome ao balcão aberto por Bolsonaro. Nesse contexto, o piti do pajé do DEM é esquisito e desconexo.
A esquisitice está na presunção de que o vínculo com ACM Neto faria soar um alarme na porta giratória que Bolsonaro instalou na Esplanada. A falta de nexo decorre do fato de que o DEM convive gostosamente com dois filiados que integram a equipe do capitão: Tereza Cristina e Onyx Lorenzoni. Por que implicar com o apadrinhado de legenda alheia?
A reação de ACM Neto ganhou contornos cenográficos com o seguinte comentário: “Se a intenção do Palácio do Planalto é me intimidar, limitar a expressão das minhas opiniões ou reduzir as minhas críticas, serviu antes para reforçar a minha certeza de que me manter distante do governo federal é o caminho certo a ser trilhado, pelo bem do Brasil.”
A importância que ACM Neto atribui a si mesmo é um bom mote para alimentar conversas em rodinhas de políticos e jornalistas. Mas o tema parece tão relevante para o futuro do Brasil quanto a cloroquina para a cura da Covid.
Numa entrevista publicada pela Folha há nove dias, perguntou-se a ACM Neto se descartava a hipótese de o DEM fechar com Bolsonaro em 2022. E ele: “Nós não estaremos com os extremos. Você pergunta se eu descarto inteiramente a possibilidade de estar com Bolsonaro. Neste momento não posso fazer isso.”
ACM Neto não pode tomar distância de Bolsonaro porque a maioria da bancada federal do partido que supõe comandar alistou-se na tropa legislativa do capitão. Serviu-se das verbas e dos cargos que bancaram a eleição do líder do centrão Arthur Lira à presidência da Câmara. O piti do amigo do novo ministro João Roma cai como uma cereja sobre o bololô produzido por Bolsonaro na seara inimiga.