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A notícia chegou num grupo de zap com velhos amigos jornalistas. Dos quatro, três tiveram juntos uma experiência pessoal com Ziraldo, o protagonista do triste acontecimento deste sábado. Sim, o menino maluquinho, o filho da Super Mãe, o mineirinho come-quieto, o imbrochável se foi.
A morte sempre está associada a choro, tristeza. Peraí, nada disso combina com Ziraldo e seu traço, seus personagens, seu largo sorriso, suas piadas, seus textos bem humorados, sua arte colorida. Até cor ele inventou para contar uma história infantil que fez sucesso nos palcos. Eu mesmo assisti a “Flicts”, no teatro, na infância.
A simpatia de Ziraldo não era performática. Eu e meus dois amigos, que naqueles já remotos anos 1980 éramos estudantes de jornalismo, constatamos isso. O famoso cartunista estava em Salvador para participar de um evento.
A Facom acabara de adquirir a sua primeira câmera de vídeo. Era uma Sony que tinha um microfone embutido. A presença de Ziraldo na cidade nos motivou a estrear o equipamento, fazendo uma entrevista com ele.
Lá fomos nós para o então hotel Quatro Rodas, pra lá de Itapuã, no meu Gol. Mas antes um dos amigos, precavido, tratou logo de pegar um microfone com cabo para garantir a qualidade do áudio da entrevista.
Tínhamos muitas histórias a colher daquele que foi um dos fundadores de O Pasquim, publicação responsável por uma grande revolução na linguagem da imprensa brasileira. Injetou humor e tirou definitivamente o fraque e a cartola dos textos de jornais e revistas.
Chegando ao hotel, lá fomos nós atrás de Ziraldo. Não tínhamos combinado nada com ele. Esperaríamos ele sair do evento e faríamos a entrevista. Enquanto aguardávamos a saída dele do evento, logo baixou o espírito do Pasquim no trio de repórteres.
Avistamos Ziraldo e um de nós se dirigiu a ele para lhe pedir a entrevista. Enquanto um do trio fazia a abordagem ao cartunista, passa um mensageiro. Os dois que estavam com a câmera e o microfone resolvem testar a popularidade do autor do Menino Maluquinho.
Você conhece Ziraldo?
Sem graça, o funcionário responde que não. Risadinhas são contidas. O entrevistado oficial topou falar com a gente numa boa. Conduzimos ele para um local mais tranquilo e iluminado.
Um, dois, três, câmera, ação!
Muito solícito e atencioso, com grande simpatia, Ziraldo foi bombardeado com várias perguntas sobre O Pasquim, Brizola, eleições, a Bahia, o Brasil e sua arte. Não limitou o tempo. Ficou à vontade e demonstrou ter gostado do papo.
Ao término, agradecemos muito a gentileza e generosidade dele. Comemoramos a grande entrevista que certamente seria exibida para todos os alunos da Facom. Celebramos tomando umas cervejas num boteco de Itapuã.
Naquele tempo nenhum de nós tinha videocassete. Mais complicado ainda era encontrar um com o sistema de reprodução da Sony. Não teve jeito. Tivemos que aguardar até o dia seguinte para ver a histórica entrevista no videocassete da Facom.
Cedo estávamos lá para apertar a tecla do play e ver exibida na tevê as histórias que nos contou o grande Ziraldo. Tudo pronto. Tec… A imagem surgiu na tela. Beleza! Mas cadê o som? Último volume e nada. Que porra é essa?
Dois de nós dirigiram-se àquele que ficou responsável por pegar o equipamento e uníssono disseram: “você não testou o cabo e o microfone?”
Não teve a gagueira dele que era comum em momentos de nervosismo. Ecoou nele o silêncio da gravação da entrevista que sobreviveu apenas na lembrança dos três amigos e até hoje lhes rende boas gargalhadas.
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