Por Djalma Andrade
Psicólogo/Neuropsicólogo
Que grito foi esse? Não se trata de “que tiro foi esse”, mas de que grito foi esse: “comunidade, venha testemunhar a honra ou desonra da polícia do estado da Bahia”. Eis o grito de ordem do policial, na tarde desse domingo, 28,03, no farol da barra, ponto turístico de Salvador.
Que grito foi esse? Infelizmente o grito já foi silenciado pelo diagnóstico, surto! A psicologia social nos ensina que em qualquer categoria ou ordem social, sempre vai se erguer alguém para denunciar um sistema, mas o próprio sistema abafa sua voz através de diagnósticos direcionados, o surtado, o louco.
Que grito foi esse? O diagnóstico já dado não me tira seu alto e bom som, seu barulho estridente ainda ecoa em meus ouvidos. Em minha análise, não se diz de um grito de um surtado, mas do grito de socorro de uma categoria, a polícia militar da Bahia. Ao cobrir a face com tinta, o policial do farol da barra deixa claro que não fala em nome de si, mas de uma categoria, não há identidade, há morte psicológica diariamente.
Que grito foi esse? É o grito do policial do farol da barra que, lucidamente, escolhe o principal ponto turístico da cidade, é o contraste social, a realidade, a vida diária de tortura psíquica do policial sendo posta no palco principal da cidade, o farol da barra. A mensagem é clara e objetiva, vejam!
Que grito foi esse? É o grito do policial do farol da barra, abatido pelos próprios colegas de profissão, porque também estão abatidos pela humilhação das remunerações, pelas desvalorizações, pelas exposições de suas vidas, pelas incertezas de retorno para casa. É como canta o Rappa: “também morre quem atira”, quando não a morte física, a morte psicológica.
Que grito foi esse? É o grito do policial do farol da barra que sobe no palco principal para rasgar o silêncio dos colegas que velam suas próprias mortes psíquicas nas madrugadas sombrias, geralmente em um lar sem conforto, na periferia dos transtornos mentais que o medo e o risco à vida impõem. Que grito foi esse?