Artigo por Rodrigo Daniel Silva para o Correio
Prefeito por quatro vezes da Princesinha do Sertão, ele vai tentar o quinto mandato no pleito deste ano
Ex-prefeito de Feira de Santana, José Ronaldo de Carvalho Crédito: Evandro Veiga/Correio
Era uma terça-feira como outra qualquer quando o adolescente José Ronaldo de Carvalho, com apenas 17 anos, desembarcou sozinho em Feira de Santana e encontrou abrigo em uma pensão na Praça Monsenhor Renato Galvão. Mais de meio século se passou, e na mesma localidade e dia da semana, o agora homem maduro e experiente anunciou sua pré-candidatura para o quinto mandato como prefeito da cidade.
De 2001 para cá, Zé Ronaldo, como é conhecido, tem sido o principal ocupante da cadeira do Executivo municipal. Quando não estava no cargo, alguém indicado por ele assumiu a posição. Ele tornou-se um verdadeiro fenômeno eleitoral no segundo maior município do estado. É só a sua foto aparecer nas urnas que boa parte do eleitorado feirense vota nele, seja quando disputou para vereador, prefeito, deputado, senador e até mesmo para governador.
Nascido em Paripiranga, ele chegou em terras feirenses para estudar e de lá nunca mais saiu. No dia 8 de junho, ele vai completar 50 anos morando na mesma casa na Rua Barão do Rio Branco, onde, inclusive, construiu um escritório em cima da garagem para receber as pessoas. “Madrugeiro”, acorda às 5h da manhã já fazendo exercícios físicos e fica de pé até 23 horas. Fazendo o quê? Conversando, conversando e conversando. Para os aliados e os adversários políticos, a capacidade “inesgotável” de dialogar é um diferencial de José Ronaldo.
“Ele procura convencer. Ele tem uma capacidade de fazer isso que é impressionante. Não conheço político que dialogue tanto. Ele gosta de conversar com as pessoas. O relacionamento com os políticos do interior, vereadores, é impressionante. Ele faz isso com satisfação, alegria. É uma característica dele”, disse o ex-governador Paulo Souto.
No período em que Souto esteve no governo, José Ronaldo foi o líder do governo na Assembleia Legislativa da Bahia (Alba). “Ele foi muito bom como líder no momento em que a oposição era aguerrida. As pessoas ficam dizendo que na época de ACM fazia tudo o que queria. Naquela época (governar), era muito mais difícil do que hoje”, ressaltou.
Ex-governador da Bahia sobre o amigo pessoal e aliado político José Ronaldo
“A força eleitoral de José Ronaldo é um dado objetivo. Não dá para negar a realidade. Ele tem um estilo de política do boca a boca, do aperto de mão. Um estilo um pouco diferente. Não é um político ‘bocó’. Para quem é adversário, que me incluo, é perigoso no sentido de ser forte”, declarou o historiador Clóvis Ramaiana.
Souto disse ainda que, além do potencial para dialogar, Zé Ronaldo também é habilidoso como gestor. Para ele, o aliado é seguidor da cartilha do grupo oposicionista no estado que concilia investimentos com responsabilidade fiscal. Para os críticos, Zé Ronaldo faz muitas obras, mas tem pouco olhar social. O que ele rechaça e diz que, quando prefeito, ampliou postos de saúde, Centro de Referência da Assistência Social (Cras) e criou políticas públicas para atender a grupos com vulnerabilidade social.
Foi pelas mãos do amigo paripiranguense Faustino Dias Lima, que foi secretário em Feira de Santana e deputado estadual, que José Ronaldo entrou para o mundo da política. Por indicação, ocupou cargos na administração de João Durval, mas sem grandes projeções.
Na década de 1980, elegeu-se para vereador da Princesinha do Sertão, mas foi derrotado na primeira vez que disputou o cargo em 1976. Naquela época, ele era secretário do PDS e o correligionário Vavá Machado pediu para inscrevê-lo como candidato à Câmara Municipal apenas para fortalecer a chapa proporcional da sigla. Zé Ronaldo, que não tinha pretensões de ser eleito, disse que passou a buscar votos para não ficar conhecido como “o candidato 0 voto”.
“Eu não tinha sequer santinho. Eu pegava um pedaço de papel e escrevia de caneta o meu número. Eu tive 986. O último vereador teve 1008 votos. Faltaram pouquíssimos votos para eu me eleger. Foi uma experiência incrível, eu vi que dava para a política. Eu vi que era bom de voto. Na eleição seguinte, eu tive em torno de 5 mil votos e me elegi, o segundo colocado teve aproximadamente 1,5 mil”, afirmou.
Mas, após aquela derrota que nunca se apagou da sua memória, só foi galgando novos cargos. Depois de ser vereador, chegou à Alba e ficou até ser eleito deputado federal. Em Brasília, ficou pouco tempo porque renunciou depois de ser eleito prefeito de Feira em 2000. José Ronaldo ainda venceu a disputa para ser gestor da Princesinha do Sertão nas eleições de 2004, 2012 e 2016. Nos anos em que foi proibido pela legislação de concorrer ao posto, apoiou os aliados políticos,Tarcízio Pimenta e Colbert Martins. Ambos venceram.
Em 2010, Zé Ronaldo foi candidato a senador. Perdeu, mas quem disse que em Feira foi derrotado? Lá foi o mais bem votado com 214 mil votos, muito à frente dos eleitos Walter Pinheiro e Lídice da Mata. Em 2018, a história se repetiria. O ex-prefeito perdeu, quando foi postulante a governador, para Rui Costa (PT), mas venceu em Feira com 51% contra 46%.
“Foi a eleição mais difícil da minha vida. Fui um candidato que entrei aos 54 minutos da prorrogação do 2º tempo”, relembrou. Zé foi candidato naquele ano após o então prefeito de Salvador, ACM Neto (União Brasil), decidir permanecer no cargo.
Quem conhece Zé Sertão, como é chamado pelos amigos, diz que ele é viciado em política. Casado com Ivanete Rios, com quem tem três filhos, muitas vezes sacrificou a vida pessoal por causa da vida política.
Em 2022, quando foi um dos coordenadores da campanha de ACM Neto, viajou por todos os cantos do estado. Um dia caiu no choro, dentro do carro, ao recordar que naquela data era aniversário de sua filha. “Aniversário da minha filha hoje e não estou com ela. É duro, irmão”, disse Zé Ronaldo, sem conseguir conter as lágrimas que insistiam em cair dos olhos.
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